ALERTA SOBRE ESTRATÉGIAS DA DIVISÃO SOCIAL NA GUINÉ-BISSAU

Não fosse a divisão social promovida pelos políticos e governantes guineenses, através da actual crise política, certamente não teríamos tantos blogues, tantos movimentos disto ou daquilo.

É preciso entender que o Povo quando devidamente esclarecido, não faz manifestações de cariz político, mas sim, de cariz social, assentes em reivindicações, onde se incluem as necessidades colectivas e os Direitos Fundamentais, face ao incumprimento dos políticos e governantes com o juramento de servirem o Povo que representam.

Vemos manifestações de partes distintas de um todo profundamente dividido, que é o Povo Guineense, assentes em reivindicações de natureza política, explícita ou implicitamente, em defesa, ou a favor de alas políticas em confrontação numa crise política que cada vez mais leva o Povo à confrontação social.

É urgente pararmos com isso!

Dos palcos políticos institucionais passamos para o palco virtual e mais recentemente para a acção no terreno, nas ruas, ignorando que não se está a promover manifestações sustentadas pela defesa de causas nacionais e que de manifestação em manifestação de um lado e do outro, poderemos estar a preparar as condições para uma convulsão social de consequências imprevisíveis.

Vamos parar para reflectir sobre as consequências que esta teimosia dos políticos pode ter para com a Unidade Nacional, quiçá para a Guiné-Bissau e para todos os Guineenses?

Positiva e construtivamente.

Didinho 10.03.2017

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Não aceitemos mais, enquanto guineenses, que uns e outros, a bem dos seus interesses, nos dividam, enfraquecendo-nos; nos intriguem, virando-nos uns contra os outros, quando o que está em causa é o Interesse Nacional, quiçá, a soma dos Interesses de todos os Guineenses e não apenas, de um grupo ou grupos de guineenses! A Guiné apenas precisa do compromisso dos seus filhos para que tudo o “resto” seja uma realidade! Didinho 10.04.2014

 

A PROPÓSITO DAS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA SOBRE A CORRUPÇÃO

A luta contra a corrupção, sobretudo no aparelho do Estado, deve merecer atenção do Presidente da República, contudo, é um equívoco do Presidente da República, pensar que ele Presidente da República, demitindo governos, atrás de governos, vai acabar com a corrupção no aparelho do Estado.

O Presidente da República continua equivocado sobre os seus poderes e as suas competências constitucionais, bastando considerar as suas declarações sobre diversos assuntos da vida política, administrativa e jurídica do país.

Se a corrupção é um problema para o Presidente da Republica, que demitindo vários governos, alegando práticas de corrupção, julga estar a resolver o problema da corrupção, teremos obviamente que questionar quem foi julgado e condenado por práticas de corrupção no aparelho do Estado, até hoje, sendo que a legislatura iniciada em 2014 já vai no quinto governo?

Para que serve o Tribunal de Contas?

Para que serve o Ministério Público?

Para que serve a Alta Autoridade de Luta contra a Corrupção?

Para que serve a Assembleia Nacional Popular?

O Presidente da República quer acabar com a corrupção no aparelho do Estado com medidas políticas, ignorando acções judiciais de responsabilização e penalização, para casos de corrupção, com base na  Lei?

Não será por via desta prática decisória incoerente e em certa medida, irresponsável, que a Justiça não funciona e cada um que chega ao governo faz questão de enriquecer à custa do Estado, porquanto a corrupção ser sancionada apenas com a exoneração do cargo no Estado?

O Presidente da República, que é um economista, continua a ignorar o facto de que, num país onde se investe na instabilidade política e social, ninguém fará investimentos sérios em Projectos económicos e financeiros.

O Presidente da República continua a ignorar que a crise política que já leva tempo demasiado, é o primeiro suporte para a desgovernação e a delapidação do tesouro público.

Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, é um contra-senso apelar ao Povo para se unir na construção da Nação e não ouvir parte desse Povo que também aconselha, faz sugestões, faz críticas positivas e construtivas às acções de evidente inconstitucionalidade e em prejuízo do País e de todo o Povo Guineense, por parte do Presidente da República.

Sr. Presidente da República, permita aos outros órgãos de soberania exercerem seus poderes e suas competências com base no princípio estruturante da separação de poderes de um regime político semi-presidencialista de pendor parlamentar, que é o nosso caso.

