AINDA A PROPÓSITO DO COVID-19
AINDA A PROPÓSITO DO COVID-19
Levantei-me hoje às 5:30 da manhã e depois do exercício matinal, decidi passar por Las Vegas Strip (faixa da cidade onde estão 90% dos casinos), antes de ir ao trabalho no hospital: uma cidade fantasma, ninguém nas ruas, hotéis com semelhança a túmulos num cemitério isolado: vieram-me à memória os tempos de quando tinha 8/9 anos, na Guiné, e que ao domingo à tarde entre a 1 e as 3 tinha que levar comida ao meu pai nos armazéns da ultramarina perto da Ponte Cais; as ruas desertas de Bissau, entre a zona dos correios e a ponte cais, todos a dormir a sesta ou a ouvir relatos de futebol português – silêncio e vazio, que me metiam medo. É assim, nos dias de hoje, aqui: tudo fechado agora devido ao coronavírus…
Coronavírus, são uma família de vírus, encapsulados, fita única, classificados dentro dos Nidovirales. Podem infetar mamíferos e aves, causando doenças respiratórias, entéricas, e neurológicas nos humanos.


- Pronação
- Vasodilatadores pulmonares
- Paralíticos
- Se tudo falha, então ECMO


Las Vegas, USA, 27.03.2020
Joaquim Tavares “Djoca” , MD, FACP, FCCP, DABSM, FAASM, EDIC, RPSGT
Medical Director, ECMO Program at Sunrise Hospital and Sunrise Children’s Hospital
COVID-19: A HORA É DE ACÇÃO E NÃO DE PALAVRAS!
COVID-19: A HORA É DE ACÇÃO E NÃO DE PALAVRAS!
Está na hora de, os médicos guineenses, sobretudo, e todos os Profissionais de Saúde, residentes na Guiné-Bissau, que ainda continuam a trajar-se com uniformes de executivo, nas vestes de políticos e não de profissionais de saúde, vestirem as suas batas, fazendo-se acompanhar dos seus instrumentos básicos de trabalho, em prol da Missão de Salvar Vidas e não de fazer política!
Como dizia Amilcar Cabral, o momento é de Acção e não de Palavras…!
O nosso Agradecimento e Reconhecimento, de sempre, a todos os profissionais de Saúde na Guiné-Bissau, que nunca misturaram a Saúde, o Bem-Estar Colectivo, com politiquices.
Positiva e construtivamente.
Didinho 27.03.2020
GUINÉ-BISSAU: O COVID-19 ENTRE O PROTAGONISMO E A POLITIQUICE
GUINÉ-BISSAU: O COVID-19 ENTRE O PROTAGONISMO E A POLITIQUICE
“O economista guineense Paulo Gomes e a epidemiologista Magda Robalo disseram à Lusa estar disponíveis para integrar qualquer equipa nacional para enfrentar o que consideram de “guerra contra a doença” que já contaminou duas pessoas no país. Antigo candidato à presidência do país, Paulo Gomes, que se encontra atualmente fora da Guiné-Bissau, disse à Lusa estar pronto para, nos próximos dias, regressar e ajudar a “fazer avançar a iniciativa corajosa e proativa” de Idrissa Djaló, líder do Partido da Unidade Nacional (PUN), que propôs um pacto entre guineenses para lutar contra a pandemia da covid-19.”
Tudo muito bonito, mas será que o Dr. Paulo Gomes não sabe que uma das recomendações para a prevenção contra a propagação da doença e a contaminação de mais pessoas, é cada um ficar em casa, em isolamento, de quarentena, salvo, quem tenha mesmo que trabalhar, face à essencialidade do seu trabalho, sobretudo, relacionado com o serviço público, que não pode ser efectuado através do tele-trabalho?
Pensa ir à Guiné-Bissau nos próximos dias, como, com que meios logísticos, face à conjuntura mundial que restringiu as fronteiras de quase todo o Mundo e a consequente inoperacionalidade das companhias aéreas, marítimas, ferroviárias, etc., etc.?
Ainda que fosse à Guiné, face às medidas restritivas decretadas, o que iria fazer, que não em casa, para ajudar quem, e como, algo que pode fazer onde está neste momento, através da INTERNET?
Pode ajudar financeiramente, com verbas endossadas ao Estado para fins concretos, ou, adquirindo materiais de saúde apropriados para a actual situação, por exemplo, ventiladores, geradores, desinfectantes diversos, luvas, máscaras etc., etc., dependendo de “aberturas” aéreas, marítimas ou terrestres, para serem enviados à Guiné-Bissau.
