FIQUE EM CASA!

FIQUE EM CASA!
De regresso a Portugal, à minha casa e à minha família, desde o passado dia 21 de Março (proveniente da Bélgica, país onde tenho estado a trabalhar há oito meses), por razões que têm a ver com as medidas restritivas e preventivas decretadas pelo Governo belga, sobretudo, em matéria do distanciamento social, face à pandemia COVID-19, que limita, entre outros, a distância entre pessoas a um mínimo de metro e meio, o que, no exercício de actividades profissionais em equipa, é difícil de concretizar, entrei em isolamento profilático ao abrigo das recomendações da Direcção-Geral da Saúde, de Portugal que estabelece que:
“Independentemente da nacionalidade e do país de origem, quando entra em Portugal, é recomendado o isolamento profilático pelo período de 14 dias.”
Cumpridos esses 14 dias de isolamento profilático, de forma rigorosa e sem quaisquer sintomas de algum mal-estar relacionado com o meu estado de saúde, entrei na fase de cumprimento do estado de emergência decretado em Portugal, e que foi prolongado até 17 de Abril.
Estado de emergência que, contrariamente ao isolamento profilático, já me permite, por exemplo, sair à rua para ir comprar bens essenciais e regressar de imediato a casa, bem como, ir correr ou caminhar, respeitando o distanciamento social e todas as recomendações sanitárias no intuito de prevenir o contágio, por um lado, e, por outro, a propagação da doença.
O apelo “FIQUE EM CASA” é para respeitar e cumprir, até porque as excepções não fogem às regras, entre o Direito e o Dever do Cidadão, face ao estado de emergência em vigor.
Temos que ser prudentes, responsáveis e sensíveis para com a pandemia COVID-19, no intuito de evitarmos o contágio e, ou, a propagação da doença. Por isso e enquanto não há cura para a doença, a prevenção é a cura; o cumprimento das medidas restritivas, é a cura.
Não esperemos que a doença nos atinja, ou aos nossos familiares e amigos próximos, para nos despertarmos para a sua existência e consequência letal, pois será certamente tarde…
Positiva e construtivamente.
Didinho 06.04.2020

COVID-19: RESPEITAR O ESTADO DE EMERGÊNCIA!

COVID-19: RESPEITAR O ESTADO DE EMERGÊNCIA!

Reivindicar a defesa e a salvaguarda dos Direitos Fundamentais, mesmo na particularidade do decreto de um estado de emergência, é de se apoiar, porém, espera-se da parte de Todos, o devido Respeito pelas medidas restritivas decretadas, no âmbito da prevenção e da salvaguarda da Saúde e do Bem-estar de Todos.

Aqueles que se prontificam a criticar a actuação das forças de segurança, no cumprimento das normas decretadas pelo estado de emergência, também devem sensibilizar e informar os cidadãos quer sobre a pandemia COVID-19, quer sobre as medidas restritivas e preventivas decretadas.

Se há horários estabelecidos para a saída das pessoas à rua, para que possam vender seus produtos, ou fazer suas compras e regressarem às suas casas, há que respeitar esses horários, em nome da Saúde e do Bem-estar de Todos Nós!

Não desafiemos as autoridades policiais, para criarmos casos de politização da situação delicada que estamos a enfrentar por causa da pandemia COVID-19.

Dizer que as pessoas têm que ir à rua abastecer, não colide com as restrições impostas, que definem um período temporal para que todos tenham essa possibilidade.

Agora, dizer que as pessoas têm que estar na rua, porque é lá que garantem suas sobrevivências, não acho ser sensato.

Que me desculpem, mas não é por uma questão de insensibilidade, antes pelo contrário, a rua não emprega ninguém, e consequentemente, não paga salário a ninguém!

Se a nossa realidade social e cultural é distinta da de todos os demais países, até compreendo e aceito, mas há como dar a conhecer a quem decretou o actual estado de emergência, as deficiências e as lacunas do decreto relativamente a esse estado de emergência, para que essas deficiências e lacunas sejam corrigidas, melhoradas, para que facilitem ao invés de prejudicar, o comportamento e as atitudes individuais, de cada um, com ramificações entre as diversas Comunidades Populacionais da Guiné-Bissau, que constituem o nosso Povo!

Positiva e construtivamente.

Didinho 06.04.2020

POLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE GUINEENSE ATÉ NA DOENÇA COVID 19: PODE SER O FIM DE TUDO?

POLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE GUINEENSE ATÉ NA DOENÇA COVID 19: PODE SER O FIM DE TUDO?

Nesta semana, na sequência das medidas de precaução adotadas contra a pandemia de COVID 19, um grupo de guineenses criou, no whatsapp, um espaço de debate e partilha de informações sobre COVID 19.

Na mesma semana, por coincidência, o executivo chefiado pelo senhor Nuno Gomes Nabiam, na sequência do decreto presidencial do senhor Umaro Sissoco Embaló, tomou uma série de medidas conducentes a prevenir a propagação e a reduzir, consequentemente, os efeitos desta pandemia.

Entre as quais, “desaconselha a aglomeração das pessoas em lugares públicos, inclusivamente nos mercados públicos”.

Nesta mesma semana, o magnata chinês, senhor Jack Má – patrão da Alibaba, fez um donativo à África, em materiais e equipamentos cujos números e rapidez de resposta, ultrapassam qualquer manifestação de intenção.

Em tempo recorde, houve apelos de muita gente, nas redes sociais, solicitando a mobilização de sinergias de quadros guineenses (médicos especialistas) capazes de contribuir para atenuar os efeitos da COVID 19, por outro lado, outros exigiam e apelavam rigorosamente ao cumprimento do papel dos deputados da nação face à situação vigente.

Como a velocidade da luz, verificou-se uma série de reuniões que culminaram na emissão de decretos e despachos de (nomeações e exonerações), uns aplaudindo, e outros estupefatos.

Nestes momentos de surrealismo consentido, realça pensar devagar e quiçá perguntar:

Afinal, a Guiné-Bissau apresenta uma “polarização extrema” até nas questões básicas, por quê?

Amigos polarizados!

Irmãos polarizados!

Tribos polarizadas!

Relações polarizadas!

Supremo Tribunal de Justiça polarizado!

Ministério Público polarizado!

Membros do governo polarizados!

Enfim, esta nossa Guiné-Bissau que uns dizem ser um (país rico), em termos de diversidade e biodiversidade e que nem, o conflito de 7 Junho de 1998, conseguiu dividir, não tem a mesma capacidade para reorientar a sua estratégia e procurar novas formas e modelos de alcançar o desenvolvimento?

O “modus operandi” dos detentores do poder (donos disto tudo) na Guiné-Bissau, em pleno ano 2020, é de longe parecido com o “status quo ante” 12 de Abril de 2012, pelo “amadorismo” e “violência” que continuam a pairar numa sociedade ainda frágil, como dizia Fafali Koudawo.

Sem querer, tenho “perdido” amigos e pessoas com as quais preferia ser diferente no pensamento e no ato, do ponto de vista ideológico, mas que fossemos, também, iguais, por um inimigo público comum – COVID 19.

Desde 2003, ainda na diáspora estudantil, por exemplo, acompanhei, critiquei, apoiei, discordei, quiçá, ficava se fosse preciso, “indiferente” com as opiniões do mentor do projeto “CONTRIBUTO“, senhor Fernando Casimiro. Porém, esse meu posicionamento não me dá o direito de desrespeitar o direito dele – Didinho – ter opinião própria, enquanto guineense e ativista.

No entanto, a política e os políticos guineenses, nos últimos 20 anos, dividiram a sociedade guineense a seu bel-prazer, em conluio com as nossas forças armadas.

Há uma geração que foi da mesma turma, do mesmo ofício, dos mesmos prazeres, recalcados uns para com os outros, que anda em pólos diferentes (por motivos que só eles sabem dizer), mas vivem alimentando um debate polarizado e divisionista aos jovens, ora pró PAIGC, ora pró PRS, ora pró MADEM, etc.

Os da outra (nova) geração, com a qual me identifico, estão a ser instrumentalizados para cumprir uma agenda que não dominam e que não condiz com o seu futuro (e.i tribalização, banalização das referências, fanatismo, radicalização por tudo ou nada, etc).

Sociedade em que opinar ou pensar diferente significa ser conotado com pólo diferente, ou seja, “és nosso ou és da outra caravana”.

Sociedade em que, cada vez mais, perdemos sozinhos em vez de ganharmos juntos, uma vez que quem sabe menos “prefere hostilizar quem sabe mais, ou vice-versa”.

