RENÚNCIA OU SUBSTITUIÇÃO, EIS A QUESTÃO

 

 

Filomeno Pina  *

filompina@hotmail.com

20.02.2012

O Homem está indeciso entre soltar a pomba que trás nas mãos e, entrar na corrida em igualdade de circunstâncias e de condições para tentar caçar a outra pomba que ainda voa, pois não consegue decidir pela renuncia da sorte segurada neste momento com mãos trémulas, e partir para outra sem uma na manga, o que está a ser difícil, mas optou por entregar a pomba a pessoa da sua confiança, permitindo-se substituir e não renunciar ao cargo (guarda-me isto com cuidado, disse), porque receia perder a caçada, não alcançar a outra que ainda está a voar, a mais bonita segundo ele pensa, mas ainda longe, distante de qualquer previsão com assertividade, pois só conhecemos palpites no ar, parecendo um jogo da sorte.

Há um ditado que diz "quem tudo quer, tudo perde", aqui e em jeito de conclusão mais parece outro ditado popular que conclui que "quem não tem cão, caça com gato". Rapidamente constatamos uma nudez que não se despe, parece que o rei vai nu, mas é impressão nossa, ficção ou realidade, creio que está claro para muitos de nós que ele já não esconde a obsessão pelo poder, capricha um estilo pessoal e culto preparados, a excitação é tanta que não chega a ter período de latência para recarregar baterias, isso é mau, sobretudo para um homem habituado a trabalhar muito, no entanto faz uma escolha apressada e de circunstância que arrasta novos inimigos, outrora quase família de boca, mas, é de lembrar que os gatos não são tão obedientes, não se matam pelos donos, quando apertados facilmente optam por não respeitar ordens do próprio dono, são mais exigentes e independentes, têm postura e autonomia própria, são por exemplo asseados, só sujam onde devem, são pensadores mais definidos no carácter, e estas condutas mexem com muita coisa, por isso a maior parte das pessoas preferem o cão, porque obedecem mais, lambem e não mijam os pés do dono, o cão parece ser fiel sem saber porquê, é amigo inseparável e dependente convicto, é cão de seu dono, está pronto a atacar a mando deste, chega a matar se não é travado pelo  tom de voz do dono, é um animal que não aprecia "gatos",  mantém a rivalidade acesa para mostrar trabalho, é mais forte fisicamente do que o gato, tem um bom faro, é guarda-costas, sentinela, amigo do amigo do seu dono, faz marcação de território, de preferência come restos ou o que lhe dá, a única visão que respeita está centrada no dono e na família que pertence, é um problema para quem não gostar do dono, pode fica mal e a "dentada" se não aderir, só.

Que escolha difícil enfrenta o nosso camarada, fica mal nesta fotografia por se posicionar no meio delas, escolha um dos extremos e parte para a luta, pode ser desta que vai ter de saber perder, coisa que nem a feijões admite. Quem sabe se vai guardar mais uma vitória, desta vez com outro sabor, quem sabe, arrisque que tem outro sabor com certeza.

Se abandonar este barco, o povo não esquece, vai sentir preterido por outra atracção, este modelo na sua cabeça pode talvez enganar, porque o sentido da realidade também pode tomar de repente outro rumo das coisas, podemos até presenciar um novo jogo de cintura para distanciar do líder. O povo é profundo e bom, agradece sempre tudo o que lhe fazem, perdoa e protege quase sempre os seus filhos, por vezes escapam alguns da sua atenção, os maus que longe vão fazendo asneiras da grossa, tudo se sabe depois e custe o que custar, tudo se descobre um dia, onde o tempo é o azeite puro nas consciências reparadoras de cada um de nós, vale a pena pensarmos nisto, agir com sentido de responsabilidade individual e colectiva, ainda vamos a tempo de escolher o melhor caminho e avançar.

 

É caso para dizermos cuidado com o cão do "inimigo", o cão de um desconhecido, do adversário, de quem não te quer bem, porque agem sempre a contra gosto, são gente que solta os cães quando não gostam da nossa maquilhagem, do nosso suor, das nossas palavras bem ditas ou malditas, até do nosso tom de voz, do nosso apelido, da nossa família, da nossa frontalidade, da nossa lealdade e do sentido de honestidade implícita no nosso agir livre, o mais correcto, é caso para dizer que todo o cuidado é pouco para lidar com a desconfiança e insegurança do individuo, quando lidamos com gente que não olha a meios para atingir objectivos a que se propõe, tudo e todos cabem na sua barriga grande, onde a digestão simplesmente não se faz, o verbo é comer, encher, acumular e esperar por mais, chega a cansar só de os ver a engolir sem mastigar, a sofreguidão com que tiram sem hesitar, sem se quer inibição aos olhares mais atentos, há um despudor, desrespeito e ausência de complexo de culpa, da desgraça causada aos outros, vai enchendo o seu baú de valores que chegam para dar de comer aos trisnetos sem precisarem de trabalhar, a não ser que o queiram fazer para aquecer ou ajudar a "crescer" na carteira.

 

Sou daqueles que pensa que o ladrão que rouba ladrão, não tem cem anos de perdão, vou pela igualdade de tratamento, e será que o juízo está congelado ou há apenas sentença de quem bebeu o juízo. Pergunto porque sei, muito sinceramente constato que é para nós um paradoxo a palavra justiça neste momento na Guiné-Bissau, a impunidade é grande, vem acumulando de muitos anos a esta parte, cada vez pior, mentes adormecidas porquê se sabem separar o bem do mal, outros até são juristas de formação, também servem como testemunho do impasse a que chegamos, a situação perversa ou pervertida a que chegamos, com a diferença de sabermos bem o mal que estamos a fazer, o que é doentio, por isso gritante este apelo que rompe do silêncio, num País onde há tantos inquéritos para concluir, nunca há provas materiais a apurar a verdade dos factos que propositadamente não chegam ao fim, não havendo portanto matéria de factos para se constituir arguido ninguém, o que significa que andam criminosos à solta diante ou atrás dos nossos olhos. Porque falhamos sempre?

