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Uma Carta para Garcia… 
	
	
 
Guiné-Bissau sempre refém dos militares. Até quando? 
  
Solução: Extinção das 
Forças Armadas Revolucionárias do Povo e criação de Forças Republicanas     
Paulo M. A. 
Martins 
(*) 
paulo.m.a.martins@gmail.com 
Fortaleza (CE), Brasil, 25 de 
Abril de 2010 
 Desde 
1974 que o partido-poder e as FARP’s - Forças Armadas Revolucionárias do Povo 
entraram em Bissau, proclamando o novo Estado. 
Para quem não leu e conhece os testemunhos dos 
Combatentes da Liberdade da Pátria e a História da Libertação Nacional, 
lamentavelmente, 1980 foi o ano de inauguração dos Golpes de Estado na 
Guiné-Bissau, porquanto as conspirações caracterizaram sempre o modus 
faciente dos inábeis, dos indistintos e das antenas difusas da instauração 
do Estado. 
Seria fastidioso enumerar os Golpes, 
intentonas e “inventonas”ocorridos na Guiné-Bissau, sempre com militares à 
cabeça. Mas, para que a história faça justiça aos apelos, às reflexões, à 
indignação, ao lamento, à desesperança, à dor dos guineenses, importa rever os 
factos mais recentes.  
E uma questão prévia se coloca:  
- De que exército, de que Forças Armadas 
Revolucionárias do Povo (FARP’s)? 
Pois bem. Em 1998, o povo guineense 
deparava-se com umas FARP’s divididas e entregues a interesses pessoais e 
confessáveis de dois Chefes militares embarricados: De um lado, defendendo o 
Estado de Direito; do outro, combatendo a invasão estrangeira.  
Em 1999, deparamo-nos com umas FARP’s 
entregues a uma co-presidência, imediatamente decapitada, pela simples oposição 
à distribuição incomensurável de patentes. 
Mais tarde, já em 2005, eram umas FARP’s que 
repetiam a proeza anterior, assassinando, sem dó nem piedade, mais um dos seus 
Chefes Superiores. Tudo isto, fruto da aliança forjada para a entrada ingloriosa 
doutro Chefe militar. 
E, porque não há uma sem duas nem duas sem 
três, em 2009, a olhos vivos, sem comiseração nem clemência, eis que se elimina, 
com requintes sofisticados para o paupérrimo país, o terceiro Chefe de Estado 
Maior General das Forças Armadas, com “bomba da Tailândia”, diz-se erroneamente 
em primeira mão. 
Neste ano de 2010, afirmam-se umas FARP’s 
empestadas a narcotráfico, que invadem aparatosamente a sede da ONU – 
Organização das Nações Unidas, prendem o seu próprio Chefe e o Chefe do Governo, 
ameaçam o Povo a quem devem servir, põem de novo em causa todas as parcas 
conquistas do Povo e, agora, aguarda-se, pacientemente, pela indicação do NOVO 
CHEFE…  
Se assim for e vier acontecer, como há já 
muito se profetiza, a Guiné-Bissau é mesmo para esquecer!  
Meus Amigos, tenhamos a coragem de pôr o dedo 
na ferida e deixemo-nos de confabulações para justificar o injustificável! 
Que Estado, que quê? Que Forças Armadas, que 
quê? Que Justiça, que quê? Que Direitos Humanos, que quê? 
Segundo a Constituição da República da 
Guiné-Bissau, no seu artigo 20º., as FARP’s são um instrumento de libertação 
nacional AO SERVIÇO DO POVO, incumbindo-lhes colaborar estreitamente com os 
serviços nacionais e específicos na garantia e manutenção da segurança interna e 
da ordem pública, participar activamente nas tarefas da reconstrução nacional e 
OBEDECER AOS ÓRGÃOS DE SOBERANIA competentes, nos termos dessa mesma 
Constituição e da lei. 
Ao invés, as FARP’s, sob o ponto de vista 
constitucional, foram ciclicamente deixando de existir, da independência até 
esta data. Pois, se não mataram, também não precisaram de justificar a morte de 
quatro dos seus Generais: Ansumane Mané, Veríssimo Seabra, Tagma Na Wai, João 
Bernardo Vieira, apenas os substituíram…  
Ainda que nos possa repugnar, a equação é 
historicamente simples: Para grandes males, grandes remédios! 
Concomitantemente, no status quo, é 
urgente que surja uma decisão do poder, ou de entre o poder instituído, ainda 
que parco, visto que quem o detém, desde a fundação do Estado, são efectivamente 
os militares. O resto é paliativo. Pois, se de facto, tivesse Nino Vieira 
conseguido domar este poder, ainda hoje estaria vivo… 
O que se almeja, como legitima, é uma decisão 
patriótica, política, corajosa sem dúvida, que dê o golpe de misericórdia nas 
FARP’s guineenses, EXTINGUINDO e REFUNDANDO. 
Melhor dizendo: 
EXTINGUIR implica começar o trabalho de raiz: 
quando e como fazê-lo?; definição dos que ficam e dos que se vão, os quais, sob 
compromisso de honra, procederão à entrega voluntária das armas, munições e 
demais equipamento bélico em seu poder, beneficiando, como contrapartida, da 
atribuição de fundo de pensão ou reinserção e casas para habitação. 
EXTINGUIR implica avaliar todos os aspectos, 
mormente a salvaguarda das fronteiras com o contingente necessário, chefiado 
transitoriamente por militar com mérito, competência e currículo, o que, 
felizmente, não faltará na Guiné-Bissau, qualquer que seja a sua filiação (pois 
dela não se podem livrar, ou seja, ninista, cadoguista, ou 
kumbista).  
EXTINGUIR implica, necessariamente, observar 
os diplomas necessários à REFORMA DA DEFESA E SEGURANÇA, engavetados pela 
Assembleia Nacional Popular.  
EXTINGUIR implica recrutar ex novo, na base de 
critérios pré-estabelecidos, passando, nomeadamente, pelo equilíbrio étnico.
 