Sociedade na qual, em plena pandemia que grassa o nosso mundo, andamos a hostilizar o (médico ou profissional) mais experimentado, em matéria epidemiológica, no nosso país, em nome dos interesses da polarização a qual pertencemos.

Esta é a triste realidade que a Guiné-Bissau continua a aceitar, em pleno ano 2020, como modelo, e que, cegamente, faz o esforço inocente para seguir.

Pois, os orgulhos (étnico, religioso, partidário, de clã, entre outros) falam mais alto em detrimento daquilo que podia efetivamente ser a nossa maneira, genuinamente, guineense de ser (pepel+manjaco+fula+balanta+mandinga+beafada+bijagós, etc.) lutando juntos e unidos contra o inimigo invisível comum – COVID 19.

Apenas uma opinião!

Santos Fernandes

Bissau, 3 de Abril de 2020.

TEMOS QUE LEVAR A SÉRIO O CORONAVÍRUS

PAREMOS JÁ, ANTES QUE SEJA TARDE!

Deixemos de subestimar o Coronavírus; de ignorar consciente ou inconscientemente os efeitos consequentes do vírus, e as medidas preventivas decretadas pelas autoridades do País, a Bem da Saúde Pública, quiçá, de Todos Nós!

Distanciamento Social Exige-se e Recomenda-se!

Paremos com atitudes de protagonismo, mesmo quando nossas intenções sejam as melhores, no âmbito da Solidariedade para com Todos!

O Coronavírus, infelizmente, é uma Realidade e uma Sentença de morte.

Enquanto País vulnerável, a melhor arma de Combate à Pandemia COVID-19 na Guiné-Bissau, e em todo o Mundo, é a PREVENÇÃO!

Custa tanto informar e sensibilizar os Guineenses para cumprirem com as medidas preventivas decretadas?

A quem interessa a politização e o protagonismo em jeito de campanha eleitoral, e em nome de uma Solidariedade que ao invés de contribuir para combater a pandemia, pode contribuir para propagar a pandemia no nosso País?

Por favor, está na hora de ganharmos Consciência sobre os riscos para Todos, que a nossa irresponsabilidade assente em protagonismos e vaidades já podem estar a causar ao País e às nossas Populações.

PAREMOS JÁ, ANTES QUE SEJA TARDE!

Positiva e construtivamente.

Didinho 01.04.2020


TODO O CUIDADO É POUCO

Os microfones, os telemóveis e outros equipamentos usados pelos profissionais da comunicação social, na Guiné-Bissau e em todo todo o Mundo, também são potenciais focos de contaminação e propagação do Coronavírus.

Que medidas preventivas de saúde e higiene, foram, ou têm sido tomadas, directamente e pessoalmente, pelas pessoas que estão expostas aos riscos directos e, ou, indirectos, face aos seus ambientes de trabalho?

Didinho 01.04.2020

A UNIDADE NACIONAL É UM IMPERATIVO CONSTITUCIONAL

A UNIDADE NACIONAL É UM IMPERATIVO CONSTITUCIONAL

Contribuir para a Unidade Nacional visando a participação de todos na prevenção e no combate ao COVID-19 implica deixar de lado, no actual momento em que vivemos, os Egos, suportados por arrogâncias, intolerâncias, recalcamentos, politiquices e patriotismo barato.

A Cidadania é também, saber promover e divulgar a Concórdia Nacional, em nome da Reconciliação e da Unidade, Nacionais!

Realismo Sim, numa perspectiva Positiva, Construtiva, e não, Negativa e Destrutiva!

Afinal de contas, somos poucos para levarmos avante a tarefa da Construção da Nação Guineense, então, por que razão havemos de continuar sempre de costas voltadas, mesmo quando uma doença põe em causa a nossa própria existência, impondo-nos necessariamente, a UNIDADE NACIONAL como factor congregador de todas as iniciativas para a sua prevenção e o seu combate?

A caminho dos 59 anos de vida, nunca me posicionei para agradar quem quer que seja, mas seria ingénuo, ignorar que, para alguns, que me têm lido ininterruptamente, desde 10.05.2003, para certas abordagens, em função das suas pertenças ideológicas e consequente conveniência, sou bestial, para no momento seguinte, passar a besta, face a uma reflexão que seja contrária às suas ideologias, e conveniências.

Ando nisto diariamente, há 17 anos!

Positiva e construtivamente.

