Bissau é actualmente uma cidade em ruínas cujo governo a todo o custo procura recuperar as qualidades que fizeram do país no século XX, um dos principais destinos de migração inclusive de Cabo-verdianos.

Actualmente, é possível andar pelas ruas da capital guineense e deparar com edifícios danificados, fruto da guerra civil de 1998 e da negligência dos governos que desde então lideraram o país. Edifícios desfeitos e ruas arruinadas não são os únicos problemas sociais que a Guiné enfrenta neste momento, infelizmente assim como Cabo Verde, a droga já faz parte da realidade social e tem vindo a despoletar uma série de situações que envolvem varias camadas sociais, principalmente as forças armadas e o poder político.

É constante em Bissau, ouvirem-se boatos sobre o envolvimento de entidades políticas com o tráfico de droga e lavagem de capital, com o conhecimento das forças armadas Guineenses. É claro que tudo não passará de especulação e suspeitas até ao momento em que o candidato ás presidenciais de 28 de Junho Baciro Dabó, é assassinado sob condições que a polícia judiciária da Guiné-Bissau confirma ter sido um ajuste de contas da Máfia.
A Guiné Bissau é um país de enumeras qualidades, porém a sua potencialidade tem vindo a ser canalizada em aspectos negativos, não obstante de ter uma das melhores guerrilhas da costa africana, o estado não tem sido capaz de organizar o poder militar ao ponto de haver condições dignas para todos e como resultado, Bissau assiste neste momento ao envolvimento de patentes militares em situações ilícitas do tráfico de droga em busca de melhores condições de vida.

A população

No meio de tudo isto encontra-se a população, que não está indiferente ao que acontece, no entanto sente-se impotente perante uma situação em que simplesmente não vêem a quem recorrer, é nesta altura que a própria população se vê obrigada a defender as suas casas do flagelo da droga que traz consigo indivíduos armados e de conduta ilícita aos bairros menos protegidos de Bissau como é o caso de Mindara e o Bairro Militar.

Os jovens por sua vez, dizem não terem muitas opções, uma vez que o país não tem estado a gerar postos de trabalho e a maior parte da população jovem está desempregada sem perspectivas de vida.

Segundo o departamento de informação das Nações Unidas em Bissau (UNOBIS), é necessário mostrar as pessoas que a saída não é recorrer ao tráfico de droga, mas que o país tem meios, tem recursos que podem dar trabalho ao jovem guineense, em vez de vê-lo servir de "mula" ou de correio para transporte de droga.

Os centros de reabilitação para tóxico-dependentes apesar de serias deficiências continuam a funcionar em Bissau, contudo os espaços vêm-se sobre lotados com a chegada todos os dias de jovens envolvidos na problemática do consumo de drogas.

Medidas do estado

Quando a elite política de um pais se vê envolvida com o narcotráfico, é difícil definir quem é quem, no entanto, estratégias traçadas pelo Governo de Malam Bacai Sanha em parceria com as Nações Unidas e outros parceiros internacionais, pretende mudar o rumo da Guiné Bissau, combatendo o narcotráfico.

Portugal e Brasil encontram-se neste momento em Bissau a actuar no sector da formação, nomeadamente na preparação de novos polícias com competências aprimoradas na área da investigação judiciária. Até o momento contam-se cerca de 140 polícias já formados e aptos para actuarem sobre o controlo do narcotráfico.

Equaciona-se igualmente a possibilidade de canalizar o potencial das forças armadas da Guiné-Bissau no combate ao narcotráfico através da protecção das suas fronteiras. Não será certamente uma tarefa fácil, tendo em conta que o país não dispõe de estabelecimentos prisionais decentes e nem meios suficientes para controlar o tráfico de estupefacientes que atravessa as águas da Guiné rumo a Cabo Verde e a Europa.

Desafios

Consta que entre 2006 e 2007 cerca de 14 mil toneladas de cocaína oriunda da América latina e destinada ao ocidente, passaram pela Guiné-Bissau através do arquipélago dos Bijagós.

O facto das Ilhas Bijagós oferecerem condições propícias para a escala e desembarque de mercadorias ilícitas como o isolamento e por muitas delas serem não habitadas, contribuiu para que as operações dos traficantes fossem bem sucedidas, porém, suspeita-se que o envolvimento de entidades guineenses no narcotráfico sob a condição de suborno, tenha facilitado ainda mais este processo da passagem de droga.

Fontes seguras, revelam que as campanhas eleitorais de muitos dos candidatos a Presidência da República da Guiné-Bissau, foram financiados por barões da droga interessados em obterem regalias caso, certo candidato vence-se as eleições de 28 de Junho.

Em resumo, os principais desafios e constrangimentos enfrentados pelo Governo no combate ao tráfico ilícito de drogas, armas e tráfico de migrantes, é a ausência de um quadro jurídico que permita o combate ao crime organizado transnacional, varias instituições no domínio de segurança com mandatos sobrepostos ou imprecisos, falta de mobilidade, equipamentos e meios de comunicação dificultando o patrulhamento eficiente do território de respectivas fronteiras e por ultimo, a fraca participação das comunidades e da sociedade civil na luta contra a criminalidade.

Juntemos a estes constrangimentos o facto de na Guiné Bissau ser cada vez mais difícil fazer-se o distanciamento entre a elite social e o tráfico ilícito, e teremos um país a beira da ruptura se as medidas do Governo e da comunidade internacional não surtirem efeito.

Comunidade Internacional

Num país onde todos os problemas exigem resoluções imediatas, como poderá um Governo definir as suas prioridades? Vladimir Monteiro explica que, tal dependerá dos parceiros que irão decidir o sector de investimento, mas, a grande verdade é que a questão da reforma do sector da defesa e da segurança, a questão da justiça e o sector energético (pois Bissau é uma cidade ás "escuras"), são as prioridades consideradas na agenda do Governo e dos seus parceiros internacionais.

É surpreendente descobrir na Guiné um misto de culturas que torna a população de Bissau especial pela sua humildade e solidariedade, constatar estas qualidades permite-nos antever o potencial de um país que não teve a sorte de ter Governos a altura das suas capacidades.

A Guiné Bissau é um país claramente sub aproveitado, pela produção agrícola que possui, pelos recursos naturais como o petróleo e o bauxite, pela vontade de trabalhar da população, pelo optimismo com que todos esperam dias melhores e por isso, procuram sobreviver.

Analisando bem, embora de uma forma tímida a comunidade internacional começa a dar os primeiros passos em direcção a Bissau, como aliás se pode constatar pela doação de $900.000 das Nações Unidas para a reabilitação de estabelecimentos prisionais, no entanto, a Guiné tem pela frente um longo caminho de reconquista na medida em que perdeu nos últimos anos toda a sua credibilidade "graças" aos inúmeros desvios de verbas e fundos do Banco Mundial que chegaram aos cofres do estado Guineense durante o Governo de Nino Vieira e de Kumba Yala.