PEDRO PIRES O ANTIGO COMBATENTE QUE CONSEGUIU SER UM GRANDE ESTADISTA

 

 

 

Adulai Indjai

tokatchur02@hotmail.com

18.09.2013

É possível, ser-se um bom político, depois ter sido General das forças armadas? Como pode um homem de armas tornar-se numa figura política de renome internacional? Tornar-se um defensor dos valores democráticos? “O homem é um animal político”, segundo alguns preceitos filosóficos.

O ex-presidente de Cabo Verde, Comandante Pedro Pires, é figura de renome internacional, da política africana, e, mundial. No dia 11 de Novembro, o Combatente da Liberdade da Pátria, da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Pedro Pires, vai receber em Londres o Prémio 2011 de Leadership da Excelência em África, que é outorgado pela fundação do multi-milionário anglo-soudanês Mo Ibrahim. Esta distinção, recompensa os chefes de Estados Africanos que cederam poder de uma forma democrática e pacífica, no decurso dos três últimos anos, cuja governação foi exemplar. Os júris do concurso são compostos de sete intelectuais africanos. Os setes foram comovidos pela capacidade visionária do Comandante Pedro Pires, a forma como transformou o seu pais num protótipo democrático exemplar, estável e desenvolvido, fazendo de Cabo-Verde um sucesso histórico do continente Africano.

Comparar o Incomparável 

É absurdo, querer comparar o incomparável, sim, mas temos o dever de fazê-lo. Mas como? Com que elementos? Negativos ou positivos? Na realidade, melhor é aceitar que os nossos irmãos cabo-verdianos escolheram o caminho certo - a democracia, em vez da demagogia. Escolheram o trabalho, ao invés do parasitismo e clientelismo! A comparação é difícil mas mesmo assim, tomemos em conta o nosso passado histórico.

Se não vejamos: O Comandante Pedro Pires não somente mostrou ser um bom servidor do Estado, como também provou ser um político sábio. Perdeu eleição antes de conquistar o seu primeiro mando em 2001. Sempre soube aceitar o veredicto das urnas. Viva a democracia. Na Guiné-Bissau, em cada embate eleitoral, o derrotado sempre autoproclama-se vencedor.

Durante os dez anos da presidência do Comandante Pedro Pires, Cabo-Verde nadou no oceano da estabilidade, viajando no comboio do desenvolvimento. Entretanto, no mesmo espaço do tempo, a nossa querida Guiné-Bissau, corria na auto-estrada da instabilidade, animada de conflitos de poderes insensatos. Cinco Presidentes da República se sucederam até hoje . Koumba Yala, Henrique Rosa, Nino Vieira, Raimundo Pereira e Malam Bacai Sanhá. Enquanto isso, oito Primeiros-Ministros se sucederam, também, em dez anos. 

Há que realçar, o grande contributo do Comandante Pedro Pires no processo do desenvolvimento de Cabo Verde:

Em dez anos o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou mais de 6% por ano, enquanto no nosso belo país, Guiné-Bissau, nunca passou dos 2,5% por ano. O rendimento por habitante aumentou de 181% em dez anos. E o nosso? Não passou dos 50%. A alfabetização é superior a 80%, enquanto na Guiné-Bissau é de cerca de 60%. Ajuda externa ao desenvolvimento Cabo-Verde recebe 5 a 10% do PIB, a Guiné-Bissau recebe mais de 20% do seu PIB. A esperança de vida dos cabo-verdianos ronda 71 anos, enquanto a dos cidadãos bissau-guineenses é de 49 anos. Será que se pode comparar? Obviamente que sim, porquanto os dados são reais. Quais deviam ser as acções mais viáveis que podem permitir continuar nesta lógica comparativa?