Didinho 01.04.2020


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU

TÍTULO 1

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS – DA NATUREZA

E FUNDAMENTOS DO ESTADO

ARTIGO 3°

A República da Guiné-Bissau, é um Estado de democracia constitucionalmente instituída, fundado na unidade nacional e na efectiva participação popular no desempenho, controlo e direcção das actividades públicas, e orientada para a construção de uma sociedade livre e justa.

 

GUINÉ-BISSAU: O COVID-19 ENTRE O PROTAGONISMO E A POLITIQUICE

GUINÉ-BISSAU: O COVID-19 ENTRE O PROTAGONISMO E A POLITIQUICE

“O economista guineense Paulo Gomes e a epidemiologista Magda Robalo disseram à Lusa estar disponíveis para integrar qualquer equipa nacional para enfrentar o que consideram de “guerra contra a doença” que já contaminou duas pessoas no país. Antigo candidato à presidência do país, Paulo Gomes, que se encontra atualmente fora da Guiné-Bissau, disse à Lusa estar pronto para, nos próximos dias, regressar e ajudar a “fazer avançar a iniciativa corajosa e proativa” de Idrissa Djaló, líder do Partido da Unidade Nacional (PUN), que propôs um pacto entre guineenses para lutar contra a pandemia da covid-19.”

Tudo muito bonito, mas será que o Dr. Paulo Gomes não sabe que uma das recomendações para a prevenção contra a propagação da doença e a contaminação de mais pessoas, é cada um ficar em casa, em isolamento, de quarentena, salvo, quem tenha mesmo que trabalhar, face à essencialidade do seu trabalho, sobretudo, relacionado com o serviço público, que não pode ser efectuado através do tele-trabalho?

Pensa ir à Guiné-Bissau nos próximos dias, como, com que meios logísticos, face à conjuntura mundial que restringiu as fronteiras de quase todo o Mundo e a consequente inoperacionalidade das companhias aéreas, marítimas, ferroviárias, etc., etc.?

Ainda que fosse à Guiné, face às medidas restritivas decretadas, o que iria fazer, que não em casa, para ajudar quem, e como, algo que pode fazer onde está neste momento, através da INTERNET?

Pode ajudar financeiramente, com verbas endossadas ao Estado para fins concretos, ou, adquirindo materiais de saúde apropriados para a actual situação, por exemplo, ventiladores, geradores, desinfectantes diversos, luvas, máscaras etc., etc., dependendo de “aberturas” aéreas, marítimas ou terrestres, para serem enviados à Guiné-Bissau.

Porém, pode sempre, onde quer que esteja, ajudar/apoiar, moralmente, sensibilizando e partilhando informações às populações, sobre a doença e os riscos e as suas consequências, que é a via que todos nós, Guineenses, espalhados pela nossa Diáspora temos vindo a fazer, através das Redes Sociais. O sr. Paulo Gomes quer ser diferente, com base num protagonismo que vai contra as recomendações e restrições no combate à prevenção, e contra a propagação do vírus?

Anunciar um regresso ao país neste momento, alegadamente, para ajudar, quando mesmo o pessoal de saúde, caso tivesse como ficar em casa, em isolamento, de quarentena, também ficaria, não passa, a meu ver, e peço desculpa pela frontalidade, de um gesto imbuído de protagonismo e irresponsabilidade.

Fiquemos em casa, para nosso bem e de todos, mesmo que uns quantos, imprescindíveis, seres humanos e guineenses, com família, tenham que sacrificar suas vidas e de suas famílias, pela maioria da População, que deve cumprir com as medidas restritivas de prevenção, por seus desempenhos profissionais não serem imprescindíveis na actual conjuntura, ou, por poderem ser efectuados a partir de casa.

Outrossim, os técnicos de saúde guineenses, que se encontram no nosso país, independentemente dos seus estatutos, das suas bagagens académicas, não devem esperar que sejam chamados a contribuir para o que suas profissões e seus juramentos lhes reservam como Missão: Salvar Vidas, Servir as populações. Devem fazer a parte que lhes compete, dirigindo-se às entidades de Saúde, aos hospitais e centros de saúde, para fazerem o que sabem e devem fazer, sem que sejam mandatados para tal, por via de jogos políticos e partidários!

Estar à espera de consensos políticos para assuntos de saúde pública, sobretudo, face à EMERGÊNCIA de uma Pandemia, por parte de quadros da saúde, Guineenses, é de facto, renunciar ao Juramento de Hipócrates.

