Apostar na sensibilização

 

Na Guiné-Bissau, por força das circunstâncias, o comportamento da maioria das pessoas é imprevisível. Sem ofensa, penso que um dos nossos grandes defeitos passa por não definirmos princípios de orientação (em todos os aspectos) enquanto pessoas e, portanto, não termos o hábito de avaliar a nossa própria pessoa  em relação ao nosso próprio comportamento. Somos seres racionais, mas deixamo-nos manipular e instrumentalizar, pois julgamos que é  mais fácil os outros pensarem e decidirem por nós, até porque, segundo este raciocínio parasita, se algo de mal acontecer, a responsabilidade nunca é imputada a nós... Mas daqui  parte a seguinte interrogação: o que somos enquanto seres humanos e guineenses?  Se as responsabilidades podem não nos ser imputadas directamente, que dizer das consequências a que estamos sujeitos e que podem advir desta nossa tendência em "entregarmo-nos" aos outros? O manipulador, esse, tem os seus princípios definidos, constantemente actualizados por forma a conseguir ultrapassar eventuais tomadas de consciência dos manipulados. Digamos que por um lado há um trabalho consciente do manipulador que tem sempre objectivos traçados. Por outro lado, há um assumir inconsciente por arrastamento, da condição de manipulado, normalmente caracterizado por apoios directos ao manipulador e toda a sua máquina, tendo como consequência o desleixamento em relação às causas comuns a todos e, em particular, a utilização, cultivo e valorização do nosso próprio pensamento.

A manipulação é o maior obstáculo à mudança de mentalidades na Guiné-Bissau, sendo por isso, um entrave ao desenvolvimento do próprio país. 

Fernando Casimiro (Didinho)

22.05.2005

 

Os Vírus da nossa sociedade

 

Kumba Yalá Nino Vieira

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

22.05.2005

 

O país está atento aos movimentos de Kumba Yalá. O país aguarda pelos movimentos de Nino Vieira.

O país começou a fazer sondagens. Diz-se, que Kumba Yalá sabe que vai perder nas próximas eleições presidenciais e, por isso, estar a criar e a espalhar confusão em Bissau, confusão essa que, vai ecoando por todo o Mundo, desgastando cada vez mais a imagem da Guiné-Bissau!

O país envolveu-se em manifestações de rua ora organizadas por Kumba Yalá e seus seguidores, ora organizadas por sectores da sociedade civil, estando agendada para 25 de Maio um Mega-Comício pela paz, organizado por 25 Partidos políticos que estão contra a recente auto-proclamação de Kumba Yalá a Presidente da República. Auto-proclamação essa que, apesar de desvalorizada internamente, devia constituir motivo de apreensão e análise bem como de encaminhamento para as autoridades competentes, dado o forte impacto que teve principalmente junto dos organismos internacionais que têm providenciado ajudas e planos de recuperação económica para a Guiné-Bissau e em que a estabilidade institucional é a exigência número 1 como garantia da continuidade dos programas de apoio em execução.

Na Guiné-Bissau, o realismo da situação é encarado com alguma ingenuidade, isto porque a maioria dos guineenses acha que Kumba Yalá é um louco, tendo muitos analistas no terreno, avançado com pontos de vista insignificantes, insensatos e descoordenados com os movimentos de afronta diários que têm abalado o país.

A meu ver, Kumba Yalá e Nino Vieira, são o que se pode chamar de Vírus da sociedade. Ambos contaminaram o país com os seus males. A propagação destes 2 vírus continua, sem que as autoridades competentes definam planos para o isolamento destes 2 agentes infecciosos, ou para a descontaminação da própria sociedade em si, que vai evoluindo com alguma promiscuidade, sem saber como se livrar da praga destes 2 vírus e das propagações em crescendo. 

Kumba Yalá e Nino Vieira têm algo em comum que ninguém pode negar: Ambos são sinónimos da discórdia entre os guineenses, mas atenção que, numa estratégia desacertada, ambos podem vir a ser vitimizados e transformados em mártires por não se estar a preparar a melhor forma de lidar com estes 2 ditadores neste processo eleitoral em curso na Guiné-Bissau. Se em relação a Nino Vieira aguarda-se pelos movimentos, já em relação a Kumba Yalá, os movimentos passo a passo vão se descortinando e é aqui que as avaliações tendentes a minimizar Kumba Yalá poderão fazer explodir o país. Se à partida se considera Kumba Yalá um derrotado nas próximas eleições, se à partida se julga que as altas patentes militares não estão em sintonia com Kumba Yalá, até se pode estar a acertar na mosca, mas será que o país se esqueceu das estratégias de Kumba Yalá? Quem não se lembra de quando Hélder Proença, hoje mandatário de campanha de Nino Vieira foi chamado por Kumba e enrolado por ele com propostas ilusórias do tipo prometer rebuçado a uma criança... numa altura má da sua vida? 

Quem não se lembra do badalado caso em que Amine Saad fez confissões a Kumba Yalá sobre o PAIGC, tendo este posteriormente usado as gravações áudio efectuadas sem o conhecimento de Amine Saad para criar uma crise no país e comprometer Amine Saad?

Durante a sua presidência, Kumba nomeou e exonerou ministros a seu gosto e prazer. Falava-se mal dele, mas na hora de ele convidar alguém, (que me lembre, só Zinha Vaz agiu com maturidade, não aceitando e  contrapondo a sua posição) todos se ofereciam, pois todos queriam estar no Poder, a que custo...?

Quantos Doutores da nossa praça foram coniventes com Kumba Yalá? Sabem esses senhores Doutores o mal que fizeram ao país, mas estarão eles seguros se Kumba  Yalá tem ou não gravações comprometedoras a respeito deles? O mesmo se passa em relação às altas patentes militares. Kumba Yalá que não é militar, consegue pressionar a hierarquia militar do país. Tanta promiscuidade, tanta cumplicidade, não podem cair de qualquer maneira...pois, e se Kumba resolve abrir o jogo mostrando os seus trunfos?!

Claro que em nenhuma situação Kumba sairia vencedor, mas sendo desde já considerado um candidato derrotado, pode vir a arrastar o país para uma situação de credo na boca, porquanto, mesmo que se diga que ele é louco, pode ter provas comprometedoras em relação a muita gente que ainda continua influente no país e que, os guineenses de certeza não iriam gostar de saber. Estaríamos perante um cenário de turbulência social caracterizado por um verdadeiro ajuste de contas...

Mas como a tendência é para o ajuste de contas, então os abutres que se comam uns aos outros. Escolham os alvos entre si e deixem os guineenses de bem reconstruírem o país a que têm direito!

 

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