Francelino Alfa
  
    

08.07.2005
  Fundos, sim. 
  Vieram muitos fundos, milhões mesmo para o processo de Reconstrução da 
  Pátria, contudo, foram para si e para a sua nomenclatura, hoje, alguns nas 
  ruas da Amargura de SAUBI. Prometeu hospitais novos, vemos degradação dos 
  antigos; prometeu liberdade, implantou Lei Marcial; prometeu 
  Educação a toda a gente, assistimos bloqueamento e degradação de todo o 
  aparelho Educativo com elevada taxa de analfabetismo ainda na ordem de 60/70% 
  com uma ileteracia de pasmar.
  Prometeu 
  Justiça, praticou injustiças; prometeu infra estruturação do País, 
  saneamento básico e cobertura nacional de rede eléctrica, vemos um País sem 
  infra-estruturas, sem luz eléctrica e água potável onde a cólera tornou-se uma 
  doença endémica; falou que a agricultura seria a prioridade das 
  prioridades, facilitou o mercantilismo fácil e êxodo das populações rurais 
  principalmente para SAUBI e pequenas e médias cidades, onde a monocultura da 
  castanha de caju remetendo-nos à memória da época da monocultura de mancara 
  (amendoim); 
  
  prometeu 
  dignidade à pessoa humana, semeou mortes e tristezas; prometeu 
  trabalho, dignificou a preguiça incentivando a ladroagem onde os 
  contribuintes não valem; prometeu igualdade de oportunidades, 
  assistimos graves desigualdades sociais; onde está a previdência social? A 
  reforma? Depois dos nossos pais trabalharem a vida inteira!? E a nós o que nos 
  espera? O que é feito do nosso desporto e da nossa Cultura Nacional? Onde está 
  a habitação social prometida aos mais necessitados?
  
  Antes a 
  palavra de honra era a concórdia e harmonia nacional, assistimos discórdia, 
  intolerâncias e tribalismos; a emigração forçada que raramente fazia parte das 
  cogitações das pessoas de repente tornara uma realidade nua e crua e o 
  desespero tomou conta dos guineenses,
  A 
  industrialização do país que tinha sido começado no tempo do outro senhor, 
  arrasou com ela e mandou tudo para as calendas gregas. Onde pára o “ex. - 
  libris” do nosso turismo, ilhas dos Bijagós, Património Mundial da Biosfera? 
  Destruída e desmantelada.
  Hoje, diz que 
  tem vergonha mas não tem medo. Este senhor jamais proferiu a palavra 
  ARREPENDIMENTO. Pensem nisso meus caros compatriotas! Indignem-se e é legítimo 
  e não aceitem serem enganados de novo!
  
  Por tudo isto 
  e por outras mais é que devem comparar estas duas figuras. Da diáspora nem 
  querem ouvir falar, fingindo esquecer das nossas importantes e gigantescas 
  remessas financeiras para o equilíbrio da nossa desgraçada Balança de 
  Pagamentos.
  
