GUINÉ-BISSAU: A MESA REDONDA DE GENEBRA
 
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ALIN LI

01.12.2006
Embora muito tardiamente em relação ao que 
constava na agenda do país para a saída da crise e que colhia a aderência de 
todos os parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau, o Governo Guineense de 
iniciativa Presidencial conseguiu finalmente em Novembro, reunir em Genebra, os 
doadores com o objectivo de angariar ajudas para o financiamento de acções 
constantes no DENARP, OGE de 2006/2007 assim como  o Programa  de Reforma das 
Forças de Defesa e Segurança. 
De facto, só um ano após o programado é que o actual governo  conseguiu 
materializar o que já estava praticamente adquirido pelo então Governo do PAIGC 
chefiado pelo Sr. Carlos Gomes Júnior e que segundo fontes fidedignas ligadas às 
instituições de Bretton Woods bem como de círculos diplomáticos, 
consubstanciavam fortes indicações de que seria bem sucedido.
Estas indicações, longe de serem gratuitas, baseiam-se nos factores seguintes:
O anterior governo mercê de uma gestão coerente e transparente tinha conseguido 
normalizar o relacionamento com o FMI e o BM e já tinha em curso um Programa de 
Referência com o Fundo e estava em vésperas de concluir um Programa Pós-Conflito 
com o FMI; 
Já antes, a Mini-Mesa Redonda realizada em Lisboa tinha conseguido o feito de 
juntar doadores de peso destacando-se a presença de altos responsáveis das 
instituições presentes que, num gesto significativo, disponibilizaram-se sem 
reservas a apoiar a Guiné-Bissau com fundos que permitiram executar o orçamento 
de 2005 sem sobressaltos, por um lado e, por outro, deram garantias da sua 
presença na Mesa Redonda agendada para Dezembro 2005; 
A Mini-Mesa Redonda de Lisboa, face à situação estruturalmente herdada dos 
anteriores (des) Governos representava inequivocamente uma mais valia para a 
politica governativa do PAIGC e acima de tudo, representava um caucionamento da 
sua boa gestão e um forte indicador da retoma da respeitabilidade externa do 
pais; 
A seriedade e a transparência demonstradas na gestão da coisa publica eram dados 
inquestionáveis e esse facto, foi publicamente reconhecido pelos parceiros da 
Guiné-Bissau em varias ocasiões e documentos, os quais  reprojectaram a imagem 
de boa governação da Guiné-Bissau no ciclo dos seus parceiros de desenvolvimento 
e pelo mundo fora; 
Em suma, a custo de muito esforço e abnegação de um governo de referência, em 
tão curto espaço de tempo conseguiu-se angariar a favor do país, o capital da 
respeitabilidade da boa governação que tinham sido banidos pelos anteriores 
governos.
Também, foi indisfarçável o desalento, a irritabilidade e o desconforto causado 
aos representantes de Bretton Woods encarregues do dossier da Guiné-Bissau e de 
alguns círculos diplomáticos pela demissão de um Governo que já dava garantias 
de seriedade e com o qual se podia estabelecer canais de confiança e de 
respeitabilidade.
Estes são apenas alguns factores, mas outros existem e não são de somenos importância, mas que serão abordados em futuras intervenções.
Voltando à Mesa Redonda, 
Se bem que como Guineenses, queríamos e congratulamo-nos com a  realização da 
recente Mesa Redonda em Genebra, é também justo dizer que, o resultado, aí 
alcançado, é deveras frustrante porquanto ficou muito aquém das expectativas 
criadas e das necessidades expostas pelo actual Governo aos  nossos parceiros.
Alias, para quem tem seguido os resultados conseguidos em outras mesas redondas, 
a frustração é ainda maior, tendo em conta que os resultados daquelas 
ultrapassaram em muito as necessidades expostas, casos de Moçambique, 
Madagáscar, República Democrática do Congo, Timor Leste, Líbano etc... 
Face a estas considerações de permeio, torna-se inevitável trazer à liça as 
seguintes perguntas: 
Porque razão, o General-Presidente se precipitou em demitir o Governo legitimo 
do PAIGC que tinha granjeado marca de boa governação e gozava da confiança da 
Comunidade Internacional principalmente das Instituições de Bretton Woods, 
impedindo em consequência esse Governo de concretizar a realização da Mesa 
Redonda que, segundo os pressupostos acima indicados, traria de certeza absoluta 
maiores benefícios para o pais? 
