DAS ESTÓRIAS DE JOSÉ MARIA NEVES…

DAS ESTÓRIAS DE JOSÉ MARIA NEVES…

Infelizmente, nós Guineenses, continuamos a ignorar o que muitos filhos da Guiné-Bissau têm dito há muitos anos, preferindo denegri-los, desacreditá-los e ameaçá-los. Em contrapartida, qualquer cidadão de outro país que se posicione sobre a Guiné-Bissau, face ao seu estatuto, é logo visto como o milagreiro , o “santo abre latas” que a Guiné-Bissau e os Guineenses precisam para (finalmente) saberem, pasme-se, o que pelos vistos, nunca os filhos da terra tiveram a lucidez e a ousadia de darem a conhecer ao mundo, numa perspectiva de alerta internacional; ou de sugestão e denúncia, sobre o país de todos nós, numa perspectiva patriótica, interna, visando a sensibilização, o debate de ideias e a consciencialização nacional sobre os nossos problemas e como resolvê-los.

Estou triste, sinto vergonha por tantos Guineenses, nos quais me incluo, que nunca foram valorizados pelos préstimos que têm dado ao nosso país sem terem pedido/exigido, ou aceitado qualquer contrapartida retributiva, pois não é esse o motivo dos seus Compromissos para com a Guiné-Bissau, mas cujos pensamentos, suas análises sobre a Guiné-Bissau têm sido “usurpados” e manipulados por outros, de fora, que de vez em quando, em função das suas conveniências e dos seus interesses, utilizam o lirismo numa sessão de abertura em prol da demagogia e de uma suposta neutralidade, e falso amor à Guiné-Bissau, para de seguida se posicionarem a favor dos seus amigos e peões guineenses, por via das suas conexões políticas e ideológicas absolutistas, assentes num egocentrismo de suas lideranças político-partidárias, apenas valorizadas graças a uma árvore comum, plantada por Amilcar Cabral e cuidada por guineenses e cabo-verdianos entre os que deram suas vidas pelas independências de ambos os países, ou dos sobreviventes dessa Missão Comum, de Luta pela Dignidade Humana, dos dois povos irmãos.

O Sr. José Maria Neves, ex-Presidente do PAICV e ex-Primeiro-ministro de Cabo-Verde, de quando em vez, e sempre que lhe convém, decide contar-nos estórias do seu falso amor pela Guiné-Bissau, e sempre que o faz, não deixa por mãos alheias, a defesa dos seus amigos, dos seus interesses políticos e geo-estratégicos na Guiné-Bissau, em nome dos Interesses de Grupos a que está associado e, consequentemente, defende.

Lirismo a quanto obrigas…!

Igualmente, não deixa de reforçar o ataque aos que sempre considerou como seus inimigos guineenses, entre complexos de superioridade e receios de uma Mudança política e Social na Guiné-Bissau, capaz de, parafraseando o Embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, Dr. Hélder Vaz fazer com que a Guiné-Bissau deixe de ser um “circo político”, vendo resgatadas a sua Independência e a sua Soberania, e por via disso, a sua Afirmação no concerto das Nações bem como o merecido respeito a que tem direito

O Sr. José Maria Neves, tenhamos a ousadia de dizê-lo, nunca criticou o PAIGC em concreto, preferindo lançar suspeitas de acusação ou mesmo acusações explícitas às Forças Armadas da Guiné-Bissau, e a alguns partidos políticos guineenses, por todo o mal que tem acontecido na Guiné-Bissau. Será isso imparcialidade e honestidade intelectual?

Será isso sinónimo de se estar a favor da Verdade, da Guiné-Bissau e dos Guineenses?

Amigos da Guiné-Bissau, democratas e estadistas como o Sr. José Maria Neves, na minha modesta opinião, a Guiné-Bissau dispensa!

Amilcar Cabral certamente também desaconselharia, face a tudo o que simboliza a traição do seu legado, quer pelo PAIGC na Guiné-Bissau, quer pelo PAICV em Cabo-Verde!

Haja mais respeito, consideração e valorização pelos pronunciamentos dos filhos da Guiné-Bissau sobre os nossos problemas e sobre as sugestões para a resolução desses problemas!

Se há algo que não precisamos de importar, ou de receber como “ajuda à cooperação”, são as leituras, reflexões, análises, interpretações e críticas sobre a nossa Realidade Política e Social!

Positiva e construtivamente.

Didinho 27.04.2020

José Maria Neves analisa crise política na Guine -Bissau e as relações internacionais em tempos do Covid – 19


Estou farto do lirismo namorador . Político . Raquítico . Sifilítico . De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo . De resto não é lirismo . Será contabilidade tabela de co-senos  secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas  e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc . Quero antes o lirismo dos loucos . O lirismo dos bêbados . O lirismo difícil e pungente dos bêbedos . O lirismo dos clowns de Shakespeare . . . 🖌️: Manuel Bandeira . . #DiaDoEscritor

DIDINHO – Publicações de 21 e 22 de Abril de 2020

CONTRA O INCENTIVO À PROMOÇÃO DA DITADURA!

Se o Guineense continua a ter 2 pesos e 2 medidas em relação ao absolutismo do poder dirigente do Estado, lamento, mas também sou guineense e excluo-me da visão musculada e ditatorial que se pretende, como exemplar, para a imposição de uma alegada legitimidade democrática.

Felizmente ou infelizmente, a Guiné-Bissau e os Guineenses da minha geração, ou da geração anterior à minha, sabem e bem o que é uma ditadura!