Cabo Verde, pequeno pais, composto de ilhas com parcos recursos naturais, caminhou lado a lado com a Guiné-Bissau na luta pela independência. Tal como a chuva é ali quase inexistente, também escasseiam terras para cultivar. Na Guiné-Bissau, a chuva cai durante seis meses do ano; as terras aráveis são imensas e de boa qualidade. Como é que se pode justificar a disparidade existente no rendimento do Produto Interno Bruto dos dois países. Partindo de uma análise isenta pode-se distinguir os seguintes motivos dessas dissemelhanças:

Primo: Cabo Verde conseguiu criar os mecanismos necessários, e imprescindíveis, para o seu desenvolvimento que são o respeito aos valores democráticos e aos direitos humanos. Conseguiu criar uma organização económica transparente, uma dinâmica empresarial forte, enquanto paralelamente investia seriamente na formação Professional que é o maior recurso do desenvolvimento de qualquer país dotado de uma boa governação.

Secundo: O caso da Guiné-Bissau pode ser resumido em três pontos; falta da idoneidade política (má governação); - repetidas crises de instabilidade política e militar. Para fechar o cenário de subdesenvolvimento, surgiu um novo fenómeno - o Narcotráfico que se engrenou na vida social, política e militar do país nos últimos cinco anos. Todos estes factores, conjugados, contribuem fortemente para a estagnação do crescimento do produto interno bruto.

Por exemplo, a Guiné-Bissau, dispõe de um orçamento exorbitante para as forças armadas, cuja produção não cobre as suas despesas. Todas as reformas que foram realizadas ao longo dos últimos dez anos, tiveram lugar no seio das forças armadas. Mas, pergunta-se: os resultados obtidos até aqui, são satisfatórios? Será que o país teve menos problemas político-militares nos últimos dez anos como consequência da implementação de reformas? Será que as forças armadas chegaram ou chegarão um dia a respeitar a classe política? 

Até uma data não longínqua a classe castrense era marcada pela desorganização com laivos de violência, desobediência constitucional o que impedia a concretização de uma verdadeira reforma, a tão almejada que se apontava como necessária para que o país possa direccionar as suas energias no sentido positivo para se chegar ao desejado bem-estar de todos.

Há que fazer comparações, não para ferir sensibilidades, mas simplesmente para despertar o ego dos cidadãos, para fazer com que cada guineense se recorde que Cabral dizia que se deve aprender com a experiência dos outros, procurando fazer a cada dia que passa mais e melhor.

É, porém, indiscutível, que um militar que serviu as Forças Armadas Revolucionárias do Povo, tornou-se Estadista de renome mundial. O comportamento do Comandante Pedro Pires durante toda a sua carreira militar assim como política, foi aplicar os ensinamentos militares recebidos nas variadíssimas formações em que participou, particularmente os do líder imortal Amílcar Cabral são muito positivos. Sobretudo um aspecto do carácter do Comandante que sobressai é o seu empenho a favor dos outros, a sua disponibilidade, a solidariedade e o sacrifício para o bem-estar colectivo comum em detrimento dos interesses pessoais. Mostrou esta faceta em 1991, quando após deixar o cargo de Primeiro-Ministro, o Comandante voltou a viver na casa da mãe, sem carro nem casa própria. A humildade, grande sentido de Estado, a capacidade de servir o Estado e não servir-se do Estado, são as principais virtudes do General.

Com estas breves linhas quisemos apenas, e tão só elevar o homem simples que lutou nas matas da Guiné pela conquista da independência, que após um trabalho laborioso ao serviço do seu povo e da África foi recompensado merecidamente com o Prémio Mo Ibrahim.

O Comandante vai receber cinco milhões de dólares que lhe serão entregues durante dez anos e terá uma renda anual de duzentos mil dólares durante toda a vida. Grande mérito Comandante. Aqui deixamos expressas as nossas felicitações pelo trabalho formidável que realizou não só em prol do seu país Cabo Verde mas também de todo o continente africano. Como a esperança é a última a morrer, façamos votos para que um dia, num futuro não muito distante, um Guineense seja laureado com o prémio Mo Ibrahim.

Adulai Indjai

Adulai Indjai

 COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO ESPAÇO LIBERDADES


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

www.didinho.org

   CIDADANIA  -  DIREITOS HUMANOS  -  DESENVOLVIMENTO SOCIAL