O que levou o General-Presidente a demitir uma equipa de trabalho idónea que 
tinha criado justas expectativas para o povo Guineense para, enfim, apostar num 
grupo de duvidosa seriedade composto de cadastrados de « mama taco », incluindo 
condenados de delitos financeiros, delitos comuns e burlões?
À colação destas perguntas, somos obrigados a indagar o seguinte: 
O que move o General-Presidente na sua saga destrutiva, contra o povo da 
Guiné-Bissau ? 
O que pretende realmente o General-Presidente com o seu regresso forçado à 
Guiné-Bissau após ter desencadeado uma guerra fratricida e mercenária contra o 
povo heróico da Guiné-Bissau ? 
Será que estamos perante pessoas que gostam efectivamente da Guiné-Bissau e do seu Povo ?
Ainda sobre a recente Mesa Redonda, segundo foi-nos dado constatar através dos 
indicadores de eventuais apoios a conceder ao país, para além das condicionantes 
de boa governação impostos ao Governo, os tradicionais doadores dos países menos 
desenvolvidos - no caso particular, os tradicionais amigos da Guiné-Bissau, 
nomeadamente, a Holanda, Suécia, Dinamarca, França, Alemanha, Itália e Suiça - 
não se dignaram a fazer nenhum gesto significativo, ou, em alguns casos mesmo, 
nada indicaram nesse sentido. Embora, parecendo uma questão de somenos 
importância, para um bom observador, é realmente motivo para muita preocupação 
face à performance deste executivo de má memória para os Guineenses e os amigos 
da Guiné-Bissau.
Na verdade, tudo indica, que este Governo tal como acontecera nos Governos de 
Kumba Yalá, está contribuindo para que a comunidade internacional perca o 
interesse e se afaste da Guiné-Bissau. 
Tal facto, deve-se à falta de postura, credibilidade e seriedade dos actuais 
governantes e acima de tudo por manifesta falta de transparência na gestão da 
coisa pública que está sendo desbaratada em viagens supérfluas, faustosas e 
incontroláveis; compras de carros de luxo desmesurado à fome e à miséria do 
país; mordomias exacerbadas postas à disposição das altas patentes militares; 
compra de consciência de políticos e deputados corruptos e, enfim... uma 
infinidade de negociatas de sobre-facturação com os eternos «lumpens » da Baiana 
e dos Corredores do Tesouro. 
E, com maior preocupação devemos ficar ainda, pelo silêncio e o ostracismo do 
Banco Mundial, BAD e UE em relação à Guiné-Bissau que, salvo os apoios 
anteriormente previstos e já reflectidos no quadro de potenciais ajudas ao 
desenvolvimento do país, não anunciaram nenhuma nova contribuição adicional. 
Quer isto dizer, que contrariamente ao que tem vindo a ser propalado aos quatros 
ventos, pelo Governo e seus « attachés » de imprensa, 
afinal o FMI, apreciou negativamente as acções do actual Governo de iniciativa 
presidencial. Aliás, avaliação que é  já do conhecimento público.
Porém, nada seria de esperar desta tão propalada Mesa Redonda tendo em conta que 
actualmente,  os parâmetros de ajudas aos países pobres equaciona-se pelos 
níveis da boa governação, pela gestão transparente da coisa pública e também, e 
também, repete-se, pelo nível de seriedade da sua classe dirigente. 
Infelizmente, estes parâmetros andam arredados do comportamento dos actuais « boy's » 
da Guiné-Bissau.
Infelizmente, quando estes padrões estavam a ser paulatinamente restaurados 
pelo  Governo do Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior, e a Guiné-Bissau já 
tinha começado a dar passos seguros no longo e penoso corredor da credibilidade, 
veio o General com a sua ditadura de vontade e de compromissos, impondo ao povo 
um governo que não elegeu, impingindo-o um grupo de governantes de duvidosa 
reputação e como não bastasse esse mal, no cimo do bolo coloca um Primeiro 
Ministro, petulante, arrogante, mandrião e sem referências de integridade e 
profissionalismo.