Ela começa precisamente pelo apoio duns e doutros às decisões e afirmações irresponsáveis, do Chefe do Estado e, no seguimento, de toda a sua cadeia de transmissão “contágio”.

Não precisamos de ameaçar pessoas ou instituições para fazermos passar a mensagem da necessidade de se promover o diálogo, a concertação, visando a defesa do Interesse Nacional, quiçá, do Bem Comum!

Não contem com o meu apoio nesse sentido!

Respeito toda e qualquer opinião divergente da minha mas, continuo a ser coerente com o meu Eu, e com o meu Compromisso para com a Guiné-Bissau.

Um Presidente da República deve ser o primeiro e o principal promotor do diálogo político, institucional e social do país, visando a Unidade Nacional e a Estabilidade a todos os níveis e em todos os sectores de desenvolvimento desse país e não, o primeiro e o principal “bombista” para destruir o país!

Positiva e construtivamente.

Didinho 22.04.2020


A ÉTICA E A FORMALIDADE PROTOCOLAR

O ex- Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz deve ser referenciado, sobretudo pelo actual Presidente da República, com ética, tendo em conta a formalidade protocolar.

Não se deve banalizar o estatuto de um Presidente da República, ou mesmo quando se trata de um ex-Presidente da República.

Não devemos continuar na senda do que se designa como “nossa realidade”.

Outrossim, a abordagem relativamente aos membros do governo não deve ser numa perspectiva “possessiva”.

Quando um Presidente da República, ou um Primeiro-ministro, referem-se, por exemplo ao Ministro das Finanças, cada um deles a dizer “o meu Ministro das Finanças”, então onde é que se enquadra o regime semi-presidencialista da República da Guiné-Bissau, tendo em conta a existência dos órgãos de soberania, cada um deles com as suas competências constitucionais?

Os membros do governo não são funcionários do Presidente da República, nem do Primeiro-ministro.

São funcionários do Estado, por isso, devem ser tratados como tal, numa vertente da ética e da formalidade protocolar.

Um Presidente da República ou um Primeiro-ministro que querem ser tratados com ética, devem ser exemplos da ética no tratamento formal e protocolar com seja quem for!

Positiva e construtivamente.

Didinho 22.04.2020


A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO

Às vezes, ou sempre que necessário, o silêncio de um Presidente da República deve ser tido como essencial para a acalmia política e social do país.

Não é necessário criar casos, ou fazer parte de turbulências políticas para fazer valer as competências constitucionais do Presidente da República.

Se tem a caneta, também tem a folha, não precisa necessariamente do microfone antes de ter que emitir um decreto presidencial, se for caso para tal.

O momento é de Unidade, Solidariedade e da promoção da Confiança entre irmãos há muito desavindos, e não, de confrontações político-institucionais, numa altura delicada a nível global, face à pandemia COVID-19.

Vá com calma Sr. Presidente Umaro Sissoco Embaló, a bem da Guiné-Bissau e dos Guineenses.

Positiva e construtivamente.

Didinho 22.04.2020

Declarações do Presidente da República General Umaro Sissoco Embaló


PEQUENOS DETALHES …

Se vimos o Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau a lavar as mãos e não vimos o militar que pega no toalhete de papel, a lavar as mãos, pegar nesse toalhete de papel e estendê-lo ao Presidente da República, já com as mãos desinfectadas, para sua limpeza/secagem, quem pode garantir que não há possibilidade de contágio por via desse acto?

Cada um tem que lavar e desinfectar as suas mãos, ciente de que fazendo isso, não cometerá, de seguida, o erro de ser contagiado por manusear algo também manuseado por alguém que por evidências ou suspeições, não lavou, não desinfectou as mãos.

Por vezes, são os pequenos detalhes que fazem toda a diferença, pela negativa.

Muitos que contraíram o coronavírus certamente questionam como foi possível, olhando apenas para os grandes detalhes da prevenção, ignorando por completo os ditos pequenos detalhes de prevenção.

Sem nenhuma outra intenção, que não, continuar a partilhar a minha visão crítica, positiva e construtiva, concretamente na sensibilização, informação e prevenção do coronavírus, espero que este reparo sirva realmente para ajudar e não para criar atritos.

Cuida de ti, para cuidares de todos, pois é esta a relação comunitária que se impõe face à actual conjuntura da Pandemia COVID-19.

Positiva e construtivamente.

Didinho 22.04.2020

Visita do Presidente da República ao Estado-Maior-General das Forças Armadas


O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!

Defendi e continuarei a defender sempre a Guiné-Bissau, meu País, não tenho outro, e ao longo de todos estes anos que estou longe, mesmo tendo igualmente a nacionalidade portuguesa, por opção, um direito que me assiste, como a todos os guineenses que vivem e trabalham há vários anos em Portugal, ou com laços de sangue que lhes dá esse direito, se alguém tiver algo a contrapor, que o faça!

Nunca defendi a Guiné-Bissau e os Guineenses por oportunismo, conveniência ou hipocrisia.

A Guiné-Bissau é a Minha Terra, Meu Umbigo;

Meu Partido, Meu Compromisso e Meu Desafio!

Nunca tive complexos em assumir tudo isso, ajudando inclusive, muitos a reverem a sua essência de Guineenses e a terem Esperança e Fé, no presente e no futuro, do nosso Chão umbilical, assim como, Orgulho e Respeito pelo nosso País…

Positiva e construtivamente.