Para finalizar, fiquei incrédulo hoje, ao ver imagens da cerimónia de despedida do corpo de efectivos da ECOMIB na Guiné-Bissau, com a presença do Presidente da República, sem que as medidas restritivas de distanciamento mínimo de metro e meio/2 metros, fossem cumpridas.

Sr. Presidente da República, seja o primeiro a dar o exemplo nesta luta contra o Inimigo Comum Global, COVID-19.

Evite o contacto social e a concentração social, em nome da prevenção da doença!

Não basta decretar o estado de emergência, para de seguida, ignorar os factores de risco e pôr-se a jeito de ser contaminado, ou de contaminar os demais.

É preciso que todos nós levemos muito a sério esta doença!

Ela não escolhe quem quer que seja, todos estamos sujeitos a contraí-la e, por isso, todo o cuidado é pouco!

Infelizmente, já começamos a sentir a nossa dor…

Positiva e construtivamente.

Didinho 26.03.2020

Covid-19: Quadros guineenses disponíveis para enfrentar “guerra contra a doença”

A PROPÓSITO DE LUÍS VERA (VIEIRA?) DA FONSECA

A PROPÓSITO DE LUÍS VERA (VIEIRA?) DA FONSECA
“Do sotaque dele depreendia ser de Cacheu que é o crioulo efectivamente vinculado em Ziguinchor.” – Henri Labery
Quando cheguei da Guiné aos 18 anos (1950) de idade, este cantor atraiu meu interesse – e minha curiosidade – porque cantava em crioulo e a rádio nacional do Senegal de vez em quando passava as suas músicas registadas em discos 78 e 48 tours da época. O crioulo com que cantava ou ainda canta, se vivo, era para mim às vezes incompreensível porque trazia mistura  num ou noutro trecho de português/brasileiro e não se destrinçava bem o sentido.
Estava preparando um diploma de jornalista na então Escola Universal de Paris – que ensinava e preparava estudantes em vários ramos do ensino superior – e nos finais de 1952 (novembro) teria que regressar a Dakar para ali cumprir as minhas obrigações militares para depois ser enviado a Perpignan que iria ser a minha base em caso duma eventual declaração de guerra, mas isso só seria assim se, me engajasse após os 2 primeiros anos de serviço obrigatório.
Naturalmente estava fora de questão um engajamento da minha parte que me iria levar incondicionalmente às frentes operacionais das guerras coloniais em Indochina e logo a seguir Argélia. Iria matar cidadãos que não conheço e que nunca me fizeram mal algum nos seus próprios Países, ou ser morto pour la gloire de…la France !!!
Recusei o engajamento e fui recambiado para Dakar, graduado lieutenant de réserve. tinha 22 anos.
Bom me estou afastando do AFONSECA como lhe chamavam aqui. Com o meu diploma de jornalista, me recorri a um emprego de redactor e de speaker (locutor) na rádio nacional com o Senegal ainda colónia francesa. Por sorte o Director era membro do Partido Comunista e como em França militava na Jeunesse du Parti Communiste, sem dificuldades passei a ser Rédacteur sur la Chaine Internationale – com outros vários franceses e senegaleses mais ou menos todos no inicio de carreira – Canal Internacional  ia para além das fronteiras do Senegal cobrindo a nossa Guiné e chegando até ao Brasil. Dakar era capital de l’AOF –Afrique Occidentale Française – que contava com 9 ‘territórios’: Senegal – Soudan Français hoje Mali – La Guinée – Costa do Marfim, Dahomey hoje Benin, Alta-Volta hoje Burkina Faso, Pais de Thomas SANKARA – Níger, Togo e a norte a Mauritânia.
Um vasto Império que ainda hoje os seus dirigentes são lacaios da FRANCA … O papel da estação emissora era de cobrir quase todo o continente sustentáculo do imperialismo francês.
Aproveitando esta ‘boleia’ vou criar um departamento de língua portuguesa porque já havia um de inglês. Foi o primeiro desafio e logo nestas emissões comecei um trabalho de mobilização e o meu amigo Director-Geral me autorizou além do português, mais meia hora de antena que me servia para programas em línguas nacionais: crioulo, manjaco, felupe, balanta,  pepel, mancanha, bijagó, etc.
As emissões, diárias, tinham por horário 18/19 horas. Emissões que depois da informação geral eram todas de denúncias e de reivindicações nacionalistas.
Ainda não conhecia Amilcar e ele me dizia ter ouvido muito falar de mim quando pela primeira vez fomos apresentados pelo Sr. Rito Alcântara farmacêutico que pertenceu a uma família caboverdeana aqui, que se queria burguesa. Respondi ao Cabral que nunca tinha ouvido falar dele mas que conhecia bem os pais o Tio Juvenal CABRAL e a mãe Tia IVA hóspedes da minha família em Bissau quando vinham do ‘mato’…  O resto da Historia, à venir
Agora sim, vou falar em poucas palavras porque nunca consegui encontrá-lo e tampouco poder falar com ele, o cantor AFONSECA. A radio poderia ter sido lugar ideal para se saber dele.
Aos serviços competentes a quem encarreguei de o localizar esteja onde estivesse para um convite de entrevista e de música, a resposta era sempre invariável: RIEN Henri!
Tinha um colega Dahoméen de nome de PRUDÊNCIO, me garantia com toda a seriedade que o cantor era da terra dele porque em Cotonou e Porto Novo há muitos nomes de consonância portuguesa, bastava ver o nome dele. Que também  havia  ainda  Almeidas,  Fonsecas,  Silvas, etc.
Mas isso é uma outra Historia nada a ver com os Guineenses, dizia-lhe eu. Tanto mais que o AFONSECA como vocês o chamam,  canta em crioulo da Guiné/Casamanse nada de comum com um idioma de ton village para lhe chatear.
O Gilles SALA em contra partida que citas, conheci-o em Paris era também um cantor camaronês com belas canções em francês. Foi da entourage do Manu DIBANGO.
Das canções do FONSECA em recordação assobiava eu de vez em quando Quim ku tém si fidju femia – Sibouten – (Si bu ten) e “Telefonista por favor quero falar ao meu amor”. Nesta canção brasileira há uma deturpação incrível das palavras. Por isso também na altura gostaria de tê-lo encontrado e ajudá-lo nas suas actuações. O arranjamento musical era bom. Do sotaque dele depreendia ser de Cacheu que é o crioulo efectivamente vinculado em Ziguinchor. Já em Kolda é diferente, muito perto de Farim. (Quando ia de férias a Farim, de vez em quando fazia uma estirada cerca de 30 km até Kolda, em bicicleta com o Zeca e o Tadeu, filhos do Administrador da Circunscrição, Sr.  Sacramento MONTEIRO, filhos nascidos em Bissau de mãe caboverdeana D. Belmira).
Mas concluindo gostaria de te retomar… Infelizmente, a Guiné-Bissau tem perdido muito ao não fazer questão de pesquisar o passado das suas gentes que saíram para os Países vizinhos, mas também para o Mundo, entre a escravatura, a colonização, a guerra de libertação nacional e, mais recentemente, devido às desilusões com a desvirtualização dos objectivos da Independência Nacional.
 
