TEMÁTICAS DA SAÚDE

Ioga de Pátañjali

 

John Hagelin, eminente físico quântico, referindo-se a este conceito um tanto ou quanto místico, afirma que «o cérebro humano está capacitado para experimentar a unidade da vida». Defende ainda que «quando experimentamos a unidade interior, ocorre o funcionamento coerente do cérebro, que acarreta o aumento do QI, maior criatividade e capacidade de aprendizagem e melhor desempenho académico, argumentação moral, estabilidade psicológica, maturidade emocional, reacções mais rápidas e mais atenção. O melhor para o cérebro depende do seu funcionamento organizado».

Ana Cristina F. Marques

 

Ana Cristina Ferro Marques

anymarques@hotmail.com

 

Ana Cristina Ferro MarquesComo atingir o samadhi? Como atingir a paz interior? Como atingir o estado de tranquilidade mental? Como melhorar a qualidade de vida? Como conseguir mais e melhor saúde? Pátañjali, propõe-nos um caminho em oito passos/degraus: princípios éticos (yamas); princípios de autodisciplina (niyamas); controlo da energia (pranayama); posturas (asanas); recolhimento dos sentidos (pratyahara); concentração (dharana); meditação (dhyana); iluminação (samadhi).

São cinco os princípios éticos (yamas) propostos por Pátañjali, sábio e médico que sistematizou os conhecimentos do ioga. Tendo como meta o estado de cessação das flutuações da mente (o burburinho mental), este sábio sugere como princípios básicos para iniciar a caminhada, o cultivo da não-violência, da verdade, da honestidade, da não-dissipação da energia sexual, e do desapego. Assim, por exemplo, para a filosofia iogui, o apego (sob todas as formas) ao objecto de desejo (e não ao desejo, sublinho, porque este é o motor da vida) está na origem de emoções perturbadoras da mente e constitui uma espécie de escravidão do ser e da mente. Estes princípios de relacionamento com os outros mas também, consigo mesmo, constituem o código de ética do iogui e devem ser encarados como princípios de sabedoria a serem aplicados não com uma atitude niilista mas, com discernimento e inteligência na construção de uma personalidade íntegra/sólida.

São cinco também os princípios de auto-disciplina (niyamas) a observar. O praticante de ioga procurará a purificação através da higiene nas suas diferentes dimensões (física, emocional e mental). Cultivará o contentamento (independentemente de qualquer condicionalismo); a auto-superação (esforço consciente para ultrapassar os seus limites); o conhecimento/observação de si mesmo; e a confiança/fé perante a vida. Aprecio particularmente o princípio do contentamento que apela para um estar em harmonia e para a responsabilidade individual na construção do bem-estar pessoal.

O controlo da energia (pranayama), um aspecto fundamental da prática do ioga, faz-se através de técnicas respiratórias específicas com o objectivo principal de revitalizar o corpo físico e energético. As diferentes técnicas respiratórias desenvolvem evidentemente a capacidade respiratória mas, também, a capacidade de concentração e o auto-controlo (emocional e mental). A respiração abdominal, lenta e profunda, por exemplo, permite desintoxicar o corpo (ao melhorar a absorção do oxigénio e a eliminação de dióxido de carbono), desfazer as tensões emocionais e relaxar a mente. Outras, mais dinâmicas (com inspiração e expiração mais enérgicas), permitirão purificar as vias respiratórias, estimular a circulação sanguínea e o metabolismo, e aumentar o fornecimento da energia vital. A respiração aliada a técnicas de contracção de grupos musculares (bandhas) permite ainda direccionar a energia para determinadas partes do corpo.

De referir que o controlo da energia (pranayama) baseia-se no pressuposto, defendido pela ciência do ioga e pelas terapias de cura bioenergéticas, de que o universo e os organismos são constituídos por energia; pressuposto aliás apoiado pelos físicos quânticos, os investigadores do mundo subatómico. Nos organismos, a energia vital (prana) forma o corpo energético e funciona como uma bateria do corpo físico. Para a ciência do ioga, a respiração é a principal fonte de energia vital, pois, através deste processo, absorve-se não apenas o oxigénio mas também, a energia do ar. Uma alimentação adequada e outras técnicas oferecidas pelo ioga como as posturas/exercícios físicos e a meditação mas, também, boas atitudes perante a vida (já se apercebeu do desgaste energético que representa alimentar pensamentos e sentimentos como o ódio, a raiva, a inveja, a frustração e obsessões de toda a espécie?), permitem igualmente recarregar a bateria e aumentar a vitalidade física e mental.

