EDUCAR É FORMAR! COMENTÁRIOS DE DULCE BORGES

 

Por: Dulce Borges

14.01.2008

 

Meu caro Didinho! aproveito para te desejar e a todos os amigos um bom ano 2008 quem sabe, com a situação na Guiné-Bissau bem melhor encaminhada para outros patamares mais qualificados.

Retomo os teus questionamentos muito pertinentes, para melhor estruturar meus comentários ao vivo.

 

Será que as orientações para a Educação na Guiné-Bissau são as melhores?

 

Que orientações são essas? onde as encontrar? Acredito que elas sejam as que se encontram em qualquer politica de educação desenhada por quem tenha vontade de ver as comunidades se tomarem em mãos - o que é em geral declarado em textos que só se tornam grandes se o que preconizam estiver realmente ao alcance das pessoas no espaço (territorial) e no tempo (uma geração). A questão subjacente é: a autonomia das comunidades é algo coerentemente procurado pela direcção politica? e a elite letrada e qualificada é livre de apoiar e incentivar essa busca? independentemente dos textos políticos, a prática educativa ilustra essa preocupação de 'educar', 'orientar', 'aprender', 'esclarecer', ..?

 
A Educação como mecanismo de formação do Homem, não justifica na Guiné-Bissau debates frequentes por forma a acompanhar a evolução e experiência de outros países?

Concordo. No entanto será necessária  liberdade de discussão e debate abertos a todos, sem entraves pseudo-políticos e que desmotivam e desmoralizam localmente e sem reservas. Os pés bem fincados na realidade ajudam também a evitar comparações irrealizáveis ou seja, a realidade de outros países serve apenas a esses países apesar de poder ilustrar algumas ideias. Esses debates devem portanto ser honestos e democráticos. Acredito que só nestas condições é importante a experiência de outros países.

Um detalhe, não digamos Homem (com maiúscula ou minúscula, conceito um pouco ultrapassado mesmo quando empregue para dizer Humanidade, por sinal feminino..); digamos ser humano, para que as meninas, as mulheres, não se sintam 'excluídas', não-tidas em conta... ;-) e sabemos quão importantes elas são junto com os homens.


Será que as experiências dos próprios formandos guineenses fruto da convivência com vários sistemas de ensino no estrangeiro não deveriam ser factores de aprendizagem a considerar por forma a elaborar um caderno de pesquisas e orientações dessas experiências?

 

De acordo novamente. Sou mesmo assim cada vez mais adepta por fazer funcionar o que existe para que esse funcionamento com todos as suas características positivas e negativas, sirva de base ao tal caderno de pesquisas e orientações. O que quero dizer é o seguinte: precisamos saber antes de tudo o que funciona e como funciona o sistema de educação na Guiné-Bissau. Mas haverá um sistema de educação? Voltamos à primeira questão.


Será que os pais das nossas crianças não devem ser incluídos nas estruturas pedagógicas dos vários níveis do nosso ensino, ou seja na motivação para o papel que lhes cabe na educação dos seus filhos?

 

Sem dúvida e quanto mais assim for, melhor a educação dos filhos e a que eles podem oferecer em casa, nas comunidades.. Em casa começa a motivação para a escola e para o que ela pode criticamente, aportar à vida individual e coletiva.

 

 

Há muitas questões sobre a Educação, espero pela participação dos nossos estudantes, dos pais e de todos os guineenses em geral no debate deste tema que engloba áreas como:

O ensino pré-primário a base de tudo sobretudo hoje em que ambos os pais devem assegurar a subsistência da família. Não tenho elementos para discutir este nível. De minha experiência quando funciona tem estado ligada à iniciativa privada. Entendo mesmo assim que quando ele é público os processos e resultados serão melhor adequados ao que buscam as comunidades.

O ensino primário sem dúvida o mais importante e relevante sobretudo na situação do país. Quantas crianças terminam o primário? de quantos anos é esse primário? será um ensino básico, a que todos devem ter acesso com sucesso, indiscriminadamente? quantas classes as crianças fazem antes de abandonar a escola? Dado importante, por permitir estabelecer o número de anos de ensino primário (ou básico, no sentido em que o interpreto) que deve ser definido e assegurado pelo governo. 

O ensino secundário, talvez o de construção menos difícil apesar de dever ter em conta os perfis de entrada na universidade no país e nos países que disponibilizam vagas em universidades em áreas consideradas críticas para a GB. No entanto, o objectivo do ensino secundário será apenas a preparação para o ensino superior ou também a preparação para o ensino superior??   

O ensino técnico-profissional, necessário mas em geral muito caro e de difícil manutenção. No entanto a Guiné-Bissau teve experiências interessantes no ITFP (Brá) do qual não conheço nem a avaliação nem a situação hoje.  

O ensino superior, pode ser estruturado a partir de sistemas de formação de professores, de formação de técnicos para a agricultura ou para a saúde. São sempre um bom começo.. Note-se que o ensino superior não significa necessariamente universidades.


Paralelamente a estas áreas de ensino, é de suma importância a abordagem sobre a ALFABETIZAÇÃO, pois o nosso país continua a ter índices elevados de analfabetismo, um mal que é preciso erradicar e que exige políticas concertadas e de acção imediata. (...)

Nada a dizer. Gostaria em relação a este item (e a todos os outros) que se estudassem os resultados do projeto de Caboxanque. Um excelente projecto de pesquisa para estudantes guineenses no exterior (o que acredito já ser o caso) e uma ilustração pertinente do que pode ser feito com as devidas adequações, à escala do país, urbano e rural, tradicional e moderno. 