Porém, pode sempre, onde quer que esteja, ajudar/apoiar, moralmente, sensibilizando e partilhando informações às populações, sobre a doença e os riscos e as suas consequências, que é a via que todos nós, Guineenses, espalhados pela nossa Diáspora temos vindo a fazer, através das Redes Sociais. O sr. Paulo Gomes quer ser diferente, com base num protagonismo que vai contra as recomendações e restrições no combate à prevenção, e contra a propagação do vírus?
Anunciar um regresso ao país neste momento, alegadamente, para ajudar, quando mesmo o pessoal de saúde, caso tivesse como ficar em casa, em isolamento, de quarentena, também ficaria, não passa, a meu ver, e peço desculpa pela frontalidade, de um gesto imbuído de protagonismo e irresponsabilidade.
Fiquemos em casa, para nosso bem e de todos, mesmo que uns quantos, imprescindíveis, seres humanos e guineenses, com família, tenham que sacrificar suas vidas e de suas famílias, pela maioria da População, que deve cumprir com as medidas restritivas de prevenção, por seus desempenhos profissionais não serem imprescindíveis na actual conjuntura, ou, por poderem ser efectuados a partir de casa.
Outrossim, os técnicos de saúde guineenses, que se encontram no nosso país, independentemente dos seus estatutos, das suas bagagens académicas, não devem esperar que sejam chamados a contribuir para o que suas profissões e seus juramentos lhes reservam como Missão: Salvar Vidas, Servir as populações. Devem fazer a parte que lhes compete, dirigindo-se às entidades de Saúde, aos hospitais e centros de saúde, para fazerem o que sabem e devem fazer, sem que sejam mandatados para tal, por via de jogos políticos e partidários!
Estar à espera de consensos políticos para assuntos de saúde pública, sobretudo, face à EMERGÊNCIA de uma Pandemia, por parte de quadros da saúde, Guineenses, é de facto, renunciar ao Juramento de Hipócrates.
Para finalizar, fiquei incrédulo hoje, ao ver imagens da cerimónia de despedida do corpo de efectivos da ECOMIB na Guiné-Bissau, com a presença do Presidente da República, sem que as medidas restritivas de distanciamento mínimo de metro e meio/2 metros, fossem cumpridas.
Sr. Presidente da República, seja o primeiro a dar o exemplo nesta luta contra o Inimigo Comum Global, COVID-19.
Evite o contacto social e a concentração social, em nome da prevenção da doença!
Não basta decretar o estado de emergência, para de seguida, ignorar os factores de risco e pôr-se a jeito de ser contaminado, ou de contaminar os demais.
É preciso que todos nós levemos muito a sério esta doença!
Ela não escolhe quem quer que seja, todos estamos sujeitos a contraí-la e, por isso, todo o cuidado é pouco!
Infelizmente, já começamos a sentir a nossa dor…
Positiva e construtivamente.
Didinho 26.03.2020
Covid-19: Quadros guineenses disponíveis para enfrentar “guerra contra a doença”
ENTRE A IRRESPONSABILIDADE E A IGNORÂNCIA…
ENTRE A IRRESPONSABILIDADE E A IGNORÂNCIA…
Uma IRRESPONSABILIDADE e IGNORÂNCIA, de um ex-Primeiro-ministro, que deve ser chamado à RESPONSABILIDADE, e, se necessário, por via Judicial, face à REALIDADE dos factos em presença, sob pena de, as suas constantes, inoportunas, desenquadradas e inadequadas afirmações políticas, sobre o Coronavírus, servirem de pretexto para a subestimação da doença, e consequentemente, para uma maior manipulação/instrumentalização/desinformação, da sociedade guineense, que poderá redundar numa atitude contraproducente das medidas preventivas já anunciadas pelas autoridades nacionais, visando evitar/reduzir, a propagação do vírus e, consequentemente, a contaminação de pessoas/populações.
O momento é complicado para todos nós, por isso, deixemos o jogo político de lado e foquemo-nos na prevenção, visto estarmos todos sujeitos ao coronavírus…
Nenhum País do Mundo, mesmo dos mais evoluídos/desenvolvidos, do nosso Planeta, tinha ou tem um Plano/Projecto de Combate efectivo contra o COVID-19!
Como é que o sr. Aristides Gomes, assim como o sr. Domingos Simões Pereira continuam a afirmar que, não fosse “o golpe de estado” na Guiné-Bissau, ” a doença podia ser evitada, por via dos planos de contingência do seu governo”?