Sr. Presidente da República, permita que a Guiné-Bissau tenha Instituições fortes, evitando substituir a natureza e a funcionalidade das instituições do Estado, ao ponto de querer afirmar-se como o Estado em pessoa.

Sr. Presidente da República, está na hora de usar as suas competências e os seus poderes constitucionais para acabar com a actual crise política. Já chega de tanta explicação sobre os porquês das demissões dos vários governos, demissões que não resolveram o problema da corrupção no aparelho do Estado, antes pelo contrário.

Já chega de tanta demagogia, de tanta divisão e instrumentalização do nosso Povo!

Positiva e construtivamente.

Didinho 12.03.2017

UMA PROPOSTA PARA A GUINÉ-BISSAU

UMA PROPOSTA PARA A GUINÉ-BISSAU

Fernando Casimiro Didinho
Fernando Casimiro Didinho

Se os políticos não são capazes de representar o Povo, esse Povo pode e deve exigir a mudança do sistema de poder em função dos seus interesses, quiçá, do Interesse Nacional.

Como?

Para que servem as eleições na Guiné-Bissau, senão para legitimar o tal poder que emana do povo?

Ao longo de 42 anos de independência, o Povo Guineense, verdade seja dita, nunca foi dono do poder que lhe é conferido na lógica da essência da Democracia.

A abertura ao multipartidarismo em 1991 e a formalização duma nova era política e democrática assente no pilar de um Estado de Direito Democrático, contrariamente ao Estado sustentado pelas directrizes do partido libertador, não foi capaz de alterar a realidade do vínculo mono-partidário do Estado que continua a ser a Guiné-Bissau.

Já li e ouvi várias propostas no sentido de a Guiné-Bissau ser tutelada pelas Nações Unidas.

E por que não a Guiné-Bissau ser dirigida fora do âmbito político-partidário, durante cinco a dez anos, pelos seus próprios filhos sem filiação partidária, num processo de transição para uma Democracia efectiva e de redefinição do conceito de Estado de Direito desenraizado das reivindicações de um passado que continua presente no facto de se ter ido à luta armada?

Seria um processo duma verdadeira Transição Política e Governativa, capaz de promover a reestruturação dos actuais partidos políticos, incluindo a saída de cena (extinção) de muitos que não têm bases para continuarem a existir, ou, a fusão e, ou, surgimento de novos partidos políticos melhor concebidos e preparados para o novo modelo político e governativo que se deve projectar para uma nova Guiné-Bissau, ou o que designo como a Guiné-Bissau Positiva.

Num processo ordinário, teríamos eleições presidenciais em 2019 e legislativas em 2018.

Se o Povo quiser, pode exigir a alteração de todo o processo que fundamenta e regula a organização política do Estado, pois ao Povo pertence o Poder.

E como seria possível essa exigência ser convertida em factos?

Que razões sustentariam uma ruptura com o actual estado de coisas, ainda que assentes num “radicalismo” necessário, face aos sucessivos golpes que têm sido perpetrados quer por políticos, quer por militares, contra o Povo, o Estado e a Nação?

O Povo poderia decidir não participar nas próximas eleições, presidenciais ou legislativas, ou seja, não legitimar a representatividade do seu Poder aos partidos políticos e aos candidatos apoiados pelos partidos políticos existentes, por tudo quanto nunca foi traduzido na satisfação das suas necessidades, mas sim, na satisfação de interesses de políticos e governantes guineenses, ironicamente, em nome do próprio Povo.

Essa decisão poderia ser “construída” , trabalhada e implementada através da Sociedade Civil e apoiada pela Comunidade Internacional, face ao realismo da conjuntura política e governativa guineense.

A Guiné-Bissau tem potencialidades naturais e humanas capazes de garantir a sua estabilidade e o seu desenvolvimento.

Até às eleições presidenciais e legislativas de 2014 atribuía-se todas as culpas dos cíclicos percursos de instabilidade política e violência, às Forças Armadas, quando, na verdade, o problema foi sempre dos políticos e dos governantes, ou promovidos por suas acções.

Há que romper com o estado do Estado que continua a (in) existir na Guiné-Bissau, através duma manifestação e demonstração do Povo, de forma consciente e pacífica, para que, cidadãos guineenses, despidos de qualquer capa político-partidária e merecedores de reconhecimento popular, assumam um novo processo de projecção, construção, edificação e afirmação da Guiné-Bissau sonhada por todos os mártires da luta armada de libertação nacional, incluindo Amilcar Cabral.

