GUINÉ SABURA QUE DÓI

 

 

Tony Tcheka

 

 

 

Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

04.12.2008

 

 Filomena EmbalóTony Tcheka publicou mais um livro de poesias. Guiné sabura que dói foi lançado no Brasil durante a Festa Literária Internacional de Porto das Galinhas (FLIPORTO), realizada de 6 a 9 de Novembro último. No dizer do Professor Amarino Oliveira de Queiroz, da Universidade Estadual de Feira de Santana, foi um momento emocionante para a literatura guineense com a homenagem prestada a este expoente e referência incontornável das letras guineenses. A Guiné-Bissau esteve em destaque e a sua literatura alvo de muito interesse por parte de jornalistas, mas também de estudiosos e estudantes que querem descobrir obras de autores guineenses. Foi mais uma ponte lançada entre os dois países e que contribuirá sem dúvida para a promoção da literatura do nosso país no além-mar brasileiro.

 

Poeta há muito confirmado, com uma obra de cunho bem pessoal, Tony Tcheka tem estado presente e marcado todas as etapas da história da poesia contemporânea guineense, inovando-a com a especificidade dos temas que tem vindo a desenvolver. O livro ora publicado, tal como o seu título indica, é dedicado à Guiné-Bissau e à luta do seu povo pela sobrevivência na sua conturbada história recente. Uma luta que ultrapassa as fronteiras nacionais para se diasporizar, sempre em busca de um outro amanhã que se espera melhor.

 

Li o livro de uma assentada, com sofreguidão. Com a elegância que lhe é característica, de verso em verso, Tony Tcheca põe a nu a alma sofrida do poeta, num deslizar ligeiro da sua pluma, que, de tão leve, deixou-me a sensação de ter sonhado... E através dessa minha leitura deixo aqui alguns apontamentos com que prefaciei o livro, convidando à descoberta desta obra que marcará, estou certa, a escrita poética da Guiné-Bissau.

 

Numa belíssima homenagem ao país, Guiné sabura que dói é antes de mais um Hino à terra-mãe, a rosa de canteiros perdidos mulher-grande e fêmea sofredora, tal como a define o autor no seu versejar imaginoso. O poeta chora a terra tísica onde a bolanha se alimenta de água na mágoa da lágrima e a criança não tem tempo de ser menino. Esse chão onde se quer plantar o silêncio na boca de fome para que não se queira querer.

 

É também um grito de Saudade de quem teve que partir para a terra branku onde ficou sem estar, porque na sua tabanka já não mora a esperança, levada pelos homens de fuzis nas mãos e ódio no peito que ciclicamente querem reafirmar a força destrutiva das suas armas. É o desabafo do emigrante que se consola povoando os seus sonhos com as recordações dos cheiros e sabores da sua pátria e que, na luta para espantar a fome nos becos, aprendeu a falar de boca fechada e a ver o Geba subindo sobre o Tejo...

 

É ainda uma declaração de Amor à mulher guineense, mãe, bideira, combatente incansável de todas as lutas e, no entanto, tão mulher! De sorriso brando, corpo de ébano e o andar como o serpentear do Geba, ela é a força discreta que em tempos de penúria finta a vida madrasta esmagando com o tuku di pé a fome para que não atormente a  vida apoquentada.

 

Porém o poeta não perde a Esperança, recusando-se a aceitar para o seu país um futuro plasmado de dores e com lalas tisnadas de pólvora. Aqui e acolá, vai deixando uma nota de fé em ver um dia a terra apaziguada, firme como um poilão, onde o casabi terá virado sabi e o amanhã não será bola de trapos fintando os nossos meninos. A esperança daqueles que partiram de voltarem um dia ao regaço da terra-mãe para beijar a liberdade, é a força que os encoraja no desconforto desesperado da diáspora.

 

Guiné sabura que dói é uma verdadeira epopeia do Homem-Guiné na sua luta para não aceitar a conveniência da indiferença. É uma poesia que emociona pela sua beleza ímpar, em que a elegância se impregna de subtilidade e o eruditismo de simplicidade. É um versar criativo e surpreendente que em pouco diz tudo, revelando a arte e o domínio do autor na manipulação da escrita e das suas línguas: o português e o kriol numa coabitação poética, em que o primeiro recorre ao segundo para ajudá-lo a exprimir, fielmente, um sentir bem profundo.    

 

Guiné sabura que dói é um pouco de todos nós perdidos nas interrogações que nos atormentam e que Tony Tcheka nos restitui com o esplendor do seu poemar.

 

                                                                                             


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