Já agora, por que esperam os senhores Aristides Gomes e Domingos Simões Pereira, para apresentarem os seus planos de contingência ao Mundo, aos Governos de Todo o Mundo; aos Cientistas de Todo o Mundo, numa luta sem igual, para encontrar uma fórmula milagrosa, mas científica, para acabar com a pandemia do COVID-19?
É CRIME, usar a manipulação/instrumentalização, política, sobre uma pandemia que todos os dias tira a vida a centenas de pessoas em todo o Mundo, alterando completamente o quotidiano das Pessoas neste nosso Mundo.
Quem é Aristides Gomes, para falar do COVID-19, numa abordagem política, e não, técnica ou científica, no âmbito da Medicina/Saúde, como se fosse um especialista na matéria, quando mesmo os cientistas afectos à área, estão a tentar conhecer melhor a essência da doença, e ninguém tem até hoje, uma solução mágica para a sua cura?
Quem é Domingos Simões Pereira, para falar do COVID-19, numa abordagem política, e não, técnica ou científica, no âmbito da Medicina/Saúde, como se fosse um especialista na matéria, quando mesmo os cientistas, afectos à área, estão a tentar conhecer melhor, a essência da doença e ninguém tem até hoje, uma solução mágica para a sua cura?
É preciso que se use o poder do Estado, para se declarar, efectivamente, o Estado de Emergência, e limitar, detalhadamente, certos direitos, certas liberdades e garantias, ao abrigo do exposto na Constituição da República, para que numa situação de Emergência, que é a que estamos a viver em Todo o Mundo, o Bem-Colectivo seja Salvaguardado, a Bem do Interesse Nacional e Global, quiçá, da nossa Existencialidade, enquanto Seres Humanos, e Guineenses!
Positiva e construtivamente.
Didinho 26.03.2020
A PROPÓSITO DE LUÍS VERA (VIEIRA?) DA FONSECA

MANU DIBANGO

COVID-19 – A NOSSA EXPERIÊNCIA, PROF. DOUTOR JOAQUIM SILVA TAVARES
COVID-19 é uma doença causada pelo Coronavírus SARS-Cov-2(SARS =severe acute respiratory syndrome)
Da mesma forma que aconteceu com o H1N1 e o SARS, ainda há quem pense que as consequências do coronavírus são mais propaganda de alguns grupos económicos com o fim de lucrar com o pânico e medo do desconhecido.
Para não inundar os leitores com a imensa literatura que encontro todos os dias, divagando sobre COVID-19, vou contar uma experiência directa que tive com 3 doentes infectados com COVID-19.
No dia 13 de Março, sexta-feira (acreditam em superstição?), recebemos um paciente nos cuidados intensivos, um “jovem” de 54 anos, cozinheiro num dos casinos de Las Vegas: admitido com febre e pneumonia na radiografia. Inicialmente, como estava “estável”, disse ao hospitalista e à enfermeira, que só iria entrar no quarto, estando isolado (porque o diagnóstico diferencial incluía o covid-19) e se o paciente mostrasse sinais de descompensação (para evitar aumentar o número de profissionais em contacto com o paciente).
Duas horas depois desta conversa, a enfermeira saiu do quarto dizendo: o doente está confuso, a saturação está só a 65%.
Entrei na antecâmara, coloquei o PAPR (power air-purifying respirator) e o PPE (personal protective equipment), para de seguida entrar no quarto: o doente estava a respirar a 40% por minuto, confuso, e mesmo depois de oxigénio a 100%, a saturação estava a 65%.
Entubei o doente com as precaucōes recomendadas pela OMS e a Sociedade de Cuidados Intensivos, e começamos o protocolo da ARDS Net (a radiografia, em menos de 3 horas mudou de manchas brancas para completamente branca-em termos leigos-quase nenhuma troca de oxigénio nos pulmões).
O doente ainda está vivo, mas a esposa dele, admitida 2 dias depois dele, faleceu ontem. A filha ainda está nos cuidados intensivos.
Imagem 1 – cozinheiro infectado
Imagem 2 – Esposa do cozinheiro infectado
Imagem 3 – Esposa do cozinheiro infectado
O hotel onde o indivíduo trabalha fechou as portas temporariamente.
Por 14 dias seguidos depois deste contacto, tenho trabalhado, mas com monitorização contínua da minha temperatura, sintomas de tosse, etc.