Não seria fácil a obtenção dum consenso relativamente aos que mereceriam o reconhecimento popular para fazerem parte da equipa que iria organizar e executar todo um Processo Complexo, mas razões e propósitos em defesa do Interesse Nacional seriam suficientes para que todas as divergências fossem ultrapassadas, visto termos, de há 42 anos a esta parte, um país adiado ao desenvolvimento e condenado ao retrocesso.

Há muitos cidadãos guineenses na Guiné-Bissau e no estrangeiro, comprometidos com o País e não com os interesses político-partidários, cidadãos com mérito, com conhecimentos e competências, capazes de ajudar a mudar positivamente a Guiné-Bissau, numa fase de Transição que implica o necessário afastamento (ou se quisermos, colocação em “quarentena”) dos partidos políticos do dirigismo nacional, por razões que a própria realidade guineense espelha.

Se os políticos e governantes da Guiné-Bissau não forem capazes de resolver a actual crise política e governativa, a minha proposta para se salvar a Guiné-Bissau passa por retirar a representatividade política e governativa aos partidos políticos e concedê-la à Sociedade Civil por um período mínimo de cinco anos e um máximo de dez anos, período que serviria para preparar uma nova Constituição da República e novas leis da República, ou actualizadas face a um novo realismo da Guiné-Bissau como Estado de Direito e Democrático.

Todos estamos de acordo, penso eu, que as eleições por si só, não resolvem os problemas da Guiné-Bissau, ou, pior que isso, são geradoras de novos problemas, relacionados com a disputa do Poder.

Para quê continuar a financiar, organizar e realizar eleições, despendendo milhões de milhões que poderiam ser úteis na concretização de programas visando a satisfação das necessidades colectivas?

Constata-se que ao longo de 42 anos, a impreparação de políticos e governantes guineenses, aliado à ganância, visando a satisfação dos interesses pessoais e familiares, em detrimento do bem-estar colectivo, tem prejudicado a Guiné-Bissau e o Povo Guineense, por isso, há que inverter a lógica da representatividade do Poder.

A Democracia e o Estado de Direito devem ser alicerces da Guiné-Bissau Positiva, mas é preciso que os actores políticos estejam preparados para o exercício da actividade política e governativa, o que infelizmente, não é o caso na Guiné-Bissau.

Para quê insistir em eleições quando o Povo vota e nunca vê suas aspirações concretizadas, num claro desrespeito pelo seu Poder?

Não seria melhor promover-se, com o patrocínio das Nações Unidas, um Fórum de debates sobre alternativas políticas e governativas na Guiné-Bissau, face a 42 anos de experiências negativas e que vão expandindo raízes cada vez mais diversificadas e sustentadas em negativismos capazes de fazer colapsar o que ainda se designa ou resta de Estado?

Sou a favor duma nova abordagem visando uma nova projecção da Organização Política do Estado na Guiné-Bissau, pois que, tudo o que existe é uma trapalhada assente numa perspectiva reivindicativa dum processo iniciado com a luta armada de libertação nacional.

Se houver realismo e coragem para se avançar com a Refundação do Estado, pois é disso que se trata nesta proposta, conseguiremos libertar a Guiné-Bissau das raízes que, volvidos 42 anos, reivindicam direitos eternos e sucessórios (herança), de terem participado na luta armada de libertação nacional.

Cinco a dez anos dum Processo de Transição visando uma Guiné-Bissau Positiva, sem a participação dos partidos políticos pelas razões dadas a conhecer, mas sustentada por princípios e valores democráticos, bem como de um Estado de Direito, seria, a meu ver, a solução “radical” necessária para a projecção, construção e implementação de estruturas de salvaguarda dos princípios e valores promotores duma visão sustentável relativamente às necessidades colectivas e à afirmação do Estado.

Por uma Guiné-Bissau Positiva!

Por uma Nova Constituição da República da Guiné-Bissau!

Pela revisão e actualização das Leis da Guiné-Bissau em função duma nova Constituição da República!

Por uma Nova Bandeira Nacional, um Novo Hino, em suma, por Novos Símbolos Nacionais!

Positiva e construtivamente.