Didinho 21.04.2020

REALIDADES ENTRE AS NOSSAS “REALIDADES”

REALIDADES ENTRE AS NOSSAS “REALIDADES”
Em 2015, após 27 anos consecutivos sem regressar à Guiné-Bissau (saí em 1981), num total de quase 39 anos de vivência no exterior nos dias de hoje, regressei e vi um país feito um autêntico mercado a céu aberto, sem condições mínimas de funcionamento sustentável, por tudo quanto eram ruas e ruelas;
 
Um país onde a convivência entre pessoas, lixo e abutres foi-me justificada como sendo “a nossa realidade”…
Quem disse que o ser Guineense ou Africano é avesso à Higiene e à sua Auto-estima, ao ponto de se querer cimentar uma cultura pejorativa nesse sentido?
 
Até parecia que eu não tinha nascido, ou sido criado, e vivido na Guiné-Bissau até aos meus 20 anos de idade, e, por conseguinte conhecedor doutras realidades duma Guiné-Bissau diferente para melhor, que não a que encontrei em 2015…
 
Para cada sobressalto face a uma constatação penosa da destruição material/patrimonial e Humana do país e da consequente perda de princípios e valores da Sociedade, a mesma resposta estratégica: “Esta é a nossa realidade”, tu estás muito europeizado Didinho…
 
Ser “europeizado” é sinónimo de ser contra a vivência das pessoas entre o lixo e os abutres?
 
É ser contra as pessoas viverem numa pobreza e miséria induzidas, porquanto sem alternativas para se tornarem empreendedoras, não apenas numa perspectiva de subsistência, mas de  desenvolvimento?
 
Questionar sobre o estado das infra-estruturas, do saneamento básico, da água potável, das crianças com balaios de mancarra na cabeça, ou com os caixotes de engraxador em frente aos locais de maior movimento, expostas a todo o tipo de violações e sem possibilidades de irem à Escola, é ser europeizado ou assimilado?
 
Ser “europeizado” é ser crítico, ter uma outra visão da Realidade, de muitas realidades em presença, que continuam a promover a negação do desenvolvimento e do bem-estar às nossas populações, condenadas a um estatuto de pobres e miseráveis, porquanto, uns e outros continuarem a pregar que é a “nossa realidade”?
 
A “realidade” guineense e africana da vida em dignidade, ou sem ela, e focada no desenvolvimento, ou no retrocesso, não pode ser a mesma realidade que divide ricos e pobres, criando elites com vivência aburguesada, europeizada ou americanizada, quando também são guineenses e africanos.
 
Os senhores e as senhoras, Guineenses, africanos e africanas, e suas famílias, constroem palacetes na Guiné-Bissau e em toda a África, fora do dito contexto da realidade guineense e, ou africana. Não há uma “realidade” guineense ou africana sobre a construção de habitações?
 
Não vi nenhum político ou governante guineense ou africano, construir uma palhota como sua habitação, ou mandar fazer um projecto de construção do tipo de uma palhota, para se orgulhar de estar a viver em função da “nossa realidade”.
 
Mas será que as nossas palhotas desde há séculos, não podiam ser aperfeiçoadas, as nossas tabankas não poderiam merecer ser espaços comunitários com tudo quanto as elites têm nos grandes centros urbanos?
A energia eléctrica, a água potável/canalizada, o saneamento básico, as Escolas, os Centros de Saúde, as Farmácias etc., etc., pelos vistos, não podem ser realidade das realidades da maioria da nossa População…
 
A “nossa realidade” é distinta pelos vistos, por isso continuarmos a falar dela, por ser uma evidência entre os poucos que têm milhões e os milhões que pouco ou nada têm, citando o meu amigo luso-angolano, o jornalista Orlando Castro.
 
Não providenciamos o desenvolvimento dos nossos países, mas sim o nosso bem estar-pessoal e familiar, com tudo quanto achamos que temos direito, porque é assim que se vive na Europa e nas Américas, mas que só nós, enquanto elites, temos direito nos nossos países africanos, pois o estatuto social é também a outra face do Poder que nos continuará a distinguir da maioria dos nossos irmãos a quem negamos o desenvolvimento e cuja visão da realidade será sempre “a nossa realidade”…
 
Eles, que fiquem lá nas tabankas, pois entre as muitas realidades da nossa Guiné-Bissau e da nossa África, somos os primeiros, nós, os privilegiados a dizer que não, eu não vivo numa palhota. Tenho uma vivenda, energia eléctrica da rede ou a gerador privado, água canalizada, jardim, piscina, muro à volta e segurança à porta. Tenho empregada doméstica, os meus filhos estudam numa Escola Privada; Se tivermos problemas de saúde, recorremos a uma clínica privada, ou se as coisas piorarem, viajamos para a Europa e somos logo tratados nas melhores clínicas…
 
E entre as muitas realidades, onde os complexos são assinaláveis, da Realidade Miserável que se sobrepõe à Guiné-Bissau, aos Guineenses; a África e aos Africanos, há um factor que sustenta todas elas: A negação da Realidade em que vivemos, por quem foi “condenado” a aceitar e a viver eternamente com a teoria de que a sua desgraça é uma realidade predestinada pelo divino…

O primeiro e o maior equívoco Guineense e Africano, assenta numa pretensa defesa duma realidade Identitária, Cultural e Social unívoca e imutável, com base em preconceitos diversos.