Mas estou bem de saúde e preparado para mais encontros.
Estamos experimentando com a hydroxychloroquine (vamos a ver; “se tivesse “siti malgoss – azeite amargo de óleo de palma”, também iria experimentar – brincadeira à parte!!!)
No nosso hospital também oferecemos ECMO (extracorporeal membrane oxygenation), forma de suporte artificial temporário dos pulmões e coração); Até agora, como Director do nosso programa de ECMO (único no estado de Nevada), ainda não aprovei nenhum ECMO interno ou por transferência de um outro hospital, devido a riscos de infecção, materiais de protecção disponíveis, etc), mas, da maneira como os casos estão aumentando, qualquer dia temos que usá-los num doente.
Todo o cuidado é pouco, por isso há que: lavar as mãos, evitar contacto por menos de 2 metros, usar chlorox para desinfectar, etc.
Este vírus existe, este vírus pode ser devastador, não é propaganda; Isto é para todos e sobretudo, para alguém que tem “close encounters” todos os dias com alguém infectado ou com alguém suspeito, e todos somos suspeitos.
Stay Safe (principalmente membros provedores de Saúde)-We need all of you!
Djoca 25.03.2020
Joaquim Tavares, MD,FACP,FCCP,DABSM,FAASM,EDIC,RPSGT
Medical Director, ECMO Program at Sunrise Hospital and Sunrise Children’s Hospital
Luís Vera (Vieira?) da Fonseca: SI BU TEN
Vendo e ouvindo a entrevista de Manu Dibango à RFI em Outubro de 2019 fiquei curioso sobre a referência que faz, por diversas vezes, a um tal de Fonseca, originário de Casamance.
Na verdade, na minha juventude, ainda na Guiné-Bissau, já tinha ouvido alguém falar de um tal de Fonseca, não como originário de Casamance, mas sim, da Guiné-Bissau, como sendo autor de uma composição musical muito conhecida, “Le Boucheron”, interpretada por Franklim Boukaka e também, por Manu Dibango, numa versão intitulada “Ayé África”, que no entanto, nunca pude confirmar.
Hoje, depois de ouvir Manu Dibango falar sobre Fonseca, cujo nome completo é Luís Vera ( seria Vieira ?) da Fonseca, decidi pesquisar sobre tal personalidade, tendo encontrado um rico trabalho sobre diversos músicos, compositores e bandas africanas.
Sobre o Fonseca, cita: “Cette réédition magnifique en est un exemple parfait. Elle n’est même pas datée, et le texte sybillin du producteur-collectionneur Gilles Sala, repris tel quel, ne nous apprend rien sur Luis Vera da Fonseca (même pas s’il est encore en vie) sauf qu’il est (était ?) de mère sénégalaise et de père cap-verdien.”
Prosseguindo as minhas pesquisas, encontrei vários vídeos no Youtube sobre originais de Luis Vera da Fonseca e da sua Banda “Anges Noirs”.
Uma das músicas, que me fez regressar ao passado da minha infância/juventude, na Guiné-Bissau, intitula-se “Sibouten” ou melhor, no nosso kriol “Si bu ten”.
Música que certamente todos os guineenses da minha geração e da geração anterior à minha se recordam, até porque foi reproduzida pelo Conjunto Juventude 71 e mais recentemente, recriada pelo músico e compositor guineense Zé Manel Fortes.
Ao ouvir o original de “Sibouten”, na voz de Luis Vera da Fonseca, fiquei com sérias dúvidas de que, pelo kriol utilizado pelo artista, ele não era, de facto, filho da Guiné-Bissau. A pronúncia, o sotaque, faz-nos supor que Fonseca era de facto, Guineense, da Guiné-Bissau, mesmo tendo nascido em Casamance.
Não quero, porém, com esta suposição, fechar o espaço a outras análises e contribuições, em forma de debate, para a busca de mais elementos sobre Luis Vera (Vieira?) da Fonseca.
Infelizmente, a Guiné-Bissau tem perdido muito ao não fazer questão de pesquisar o passado das suas gentes que saíram para os países vizinhos, mas também, para o Mundo, entre a escravatura, a colonização, a guerra de libertação nacional e, mais recentemente, devido às desilusões com a desvirtualização dos objectivos da Independência Nacional.
Fica o espaço aberto à contribuição de todos sobre o que conseguirem descobrir, com referências de consulta sobre Luis Vera (Vieira?) da Fonseca.
Didinho 25.03.2020