Didinho 18.05.2016

 

O CHÃO É O SEU PARTIDO

In: http://www.incomunidade.com/v51/art.php?art=252

Três volumes intitulados O meu Partido é a Guiné-Bissau, com cerca de mil e quinhentas páginas, no total, é a obra que agora me chega às mãos e eu já conhecia fragmentariamente, da Internet, em sites como Projecto Guiné-Bissau Contributo, em https://www.didinho.org/ e até mesmo no TriploV, em cuja lista de autores temos o prazer e a honra de contar com a colaboração episódica do Didinho. Num momento em que se estabelece parceria do TriploV com a Associação 25 de Abril, no caso a propósito do nosso Projeto “Sarmento Pimentel”, é oportuno que eu faça uma pequena reflexão sobre a responsabilidade política que nos advém de tais alianças. E o principal da reflexão gira em torno de “nha tchon”, “o meu chão”, em tradução literal do guineense, que em versão mais funda seria “a minha pátria”. É esse o significado mais impressivo do título de Didinho, ao recusar a efemeridade e fragmentação de grupos ideológicos de tipo partidário. Ele ocupa-se da Guiné-Bissau, preocupa-se com os guineenses e assume-se como independente de partidos, o que não equivale, espero, a uma voz a pregar no deserto.

Comecemos entretanto pelo Didinho, que em tempos já me pregou sustos valentes com justa causa, quando a ele me aliei na divulgação de temas que na altura se carregavam de dinamite. Didinho é o petit nom de Fernando Casimiro. É apenas assim, com um diminutivo – em crioulo, julgo que se diz “nome de casa” -, que ele assina textos sobre a Guiné-Bissau tão importantes como os do seu conterrâneo e ideal, Amílcar Cabral. E é só com esse diminutivo que ele se apresenta a nós como uma das vozes mais persistentes da oposição aos sucessivos e inglórios governos da Guiné-Bissau nos últimos tempos. Não se tratando de oposição para efeitos narcísicos, como tantas vezes vemos na Televisão. Pelo contrário, o Didinho frequentemente apresenta soluções e modos de atuar, não se limita a pavonear a cauda.

Características principais deste homem, a meus olhos: a coragem, a temeridade, o desejo inquebrantável de oferecer o seu contributo para a emergência de um país que ainda não corresponde ao ideado, de nome Guiné-Bissau. Tarefa difícil, mesmo perigosa, pois o Didinho sofre corte de palavra não só por parte do sistema político guineense como por parte dos meios de comunicação portugueses, como ele mesmo conta, por exempo no vol. II da sua obra. Todos o sabemos: o poder pessoal é muito difícil de conquistar se somos uma voz a pregar no deserto. Integrados numa instituição, a exemplo dos partidos, já não só é mais fácil como o poder consegue às vezes escrever-se com maiúscula. Justamente: o Didinho não quer esse tipo de alianças, prefere a sua independência política, moral e intelectual, e é bem possível que só pela minha mente passe a ideia de o ver como governante.

Numa notícia ligeira como esta, é impraticável fazer o balanço da obra e sequer distinguir algumas linhas de ação mais relevantes do que outras. Na maior parte, os artigos referem-se diretamente às circunstâncias da governação guineense; começam pelo Presidente Kumba Yalá, passam pelas situações atrozes dos princípios e fim de Nino Vieira, para terminarem na atualidade. É indiscutível que Didinho tem um rumo político, democrático, firmeza de caráter, cultura política e sobretudo desejo de ação. Se tais qualidades e muitas outras tornam o Homem incorruptível, quando alcança o Poder, eis uma dúvida minha.

No meio de tanta ideia lançada à arena pública pelo Didinho, chamo uma à tona, não só por abrir o conjunto dos três livros, como por eu lhe ser bastante sensível. É o apelo, aliás desafio que faz à Comunidade Europeia para que, sem indevida ingerência em assuntos privados dos países, tome posição quanto ao futuro da Guné-Bissau, pois é inútil pregarem-se e defenderem-se ideias de governo quando não há modo de governar, quando não há condições económicas para fazer eleições, quando nem sequer há cadernos eleitorais atualizados a semanas do sempre sebastiânico ato eleitoral.

