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ASSÉDIO HOMOSSEXUAL   
	«Você nunca encontrará paz até que ouça o 
	seu coração»
 George Michael
       
	
	
	
	Selo 
Djaló 
	* 
djaloselo@hotmail.com 23.07.2011  
  
 Estou 
sentado num banco do jardim do Centro Comercial Babilónia, na Amadora, a 
cantarolar uma melodia e a escrevê-la sobre o livro “O Caminho Menos 
Percorrido”, do psiquiatra norte-americano M. Scott Peck. Não é que surge, vindo 
de nenhures, um senhor na casa dos 60 anos e se simpatiza comigo! Sem 
cerimónias, senta-se ao meu lado; ou melhor, enrosca-se-me. Agarra a minha mão 
esquerda. Acaricia-a, vezes sem conta. “ Como se chama? O senhor é guineense? 
Mora aqui perto? É casado?”. Satisfaço-lhe a curiosidade. “Que anda a ler?”, 
volta à carga. Com uma mão segura o livro, fingindo interesse, e com a outra 
procura, sem mais delongas, o meu sexo. Isto, num jardim público, com gente a 
passar e tudo! “ O senhor é homossexual?”, atiro-lhe na cara. “Sou casado e 
tenho filhos. Mas, gosto de homens”. “Eu, não!” faço-lhe ver. “ Gosto é de 
mulheres… de certas mulheres”, remato. O homem lá teve de se ir embora, 
sorridente. 
 Esta história, ocorrida a 20 de Julho, faz-me lembrar outras vividas em Lisboa:
 
 A caminho do Espaço B’Leza, para mais uma noite de “sabura” e “morabeza”, um 
carro verde encosta para me dar boleia. Desconfiado, ainda assim, acedo à 
oferta. A páginas tantas, convida-me para um café. Apercebendo-se de que não 
estava para aí virado, atreve-se, passando a mão, mais à mão, entre as minhas 
pernas. Chegados ao meu destino, vi-me e desejei-me para persuadir o senhor a 
deixar-me seguir o meu caminho. Dias volvidos, vi o mesmo carro, no Cais do 
Sodré, abordar um africano, provavelmente guineense, acabadinho de sair das 
obras …
 
 Por falar no Cais do Sodré, Estava eu, numa bela manhã, junto a um semáforo, à 
espera do verde para passar. Eis que se não quando, surge do nada, um senhor 
engravatado e todo janota, e mete comigo. Sem preâmbulos , dispara a matar: “ 
Vai uma rapidinha? Olhe, que eu pago”. “Francamente! Ao que isto chegou!”, digo 
aos meus botões.
 
 Uma tarde também, na Cidade Universitária, um homem andou aí a cirandar, a ver, 
se me engatava.
 
 Segundo os meus cálculos, este assédio dos “gays” teve, por assim dizer, a sua 
“génese”, em 1992 ou 93, nas Caldas da Rainha, quando um homem se deu ao 
trabalho de me perseguir por tudo quanto era sítio. Agora, pergunto-me: seria 
mesmo um “gay”? Ou seria, antes um tresloucado “normal”?
 
 Procuro compreender os “gays”. Pois, a complexidade da vida recomenda-nos 
tolerância e respeito escrupuloso pela diferença.
 
 
	
	
	*
Pós-graduado em Relações Internacionais pelo Instituto 
Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de 
Lisboa (UTL); co-produtor e co-apresentador do programa o “Prazer da Leitura” na 
Sol Mansi.   
    
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