As presidenciais hipotecaram a Guiné a interesses externos

Nino Vieira e Kumba Yalá

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

17.09.2005

 

É ao presidente eleito, no caso, "Nino" Vieira, que se exige ser presidente de todos os guineenses!

É ao presidente eleito que se exige o exemplo máximo de cidadania!

A presidência é um cargo, uma função no Estado, remunerado e com múltiplas regalias, sendo por isso exigível com um desempenho cabal conforme o estipulado pela Constituição da República.

Ao cidadão comum deve-se "libertar" o julgamento sobre o reconhecimento em alguém por quem votou ou não, para ser presidente do país e, portanto, seu presidente!

Quem votou em "Nino" Vieira queria-o como presidente da Guiné-Bissau e quem não votou, é porque não o queria como presidente. Portanto, ainda que o espírito de cidadania incline para uma concertação de posições, neste caso, que passe por uma aceitação e reconhecimento de Nino Vieira como presidente de todos os guineenses, não se pode desconsiderar o sentimento de pessoas que não votando nele queiram manter-se fiéis aos seus ideais, não o reconhecendo como seu presidente.

Esta legitimidade aplica-se porquanto a cidadania ser um dever e não uma obrigação ou imposição.

João Bernardo Vieira "Nino", eleito presidente da República da Guiné-Bissau na segunda volta das eleições presidenciais, não reúne condições para exercer uma presidência de consenso e, por conseguinte, o seu mandato é antecipadamente sinónimo de adiamento das mudanças estruturais de que a Guiné-Bissau necessita.

O país tropeçou uma vez mais ao dar os seus próprios passos na busca de soluções para a tão pretendida reconciliação nacional, cujas fórmulas apresentadas pelos principais interlocutores continuam a defender pessoas em vez do país. A defender a impunidade em vez da Justiça.

É num clima de divisão social nunca antes visto que"Nino" Vieira se prepara para a tomada de posse agendada para 1 de Outubro próximo.

"Nino" Vieira que já foi presidente da Guiné-Bissau durante 18 anos, sabe que as concertações que fez com outros candidatos para ganhar votos e por assim dizer: a presidência, será o seu primeiro factor de pressão, ou seja: dor de cabeça na definição de directrizes para o seu mandato.

Uma das suas apetências que se concretizará com o tempo e após a tomada de posse, será certamente o derrube do governo em funções e a formação de um governo tipo: Unidade Nacional, que será formado por pessoas próximas a ele, tanto da ala fraccionista do PAIGC, como de outros partidos que o ajudaram na sua eleição, destacando-se o PRS através de Kumba Yalá e o PUSD através de Francisco Fadul.

Outra das apetências de "Nino" Vieira é o reassumir da liderança do PAIGC, que posteriormente sofreria um reajustamento considerável numa visão de reforço de poder da sua liderança.

Em ambas as situações, o favorecimento de posições como cumprimento de promessas na campanha eleitoral, é por si só prejudicial ao critério de rigor e de isenção que se pretende na atribuição de cargos, particularmente públicos, na direcção dos destinos do país.

A atribuição de cargos públicos será igualmente um ponto de discórdia e de divisão dos que apoiaram "Nino" Vieira, porquanto cada um ir reivindicar a importância dos votos que angariou para a sua eleição com a atribuição de lugar e privilégio pretendido na estrutura dirigente do Estado. Ora aqui o "bolo" torna-se pequeno para tantas bocas à espera...

O futuro governo a ser formado por "Nino" Vieira, será um governo de total submissão ao "Chefe", que por sua vez será um fiel submisso dos interesses de países vizinhos: Senegal e Guiné-Conacri, que apoiaram a sua eleição, em detrimento da afirmação e valorização dos interesses da Guiné-Bissau na região.

Tudo isto é previsível se tomarmos em conta que a Guiné-Bissau foi hipotecada com estas eleições presidenciais a interesses externos.

Interesses externos que irão permitir que "Nino" Vieira volte a fazer da Guiné-Bissau a sua propriedade, ainda que num contexto político social diferente de há uns anos atrás, pois a mudança de mentalidades é uma realidade presente e a considerar.

A divisão entre guineenses como factor real de desestabilização na presente conjuntura da Guiné-Bissau é um rastilho que perigosamente continua exposto.

Os guineenses esperam para ver a actuação de "Nino" Vieira, mas fazem-no de forma reservada, pois não esquecem o passado triste de 18 anos da sua anterior presidência.

A Guiné-Bissau, o país, já está a perder com a eleição de "Nino" Vieira para o cargo de presidente da República e o tempo encarregar-se-á de o confirmar.

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