O que faz correr o Didinho? Ambição política pessoal? É certo que ele faz parte de um núcleo de potenciais quadros superiores na diáspora – vive em Portugal – cuja ação seria benéfica na Guiné, caso regressassem ao seu, ou nosso “tchon”, para assumir o “mana” e o “nossa Guiné-Bissau” que o fraterno autor me atribuiu nas dedicatórias. Mas ambição é algo que remete para uma superfície, um horizonte no qual pode ou não existir um ponto de acesso, mas além do qual não há mais nada. O que move fica aquém, num impulso inicial, com raízes no fundo de nós e não pendentes de outras plantas, como acontece com certas epífitas. E é neste ponto que a minha reflexão toma vulto, ao atentar na densidade emocional da expressão “nha tchon”, a minha terra, aquela em que criei raízes, aquele chão que, além de dar comida, também alimenta a nossa capacidade de sonhar, idear e projetar.

É na infância e adolescência que criamos um mundo de afetos ligados aos pais, parentes e amigos, aos lugares, com os seus tempos da chuva e seco, com as suas cronologias de sábado e domingo, Natal e Carnaval, às coisas que a percepção sensorial assimila, como o sabor dos mangos e chabéu, a contemplação dos rápidos e extasiantes crepúsculos, o aroma do capim molhado pelas primeiras chuvas do ano, a quentura da mancarra torrada na esquina por Nha Francisca. Tudo isso nos acompanha ao longo da vida e constitui o nosso lastro emocional. Se estamos longe, queremos voltar. Na idade adulta já não criamos paraísos, a noção de pátria dimensiona-se em espaços mentais carentes de afetividade. Pátria com sentido de “paraíso onde vivem o pai e a mãe” só existe no imaginário de infância.

Eu admiro o Didinho, aliás Fernando Jorge Gomes da Fonseca Casimiro, nascido em Bissau em 1961. Admiro e temo por ele, porque sempre o vejo a lutar pelo nosso “tchon”, que é mais do que pátria e país. Admiro-o porque a sua tarefa é hercúlea; temo porque  os obstáculos a vencer podem ser-lhe fatais.

O chão é o seu partido

DIDINHO
O meu Partido é a Guiné-Bissau
Colectânea de Textos Editoriais
2016, Euedito, 3 vols
Contacto: geral@euedito.com

 

 

 

FINANÇAS: RESGATE SELETIVO!

DomingosNhamaAo falar da nossa relação económica com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Acordo Trienal no Âmbito da Facilidade de Crédito Alargado (ECF[1]), é importante frisar que assinamos o primeiro acordo em 27 de Agosto de 1984 e o segundo em 18 de Janeiro de 1987 (Ajustamento Estrutural) com o intuito de financiar o balanço de pagamento (BTC+CCF+EO) e os sucessivos défices do Orçamento Geral do Estado. E para ter acesso aos financiamentos é recomendável cumprir regras relativamente rígidas (regras de condicionalidade), ou seja, empresta quem cumprir as “regras do jogo” e “quem não obedece as regras sofre”. Portanto, estamos a tratar de um contrato sensível que requer sacrifícios sociais e uma certa perda de autoridade na condução da política económica. Por esta razão, é necessário retidão na gestão dos recursos financeiros e fiscalização eficaz na execução dos empréstimos por parte dos Deputados da Nação e do Tribunal de Contas.

No dia 20 de Junho de 2015, ex- Ministro da Economia e Finanças, Sr. Geraldo Martins, solicitou um acordo ao abrigo da ECF de 36 meses, em apoio ao programa de reformas económicas e resolução das dificuldades em balanço de pagamentos e orçamentais. E no dia 10 de Julho de 2015, Sr. Mitsuhiro Furusawa[2], disse no Comunicado de Imprensa nº 15/331, o seguinte: “A decisão das autoridades de não utilizar seus recursos escassos para amparar bancos com problemas é uma medida bem-vinda e coerente com as boas práticas internacionais”. Mesmo perante este compromisso, Sr. Geraldo Martins afiançou que o governo efetuou resgate (bail-out) aos bancos em 2015, comprando “ativos tóxicos”, em outras palavras, fizeram uso supérfluo de dinheiro dos contribuintes que passaram a contrair dívidas dos bancos privados, contrariando por completo as orientações do FMI e do Memorando de Politicas Económicas e Financeiras (MPEF). Nesta senda, o Diretor-geral do Banco da Africa Ocidental (BAO), Rómulo Pires, afirmou categoricamente que a instituição que lidera não recebeu dinheiro de nenhum governo e que não houve resgate – esta declaração nega explicações do governo sobre bail-out. Com esta postura irresponsável os nossos principais parceiros financeiros cancelarem todas as ajudas prometidas para minimizar as nossas fragilidades económicas, o que compromete profundamente nossa capacidade de resolver os obstáculos inerentes ao balanço de pagamento e de honrar os compromissos basilares.