Obrigado Mestre Didinho. A Guiné precisa de ti.
Henri Labery
Dakar 26.03.2020

MANU DIBANGO

MANU DIBANGO
Nos anos 60, de memória, em Paris, Manu, como a gente  familiarmente lhe chamava, mais jovem ano e meio do que eu começava timidamente mas afincadamente a sua carreira de monstro saxofonista e cantor de voz rouca  frequentando como muitos jovens de então, um circulo de músicos e intelectuais de gauche habituados do Boulevard Saint Germain e mais precisamente do Café de Flore, entre os quais:
Boris Vian, Juliette Gréco, lado muisical; Jean Paul Sartre e companheira Simone de Beauvoir (filosofos émérites pensadores), lado literário. (Sartre recusa a distinção de Nobel da Paz em 1964)!
Années de braise, luta pela descolonização, luta contra a guerra da Indochina (França depois Estados Unidos), luta contra o Imperialismo em Cuba, no Congo-Leopoldville – assassinato de Patrice Lumumba – apoio à Sékou Touré que por várias vezes tentaram assassinar por ter “ousado”  em 1958 votar NON  ao projecto de referendo de De GAULLE que deu a independência à la Guinée, la guerre de l’Algérie, e as colónias portuguesas no limiar duma nova Historia…
Nos anos 50, NASSER que assinou  golpe mortal ao imperialismo franco-britânico nacionalizando o Canal de Suez, Conferencia de Bandoeng, Mahatma Ghandi já tinha derrotado os britânicos reenviados ao Reino Unido… E em Maio de 1968 se desencadeia um Movimento que iria espantar o mundo e nasce um avant et um après Mai 68 !
É neste ambiente de noites quentes do quartier latin de Café de Flore que o jovem  Emmanuel NDjoké Dibango começou atrevidamente a se impor verdadeiramente como Star de la Musique Soul -Soul Makossa- que o lançou definitivamente em 1973., sendo o resto do seu percurso bastante conhecido.
Manu DIBANGO deixa uma obra musical variada sem precedente.
Mereceria de África dos mais elogiosos epítetos !
Do género:  Sois honoré MANU DIBANGO toi qui a su honorer l ‘Afrique 
…e uma estátua de pé com o seu saxo no meio da sua praça natal a cidade de DOUALA – CAMEROUN.
Henri Labery
Dakar 25.03.2020