Não devemos continuar a negar a nós próprios o Direito à Vida, à Dignidade e ao Desenvolvimento, por via da falsa questão da realidade, da nossa “realidade”, como se insiste em dizer!

Não! A nossa Realidade, enquanto Guineenses e seres humanos, deve ser a mesma realidade existencial que norteia, sustenta e salvaguarda a Vida e a Dignidade de qualquer cidadão do mundo, independentemente do seu país de origem!

É um erro dos Guineenses, dos Africanos e de todos os Humanos, nesta nossa Humanidade!

Não há realidades Identitárias, Culturais e Sociais unívocas, quiçá, imutáveis!

A Tradição é mutável/variável, pois que, a Humanidade evolui porque as Sociedades, as Comunidades humanas, evoluem, edificando princípios e valores Tradicionais Amplos, quiçá, Globalizados e Globalizantes, assentes na génese humana e não necessariamente na realidade Identitária e Cultural concreta, fixa, numa falsa ilusão acerca da pureza identitária e cultural de país tal ou do povo tal.

A Globalização nas suas múltiplas vertentes, mas sobretudo, na sua vertente Humana, quer se queira quer não, mostra-nos o Espelho e o Caminho, da Realidade Humana Comum, que deve sobrepor-se às realidades geopolíticas dos Estados, e das realidades socioculturais equivocadas, dos Povos, Cidadãos de um Mundo de Todos!

Quero para mim, a Guiné-Bissau que desejo para Todos os meus irmãos Guineenses!

E o Rwanda de Paul Kagame, afinal, até é tido como um exemplo de País Africano em Desenvolvimento, visando a Vida em Dignidade, quiçá, a Prosperidade, o Bem-Estar das suas Populações, sem que alguém tenha esse Projecto de Desenvolvimento como sinónimo de europeísmo…

Será uma questão de Visão, ou falta dela; ou também, de complexos…?!

Positiva e construtivamente.

Didinho 21.04.2020

Um pensador não teme errar nas suas reflexões, teme sim, as consequências do seu silêncio, face à sua visão positiva, construtiva e apelativa, relativamente à destruição encoberta e que igualmente o envolve… Didinho 21.04.2020

 

 

ONDE ESTÁ A LIGA GUINEENSE DOS DIREITOS HUMANOS?!

ONDE ESTÁ A LIGA GUINEENSE DOS DIREITOS HUMANOS?!

Onde está a Liga Guineense dos Direitos Humanos, para passar a mensagem às pessoas suspeitas e devidamente contactadas pelas autoridades sanitárias da Guiné-Bissau, relativamente ao coronavírus, no intuito de aceitarem fazer os testes de despistagem?

É mais fácil condenar a acção policial face às medidas restritivas e preventivas decretadas em função do estado de emergência, visando proteger a vida de todos, do que sensibilizar ou repudiar o desrespeito pela vida de todos, por quem é suspeito de poder estar infectado, e, ou, ser foco de transmissão/infecção, da doença?

E se o Estado da Guiné-Bissau decidir agir de forma mais dura contra quem põe em causa a Saúde Pública, quiçá, a Vida de Todos, o que dirá a Liga Guineense dos Direitos Humanos?

Certamente, e por via dos seus posicionamentos politizados, condenará as decisões das autoridades, que visam salvar Vidas, através do respeito de cada ser humano, pela salvaguarda da sua Vida, como factor extensivo para a salvaguarda de Todas as Vidas, num contexto de Pandemia.

É que desde há uns dias que os apelos têm sido lançados e o que se tem verificado é um aumento de número de suspeitos com Coronavírus a recusar fazer o teste, ficando a Liga Guineense dos Direitos Humanos em silêncio, quando poderia sensibilizar e condenar esse comportamento irresponsável e criminoso daqueles que foram orientados no sentido de serem testados.

A Missão da Liga Guineense dos Direitos Humanos não é apenas criticar decisões ou actuações das entidades estatais, mesmo quando contêm lacunas, mas sim, proteger o essencial dos Direitos Humanos e Fundamentais da pessoa humana, e esse ESSENCIAL, é a VIDA HUMANA!

Que a Liga Guineense dos Direitos Humanos, mesmo ficando em casa, faça o seu trabalho de sensibilização, informação e consciencialização das nossas populações, para ajudar a SALVAR VIDAS!

A Liga Guineense dos Direitos Humanos deveria ser um PARCEIRO das autoridades nacionais, sobretudo nesta fase em que nada importa, que não SALVAR VIDAS, e não um adversário das autoridades, sejam quais forem, que dirigem a Guiné-Bissau, visando a prevenção e o combate ao COVID-19!

Positiva e construtivamente.

Didinho 19.04.2020

COVID 19 EM FACE DO IMPACTO SOFRE OS AGENTES ECONÓMICOS INFORMAIS NA GUINÉ-BISSAU

“COVID 19 EM FACE DO IMPACTO SOFRE OS AGENTES ECONÓMICOS INFORMAIS NA GUINÉ-BISSAU”

Por: Santos Fernandes

Na maioria das análises feitas, em decorrência da pandemia de coronavírus, quer sejam (social, sanitária, económica, política) ou talvez (ambiental), vê-se uma certa similitude nas diferentes abordagens.

Porém, no nosso país – Guiné-Bissau – existe uma camada social da população guineense que constitui cerca de 52% da população (as mulheres) que, efetivamente, sente e sentirá, na sua própria pele, os efeitos imediatos e diários das medidas restritivas impostas para o combate a pandemia pelas autoridades políticas.