Assim, afirmo que os fundamentos utilizados para efetuar as operações de bail-out são irrealistas, uma vez que menos de 2% da população tem acesso aos serviços bancários. E, por serem bancos pequenos e com pouca capacidade financeira para custear projetos de grande envergadura económica no país, poderiam optar por bail-in e não bail-out, neste caso, os bancos insolventes seriam recapitalizados com recursos do seu próprio passivo, com intento de atenuar os riscos de contágio à economia, sem a necessidade de aportes do governo. Ou seja, deslocariam os encargos de salvar bancos falidos dos contribuintes para os investidores.

Por outro lado, na tabela abaixo, podemos ver que nos últimos anos apresentamos resultados deficitários nas contas de transações correntes que afetam diretamente a Renda Nacional (RN) – que é considerada a mais importante do Balanço de Pagamento – entretanto, isto implica a necessidade de contrairmos empréstimos no exterior (por exemplo: ECF do FMI, aumentando o endividamento do país) e diminuir as reservas do país. De uma forma geral, a decisão de comprar dívidas dos empresários é inapta para despertar “animal spirits” do nosso débil setor privado e, não ajuda estancar o constante financiamento do dificit público com a venda de títulos públicos ao setor privado e o Banco Central.

Tabela: Balanço de Transações Correntes da Guiné-Bissau (2012-2018)
Balança Comercial 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Exportação, FOB 67,1 75,5 85 114,5 122,2 127,1 132,5
Das quais: castanha de caju 60,9 63,1 67,5 97 101,6 105 108,8
Importação, FOB 92,8 90,3 112,5 144,7 159 171 182
Das quais: alimentos -32,2 -31,4 -38,9 -43,1 -45,9 -49,3 -53,2
Produtos petrolíferos -21,7 -21,5 -26,6 -29,5 -31,5 -33,8 -36,4
BC -25,7 -14,8 -27,5 -30,2 -36,8 -43,9 -49,5
    Déficit Déficit Déficit Déficit Déficit Déficit Déficit
Fluxo Real Ent Bens Ent. Bens Ent. Bens Ent. Bens Ent. Bens Ent. Bens Ent. Bens
Fluxo Monetário Saída de USD Saída de USD Saída de USD Saída de USD Saída de USD Saída de USD Saída de USD
Fontes: BCEAO. Estimativas e projeções do FMI
Autor tabela: Domingos NHAMA

 

Balança de Transações Correntes da Guiné-Bissau de (ano…. – ano…..

Na balança comercial podemos verificar que importamos quantidade elevada de alimentos que tem um impacto económico forte, pois, aumenta o nível da pobreza estrutural e da insegurança alimentar. Penso que é crucial reduzir deficit orçamentário por meio de cortes de gastos e avançar com uma reestruturação rápida e eficaz no funcionalismo público. Sou da opinião de que os gastos do governo bem articulados estimulam a demanda agregada e prosperidade no país, além de gerar maior demanda, mais produção, mais emprego e riqueza. Infelizmente, não estamos em condições de gastar de forma desarticulada. Com isto, neste momento, quero dizer que devemos viver dentro das nossas limitações económicas, gastando igual ou menos que a nossa capacidade de arrecadação. Neste sentido, entendo que os empréstimos da ECF poderiam ser canalizados prioritariamente para as atividades que resultem em aumento real de produção que busca garantir autossuficiência alimentar e investimentos produtivos:

  1. Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Agrícola e do Microcrédito (BANDAM);
  2. Recuperação das estruturas de produção de Cumerê (economizaríamos divisas ao reduzir importações de alimentos) e;
  3. Criação de Instituto Nacional de Investimento Privado (INIP) – “braço” técnico para analise, avaliação dos projetos de investimento, acompanhamento e monitorização das atividades económicas.

