NOSSO 2 DE ABRIL (*).

JÁ QUE AO GOVERNO FALTAM PRINCÍPIOS E MEIOS.

 

Gustavo Gomes

gustavo.gomes69@gmail.com

26.03.2011

 Gustavo GomesEntão nós os guineenses não temos capacidade de compreender que estamos a ajudar a afundar o país quando nada, absolutamente nada fazemos para afastarmos do poder pessoas como Cadogo, Malam, Camará, Indjai, Bubo Na Tchuto, Amine etc.

Só porque muitos guineenses ainda se iludem com as ardilosas manobras destes personagens e ficam embevecidos e a admirar que o governo está a alcatroar aqui e acolá, que comparecem a esta ou aquela inauguração, que puseram a funcionar esse ou aqueloutro gerador ou empreendimento de exploração. Que são benevolentes em oferecer “um bocadito” de arroz ou um trabalho, bondosos para dar uma bolsa de estudo ou facilitar esta ou aquela situação para um ou outro “grande” empresário de ocasião, ou mesmo porque (por enquanto), são fervorosamente elogiados pela Comunidade Internacional. A mesma que ficou estarrecida e escandalizada com o 1 de Abril de 2010, em que golpistas, ultrajaram a soberania das  instalações da UNIOGBIS, prenderam e acusaram o Primeiro Ministro  Cadogo Jr. de ser um assassino, ameaçaram atirar na população. Tudo impunemente. Tal e qual vem acontecendo desde os idos fuzilados pós independência até aos recentes assassinatos, prisões, perseguições. Nada mudou.

À Comunidade Internacional interessa-lhes continuar a assinar vantajosos projetos de empréstimos, extrair nosso pescado, nosso caju e nossos minerais e tantas outras negociatas.

Porque vivo a repetir estes factos?

Porque entristece-me ver, a cada visita à Guiné, como estão a deteriorar-se as estradas ao interior do País. Dá-me dó, ver o palácio, ruas, prédios de Bissau e arredores ainda com vestígios do último conflito político militar.

Tenho pena de ver nossas forças de segurança a ser milícias a soldo de traficantes. Indigna-me ver como a Justiça e demais instituições de soberania estão emperradas e estagnadas a acobertar a decadência do País com a esfarrapada desculpa de falta de meios para atingir os fins.

Mas o que falta mesmo são Princípios. Princípios de ética, moral, patriotismo e competência da  elite farsante  que usurpa o Poder na nossa amada Pátria.

É constrangedor ver a vida das populações, que tinham uma sobrevivência paupérrima mas hoje são dizimados pela  fome. Sim, a fome que não existia na minha infância. Mais pessoas estão a morrer com paludismo, febre tifóide, cólera e tantas outras doenças fruto do abandono de campanhas de saúde profiláticas. A Educação a degradar-se de greve em greve, desde o ensino básico até à faculdade de Direito de Bissau.

As inúmeras Instituições de apoio, não governamentais, não dão conta da crescente miséria.

Nossas frondosas árvores são devastadas para exploração desenfreada da madeira que vai para o estrangeiro, fora a que é extraída  para fazer carvão que é a única fonte de energia para nossa empobrecida população.

São milhares os jovens que vemos a perambular pedintes, desolados, traficados e a traficarem sem que vislumbrem perspectivas de futuro. 

Frágeis, temerosos e silenciosos reféns ante o poderio truculento, ameaçador e bárbaro das armas, dos secretas e dos elementos fardados.

Convém não esquecer que os jovens desesperançados é que têm sido o estopim dos protestos tanto ao Norte quanto Oeste da África.

Mas, e nós na diáspora?  

Inexistimos para o nosso governo. Não temos direito ao voto, temos (quando temos) deficiente representação diplomática quase sempre sem passaportes mas a cobrar e a cobrar caro por emolumentos por qualquer coisa ou papel que se necessite.

Os que trabalham sentem as dificuldades para sustento e para enviar sustento aos parentes que ficaram na terra natal.

Dos  que ainda estão a estudar alguns já sabem onde irão trabalhar  se as coisas e os “conhecidos” continuarem como estão. Mas e se o jogo virar de repente?  Se os poderosos de hoje virarem perseguidos?

Vale a pena essa angústia? Juntarem-se aos inúmeros desesperados a tentar ficar nos países aonde estão a cursar, sabendo-se que a actual situação já não é mais favorável ao “acolhimento” de imigrantes. Sabendo-se que nosso país precisa e muito de todos os formados pelo muito que há por fazer ?

E o que fazemos ? Agimos, redigimos cartas de protesto e denúncia?, reunimo-nos, discutimos  política ou fazemos planos da guiné dos sonhos?

Ou somos meros adeptos e acompanhantes dos tantos protagonismos?

Ainda tenho fé que as vozes da rua perceberão que, é precisamente o silêncio por temerem o arrebentamento de uma nova guerra,  é que, dia a dia vai alimentando os ingredientes para o eclodir de uma nova crise, sempre maior que a anterior.  O nosso silêncio alimenta a arrogância e prepotência destes senhores.

Só quando soarmos nossos “bombolons” e nos transformarmos em uma onda de gente a gritar uníssona e bem forte “BASTA”, “FORA” e “SOLDADO ARMADO VEM PARA NOSSO LADO”.

Só quando marcharmos barulhentamente a bater panelas e latas por todas as ruas, estradas e avenidas é que poderemos manter viva e acesa a esperança de que nosso país e nosso povo não merecem os governantes que aí estão. Quem sabe num dia dois de Abril das 14 às 16horas?

A mostrar-lhes que estamos atentos. A mostrar-lhes que não conseguem dissipar nossa esperança de vermos nosso país a renascer das cinzas do neocolonialismo, a mostrar-lhes que estamos fartos da  conivência da Comunidade Internacional.

Que sim, podemos formar partidos políticos que não sejam penduricalhos do PAIGC da escória, porque só respeitamos o PAIGC  da história de nossa autodeterminação.

Sim, nós podemos formar partidos políticos de adeptos que nos diversos diretórios por todo o país, discutirão o programa partidário, irão preparar seus militantes para se elegerem e assumirem com bom desempenho os cargos públicos.

Sim, podemos ter forças de defesa e segurança conhecedoras dos direitos da pessoa humana, cumpridores do regimento militar, íntegros a defender a independência e soberania de nosso território e de nosso povo.

Sim, a Justiça não se faz apenas de “meios” materiais. Há que haver a vontade ética e moral para fazer prevalecer a Lei.

Sim, a Saúde o saneamento a alimentação e a  habitação não podem continuar a ser esmolas.

Sim, podemos ter empresários diligentes, honestos, empreendedores, investidores.

Sim, podemos educar e formar cidadãos cientes e conscientes de seu valor.

Sim, quer eles queiram ou não, nós podemos fazer nosso 2 de Abril. Ir ás ruas, tomar as avenidas, ocupar as estradas e fazer nosso protesto.

O dia 1 de Abril, deixemos que festejem sozinhos a “enganada” que deram no povo.

Nosso dia 2 de Abril não há-de tardar a reluzir. Só depende de cada um de nós.

Nha mantenhas

(*) 2 de Abril é o dia a seguir ao 1 de Abril.

 


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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