Até porque, qualquer quarentena é sempre discriminatória, mas difícil para uns grupos sociais do que para outros e impossível para um vasto grupo de cuidadores, cuja missão é tornar possível a quarentena ao conjunto da população (refiro-me especificamente às nossas “bideras”).

São os grupos que têm em comum padecerem de uma especial vulnerabilidade que precede a quarentena e se agrava com ela. Tais grupos constituem aquilo que chamo – “verdadeiras empreendedoras guineenses e principais agentes de atividades geradoras de rendimento às da famílias guineenses”.

Disponho-me analisar, com atenção, a quarentena a partir daquelas mulheres que, a meu ver, mais tem sofrido com estas mudanças económicas e sociais que se impõem depois de terminar a quarentena.

As mulheres guineenses: A quarentena será particularmente difícil para as mulheres e, nalguns casos, pode mesmo ser “perigosa” e “dolorida”.

As mulheres são consideradas “cuidadoras do mundo”, dominam na prestação de cuidados dentro de e fora das famílias.

Dominam em profissões como enfermagem ou assistência social, que estarão na linha de frente da prestação de cuidados a doentes e idosos dentro e fora das instituições. Não se podem defender com uma quarentena para poderem garantir a quarentena de outros.

São elas também que continuam a ter a seu cargo exclusiva ou maioritariamente, cuidando das famílias. Poderia imaginar-se que, havendo mais braços durante a quarentena em casa, as tarefas poderiam ser mais distribuídas. Suspeito que assim não será em face do machismo que impera e, quiçá, se esforça em momentos de crise e de confinamento familiar. Com as crianças e outros familiares em casa durante 24 horas, o stress será maior e certamente recairá mais nas mulheres.

Por outro lado, é sabido que a violência contra as mulheres tende a aumentar em tempos de crise (i.e. na Guiné-Bissau nem o transporte público que facilitasse a circulação das bideras foi salvaguardado ou poupado, fazendo com elas percorressem diariamente milhares de quilómetros, de Prábis, Cumura, Bôr ou Safim à Bissau, vendendo “kusassinhus” e o pão nosso de cada dia da esmagadadora maioria da nossa população).

Uma boa parte dessa violência ocorre no espaço doméstico. O confinamento das famílias em espaços exíguos (muito pequeno) e sem saída pode oferecer mais oportunidades para o exercício da violência contra as mulheres.

Os trabalhadores de rua: Os trabalhadores de rua são um grupo específico dos trabalhadores precários. Os vendedores ambulantes, “kodikaduris” e “kulkaduris” para quem o “negócio”, isto é, a subsistência, depende exclusivamente da rua, de quem nela passa e da sua decisão, sempre imprevisível para o vendedor, de parar e comprar.

De algum muito tempo para cá (com o advento dos efeitos do programa de ajustamento estrutural, imposto pelas instituições de Bretton Woods, nos anos 1980) que essa gente, sobretudo, os jovens guineenses, mais de 60% da população,
vive de pequenos negócios informais.

Quem tem fome não pode ter veleidade de comprar sabão, água ou lixívia a preços que começam a sofrer o peso da especulação (inflação galopante acima de 3%).

Os trabalhadores precários, informais, ditos autónomos: O que significará a quarentena para estes trabalhadores (i.e. condutores de táxis, toca-toca, intermédios de negócio da castanha-de-cajú, etc) que tendem a ser mais rapidamente despedidos sempre que há uma crise económica?

O setor de serviços (restauração, turismo, cafés, entre outros) onde abundam, será uma das áreas mais afetadas.

Na Guiné-Bissau, segundo dados de UNCTA (2015), cerca de 50% da economia guineense é informal e a par desse dados a ONU Habitat considera que cerca de 1,6 mil milhões de pessoas não têm habitação adequada e 25% da população mundial vive em bairros informais, sem infraestruturas, nem saneamento básico, sem acesso a serviços básicos públicos com escassez de água e eletricidade.

Em suma, a pandemia provocará efeitos imediatos nas nossas vidas, mas esses efeitos serão sentidos, principalmente e fundamentalmente, no segmento informal da sociedade guineense, dada à especificidade da nossa economia que é fortemente vulnerável a choques exógenos e estruturalmente dependente da monoprodução de commodities (castanha-de-cajú).

Apenas uma opinião!

Bissau, 20 de Abril de 2020.

Referência:
“A Cruel Pedagogia do Vírus”. Santos, Boaventura de Sousa. Almedina. Abril 2020. p. 12-13

Eng.º Augusto Ulique

FÓRUM DA GUINÉ-BISSAU PARA ASSISTÊNCIA E APOIO TÉCNICO

Fórum da Guiné-Bissau para Assistência e Apoio Técnico em Diferentes Áreas do País (FGBAAT)

Este fórum foi criado para identificar cidadãos da Guiné-Bissau com diferentes qualificações profissionais e formações académicas, que exercem as suas atividades profissionais no país e na diáspora e que desejam através de iniciativa própria, apoiar e acompanhar a República da Guiné-Bissau no seu desenvolvimento. O objetivo do fórum é ajudar a resolver os problemas que afetam negativamente o país.

Para se registar, deve ser de nacionalidade ou descendência da Guiné-Bissau. O fórum, contudo, não exclui a participação de cidadãos de outros países ou pessoas que não sejam descendentes da Guiné-Bissau.