Para finalizar, penso que é urgente livrarmos da nossa eterna miserabilidade politica que insiste em manter-nos totalmente dependente da ajuda externa, que em várias circunstâncias serve exclusivamente para multiplicar improdutividade que alimenta a corrupção e que sustenta a inercia da máquina pública, inibindo nossa capacidade de criar e conceber projetos de desenvolvimento racional a longo prazo. Este entendimento fundamenta-se no fato de o continente africano ter recebido nos últimos cinco décadas mais de 1 trilhão US$ em ajuda internacional e não conhecemos progressos substâncias. Por isso, devemos ter uma elevada dose de seriedade na gestão pública, maturidade politica e um excelente preparo académico para propor nova agenda de relações financeiras e definir pautas que visam as nossas vantagens comparativas.

É exatamente neste contexto que devemos concentrar as nossas energias e capacidades, em desenvolver o nosso potencial agrícola, em outras palavras, transformar o “MON NA LAMA” num projeto de desenvolvimento de curto, medio e longo prazo – como sendo, elemento dinamizador da indústria, serviços e de comércio internacional para financiar o nosso desenvolvimento. Nesta precária realidade, indubitavelmente, é incompreensível a compra da dívida dos devedores sem capacidade produtiva, sem condições de criar empregos e renda. Ou seja, com a extinção do “serpentî n´ghulî dinheiro”, surgiu o “resgate seletivo”.

 

Domingos NHAMA LACERDA VAZ COSTA

Economista

[1] A ECF proporciona assistência financeira a todos os países habilitados a receber apoio ao abrigo do Fundo Fiduciário para a Redução da Pobreza e o Crescimento (PRGT), do FMI, e que enfrentem problemas prolongados da balança de pagamentos (ou seja, quando existe a expectativa de que a resolução dos desequilíbrios macroeconómicos subjacentes se estenderia até o médio ou longo prazo). Apoia programas económicos formulados pelos próprios países que visam a avançar rumo a uma posição macroeconómica estável e sustentável, compatível com a redução da pobreza e o crescimento forte e duradouro. O acesso ao financiamento no âmbito da ECF é definido caso a caso, tomando em conta a necessidade da balança de pagamentos do país e o vigor do seu programa económico, e é orientado por normas de acesso.

[2] Director-Geral Adjunto e Presidente do Conselho de Administração do FMI em exercício

Agradecimentos – Fim da Campanha de angariação de fundos para apoiar a judoca olímpica Taciana Lima Baldé

A 07.06.2016 lançamos uma Campanha de angariação de fundos para apoiar a nossa tetra-campeã africana e judoca olímpica, Taciana Lima Baldé, a fim de apoiar a sua fase final de preparação tendo em vista a sua participação nos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Jogos Olímpicos cuja sessão de abertura será no próximo dia 5 de Agosto, sendo que a nossa Campeã, Taciana Lima Baldé iniciará a sua participação no dia 6 de Agosto, viajando hoje 31.07 à noite, para o Rio de Janeiro.

Assim sendo, queremos anunciar o fim da nossa Campanha de angariação de fundos para apoiar a fase final de preparação da nossa judoca olímpica Taciana Lima Baldé, aproveitando para agradecer a todos quantos acudiram de forma amiga, patriótica e solidária, à nossa solicitação.

Muito obrigado!

A título de registo, recebemos contribuição financeira de 11 pessoas, no montante total de € 2983,00 – Dois mil novecentos e oitenta e três Euros.

A nossa Campeã, Taciana Lima Baldé, aproveita a oportunidade para endereçar a todos uma mensagem pessoal que aqui partilhamos.

Uma vez mais muito obrigado!

Didinho 31.07.2016

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TacianaLimaBalde

“Olá a todos meus amigos que de uma forma ou outra contribuíram com a campanha de solidariedade esportiva. Estou a embarcar para os Jogos Olímpicos e queria agradecer de coração a todos que contribuíram para que esse sonho seja realizado. Foram muitos anos para chegar até aqui e vocês na reta final foram de grande importância para que tudo ocorresse da melhor forma possível. Conto com a torcida de todos vocês, enviem as melhores energias possíveis para que o objetivo final seja alcançado. Abraço a todos e um obrigada do tamanho do mundo. ” – Taciana Lima Baldé 31.07.2016

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Campanha de angariação de fundos para apoiar a atleta olímpica guineense, Taciana Lima Baldé