CÚMPLICES!

Nino Vieira e Tagme Na Waie  Foto de Jorge Neto

Nino Vieira e Tagme Na Waie  foto de Jorge Neto

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

14.07.2007

Tagme Na Waie foi, sem sombra de dúvida, o garante principal do regresso de Nino Vieira à Guiné-Bissau em Abril de 2005 e, consequentemente, ao poder, na sequência das eleições presidenciais de 2005.

Eles que até não se davam bem! Quem não se lembra das revelações de Tagme Na Waie acusando Nino Vieira de ter ordenado que lhe fossem aplicados choques eléctricos aos seus órgãos genitais no período em que esteve detido por ordens do próprio Nino?

Durante a guerra de 98/99, Tagme lutou contra Nino, fazendo parte da Junta Militar. Depois do conflito, Nino exilou-se em Portugal, mas esteve sempre por "perto", diria até, dentro do sistema, razão pela qual várias movimentações na Guiné-Bissau resultaram em assassinatos de figuras manifestamente opostas ao seu regresso ao país.

Nino, apesar de exilado conseguiu reconquistar a confiança de pelo menos 2 altos oficiais militares que faziam parte da Junta Militar: Tagme Na Waie e Bubo Na Tchuto, que curiosamente ofereceram os seus préstimos a 6 de Outubro, dia do assassinato do General Veríssimo Correia Seabra, então Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, no sentido de se resolver a rebelião, tida como uma reivindicação pelo atraso no pagamento dos salários de militares nossos que tinham participado numa Missão de Paz das Nações Unidas.

Curiosamente, outras altas figuras da ex-Junta Militar tiveram que se refugiar em Missões diplomáticas e religiosas para que conseguissem salvar suas vidas, o que demonstrou claramente que havia alvos pré-definidos para abater naquele dia e que Tagme Na Waie e Bubo Na Tchuto não faziam parte da lista...

Depois disso, vários foram os encontros (secretos) de Nino Vieira com Tagme Na Waie (já nomeado Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, em substituição de Veríssimo Seabra), normalmente na Guiné-Conacri.

Preparou-se, cuidadosamente, nesses encontros, o regresso de Nino Vieira à Guiné-Bissau.

O tempo acabou por provar que tudo se encaixava na perfeição.

De Outubro de 2005 aos dias de hoje, de Nino Vieira só se ouviram elogios para com Tagme Na Waie.

Várias foram as barbaridades cometidas por Tagme Na Waie sem que Nino Vieira, na qualidade de Presidente da República e Comandante em Chefe das Forças Armadas, tivesse agido afim de fazer respeitar as liberdades, direitos e garantias dos cidadãos, conforme estipula a Constituição da República, ou mesmo para disciplinar e transmitir a imagem positiva da instituição militar nacional.

De falsas constatações, Nino quis sempre impingir aos guineenses que Tagme Na Waie era um exemplo a seguir, pois até estava a promover a reconciliação no seio das Forças Armadas e, por isso devia ser visto como um exemplo!

Hoje, fala-se da participação dos militares no tráfico de droga. Hoje, diz-se que Tagme Na Waie e Bubo Na Tchuto estão envolvidos no dito negócio.

Hoje, constata-se que tanto um como o outro ostentam sinais de riqueza que não provêm dos seus salários de oficiais superiores das Forças Armadas.

Hoje, também se sabe que o anterior Ministro da Defesa, Hélder Proença, vive principescamente na Guiné-Bissau, sem que tenha herdado alguma fortuna digna do termo!

Hoje, também se conclui que o Major Baciro Dabó, actual Ministro da Administração Interna, exibe sinais de riqueza de proveniência suspeita.

Hoje, também se sabe que o Procurador-Geral da República exibe viatura de luxo e está a construir um palacete.

Hoje, há quem diga que se deve afastar Tagme Na Waie do cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, para se acabar com o narcotráfico na Guiné-Bissau.

É aqui que a cumplicidade ganha forma e nos obriga a uma análise racional em função das últimas movimentações sobre o narcotráfico na Guiné-Bissau.

Primeiro que tudo, convém realçar o facto de que as principais figuras suspeitas têm ligações muito próximas ao Presidente da República!

Posto isto, não deixa de ser intrigante a atitude do Presidente da República, tal é a indiferença e a passividade com que lida com esta gravíssima situação!

Surgiu esta semana numa visita ao Ministério da Administração Interna, a incitar os polícias para a luta contra o narcotráfico...

Foi preciso a embaixadora dos Estados Unidos transmitir o recado do Governo dos Estados Unidos, dando a entender que se a Guiné-Bissau não agir na questão do narcotráfico, os Estados Unidos fá-lo-ão por iniciativa própria!

É claro que Nino Vieira assustou-se, mas já não há volta a dar, mesmo que se desdobre agora nestas demonstrações (carregadas de hipocrisia) de empenho na luta contra o narcotráfico. O cerco aperta-se!

No espaço de 1 mês, dois Magistrados guineenses escreveram cartas ao Presidente da República e ao Primeiro-Ministro no sentido da exoneração do Procurador-Geral da República, tendo como argumento questões relacionadas com o narcotráfico, a carta do Dr. Gabriel Djedju, bem como por negligência e ausência de responsabilidade na defesa de interesses públicos, a carta do Dr. Paulo Djô.

Não cabe ao Primeiro-Ministro exonerar o Procurador-Geral da República. É tarefa do Presidente. O que é que Nino Vieira fez ou deu a conhecer sobre esta matéria? Nada! Silêncio total demonstrando desrespeito e autoritarismo que lhe são habituais.

Da parte do Primeiro-Ministro também se esperava algum esclarecimento público sobre as implicações de altas figuras do Estado no tráfico de droga, pois a questão do combate ao narcotráfico foi uma das suas apostas na tomada de posse, no entanto, remeteu-se ao silêncio!

Porque é que os Partidos signatários do Pacto de Estabilidade e com maioria parlamentar não levam ao debate na Assembleia Nacional Popular, a criação de uma comissão de inquérito parlamentar de investigação às suspeições de altas figuras do Estado no narcotráfico, a exemplo do que aconteceu em 1998 com a questão do tráfico de armas?

Porque será que o Governo não cria um Programa especial de sensibilização das nossas populações, principalmente a camada mais jovem, sobre as consequências quer do tráfico, quer do consumo de droga?

Há passos que podemos e devemos dar sem esperar pelos apoios externos! Uma coisa é o combate ao narcotráfico que precisa de meios materiais e técnicos que o país não dispõe e, portanto, deve-se pedir apoios nesse sentido.

Outra coisa é a prevenção das nossas populações (através da sensibilização) dos riscos e consequências do flagelo da droga. Um trabalho que se pode e deve fazer sem ficar à espera de apoios ou sugestões do exterior!

Quanto mais tempo se deixa passar, mais jovens guineenses enveredam pelo consumo ou tráfico de droga!

O General Presidente devia saber que um Presidente deve ser, acima de tudo, um EDUCADOR!

O que é que o Presidente disse até hoje aos guineenses sobre a questão da droga?

Preocupa-o se o vício do consumo vier a atingir a nossa juventude? Parece-me que não!

O silêncio do General Presidente contrasta com as movimentações de conveniência, no sentido de mostrar empenho na luta contra o narcotráfico, o que é deveras intrigante!

De desmentidos os guineenses estão fartos, bem como a própria comunidade internacional!

A cumplicidade não pode ser mais evidente...

Se os amigos do Presidente são suspeitos, então que se aperte mais o cerco por favor!

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