Também pode registar-se no fórum quem tiver outra nacionalidade, e resida na Guiné-Bissau há mais de 2 anos.

Princípios do FGBAAT:

1 Atenção, este fórum é apartidário, apolítico, não sectarista e não étnico.

2 – Não importa qual o grau ou o nível de formação: profissional ou académico que possui. O importante é possuir uma larga experiência e prática profissional, úteis e adaptáveis à nossa realidade.

O objetivo do fórum é identificar e congregar técnicos e especialistas, sem discriminação da condição física/motora; sexo e idade:

– Com habilidades práticas e conhecimentos; autodidatas.

– Cidadãos de baixa escolaridade, até altos quadros com formação académica superior.

O  que importa é estar pronto para colocar a sua experiência e suas habilidades profissionais ao serviço da nação!

3 – Faça sugestões concretas, desenvolva projetos reais e adaptáveis que sirvam como ferramentas para solucionar um caso específico ou situação crónica na área profissional onde opera e que o país necessita.

4 – Traga consigo ideias e experiências da empresa ou do país onde está trabalhando atualmente e que podem ser adaptáveis à realidade da Guiné-Bissau.

5 – Sua contribuição pode ser por escrito ou audiovisual, de forma precisa, curta e clara.

6 – As ideias e os projetos propostos devem, na medida do possível, ser acessíveis a qualquer cidadão que possa usá-las e torná-las numa ferramenta diária na área em que exerce a sua atividade profissional.

7 – Falemos pouco, façamos coisas concretas para ganharmos a confiança e as demandas que o país espera de nós.

Para elucidar a importância desta iniciativa, transcrevo a nobre citação do ex-presidente americano John F. Kennedy – “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, mas o que tu podes fazer para o teus país“.

Os seguintes especialistas são necessários para monitorar e organizar o fórum:

– Uma equipa com experiência na gestão humana e organização governativa.

– Uma equipa com experiência em gerenciamento.

– Uma equipa com experiência em avaliação de projetos.

– Uma equipa com experiência em higiene comunitária, saúde e nutrição.

– Uma equipa com experiência nas áreas sociais, cultura, desporto e família.

– Uma equipa com experiência na construção civil, ambiente e urbanização.

– Uma equipa com experiência em treinamento e educação sustentável.

– Uma equipa com experiência em segurança e ordem pública.

– Uma equipa com experiência em assessoria jurídica, mídia e democracia.

Outras ideias e sugestões construtivas, são bem vindas a este fórum!

Engº. Augusto Ulique

Flensburg /Alemanha 19.04.2020

Use o formulário de inscrição que a seguir se apresenta para enviar a sua ideia de projeto por escrito ou verbalmente.

Enviar para: Engº. Augusto Ulique

Email: ulique@web.de


FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO

Breve descrição do projeto:
☐ Área de aplicabilidade do projeto:
                ☐  Produção/Industria  ☐  Impacto social (saúde, educação, cultura, etc.)

☐  Comércio / vendas   ☐  Gerenciamento de projetos/criação de empresas

☐ Área de formação / especialização:
O que precisa ser feito com antecedência?

Escrito ou oral:

CV e informações pessoais:

☐  Nome e título ou curso:

☐ breve resumo sobre a sua pessoa:

☐  Idade:

☐  Estado civil:

☐  Contato: Tel.:                                 Email: ………………….                         Mídias sociais: …………… ………

Profissão Emprego atual:

Experiência (em anos):

País de residência atual:

Formação profissional / estudo:

Impactos do projeto a longo prazo? Instituição responsável na Guiné-Bissau
Avaliação do projeto
(Gestão da Qualidade)
Declaração de direitos de propriedade/do autor ☐ Declaração do projeto para o bem comum:

☐  Proteção de patente do Projeto:

Escritório do fórum de registo  dos projetos (FGBAAT) Regional ou central de Bissau:
Especialista de área Nome: Assinatura:
O receptor Nome: Assinatura:
Local e data Alterações no sistema do computador em     /      / 20…