Esta cegueira mental propositada pode vir a calhar mal aos que hoje beneficiam deste "método", acredite que só a justiça nos protege, o crime não compensa mas pode adiar o resultado de uma sentença esperada, no entanto não garante a permanência da ignorância dos factos, por isso vale a pena apoiar a justiça, sempre.

Andamos cansados, não conseguimos mais cortiça que chegue para tanta "rolha" necessária para por fim ao derrame nas garrafas deitadas, vertem por não trazer rolha que vede bem os conteúdos preciosos da terra, vai caindo por terra ou nos bolsos de alguns, por isso a única coisa que ajuda a manter a esperança, não é mais possível, parece não ter a possibilidade de recuperação se não mudarmos de perfil comportamental.

Assistimos a feira do desconhecimento total do que se passa nos bastidores dos balcões de negócios que se fazem às escuras para quase ninguém saber como, mas quem são os escolhidos "iluminados" deste capítulo da nossa história, alguns que pela aparência vamos desconfiando da sua aparência pela amostragem de riqueza aparente e não só, porque não se justifica no tempo e memória que temos deste equivalente poder económico num país como nosso, mas onde alguns mais parecem fazer parte de um grupo económico de capitalistas grosseiros, oriundos de um sistema fora da lei que está fora do controle de quem de direito, que estão com o firme propósito de corromper os últimos resistentes para satisfazer o "padrinho".

Há os que ainda resistem com consciência de prestarem um serviço leal e honesto ao Estado da Guiné-Bissau, estes podem estar com os dias contados como combatentes das causas difíceis da Terra, acabando por ter um preço, o que seria muito mau, perdermos todos ao mesmo tempo o sentimento de honestidade e espírito solidário que é peculiar no Guineense, penso que não, quando se trata de defender causas nacionais, devemos então estar atentos, lutar para engrossar esta massa humana, porque somos a maioria, os que dizem não ao roubo, não aos abusos de poder, não à exclusão, não à exploração do homem pelo homem, não ao crime, mas gritamos sim à liberdade, à responsabilidade, ao amor e à fraternidade entre guineenses espalhados no mundo inteiro, sim a vida com sinal positivo, sim à luta pela preservação da riqueza nacional, sim a igualdade de direito e de deveres entre cidadãos, queremos um estado de alerta crónico na memória, para vigiarmos o que é de todos nós, esta riqueza natural que a natureza ofereceu aos seus filhos, vamos todos juntos sem excepção cuidar do que é nosso, uma responsabilidade feliz que cabe a todos os filhos da Guiné-Bissau e não só.

Temos problemas muito mais sérios do que a escolha de um Presidente, tudo parece manifestamente real e gritante à espera de uma resolução possível. Uma clarificação o mais racional e abrangente aguardamos. Por enquanto assiste-se ao jogo do empurra onde ninguém quer a batata quente nas suas mãos, a culpa morre solteira a cada passo de uma resolução possível e lá se foi a esperança de a sepultar definitivamente e avançar.

Ouvimos muitas vezes que a culpa é dos militares, o que peca por diagnóstico errado da situação, outras vezes, que a culpa é deste ou daquele político isolado, nunca dos políticos que têm a gestão do País há décadas, e muitos destes camaradas estão encostados ao poder, mudando apenas o jogo de cintura há vários anos, o sai-entra e vice-versa, sem resultados evidentes no processo pós independência até hoje, nada, alguns é só o estilo, há que dizer basta, porque é importante mostrar resultados de trabalhos, não é um lugar de simpatia que se ocupa, mas sim de trabalhos a exercer com a competência esperada dentro de um projecto de si aprovados.

Ultimamente falamos de droga e das várias razões associados ao seu tráfico, meus caros, queira Deus que esteja errado na minha análise contra muita teoria nesta matéria, mas penso que a droga veio para ficar, que eu saiba não há nenhum país no mundo que o tenha irradiado do mapa depois de o identificar, não seremos nós a fazer o impossível, podemos é controlar a sua proliferação dentro do País, no caso do nosso, parece muito bem infiltrado nas células do poder, o que é péssimo acontecer num Estado jovem e em vias de desenvolvimento global e especifico em todos os sectores materiais e humanos em foco.

Aprendi que este problema começa com um carácter epidemiológico, focalizado num determinado espaço ou zona definida de inserção, mas hoje em dia, sabemos porque se fala da droga como um fenómeno, justificando bem a metodologia de investigação cientifica e de combate a este flagelo, recursos estes multidisciplinar no terreno que muitas vezes mesmo havendo condições materiais de combate sofrem atropelos e contra ataques vindos de dentro (Estado), estes focos de reacção nunca são identificados dentro do sistema, desconhecendo da sua validade como resultado de uma avaliação objectiva no terreno, mas todos falam dela, esta guerra ainda é tabu e por isso a identificação custa a favorecer uma análise e o diagnóstico desta situação. Até quando não sei, a ver vamos caros compatriotas ter de encarar de frente o porquê do nosso falhanço até hoje, fazermos a nossa pega frontal do touro sem hesitar ou adiar mais uma vez.

Em jeito de reflexão aqui vos deixo mais uma a registar como um abraço Guineense deste vosso amigo e compatriota.

Djarama.

Filomeno Pina.


* Psicólogo clínico

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