As posturas (asanas) baseiam-se essencialmente em flexões, contra-flexões, torções e têm benefícios tanto físicos como psíquicos. Realizadas de forma pausada, “comodamente mantidas”, com plena consciência do nosso corpo e dos nossos limites, contribuem para melhorar a flexibilidade da coluna, a mobilidade das articulações e dos ligamentos, aliviar as tensões musculares e estimular a circulação sanguínea. Esses movimentos, ao exercerem uma pressão sobre os órgãos internos e as glândulas endócrinas contribuem nomeadamente, para melhorar o funcionamento do sistema digestivo e endócrino/hormonal. E este é um efeito que merece ser destacado, pois, é assaz conhecida a influência do sistema endócrino para o funcionamento geral do organismo e para o equilíbrio mental e emocional. Vários estudos, com efeito, têm demonstrado a influência das emoções na produção hormonal. Assim, as diferentes técnicas oferecidas pelo ioga, ao agirem sobre a mente e as emoções, vão contribuir também para equilibrar a produção hormonal. Outras posturas vão ainda desenvolver o sentido do equilíbrio e da coordenação. Ao terminar uma sessão de asanas, comparável a um profundo “espreguiçamento”, a postura do relaxamento permitirá ao praticante restaurar a energia física e mental.

Outros aspectos indispensáveis numa prática de ioga são o recolhimento dos sentidos (pratyahara) que consiste em desligar-se de estímulos externos (de forma a facilitar o processo de interiorização) e a concentração (dharana) que consiste em focar a mente num objecto ou em imagens mentais. A concentração poderá consistir ainda numa atenção focalizada nas sensações corporais e/ou na própria respiração. Numa prática de ioga, estas técnicas permitirão limpar a mente e, na vida quotidiana, desenvolver a capacidade do iogui se centrar no essencial e na essência do seu ser. O recolhimento dos sentidos e a concentração vão ajudar ainda o praticante a entrar no passo seguinte, a meditação (dhyana).

Ao entrar no estado meditativo a agitação da mente cessa. É um momento especial em que o silêncio interior acontece, um estado de profundo repouso, de serenidade, alegria e felicidade interior. Várias são as técnicas para ajudar o praticante a entrar num estado de tranquilidade mental: a postura adequada, os gestos com as mãos (mudras), gestos que permitem direccionar a energia vital, as vocalizações (mantras), sons que induzem a elevação das vibrações mentais, e/ou simplesmente, a consciência da própria respiração.

A meditação proporciona profundos benefícios nomeadamente, o relaxamento do sistema nervoso; a diminuição do ritmo cardíaco; do ritmo respiratório e da pressão sanguínea; o aumento da capacidade de concentração; do raciocínio e da clareza mental; e finalmente, o incremento da energia física e mental o que permitirá atingir estados mais subtis de consciência.

A iluminação (samadhi), ultimo passo/degrau desta longa caminhada poderá ser percebido como um estado de bem-aventurança e de união/harmonia com o universo. John Hagelin, eminente físico quântico, referindo-se a este conceito um tanto ou quanto místico, afirma que «o cérebro humano está capacitado para experimentar a unidade da vida». Defende ainda que «quando experimentamos a unidade interior, ocorre o funcionamento coerente do cérebro, que acarreta o aumento do QI, maior criatividade e capacidade de aprendizagem e melhor desempenho académico, argumentação moral, estabilidade psicológica, maturidade emocional, reacções mais rápidas e mais atenção. O melhor para o cérebro depende do seu funcionamento organizado».

E aqui termino esta síntese sobre o ioga e os seus efeitos sobre a saúde, entendida como um bem-estar físico, mental e social. Que os conhecimentos desta filosofia, ciência e prática milenar possam contribuir para as infinitas possibilidades de realização do seu ser.

 

(Continuação de «Ioga & Saúde»)

 

Referências bibliográficas

O Tao da Física, Um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental, Fritjof Capra; tradução de José Fernades Dias.- São Paulo: Editora Cultrix, 2007

O Ponto de mutação, A ciência, a sociedade e a cultura emergente, Fritjof Capra; tradução de Álvaro Cabral.- São Paulo: Editora Cultrix, 2007

Desperte corpo e mente e mantenha-se sempre jovem, Deepak Chopra; tradução de Sofia Marujo.-Lisboa: Editorial Presença, 2006

Quem somos nós? A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade diária, William Arntz, Betsy Chasse, Mark Vicente; tradução de Doralice Lima.- Rio de Janeiro: Prestígio Editorial, 2007 

Faça Yôga antes que você precise (Swásthya Yoga Shástra), Mestre De Rose.- São Paulo: Edições Afrontamentos/União Nacional de Yoga, 1995

Os perigos ocultos do ioga e da meditação: como trabalhar com seus fogos sagrados de modo seguro, Mestre Del Pe; tradução de Tatiana Sá Antunes.- Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006

Yoga para la salud, Shri Shri Anandamurti, Madrid: Ac.Amitavidyananda Avt, 1992

 

Artigos Internet

Conheça a história e o objectivo do yoga, Gilberto Coutinho

História do yoga, Pedro Kupfer

O yoga e sua filosofia, José Hermógenes.- www.yoga.pro.br/sankhyayoga.htm

Introdução do Pátañjal Yoga, Fernando Liguori.- http://srikulacara.blogspot.com

Samkhya e Yoga.- http://anahatayoga.tripod.com 

Compendio Ayurvédico

Bhagavad Gitâ

Ana Cristina Ferro Marques

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