CONTRAIR O CORONAVÍRUS NÃO É SINÓNIMO DE VERGONHA OU DESONRA

CONTRAIR O CORONAVÍRUS NÃO É SINÓNIMO DE VERGONHA OU DESONRA
Todos nós, seres humanos, somos potenciais alvos de infecção/contaminação pelo coronavírus, sendo igualmente, potenciais veículos de transmissão e propagação da doença.
Ninguém procura a doença, ninguém quer ficar doente, seja pelo que for, e muito menos, pelo coronavírus!
Contrair o coronavírus não é sinónimo de vergonha ou desonra, por isso ninguém tem necessidade de justificar seja o que for, mesmo quando um familiar, um amigo, ou conhecido estão infectados ou morrem de coronavírus.
Foram decretadas medidas restritivas e preventivas em todo o Mundo, visando impedir a propagação da doença, quiçá, combatê-la.
Mesmo sabendo que muitos erros foram ou continuam a ser cometidos, e que tem havido muita negligência, não só por parte dos órgãos com poderes de decisão a nível mundial, mas também, de populações de todo o Mundo, que ignoram as campanhas de sensibilização e informação, bem como as medidas de emergência decretadas, temos que continuar a cumprir com as medidas estabelecidas, assumindo cada um, de forma séria, a responsabilidade em cuidar de si, por forma a cuidar de todos!
No caso concreto da Guiné-Bissau, não é segredo para ninguém que o nosso país tem sérias carências estruturais e infra-estruturais em todos os sectores do desenvolvimento social, e sobretudo, a nível da Saúde e da Educação.
Não adianta que responsáveis das Comissões criadas para combater o coronavírus venham dizer publicamente que a Guiné-Bissau tem tudo, a nível de equipamentos e kits de testes laboratoriais, e está a fazer tudo o que países mais avançados do mundo têm e estão a fazer no combate à pandemia COVID-19.
Não é altura de culpar ninguém pelo estado em que se encontra o nosso Estado, e sobretudo, o nosso sector de Saúde, mas também, não é altura de populismos, assentes em afirmações, comparações e justificações desnecessárias e descabidas, visando escamotear a realidade Sanitária e Social do nosso Estado.
Temos assistido através das Conferências diárias sobre Covid-19 na Guiné-Bissau, à passagem de informações sobre os dias em que a equipa de realização e recolha de testes se desloca para outras regiões, o que inviabiliza a elaboração de outros dados de realização, recolha, análise e processamento de testes, por exemplo, em Bissau, a capital. Isso é demonstrativo de que não temos meios logísticos e humanos suficientes para fazer testes, suas recolhas, análises e processamentos de dados nas diversas regiões do país, no mesmo dia, e a consequente divulgação pública dos dados processados. Pelo menos é esta a leitura que faço, ainda que possa estar equivocado.
Voltando à doença e às medidas restritivas e preventivas decretadas, importa que cada um cumpra a sua parte, respeitando essas medidas, pois que, vencer a doença ou continuar à mercê dela e dos seus efeitos catastróficos em todos os domínios de nossas vidas, depende de cada um de nós, em primeira instância, e não de uma maioria, por arrastamento, pois a doença é PESSOAL e TRANSMISSÍVEL!
Cada um de nós sim, para que haja um TODO a cumprir com as medidas decretadas, recomendadas, para se evitar o efeito de contágio em cadeia e assim, vencermos o coronavírus.
Cada um de nós deve respeitar as recomendações para fazer o teste, caso seja suspeito de poder ter contraído o coronavírus, ou de ter estado com alguém que tenha sido diagnosticado com a doença, ou que tenha falecido por coronavírus ou cuja morte é suspeita disso; isto, porque na Guiné-Bissau, muita gente morre e ninguém sabe a causa da morte (autópsias…?) e é logo feito o funeral, muitas vezes nos terrenos anexos às suas residências e sem conhecimento das autoridades de saúde.
Temos que ser mais realistas na forma de encarar a doença, e mais tolerantes para com o pessoal de saúde e todos quantos voluntariamente também têm dado corpo e alma nas diversas frentes de combate ao coronavírus na Guiné-Bissau!
Infelizmente, a doença é mortal e é uma Realidade Global, inclusive, na Guiné-Bissau!
Não assumir a existência da doença na Guiné-Bissau, ou onde quer que seja, é o primeiro grande erro de cada um, para se salvar  a si e ajudar a salvar todos os demais!
Cuide de si, por forma a cuidar de todos! 
Positiva e construtivamente.
Didinho 17.04.2020

A INSUSTENTÁVEL DECISÃO DE FECHAR A CLÍNICA MADRUGADA 

A INSUSTENTÁVEL DECISÃO DE FECHAR A CLÍNICA MADRUGADA

Foi uma enorme surpresa, a notícia do fecho temporário da Clínica Madrugada, ainda por cima pelas razões evocadas. E se fosse o hospital Simão Mendes ou militar?

Iam tomar a mesma decisão?

Isso só aconteceu porque a nossa gente, ou uma boa parte das nossas autoridades administrativas ainda pensa que a clínica Madrugada é estrangeira. Não é verdade, ela é uma instituição sanitária criada por guineenses, para guineenses e gerida por guineenses.

Num momento em que em toda a parte do mundo, estão a aproveitar as instalações sanitárias que existem para criar melhores condições e mecanismos para lutar contra o COVID-19, nós na Guiné-Bissau ainda estamos a lutar por protagonismos.

Será que temos noção e consciência de quantos dos nossos compatriotas morrem por dia por causa da insuficiência respiratória?

Quantos morrem por problemas ligados a pneumonia aguda e por aí fora?

E porque razões a clínica iria negar atender um paciente que procure os seus serviços?

A clínica Madrugada para quem não sabe, é das poucas que oferece condições higiénicas a roçar a excelência no país, e das poucas que presta serviços de atendimento e tratamento em várias áreas sanitárias de qualidade. Para além de prestar serviços sociais às populações, como fornecimento de água potável às famílias que vivem ao redor, tem um campo para a prática de futebol (aliás esse espaço poderia muito bem ser aproveitado para se instalar tendas de acolhimento de pacientes de COVID-19); tem escola desde jardim de infância, primária até secundária, desenvolve agricultura e fabrica pão para a cidade de Bissau, sem ignorar que é único lugar que produz oxigénio e o fornece a todas as outras instalações sanitárias do país.

A Comissão que foi criada para seguir, monitorar e acompanhar a evolução do coronavírus, a que aplaudimos, necessita o mais urgente possível rever essa sua decisão a bem do país. É hora de unirmos as forças e não de nos separarmos por detalhes de coisas.

Fica o conselho de um patriota convito, que conhece de perto a realidade da Clínica Madrugada, e já foi curado de uma profunda pneumonia nesse lugar por médicos e enfermeiros, altamente competentes e profissionais, e que gosta de ver a colaboração e a cooperação institucional a funcionar em lugar de disputas de protagonismo.