  A história 
  podia começar assim. Era uma vez um menino que não quis ser presidente e que 
  tinha um sonho: salvar o mundo. Veio de Sunculum e tinha liberdade, igualdade, 
  fraternidade e justiça no coração e tropa foi a sua opção. O povo não o 
  conhecia e o tempo também e, o menino foi crescendo até que se fez homem. 
  Nessa altura, pensava que tinha a missão divina de “Salvador da Pátria”. Como 
  não tinha cabeça para estudos, resolvera fazer-se ao mar à procura do destino 
  que lhe fora incumbida por DEUS. Como era bastante trapalhão, levou muito 
  tempo a avistar o porto de abrigo. Chegado ao local, ei-lo tomando rédeas da 
  embarcação até que se assentou.
  Qual espanto 
  qual quê, a notícia do povo fez-se saber que o menino fora raptado e levado 
  para longe, para um lugar desconhecido. Outras vozes falavam que fora apanhado 
  a fim de ir cumprir serviço militar obrigatório, pois, andava nas ruas de 
  SAUBI sem beira nem eira e com algumas práticas de vandalismo pondo em perigo 
  as instituições de Estado.
  O sururu 
  instalara-se durante algum tempo sem que ninguém ousasse levantar a voz. 
  Passaram dias, meses, anos e o silêncio tomara conta das conversas do povo. 
  Cada qual se interrogava do eventual paradeiro de ABSOLOM, nome dado pelo 
  “pai”. Afinal, era o único rapaz num agregado familiar de 5 pessoas.
  Passado um 
  ano, quando ninguém esperava, eis que chegara a notícia que dava conta de que 
  o jovem ABSOLOM alistara na frente de combate no sul de Sunculum. SAUBI era e 
  continua a ser uma cidade pequenina e rapidamente o povo ficou a saber, mas 
  ninguém o admite e muito menos em voz alta porque as paredes falavam e, 
  qualquer espaço era antena parabólica e todo o objecto que se mexia, 
  constituía uma ameaça devido ao perigo que espreitava a cada esquina. Esse 
  perigo tinha um nome: PIDE – DGS (Polícia Internacional de Defesa do Estado) 
  do Estado Novo, cuja prática era prender e torturar todos aqueles indivíduos 
  de quem suspeitavam que possuíam 2º grau – hoje 4º ano do 1º ciclo em Portugal 
  - e que “sabiam muito” e que podiam pôr em causa as leis da Pátria.
  Mais anos 
  passaram, no entanto, de quando em vez chegava as notícias das suas façanhas 
  nas matas do sul. O ambiente em SAUBI e nas restantes cidades de Sunculum era 
  de uma alegria triste consubstanciada na total falta de liberdade. Os que 
  viviam no interior profundo, apesar de gente simples e trabalhadora eram 
  considerados terroristas. Os que viviam nas cidades eram os agitadores natos à 
  boa ordem pública e como tal, eram os indesejados.
  Na tabanca 
  (aldeia) que o adoptou, fora rebaptizado com o nome de SHAKA em homenagem ao 
  rei ZULU dado a sua bravura. O ainda jovem SHAKA teve o privilégio de ir 
  estudar para o estrangeiro. Após a sua formação militar intensiva voltou às 
  origens para cumprir o que a missão divina o teria incumbido – anunciar a 
  libertação do jugo dos “Colompés” nas sagradas colinas de Boé. O jovem tinha 
  mesmo vocação para as armas. Era o prenúncio de um comandante em chefe
  Ironia de 
  destino: todos aqueles companheiros de armas que o ajudariam no seu sonho – um 
  sonho impossível não fosse o apoio e lealdade dos mesmos, que sempre o 
  aconselhavam e encorajavam-no a ter fé e esperança que um dia a sua opção 
  seria recompensada - ou porque foram mortos ou porque foram “castrados”(!) 
  ou porque estão completamente dementes.
  
  Ao longo de 
  18 anos governou Sunculum com mão de ferro; instituiu um Estado - Polícia cuja 
  estratégia era dividir para melhor reinar; implantou o medo, corrupção não a 
  pequena corrupção mas aquela que levou a degradação total das instituições do 
  Estado de Sunclum.
   Nepotismo e 
  compadrio quanto baste; injustiças e a impunidade a “la palice”; fuga das 
  pessoas mais qualificadas, promovendo a mediocridade e subserviência, 
  destruindo as emergentes forças sociais. Resultado: Sunculum transforma-se num 
  Estado Feudal, um modelo de autocracia pessoal.
  Como há 
  sempre alguém que diga que não, Sunculum entra em guerra e assiste-se 
  estupefacto à rebelião entre irmãos em que o agora único general de 5 estrelas 
  acompanhado por meia dúzia dos seus apaniguados, acantonam-se em SAUBI 
  chamando as tropas expedicionárias de SENEGUI e de GUINECÓ em seu auxílio para 
  matar o seu próprio POVO fazendo-nos lembrar MUSSOLINI e a “República de 
  Saló”. Ao fim de 11 longos meses Sunculum fica completamente sitiada, 
  saqueada, destruída e com muitos mortos ainda por apurar. O general dizia, 
  guerra é guerra. São crianças sem pais, mulheres sem maridos, famílias 
  inteiras mortas...
  O general sem 
  medo fugiu cobardemente a quatro pés pedindo asilo político ao país que em 
  tempos fora alvo de acusações e ataques sem quaisquer contemplações. O asilo 
  foi-lhe concedido em nome dos direitos fundamentais da pessoa humana - o 
  direito à vida. Que cara de pau! Finalmente, o POVO volta a rejubilar-se 
  de alegria e aclama LIBERDADE. Sol de pouca dura.
  
