OS GANHOS DE UMA MOÇÃO
   
  
 
   
  Por: Flaviano Mindela
  

  
  16.04.2007
   
 
  Nunca é demais estimular, ainda que muitos já o fizeram, 
  uma jovem democracia como a nossa, quando a uma certa altura, decide pautar o 
  seu modo de funcionamento por imperativos legais, na resolução de uma qualquer 
  crise.
   
 
  Tal como uma maioria dos guineenses, e amigos genuínos da 
  Guiné-Bissau, foi com uma grande satisfação, embora também com alguma 
  desconfiança, que abracei essa pioneira iniciativa de um grupo muito 
  significativo de deputados guineenses, no sentido de sancionar com uma moção 
  de censura, um Governo que, não tendo conseguido responder da melhor forma às 
  exigências do país para o momento, ainda por uma marcada arrogância, nem quis 
  consertar com os parceiros sociais, visando a procura de uma solução possível.
   
 
  As razões de fundo, todos sabem.
   
 
  Guiné-Bissau, de alguns anos a esta parte, vem 
  acostumando os seus cidadãos e os seus congéneres de que, não consegue 
  resolver os seus problemas, se não debaixo de tensões altíssimas, ou mesmo 
  consideráveis levantamentos militares. O que naturalmente, só prejudica o já 
  de si bastante difícil processo, para um desenvolvimento sustentado, de que 
  tanto necessita.
   
 
  A proposição, discussão, e respectiva votação em tempo 
  recorde da moção de censura, foi sobretudo uma demonstração de que, quando um 
  dia, os políticos assumirem totalmente as suas responsabilidades na dinâmica 
  social, os militares jamais encontrarão um campo de batalha, para o 
  cumprimento do que para eles, é um sagrado dever, que é libertar vezes sem 
  conta, o tal sempre martirizado, povo guineense. Os factos falaram por si, 
  para quem tenha algumas dúvidas.
   
 
  Com as consequências imediatas desta moção de censura, 
  nós os guineenses descobrimos que afinal, basta accionarmos um dos vários 
  instrumentos disponíveis na nossa Constituição, para assim resolvermos alguns 
  dos problemas, que só aparentemente são graves. E que entre os tais, 
  podemos incluir o necessário afastamento de um Governo, que no seu todo, 
  for incapaz de cumprir com seus deveres. Isto não é de maneira nenhuma, algo 
  para se deixar passar, sem antes lhe reclamar uma importância cronológica na 
  nossa História, ainda que, como todos sabemos, ela é já cheia de feitos 
  marcantes.
   
 
  Mas na minha opinião, o mais significante de tudo isto, 
  são os vários benefícios para o futuro da nossa democracia, que as 
  consequências dessa moção de censura será capaz de trazer, se pensarmos na 
  inevitável preocupação, com vista a um exercício de excelência no poder, sem 
  deixarem de acautelar também o factor da eficácia, que terão os próximos 
  membros dos futuros Governos, sob pena de serem afastados prematuramente.
   
 
  Também é de salientar que, com a concretização dessa 
  moção de censura, apesar de desnecessariamente dificultada por parte do órgão 
  que devia actuar logo, visto que se tratava somente de cumprimento das 
  formalidades, dada as evidências, os pretendentes aos cargos políticos, e os 
  comuns guineenses, acabaram por ficar, e ainda bem, com uma ideia mais ou 
  menos clarificada, de como funciona, e deve funcionar a separação de poderes, 
  num regime democrático. E também que, com uma ajustada dose de boa vontade, de 
  coragem, e de determinação, é de todo possível conseguirmos importantes 
  passos, rumo à instauração definitiva, duma sólida República Democrática.
   
 
  É caso para afirmar que, a nossa jovem e irresponsável 
  democracia, está finalmente a tomar juízo.
   
   
  VIVA A DEMOCRACIA!!!
   
   
  Ser, Conhecer, Compreender e Partilhar.  
        
  
VAMOS CONTINUAR A 
TRABALHAR!
Projecto
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