EXTINGUIR implica o estabelecimento de uma 
parceria clara, idónea e responsável com os parceiros de Desenvolvimento no 
sector da reforma da Defesa e Segurança. Para o efeito, deverão ser 
desembolsadas, de uma vez por todas, as quantias prometidas e indispensáveis 
para desvincular os prescindíveis pelos seus “serviços prestados”, em 
consonância com a denotada lista de excedentes do último recenseamento dos 
militares e polícias.  
EXTINGUIR implica pôr um fim definitivo às 
Revoluções.  
EXTINGUIR, porque os guineenses não estão em 
guerra, que não seja entre eles próprios, e são registáveis as provas de que 
nunca foram toleradas invasões no solo pátrio, seja qual for a sua proveniência.
 
EXTINGUIR porque os guineenses nunca 
necessitaram nem necessitam de uma força estrangeira, nem de interposição, dado 
que os seus problemas com os militares, muito próprios e cíclicos, têm que ser 
resolvidos entre eles, filhos da Guiné.  
Finalmente, EXTINGUIR as FARP’s, porque se 
elimina, definitivamente, algo que, na realidade, não tem ponta por onde se lhe 
pegue. 
REFUNDAR as Forças Armadas, porque o móbil da 
Libertação Nacional fica esvaziado da Revolução, e a própria designação da 
instituição está destituída de qualquer sentido constitucional.  
REFUNDAR para que haja uma libertação, de 
factum e de jure, dos que sistematicamente vêm pondo em causa os méritos 
indubitáveis e antecedentes revolucionários das FARP’s, espezinhando o seu 
prestígio e a enorme autoridade moral heroicamente adquirida durante Luta de 
Libertação.  
REFUNDAR para que sejam criadas Forças Armadas 
Republicanas, sob a tutela definitiva e basilar do poder político, pondo cobro, 
concludentemente, ao ciclo de violência, encerrando-o.  
REFUNDAR para a observância dos parâmetros 
constitucionais e para que as Forças Armadas, doravante, salvaguardem e, 
definitivamente, contribuam para Paz, Estabilidade, Progresso e 
Desenvolvimento.  
REFUNDAR para que se alcance a viragem aos 
desafios do Milénio, rumo ao Desenvolvimento, às potencialidades naturais de um 
POVO, de não mais de um milhão e meio de habitantes, rico em diversidade ética e 
fértil na sua diáspora expectante.  
Obviamente, os Guineenses patriotas não se 
podem dar ao luxo de permitir que os militares do 1º. de Abril decidam o seu 
destino, enquanto POVO de Amílcar Cabral e, para isso, é mais do que suficiente 
o facto de nenhum deles possuir a escolástica mínima para assumir as funções que 
exerce ou exerceu, pois, hoje, nada mais são do que o fruto da derrocada do país 
e da falta de referências.  
Assim como, de igual modo, não se pode correr 
o risco de golpistas falhados e impreparados virem a indicar o novo Chefe das 
Forças Armadas. Ainda que se saiba que, na realidade, são os que in factum 
detêm o poder e as armas, com confessáveis desejos, condicionando qualquer não 
conivente a indicar ou sugerir outros que não eles próprios – os actuais “donos 
das armas”.  
Nem tão pouco se deve permanecer anestesiado 
perante o campo de manobra deixado novamente aos célebres mentores políticos, já 
sobejamente desmascarados na praça pública, responsáveis pelo eterno 
desassossego, corruptos, deteriorados, incompetentes e infantis, ao ponto de 
julgarem que a Guiné-Bissau não conseguirá sobreviver às suas efémeras passagens 
como destabilizadores, de encomendarem um novo Chefe das Armas.  
Repito: O Povo Guineense não precisa nem tem 
que ir na senda internacional. Tem, isso sim, que olhar para o seu embico, ver a 
sua realidade actual e a sua história, com os seus olhos, e protagonizar 
soluções. 
Portanto, o Presidente da República, enquanto 
Chefe do Estado, símbolo da unidade, garante da independência nacional e da 
Constituição e Comandante Supremo das Forças Armadas, é, sem margem para 
qualquer dúvida, o órgão político e constitucional competente para, defendendo a 
Constituição da República (CRG), convocar extraordinariamente a Assembleia 
Nacional Popular, nos termos do art. 68.º al. d) da CRG, e apresentar-lhe uma 
proposta de revisão constitucional, sobretudo, do art. 20.º da CRG, traduzida na 
extinção das FARP’s e criação das FORÇAS ARMADAS REPUBLICANAS.  
A ninguém resta qualquer dúvida de que os 
guineenses são pelo Estado de Direito e pela sua Constituição da República.
 