Luís Vera (Vieira?) da Fonseca: SI BU TEN

Vendo e ouvindo a entrevista de Manu Dibango à RFI em Outubro de 2019 fiquei curioso sobre a referência que faz, por diversas vezes, a um tal de Fonseca, originário de Casamance.

Na verdade, na minha juventude, ainda na Guiné-Bissau, já tinha ouvido alguém falar de um tal de Fonseca, não como originário de Casamance, mas sim, da Guiné-Bissau, como sendo autor de uma composição musical muito conhecida, “Le Boucheron”, interpretada por Franklim Boukaka e também, por Manu Dibango, numa versão intitulada “Ayé África”, que no entanto, nunca pude confirmar.

Hoje, depois de ouvir Manu Dibango falar sobre Fonseca, cujo nome completo é Luís Vera ( seria Vieira ?) da Fonseca, decidi pesquisar sobre tal personalidade, tendo encontrado um rico trabalho sobre diversos músicos, compositores e bandas africanas.

Sobre o Fonseca, cita: “Cette réédition magnifique en est un exemple parfait. Elle n’est même pas datée, et le texte sybillin du producteur-collectionneur Gilles Sala, repris tel quel, ne nous apprend rien sur Luis Vera da Fonseca (même pas s’il est encore en vie) sauf qu’il est (était ?) de mère sénégalaise et de père cap-verdien.”

Mars 2005 : Akendengue, Salif Keita & Kanté Manfila, Ballaké Sissoko, Miguel “Anga” Diaz, Chants Atege, Omar Pene, Cheick Tidiane Seck, J.-Ph. Rykiel, Joe Turner, Faytinga, Fonseca, Franklin Boukaka, Vintage Palmwine, Roots Music, Oscar Peterson.

Prosseguindo as minhas pesquisas, encontrei vários vídeos no Youtube sobre originais de Luis Vera da Fonseca e da sua Banda “Anges Noirs”.

Uma das músicas, que me fez regressar ao passado da minha infância/juventude, na Guiné-Bissau, intitula-se “Sibouten” ou melhor, no nosso kriol “Si bu ten”.

Música que certamente todos os guineenses da minha geração e da geração anterior à minha se recordam, até porque foi reproduzida pelo Conjunto Juventude 71 e mais recentemente, recriada pelo músico e compositor guineense Zé Manel Fortes.

Ao ouvir o original de “Sibouten”, na voz de Luis Vera da Fonseca, fiquei com sérias dúvidas de que, pelo kriol utilizado pelo artista, ele não era, de facto, filho da Guiné-Bissau. A pronúncia, o sotaque, faz-nos supor que Fonseca era de facto, Guineense, da Guiné-Bissau, mesmo tendo nascido em Casamance.

Não quero, porém, com esta suposição, fechar o espaço a outras análises e contribuições, em forma de debate, para a busca de mais elementos sobre Luis Vera (Vieira?) da Fonseca.

Infelizmente, a Guiné-Bissau tem perdido muito ao não fazer questão de pesquisar o passado das suas gentes que saíram para os países vizinhos, mas também, para o Mundo, entre a escravatura, a colonização, a guerra de libertação nacional e, mais recentemente, devido às desilusões com a desvirtualização dos objectivos da Independência Nacional.

Fica o espaço aberto à contribuição de todos sobre o que conseguirem descobrir, com referências de consulta sobre Luis Vera (Vieira?) da Fonseca.

Didinho 25.03.2020