Com este Governo, recomeça-se assim, as romarias no corredor das finanças 
públicas, retomam-se as cobranças de facturas de serviços fictícios e de 
sobre-facturação ao Estado, pagamento de biliões de Francos Cfa de alegadas 
dívidas  internas a certas pessoas do circulo do « boss »; volta-se às compras 
de carros de luxo que tinham sido suspensos pelo anterior governo do PAIGC... e 
o reverso da medalha ao « Zé Povinho », são os hospitais que estão de pantanas, 
as passagens administrativas no curricumum escolar e,...quem, refilar leva 
« porrada ».
Enfim, o General-Presidente continua igual a si mesmo, veio, e com ele, os seus 
capangas do desgoverno, a malandragem, a corrupção, o medo, a intimidação, a 
fome e a miséria... com a desgraça a bater-nos à porta se Deus não nos acudir 
com um milagre. 
Temos que ser realistas, admitindo apesar de toda a nossa crença na complacência 
da comunidade internacional que, esta equipa de governantes, não tem estofo nem 
gabarito, para convencer qualquer doador, mais ainda com o quarteto que chefiava 
a delegação na Mesa Redonda, senão vejamos:
O General-Presidente ao demitir o Governo do PAIGC liderado pelo Sr. Carlos Gomes Júnior justificou-se com meias verdades, isto porque..., não é só um problema de incompatibilidade pessoal e ao que se diz também, de eventuais querelas patrimoniais, mas sim, e acima de tudo, uma questão de carácter e personalidade, porque o ex-Primeiro Ministro pelo que tem dado mostras, nunca seria um « pau mandado » nas suas mãos e porque também... os militares, principalmente o CEMGFA que tem um ódio visceral contra o ex-Primeiro Ministro assim lhe exigiu. Não se sabe a troco e a preço de quê ?
Este Governo, durante  um ano foi navegando e embalando o povo com  expectativas 
de circunstâncias que lhe foram servindo de panaceia para colmatar a sua 
ineficácia governativa. 
O essencial dos problemas da Guiné-Bissau, tais como: salarios em atraso, 
greves, ruptura do ano escolar; descalabro no sector da saúde; repressão 
violenta contra manifestações de sindicalistas; má gestão do erário público; 
opulência dos governantes com a exibição de carros de luxos e compras de imóveis 
no estrangeiro; a pobreza  crescente das nossas populações; a Co-Presidência 
putativa do CEMGFA; viagens desnecessárias e dispendiosas dos membros do 
governo; ausências prolongadas e alheamento do General-Presidente sobre as 
preocupações da população -  foram sendo "abafados" com a complacência da nossa 
população, salvo raras excepções, também com a cumplicidade e mendicidade dos 
nossos políticos e o silêncio ensurdecedor da sociedade civil e confissões 
religiosas do país. 
O principal « partner » dessa coligação de malfeitores, o PRS, continua quedo e 
mudo como um abutre, porque o que lhes interessa é « mama taco » a qualquer 
preço para ascender aos padrões de « guintis di praça ». O « líder » esse, no 
meio de muita palhaçada e ameaças de arruaça lá vai engordando a sua conta 
bancária. 
Aliás, outro resultado não seria de esperar de um grupo de bad boys da 
"entourage de campanha" do General-Presidente que não fosse o fiasco de uma Mesa 
Redonda com que foram "embalando" os Guineenses por largos meses, estes na 
expectativa de um milagre. Um fiasco que nem, o dom da mentira do Ministro da 
Economia (Ovelha trânsfuga do anterior Governo) conseguiu disfarçar. 
Pergunta-se agora, o que é que o Sr. Primeiro Ministro de Nino Vieira vai agora dizer ao acalentado, mas já desconfiado povo Guineense ?
Como justificará na sua elevadíssima petulância, arrogância de incompetência de que não tem como pagar os salários dos funcionários?
Como vai justificar aos seus improdutivos e nocivos altas patentes militares de que já não tem como sustentar as suas mordomias insaciáveis e sem vergonha ?
Enfim, estamos infelizmente perante um grupo de "Ali-Babas" que se diverte a 
esbanjar o erário público com passeatas faustosas, compra desenfreada de carros 
de luxo, compra de vivendas e imóveis tanto em Dakar como em Lisboa e outros 
burgos europeus, pontificando-se nestas acções dispendiosas de "mama taco", o 
Primeiro Ministro, o Ministro da Defesa, da Energia, das Pescas... E, o 
General-Presi vai refazendo a sua "urbe" imobiliária para deixar de herança à 
prole da Rainha D. Isabel, a Única. 