Vivia-se novamente poucos momentos de felicidade e a auto - estima estava novamente em alta.
  Sete anos volvidos, parece que toda a gente teve momentos de 
  ataques de Amnésia recebendo – o triunfalmente num país profundamente dividido 
  e marcado pelo sentimento do voto étnico e religioso. Sunculum nunca foi 
  dessas coisas dizem muitos. Ideias feitas. É só para o inglês ouvir, dizem 
  tantos outros.
  Soubemos da 
  notícia este fim-de-semana (2/3 de Julho de 2005) e na 2ª feira desta semana,
  Kumba Yala e Francisco Fadul ambos fugiam de Nino Vieira 
  como o Diabo foge da Cruz, apoiam o General.
  Provavelmente 
  os ingénuos perguntarão por quê? Para aqueles cidadãos atentos à realidade do 
  martirizado Sunculum, esta notícia não constitui qualquer surpresa facto que 
  vem dar razão àqueles que vaticinavam este cenário. Dirão, ligações do 
  passado?! Outros ainda, perguntarão o que prevaleceu? O primado do 
  “político “ sobre qualquer outro primado? Onde está a coerência? O que 
  terão em troca? Teremos que estar atentos!
  Há várias 
  possibilidades: uma delas é, em caso da vitória do general, este 
  Primeiro-Ministro demite-se, já o tem afirmado, devido a difícil coabitação 
  entre ambos e, Francisco Fadul poderá vir a ser o potencial Primeiro-Ministro 
  de Sunculum. Ambição e Poder é a coisa que não lhe tem faltado. A ver 
  vamos! Pena, muita pena sentir-se-ão hoje, desilusão, provavelmente, até 
  alguma raiva para àqueles que viam nele como dos poucos políticos locais com 
  os “atributos” que nos levaria para o “Caminho da Glória”. Eu 
  estou fora desse grupo por uma razão muito simples:
  O seu estilo 
  de fazer política...Oh (!) dá panos para manga!
  A nossa vida 
  política está cheio de exemplos desta natureza, só para citar um de um 
  “renomado” jornalista da nossa praça que em tempos fora um acérrimo adversário 
  de Kumba e eram como dois galos num poleiro, e dizia cobras e lagartos contra 
  o ex. – Presidente mas acabou por se vender (!) por um lugarzinho de 
  secretário de uma coisa (!) qualquer e hoje, tem processos a correr no 
  tribunal regional de SAUBI, acusado de desvios de avultadas somas de dinheiro 
  do erário público.
  
  Contudo, o 
  que neste momento urge questionar é:
1 – Queremos um regresso ao passado em que toda a escória que não sabe fazer outra coisa se não a “política suja” querendo voltar aos “papéis da Lórdia”? Ou queremos um futuro com estabilidade, harmonia, justiça, paz, amor, progresso e desenvolvimento? Em que a palavra de ordem seja: guineenses, uni-vos e toca a trabalhar! – O que não abunda por aquelas paragens – para uma GUINÉ MELHOR.
  2 
  – 
Guerra é guerra como dizia o general?!
  É 
  isto a nossa, vossa política? Estas são as alianças. 
  Uma de um demente e tolo com outro cujas mãos estão cheias de sangue é um 
  barril de pólvora que a qualquer momento pode ser accionada. No meio de tudo 
  isto até onde irá a aliança de um “Hiper inteligente e Super-homem” com o 
  mesmo general?
  Como será 
  esta combinação matemática de três variáveis e apenas uma equação? Claro que é 
  uma solução impossível!!!
   O general 
  depois de 18 anos de reinado absoluto, tem uma falta de conhecimento das 
  atribuições de um Presidente da República que é de uma barbaridade atroz de 
  arrepiar.
  Revejam as 
  palavras dele durante a 1ª campanha para a presidência, falando em coisas como 
  fazer isto, fazer aquilo ou exigir isto ou exigir aquele outro... um grande 
  embuste!
 Aqueles 
  que votaram por pertença étnica ou aqueles que pensaram que votariam em Kumba 
  (que não por pertença étnica e são muitos (!)) para que o general não ganhasse 
  é chegado o momento sublinho novamente de pensarem com as vossas 
  próprias cabeças, CABRAL.
  Muitos dirão 
  que as nossas tradições, enfim, a nossa cultura é diferente da do Ocidente. 
  Concerteza. Mas não é esta a questão. A questão de fundo é a impunidade e 
  falta de equidade e de transparência no tratamento de questões delicadas; da 
  falta de justiça. Esse general com processo nos tribunais é considerado um 
  traidor à Pátria e foi recebido com pompa e circunstância como se nada tivesse 
  acontecido com ele. Não é ser-se muçulmano ou laico – cristão! Não há aqui o 
  combate entre DAVID e GOLIAS, como muitos querem fazer crer, não! O que está 
  em causa é o regresso de um passado triste e tenebroso onde o futuro 
  poder-se-á tornar mais uma vez de desgraça e mortes.
  
  Acabado de 
  chegar do exílio com muito, muito dinheiro não se sabe como, contrariando as 
  vozes que diziam que o general estava pobre. Já não tinha nada. E mais e mais 
  aquilo... não é o que se vê. Num país pobre acaba por comprar a consciência 
  das pessoas. Lembrem que Cabral não mobilizou ninguém para a luta de 
  libertação com ofertas de motorizadas, telemóveis, televisões, dinheiro,....
  
  Alguém dizia 
  que Sunclum é um país anedótico mas estas alianças podem perder a sua base 
  social de apoio se o que está em causa é o nosso futuro colectivo.
  
  Num país 
  normal é Concerteza o que deveria acontecer. É o futuro dos nossos filhos e 
  netos que está em causa! Reflictamos! Lembrem desta frase no comício do 
  general em Bafatá onde dizia num tom desafiador: “ É mis ti, É kamisti, 
  vitória” – querem ou não querem a vitória será dele. Quem são eles? Pensem e 
  reflictam sobre esta frase. É demasiadamente forte para este candidato que já 
  fez o que fez e deixou marcas profundas na nossa sociedade. O general foi 
  quem mais contribuiu para a degradação que a Guiné vive hoje. A todos os 
  níveis!
O discurso destes 3 senhores subjazem o modelo do quero, posso e mando. Basta! Estamos fartos! Há sempre quem diga, chega! O medo deve ser definitivamente banido da nossa sociedade! A DEMOCRACIA não coaduna com MEDO
Junto a voz àqueles que não são pessimistas quanto ao nosso futuro mas temo a nova desintegração social. Nunca fui e nunca serei apologista de uso de força sobretudo por via das armas para a resolução de quaisquer que fossem os problemas. Nós vimos que os confrontos armados dentro de sociedades marcadas por " extrema pobreza" (a cada um o seu conceito de pobreza) e por instituições muito frágeis, que é assumidamente o nosso caso, assumem um enorme grau de explosividade e irradiação. Estas três alianças só por si não podem ganhar estas eleições apesar ainda da ignorância da maior parte das nossas populações e da sua consequente manipulação!
  A verdade é 
  uma afirmação da liberdade sinónima da Democracia. Vale mais ser livre um 
  dia nas ondas do rio Geba, rio Cacheu ou rio Corubal do que viver toda a vida 
  pobre, triste, preso e escravo e sem perspectivas!
  Parafraseando 
  Mandela a vós jovens, particularmente que deixo esta mensagem: “Às vezes 
  cabe a uma geração ser grande. Vocês podem ser essa grande geração”. 
  Escolham com consciência meus irmãos e pensemos na Guiné. Salvemos a Guiné – 
  Bissau! Com DIREITOS mas com DEVERES também! Nunca se esqueçam disto!
  INSHALLAH, 
  veremos a luz ao fundo do túnel.
  
  SHALON! Bem – 
  haja e um abraço fraterno.
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO