Esta não é a Guiné que sonhamos e queremos

Por: Mamadu Lamarana Bari

mlbarry1@gmail.com

06.04.2009

Prof. Dr. Mamadu Lamarana BariA notícia sobre o espancamento covarde ao Dr. Fadul pelos militares a soldo de mesquinhos, como está sendo veiculado, é uma VERGONHA e me deixou bastante consternado. Estamos numa terra sem terra para pôr os pés e sem lei. Estamos ilhados em poços de ignorâncias. Vai “umas e vêm outras” cada vez mais com requintes de perversidades sem par. Pergunto então, até quando os bárbaros continuarão confundindo o servir a nação com o servir aos serviçais do narcotráfico? Até que ponto a inoperância institucional continuará cedendo o direito aos senhores de guerra, de serem eles mesmos os donos do poder e quando bem entenderem impor arbitrariamente as suas leis bárbaras contra os cidadãos de bem? Estão confundindo, por acaso, o Estado de Direito com o direito de serem eles o Estado? Meus irmãos pelos vistos, a ignorância se institucionalizou na Guiné-Bissau. Estou assustado com a tamanha brutalidade e a injustiça de fazer a Guiné deixar de ser aquela Guiné que sonhamos e queremos, ou seja, um Estado soberano, respeitável na África e admirável no mundo como se verificava nos primórdios do seu nascimento como nação. Todas as evidências e todas as críticas apontam em uma só direção – a Guiné, o Estado falhado com as instituições falidas. “Tap ku bangai,  utrus bai, utrus bin, tudu djusta nan dê”. Até quando as débeis estruturas de Poderes vão agüentar? Não se deve descartar nesta base, a intervenção dos órgãos internacionais das Nações Unidas para acabarem com abusos do poder. Parece-me que chegamos ao estado de caos mesmo na Guiné. Só na Guiné que se viu mandar prender arbitrariamente o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o seu Vice. Parece-me que só na Guiné que se mandou dar surra até a morte o Procurador Geral da República e Ministro da Justiça. Só na Guiné que se mandou prender um Procurador Geral da República sob a acusação de participar da intentona contra o Presidente Militar da República sem provas fundadas, torturado e morto depois de cegar-lhe os dois olhos. Que insanidade dos executantes e do mandante. Meus irmãos só no nosso país que se depara com quadros dantescos em pleno século XXI. Só na Guiné que se mandou e ainda manda prender arbitrariamente para dar surra de matar, em surdina, aos supostos incômodos do regime. Só na Guiné que se cometeu e ainda se cometem crimes contra os mais sagrados direitos dos cidadãos – a liberdade de expressão e de pensamento – sob os olhares condescendentes dos Poderes da República.  Desta vez com a impunidade declarada, mandaram surrar o Ministro Conselheiro e Presidente do Tribunal de Contas da Guiné deixando-o poli traumatizado.

Dr. Fadul se a justiça dos homens é falha, a justiça de Deus não tardará chegar.

Eu conheço Dr. Francisco José Fadul há mais de 35 anos, uma vida não é. As Instituições Públicas da Guiné-Bissau deveriam orgulhar-se deste filho, pela sua capacidade e competência profissional, pela sua conduta como um cidadão probo, pelas grandes contribuições que tem dado em todas as esferas do conhecimento e institucionais. Um homem de capacidade assumida, sempre preocupado em dividir o que sabe com os outros, seja como professor que sempre foi, seja como político e homem público. As Forças Armadas da Guiné devem reconhecer o talento e a capacidade deste homem que nos momentos mais difíceis da guerra civil esteve do seu lado defendendo a legitimidade da Junta Militar. Devem reconhecer nele como a unanimidade e o Primeiro Ministro Indigitado para governar o País na Transição entre a guerra e a paz.

 Minha gente, a perplexidade de todos os amantes de paz e defensores dos direitos humanos é grande demais neste momento que se toma conhecimento sobre atos de bárbaros crimes que pelas repetidas vezes se cometem contra cidadãos e quadros do país. Onde é que se viu surrar um Ministro Presidente de Tribunal de Contas de um País? Só em um país com Instituições Políticas e Constitucionais falidas. Credo Deus Pai. Que santa ignorância. Senhor vele por nós os pecadores que insistimos em continuar a cometer dos mais fúteis aos mais cruéis pecados contra a vida humana.

Perguntas que não querem se calar. Assim, é que querem uma Guiné pacífica? Assim que se quer dar basta de denúncias contra atos repugnáveis e bárbaros que reiteradamente se cometem na Guiné? Assim que se quer sonhar a Guiné com seus filhos na diáspora regressando? Ou pelo menos tenham a sensação de culpa de estarem muito tempo longe da casa paterna e dispostos a retornarem um dia? Ou querem que a Guiné se torne uma ilha de Narcotráfico na costa atlântica da África?

ONU, Anistia Internacional, Comitê Internacional dos Direitos Humanos a semelhança que se fez na Bósnia, Timor Leste, Ruanda, Sudão, Serra Leoa, Libéria, Tchad etc. por que não fazer também na Guiné para repor a legalidade e a Paz que tanto se almeja neste país.

Que DEUS, ALLAH, GOD, JAVÉ ouça as nossas preces e que todos os Orixás da África, dignos representantes dos nossos antepassados junto ao OLORUM BABA MI, joguem bons fluidos para as terras da Guiné e façam nascer clima de paz, de confiança e de respeito para como os nossos semelhantes.

Basta sim de Tontons Macutes, de Esquadrão da Morte, de Narcotráfico, da Impunidade e da inoperância governativa. Repito reiteradas vezes se necessários forem, “Precisa-se de Algo diferente na Guiné.....”.

Meus irmãos chega de medo. Denunciemos sim as atrocidades, os abusos de poder e os desvios de recursos públicos. Desta vez permitam-me colocar de lado a minha modéstia e apresentar a minha titulação de Acadêmico e Professor Universitário, porque estou disposto a levar os problemas da Guiné aos organismos civis que faço parte. Na Ordem que faço parte temos respeito pela Pátria e pelos Poderes Constituídos e, também, pelos representantes da Nação, mas nem com isso devemos nos esquivar da VERDADE.

A VERDADE é para nós um dos Princípios Sagrados que deve ser buscada sem limites. Continuarei a trabalhar sem medo e não permitirei que se faça da mentira a verdade. Convido a todos para uma profunda reflexão mesmo àqueles que estão por detrás destas inseguranças que a Guiné vive. Só assim terão a consciência de seus atos ignóbeis e jurarão se redimir.

Saudações Fraternais a todos os guineenses sem distinção e, também aos legítimos representantes dos poderes constituídos, aos militares e as autoridades eclesiásticas. Digo a todos que o que se quer na Guiné são a Verdade e a restituição da dignidade humana como os nossos avôs e pais nos ensinaram.

Atenciosamente,

Prof. Dr. Mamadu Lamarana Bari

Titular da Cátedra no. 335 da Academia Brasileira de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais. Presidente da 4ª. Região (Bahia e Espírito Santo) da mesma Academia.


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