Portanto, o fiasco da recente Mesa redonda não é mais do que o reflexo do nível 
e credibilidade dos actuais dirigentes que (des) governam o nosso país, um grupo 
de "paus mandados do General", entretanto com vícios do dinheiro, da putéfia e 
da roubalheira... e, como chefe de fila e responsável mor desta desordem está o 
Presidente Ditador que ao nosso pais foi imposto pela comunidade internacional.
Já se viu e pode-se constatar, que o General regressou  ao país para « cobrar » 
as suas dívidas, refazer o seu património, aguentar a sua saúde às expensas do 
Estado e nos tempos livres ir-se divertindo em riscar do mapa os que ousarem 
enfrentar-lhe. Tem-no conseguido paulatinamente, pois, através do seu homem de 
mãos, hoje de circunstância, o Tagme Na Waye -especialista em traições e figura 
abominável que o Presidente Rosa no seu patético e já « cagado » fim de mandato 
ousou condecorar  já "limpou" o General Ansumane Bric-Brac, o General Veríssimo 
Seabra e, neste momento, tem como missão e alvo predilecto o antigo Primeiro 
Ministro Carlos Gomes Júnior. É bom registar essa sequência de eliminações 
físicas e ter atenção a esse mercenário que manda de facto neste momento na 
Guiné-Bissau 
Kumba Yala, Mestrado em desordens, mais uma vez, com o seu ar ameaçador e de 
arruaça politica deu o mote sobre o estado de coisas na GB e denunciou as 
falcatruas e pressões exteriores exercidas sobre ele e como se pode depreender 
sobre o STJ e a CNE nas eleições presidenciais findas, isto para que o 
General-Presidente fosse declarado vencedor das presidenciais. 
Não sendo este facto novidade para os observadores atentos do processo, só o 
facto dessa denúncia ter sido feita pelo Kumba Yala, parte interessada no 
processo e cúmplice desse "cambalacho" a Comunidade internacional finalmente, 
foi posta em sentido, em particular a UA e a CEDEAO. 
Aliás, esse discurso denunciador do Barrete Vermelho fez orelhas quentes ao 
ilustre representante da CEDEAO na GB que, pateticamente veio tentar dar lições 
de civilidade e democraticidade ao bom povo da GB. A atitude deste tipo de 
representantes não dignifica as instituições que representam, por isso a 
Guiné-Bissau dispensa-os.
Para os « batulas » da Bayana, que não receberam o seu quinhão de CANHA botaram a boca no trombone o que veio confirmar de facto que tipo de desgoverno o país tem neste momento.
O todo poderoso Ministro das Pescas em jeito de desespero foi aos microfones da 
Rádio Bombolom destilar o seu sua panóplia linguareira de baixo nível social, 
relevando de facto que os fundos do Ministério em largas centenas de milhões 
estão sendo divididos pela elite do CANHA? O Ministro mais parecia um 
"fofoqueiro" dos corredores do palácio do que um apregoado intelectual e 
todo-poderoso governante. 
À Sociedade Civil, salvo raras excepções de inconformismo, falta-lhe a pujança 
de outrora na advocacia da causa do povo, as pessoas estão amorfas e acomodadas 
furtando as suas responsabilidades pelo nosso Povo. 
Nós os Guineenses sempre presentes no pensamento e agruras do nosso povo, 
esperamos que se substituam as forças cíclicas do mal, o cancerismo golpista dos 
nossos militares assassinos e colaboracionistas e se pugne pela mudança pela 
força da vossa determinação. 
Tolstoi disse, quando a nascente da revolução nasce do Povo não há montanha que 
barre o seu percurso triunfal...
Deram já um exemplo assinalável negando o golpe de 6 de Outubro de 2004, 
ignorando os intentos da conspiração militar mercenária das nossas altas 
patentes militares, mas podem voltar a fazê-lo negando-lhes com a vossa atitude, 
que transformem tal como o General-Presidente sempre quis, a Guiné-Bissau num 
campo de batalha de mortes, traições, ajustes de contas, enfim um inferno sem 
futuro.
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO