A consciência do dever na construção da Nação

 

 

 

Por: Matteo Candido*

 

 

02.02.2008

Retomo aqui um tema que já tinha sido abordado no âmbito deste espaço, com o intuito de trazer mais alguns elementos de reflexão sobre a questão da construção da nação. Refiro-me à resposta que foi dada  à intervenção que fiz a 02.12.07. Falávamos das etnias e das dificuldades delas se sentirem guineenses. A Dra. Filomena deixava a temática à consideração de quem tivesse “maior autoridade para nos dizer algo sobre o assunto”. É verdade, é preciso ser-se competente quando se pretende fazer evoluir um debate. E a propósito disso o Dr. Bari, através do seu artigo “A educação e consciência”, datado de  26.01.08 e o Dr. Sanha, autor da reflexão “A educação e a formação profissional”,  de 26.01.08, referiram-se nesses trabalhos à inteligência crítica e formação, tendo ambos avançado com opiniões decisivas  para a preparação e facilitação da passagem das etnias à nação.

 

Mas, no meu entender, temos uma outra competência decisiva, muito difundida e comum: o próprio dever. As estruturas, os planos, a organização, os colaboradores,  os meios, o dinheiro... são importantes! Mas sem a consciência do dever pessoal tudo fracassa.

 

A consciência de quem? De todos, mas  em primeiro lugar a da nossa própria pessoa.   É o indivíduo que deve comprometer-se como pessoa, com a sua responsabilidade pessoal, antes da profissional ou social.   Cumprir sempre o  próprio dever, mesmo quando não se for controlado ou os outros não cumprirem o seu. Cumprir o  dever, mesmo quando  haja dificuldade, sofrimento, perdas pessoais e profissionais. Cumprir também mesmo quando o incumprimento trouxer vantagens e o cumprimento se esbarrar com o boicote dos fortes, pois, a mudança só terá lugar se cada um  agir dessa maneira todos os dias, onde quer que esteja,   seja com quem estiver e em todos os seus trabalhos.

 

No entanto, não se pode exigir essa atitude ao cidadão comum, sem meios nem poder, se  não agirem assim os próprios intelectuais, os bem posicionados da sociedade,  no país, ou no estrangeiro. Mas, infelizmente,  creio que  isso se verifica pouco porque fala-se e não se age. Faz-se somente se, os outros fizerem. “Ele, eles não fazem, por quê eu?” é a justificação comum.

 

Porém,  isso não é  consciência.  

 

A desonestidade dos outros não justifica a desonestidade própria.  

 

O bem social não progride porque cada um no seu trabalho não ouve a voz da sua consciência. E se a consciência - e não somente a inteligência  -  não for uma questão central para as  pessoas e não estiver presente nas  suas actividades, o bem e a justiça não podem  nascer nem existir num Estado.

 

O  dever é, pois, uma coisa que toca a pessoa antes do cidadão. Cada um tem que responder primeiro a si mesmo e  depois  aos outros e ao Estado. Quando as coisas públicas e estaduais não funcionam,  a responsabilidade recai também sobre cada indivíduo, quando o dever não é cumprido. É verdade que é duro cumprir, quando todos não cumprem ou  quando a maioria trabalha para  os próprios  interesses. Mas a consciência é o primeiro e fundamental  alicerce   que cada um tem em seu poder para construir um Estado sólido.  E para fazer isso,  precisamos  só duma competência normal, que deve ser difundida: aquela  da pessoa comum nos seus deveres de cada dia.

 

E para quem tiver no âmago uma verdadeira convicção religiosa, e não somente ritual, não será difícil  consegui-la.

 

*Pedagogo italiano, amigo da Guiné-Bissau.

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