 
Hoje, volvidos todos esses anos, devemos rever o que foi feito até aqui no sentido da estruturação de novos modelos que possam ser mais eficazes na erradicação do analfabetismo na Guiné-Bissau .

Educar é formar, mas também, é aprender!

Um verdadeiro educador só o é, quando consegue compreender que ao ensinar, também está a aprender, ou não fosse a EDUCAÇÃO um processo recíproco e contínuo de ensino e aprendizagem durante todo o percurso  e em todas as vertentes da nossa vida!

 

Comentários?? Agradeço.

Abraços, Dulce 
 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

14.01.2008

Prezada Dulce,

Começo por agradecer a sua participação neste "djumbai" sobre a nossa Educação, bem como, a forma simples e esclarecida com que apresentou os seus pontos de vista em relação às questões que coloquei no texto "EDUCAR É FORMAR!"

Aproveito para dizer que faço dos seus pontos de vista complementos para o meu texto, o que sem dúvida o tornará mais rico!

Estou certo de que este é o caminho! Creio igualmente que, se a maioria de nós  passar a ver o debate de ideias como (uma) forma de cada um dar a sua contribuição para o país, de certeza que encontraremos respostas e soluções para os problemas da Guiné-Bissau, não só no âmbito da Educação, mas de todas as áreas de estruturação sócio-económica que o país carece.

 Infelizmente, o exercício da mente, através da liberdade de pensamento e de acção, concretamente na liberdade de expressão, continua a ser reprimido na nossa terra e todos vemos que é o país que perde com isso!

Por conseguinte, há que continuar a trabalhar no sentido de conquistarmos direitos de cidadania, pois os deveres, o povo guineense tem-nos cumprido e de que maneira!

Gostei dos diversos pontos de vista apresentados, sendo que,  aproveito para partilhar (no sentido de dar a conhecer) o Programa de Governo do PAIGC para a Educação, governo saído das eleições de 2004 e que teve como Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr.

Na verdade, um Programa relativamente pobre, mas, ainda assim, com alguns pontos importantes no seu conteúdo! Mas num país que muda constantemente de governo e em que não há nenhuma discussão pública séria (debate) quer de apresentação de Programas eleitorais, quer de políticas de governação pós-eleições, não se pode esperar outra coisa que não umas notas de agenda tidas como Programa de Governação!
 

Seria interessante que antigos ministros da Educação da Guiné-Bissau  e também o actual ministro, participassem neste debate para nos falarem de suas experiências governativas, explicando ou esclarecendo sobre as orientações e programas para a Educação durante os seus exercícios governativos, bem como de outros assuntos de interesse que acharem por bem abordar.

Seria interessante que dados estatísticos actualizados sobre a nossa Educação em geral e o nosso sistema de Ensino em particular fossem facultados, para que, todos juntos nos debrucemos sobre os mesmos, pois de certeza que muitas ideias e opiniões seriam produzidas no sentido de se encontrar mais e melhores soluções para a nossa Educação.

Vamos continuar a trabalhar!

Didinho

EDUCAR É FORMAR


 

PLANO DE GOVERNAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO

Governo chefiado por Carlos Gomes Jr. 2004 a 2005

Sector da Educação


Dotação à educação de recursos financeiros suficientes;


Realização de Estados Gerais da Educação precedido de conselhos regionais de educação, com a participação dos parceiros e de todos os actores do sector;


Rendibilização dos recursos financeiros e materiais através da aplicação de uma política de gestão séria e transparente centrada em procedimentos legais;


Reforço da Rede Escolar (eliminando as escolas - barracas) através da Construção, reabilitação e equipamento das infra-estruturas para Educação, formação e ensino superior;


Normalização da oferta escolar e criação de condições de funcionamento normal de aulas, com garantias de acesso à educação básica gratuita para todos;


Melhoria da gestão dos recursos humanos através da criação de incentivos para a retenção dos professores nas localidade onde são colocados;


Afectação de recursos que assegurem a equidade e favoreçam a promoção da educação e escolarização das raparigas, alfabetização e formação de mulheres, reduzindo paulatinamente o desequilíbrio;


Reabilitação das Escolas de Formação de Professores adicionando nestas a formação de Educadores de infância;


Melhoria de salários e o seu pagamento atempado;


Redefinição da relação entre as regiões e o centro (finalidades e atribuições das estruturas) do Ministério da Educação com vista a melhorar o sistema de comunicação, a coordenação e colaboração entre os departamentos regionais e centrais;


Criação de condições para o funcionamento dos serviços regionais e locais, descentralizando-os;


Concessão de créditos concessionais para a expansão do ensino privado, através do sistema bancário;


Promoção de escolas inclusivas para atendimento de crianças com deficiência moderada;


Desenvolvimento de uma política do livro para a implementação de bibliotecas nos estabelecimentos escolares;


Criação de novas parcerias e reforço das que já existem como meio de diversificar fontes de financiamento, recursos humanos e materiais;


Criação de parcerias com as comunidades para a implementação de uma política de manutenção e protecção do património da educação;


Incentivo à parceria no funcionamento de cantinas escolares;


Apetrechamento das escolas de formação com materiais pedagógicos e outros recursos para o seu cabal funcionamento;


Disponibilização de meios para o funcionamento e reforço da capacidade da Inspecção-geral da Educação;


Criação de espaços educativos em favor dos Trabalhos Manuais, actividades desportivas e de recreação;


 Incentivo a Pesquisas e Estudos e promoção de programas de pesquisa nas escolas e de acções educacionais para a melhoria do processo de ensino aprendizagem.
_________________
 

ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS SOBRE A EDUCAÇÃO -- PARTICIPE! 


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org