Os  nossos Fidalgos

Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

08.04.2008

 Filomena EmbalóHoje vamos fazer uma pequena incursão ao teatro nacional, para trazer às luzes da ribalta a Companhia de Teatro Os Fidalgos. Uma entre as várias existentes no país que têm vindo a mostrar que, apesar de todas as dificuldades e insuficiência de apoios de que carece a área cultural, o teatro nacional “continua vivo” no dizer da actriz Amélia da Silva e a encher de orgulho os guineenses, tal como acontecia nos tempos de Esta é a Nossa Pátria Amada, o primeiro grupo de ballet da Guiné-Bissau independente.

 

Na origem desta companhia está o grupo de músicos, actores e dançarinos que vinha trabalhando, entre outros, nos filmes do realizador Flora Gomes e que acarinhava o sonho de criar uma companhia de teatro. De uma conversa informal entre Flora Gomes, o grupo e a Cena Lusófona (i), o sonho tornou-se realidade, surgindo o projecto da realização de um “espectáculo multi-étnico, de cariz musical, com temas e sons guineenses”, cujo texto é um trabalho colectivo do grupo, sob a coordenação artística de Andrzej Kowalski, colaborador da Cena Lusófona. Foi assim criada a peça O Lutador, que retrata o percurso sem perspectivas de um jovem guineense, da sua tabanca natal a Bissau, apesar do seu potencial. A peça estreou-se no dia 20 de Junho de 2002 no Espaço do Centro Juvenil do Bairro de Quelelé.

 

Com o apoio da Cena Lusófona e da Cooperação Francesa em Bissau, Os Fidalgos afirmaram-se e têm vindo a realizar uma carreira já com uma projecção internacional. Ainda em 2002, participaram com a peça O Lutador  na V Estação da Cena Lusófona / Festival de Gravana em São Tomé e Príncipe e no Circuito Teatral Lusófono, também produzido pela Cena Lusófona.  Em 2003, O Lutador, voltou a subir ao palco durante a VI Estação da Cena Lusófona, organizada em Coimbra.

 

Outras peças da companhia surgiram em 2003: “Era Uma vez em África”,  “Barta Ba” e Namanha Macbunhe. Esta última, retratando a história da ascensão e queda de um guerreiro, é uma adaptação africana da peça  Macbeth de William Shakespeare, com encenação de Andrzej Kowalski e que foi apresentada em 2007 no Teatro da Trindade em Lisboa, com grande sucesso.  

 

Em 2004 foram levadas à cena Balada, inspirada numa fuga de elementos do grupo aquando de uma digressão a Portugal, também apresentada no Senegal e Mistida baseada na obra com o mesmo nome do romancista guineense Adulai Sila.

 

Na área do cinema que, como já foi referido, não é alheio à criação da companhia, Os Fidalgos têm um interessante currículo. Participaram nos filmes “Veneno do Sol” (1991) de Victor Silva, “Os Olhos azuis de Yonta” (1991), “Máscara” (1992),“Pó di sangue” (1995), os três de Flora Gomes, “Djitu Tem Ku Tem” (1997” de Suleimane Biai e “Nha Fala” (2002) também de Flora Gomes. Por outro lado o grupo participou também em vários documentários da Televisão da Guiné-Bissau.

 

Para além de actores, os membros da companhia são também responsáveis pelos outros aspectos da representação, tal como a iluminação, o som ou os figurinos do grupo.

 

O teatro na Guiné-Bissau tem vindo nos últimos anos a ganhar uma maior dinâmica com a criação de vários outros grupos um pouco por todo o país. Citaremos alguns: Voz da Guiné, Teatro Estudo Africano (TEA), Teatro Lanta, Grupo Amizade (de S. Domingos), Irmãos Unidos (do Gabú), Teatro dos Oprimidos, Ussoforal, Teatro Experimental de Bissau, Netos do Bandim, Netos da Amizade, Teatro Escolar do Liceu Nacional Kwame N’Krumah e Brigada Cultural Estudantil.

 

A expansão desta arte justifica a realização, de 7 a 12 de Abril no Centro Cultural Português de Bissau, de mais um encontro de teatro com a participação dos grupos acima citados. O encontro será também uma ocasião para a realização de ateliers sobre a Expressão Corporal/Dança, Música/Djembé e Interpretação. Um debate sobre o teatro na Guiné-Bissau encerrará o evento com a intervenção de todos os participantes. 

 

Ao encontro desejamos o maior sucesso e esperamos que a reflexão que ele proporcionará possa contribuir para a sensibilização dos governantes para a importância desta arte na preservação da cultura e identidade nacionais e um consequente apoio ao desenvolvimento do teatro nacional.

 

 

(i) A Cena Lusófona – Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral – existe desde 1995, com o objectivo de dinamizar a comunicação teatral entre os países de língua oficial portuguesa.

 

Fontes:

http://www.fidalgos.blogspot.com/

http://osfidalgos.blogspot.com/2007/05/apesar-de-tudo-o-teatro-na-guin-est.html

http://djambadon.blogspot.com/2005/12/prosa-contempornea-na-guin-bissau.html

 


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