Assim como, os verdadeiros guineenses e filhos 
do “chão”, são pela competência, idoneidade, valores universais e tradicionais, 
pelo critério, e, como não podia deixar de ser, pela PAZ, JUSTIÇA e PROGRESSO. 
Melhor dizendo, continuam a acreditar em AMILCAR CABRAL. 
Efectivamente, o projecto de revisão 
constitucional estará completamente fundamentado, dado tratar-se de uma 
instituição que não se coaduna com os valores e princípios constitucionalmente 
estabelecidos, por ter finalizado o seu mandato da “Libertação da Pátria”, por 
ser super-dimensionada à realidade geopolítica e geoestratégica do país, por se 
encontrar num desmando total, sem chefia nem hierarquia, quer legais ou ilegais, 
face à prisão sine die do seu Chefe, quaisquer que tenham sido as 
legitimidades precedentes. E, porque é tempo de dizer basta! Estes, sim, são 
argumentos mais do que plausíveis - imperativos. 
O Presidente da República, como Combatente da 
Liberdade da Pátria e guardião da Constituição da República, se obtiver este 
feito, sempre será recordado como sendo o seguidor de Amílcar Cabral que 
conseguiu pôr fim aos Golpes e desmandos na Guiné-Bissau, à incessante situação 
de cativo do poder político pelo poder militar e, lembrado como poucos, por 
utilizar devidamente os seus poderes constitucionais, numa decisão radical e 
coroada de êxito. Mas, sobretudo, recordado por ter conseguido fechar a sua 
magistratura com chave de ouro: reposição do Estado de Direito, a efectiva 
reforma das forças de defesa e segurança, assim como a criação de um verdadeiro 
exército Republicano.  
Para concluir, limitar-me-ei a parafrasear os 
profundos anseios dos guineenses:  
Não creio que a Guiné-Bissau e o seu Povo 
estejam pedindo demasiado! 
A Guiné-Bissau e o seu Povo estão cansados de 
sonhar debalde ou ter pesadelos com tiros e armas. Querem o devir, querem o 
aconchego, querem o que lhes pertence por direito próprio e adquirido, isto é, 
ser guineenses na Guiné e no Mundo, tão-somente! 
Querem, enfim, ter direito à Felicidade! 
Trinta e cinco anos já bastam! 
Já é tempo de virar o ciclo!  ____________________ 
  
(*) Paulo M. A. Martins 
Jornalista 
luso-brasileiro, radicado no Brasil em Fortaleza (CE) 
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