Para o bem do país.

Alfredo Handem

14.04.2020

A RAZÃO NEGRA: o passado, o presente e as incertezas do futuro

A RAZÃO NEGRA: o passado, o presente e as incertezas do futuro

Numa altura que o mundo se depara com a pandemia COVID 19 que tem provocado a morte de milhares de seres humanos, em todos os cantos da terra.
Tristemente, constata-se denúncias de casos de discriminação de certas pessoas ou de grupo de países contra os africanos ou pessoas de origem “afro”, nomeadamente a China, país com o qual a maioria dos países africanos tem relação comercial, quiçá, histórica.
Houve inclusivamente “cientistas franceses” que advogam o uso de negros como “cobaias” para primeiras despistagens de novas vacinas.
Ora, estes “pequenos” ensaios e ataques aos negros, me levou à uma longa viagem aos textos do eminente ACHILLE MBEMBE.
Numa primeira instância, a razão negra consiste num conjunto de vozes, anunciados e discursos, saberes, comentários e disparates, cujo objeto é a coisa ou as pessoas “de origem africana” e aquilo que afirmamos ser o seu nome e a sua verdade (os seus atributos e qualidades, o seu destino e significações enquanto segmento empírico do mundo). Composta por múltiplos estratos, esta razão data da antiguidade, pelo menos. As suas fontes gregas, árabes ou egípcias, até chinesas, originaram muitos trabalhos.
A idade moderna é, no entanto, um momento decisivo para a sua formação, devido, por um lado, às narrativas dos viajantes, exploradores, soldados e aventureiros, missionários e colonos e, por outro lado, à elaboração de uma “ciência colonial”, na qual o “africanismo” é o último patamar.
Toda uma gama de intermediários e de instituições, tais como sociedades eruditas, exposições universais, coleções de amadores de “arte primitiva”, colaborou, na devida altura, na constituição desta RAZÃO NEGRA e com a sua transformação em senso comum ou em “habitus”.
Tal razão não passa de um sistema de narrativas e de discursos pretensamente conhecedores. É também um reservatório, ao qual a aritmética da dominação de raça vai buscar os seus álibis. A preocupação com a verdade não lhe será alheia. Mas, a sua função é, antes de mais, codificar as condições de seguimento e de manifestação da questão da raça, à qual chamaremos o Negro ou, mais tarde e já no tempo colonial, o Indígena “Quem é ele?”.
“Como o reconhecemos?”.
“O que o diferencia de nós?”.
“Poderá tornar-se nosso semelhante?”.
“Como governá-lo e para que fins?”.
Neste contexto, a RAZÃO NEGRA designa tanto um conjunto de discursos como de práticas – um trabalho quotidiano que consistiu em inventar, contar, repetir e pôr em circulação fórmulas, textos, rituais, com o objetivo de fazer acontecer o NEGRO enquanto sujeito de raça e exterioridade selvagem, passível, a tal respeito, de desqualificação moral e de instrumentalização prática. Chamemos, a este texto primeiro, “consciência ocidental do negro”.
Procurando responder à questão “Quem é?”, esforça-se para nomear uma realidade que lhe é exterior e que ele tende a situar relativamente a um eu tido como centro de qualquer significação. A partir desta posição, tudo o que não é idêntico a si, apenas pode ser anormal (i.e a mídia brasileira em matéria de COVID 19 praticamente não fala de casos africanos, em maior ou menor graus, serà por que tem havido até agora poucas “mortes” no continente negro?
A segunda escrita apresenta alguns traços distintivos, que devem sucintamente recordar-se. Em primeiro lugar, o esforço por instaurar um arquivo. Um arquivo é, sabemo-lo, indispensável para restituir os negros à sua história, mas é uma tarefa especificamente complicada. Na realidade, tudo o que os Negros viveram como história não tem forçosamente de ter deixado vestígios; e, nos lugares onde foram produzidos, esses vestígios não foram preservados. Assim, impõe-se saber: na ausência de vestígios e de fontes com factos historiográficos, como se escreve a história? Rapidamente começou a criar-se ideia de que a escrita da história dos Negros só pode ser feita com base em fragmentos, convocados para relatar uma experiência em si mesma fragmentada, a de um povo pontilhado, lutando para se definir não como um compósito absurdo, mas como uma comunidade cujas manchas de sangue são visíveis em toda a modernidade.
No ocidente, a realidade é a de um grupo composto por escravos e homens de cor livres que vivem, na maior parte dos casos, nas zonas cinzentas de uma cidadania nominal, no meio de um estado que, apesar dr celebrar a liberdade e a democracia, é, fundamentalmente, um estado esclavagista.
O gesto histórico por excelência consistirá doravante em passar do estatuto de escravo ao de cidadão “como os outros”.
O horizonte é a participação plena e inteira na história empírica da liberdade – uma liberdade que não é divisível, no seio de uma “humanidade global”. Esta é, portanto, outra vertente da RAZÃO NEGRA – aquela em que a escrita procura conjurar o demônio do texto primeiro e a estrutura de submissão que ele carrega; aquela em que essa mesma escrita luta por evocar, salvar, ativar e reatualizar a sua experiência originária (a tradição) e reencontrar a verdade de si, já não fora de si, mas a partir do seu próprio território.

Santos Fernandes

Fonte: CRÍTICA DA RAZÃO NEGRA, ACHILLE MBEMBE, ANTÍGONA, Março 2017.