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  AOS VELHOS 
CAMARADAS, NÃO BASTARÁ UMA SIMPLES REFORMA     Flaviano 
Mindela dos Santos   
flavianomindela@hotmail.com   
22.10.2010 
  
       Depois 
de tantas barbaridades políticas pós independência, alguns anos esta parte, na 
sequência das mesmas, fingimos acreditar que para o país avançar definitivamente 
rumo ao pleno desenvolvimento, temos que empurrar para a reforma os nossos 
velhos camaradas, que por imperativos de vários factores desfavoráveis a eles em 
particular, mas paradoxalmente favoráveis a nossa triunfante libertação da 
humilhação colonial, não tiveram a oportunidade de aprender muito mais, para o 
pleno progresso da nossa sociedade, do que fazer o uso das armas. Eu explico. 
  
Dos factores que acima quis referir, entendi precisar só de alguns detalhes 
desses, para reforçar a minha posição, sobre o assunto tão complicado, que é as 
reformas no nosso sistema de defesa e segurança: 
Que a administração colonial nunca se preocupou de facto, com a educação, com a 
saúde e com o bem estar sociocultural das nossas populações, todos nós sabemos; 
portanto, todos nós devemos deduzir que no interior do nosso território, (sendo 
a condição que mais interessa nesta contribuição) nem sequer existiam escolas 
básicas, como instrumento de aprendizagem, para uma melhor integração, na 
convivência entre cidadãos constituídos em agrupamentos institucionais, com 
grande importância para as instituições do Estado, ou seja, o próprio Estado, na 
sua vastíssima amplitude. O que restara a essa esmagadora maioria da nossa 
pacata gente, foram os limites das respectivas comunidades, e as suas 
tradicionais regras de funcionamento. Só para lembrar algumas das mais 
fundamentais dessas regras, menciono as que determinam o quanto tudo deve 
obedecer os rígidos ensinamentos dos nossos antepassados; as que determinam o 
quanto os mais novos, não devem de maneira alguma, ultrapassar a iniciativa dos 
mais velhos, sobretudo nas decisões susceptíveis de perturbar a doutrina 
comunitária; as que determinam o quanto os relacionamentos de pertença, acabam 
por suplantar todos os outros compromissos; ou as que determinam o quanto os 
sinais de grandes mudanças, quase que nunca devem ser bem vindos… E aqui se 
quisermos, podemos identificar um dos maiores entraves, a tal ansiada reforma 
nas nossas forças de defesa e segurança!   O 
envolvimento na gloriosa luta armada de libertação nacional, não foi assim 
concretizada da mesma maneira por todos os nossos camaradas, como aparenta. - 
Houve os que a partir de um certo momento, ganharam uma consciência patriótica, 
descobrindo que são capazes de dirigir e fazer parte de um povo livre, 
circunscrito num território livre.   - 
Houve os que foram consciencializados pelos primeiros, e optaram por envolver na 
luta armada de libertação nacional, encarando todas as suas consequências. - 
Houve os prevaricadores de vários índoles, inclusive criminosos de sangue, que 
para fugirem as autoridades coloniais, aproveitaram a camuflagem da noite, para 
passarem para o lado da resistência, e ainda hoje incorporam um grosso quinhão 
das malícias na nossa sociedade.   - 
E por fim houve os que pela estratégia da guerrilha na procurar de uma 
retaguarda  segura no interior do nosso território, sentiram apanhados de 
surpresa nas suas rotinas rurais, sem muitas alternativas, tiveram que suportar 
e servir a causa da nossa independência. São justamente os sobreviventes desses 
últimos camaradas, que hoje acabaram por constituir substância da maioria dos 
visados das reformas. Esses que antes, só souberam transportar um modo elementar 
de estar na vida comunitária, para se integrarem de pés descalços como 
combatentes na luta armada de libertação nacional; como tal, foram obrigados a 
assimilar as extremas regras da disciplina militar, onde o cumprimento duma 
ordem superior, chega a ser uma missão mais que sagrada, e assim tomaram os 
primeiros e os únicos contactos estruturados com o Mundo.   
Fui mobilizado para as nossas forças armadas nos finais dos anos oitenta, com 
mais um significativo grupo de colegas, logo depois de terminarmos os estudos 
liceais, com o propósito que tanto nos entusiasmou, da necessidade de 
requalificar o pessoal militar. Servi como um dos assessores no gabinete do 
Chefe de Estado Maior de Exército, e mais tarde, servi como desenhador nas 
Operações do Estado Maior General das Forças Armadas, para testemunhar o 
suficiente, sobre os avanços e recuos nas diligências reformistas, em que pelas 
consequências de planos mal elaborados, e da hipocrisia duma determinada cúpula, 
os destinados às reformas, deveriam ser uns supostos dissidentes do regime. 
Facto que como é óbvio, acabou por ditar quase todos os adiamentos, para 
conhecermos todas as extravagantes amarguras dos últimos anos.   
Vou dizer que concordo com a facilitada ideia da necessidade duma reforma 
urgente nas nossas forças de defesa e segurança, mas permitam-me a redundância 
de lembrar que devemos avançar em primeira instância, com toda a prudência, de 
maneiras a que ninguém se sinta os incómodos da perseguição política.   
Tendo em conta o que até aqui pretendi evidenciar, para melhor reconciliarmos 
com a nossa história, enfrentando na mesma a implacável realidade das reformas, 
devemos procurar corrigir os passos, através de equações mais eficazes, como por 
exemplo, a criação de uma entidade com especialistas credíveis, para o 
acompanhamento personalizado dos reformados, na aplicação dos seus rendimentos, 
e deixarmos de os disponibilizar de olhos fechados, quantidades de dinheiro 
fresco, que como tem acontecido, partem logo para investimentos fúteis, tais 
como: construção de casas enormes para família, mas tão frágeis para resistirem 
duas épocas de fortes chuvadas; aquisição de viaturas para transportes urbanos 
tão corroídas, que não conseguem assegurar as devidas manutenções por uns meses; 
ou ainda lembrarem-se de pôr em dia todas e mais algumas cerimónias 
tradicionais, sobretudo as dispendiosas cerimónias fúnebres de parentes 
falecidos a muitos e muitos anos passados, e depois de todo o resto, voltarem de 
seguida à miséria dos dias que correm, para continuarem a existir como 
potenciais perturbadores da ordem democrática.   
Outra das equações que julgo por bem debatermos, como forma de fazer justiça a 
uma certa geração dos mais sacrificados durante a nossa luta de libertação 
nacional é, com alguma fracção dos financiamentos disponíveis para as reformas, 
a instituição de um fundo de assistência, com rigorosos critérios de 
beneficência, para apoiar na educação e saúde dos filhos, - o que deverá revelar 
tarde demais para esses - assim como também os netos de todos os devidamente 
autenticados antigos combatentes, pela liberdade do nosso território, 
proporcionando-os razoáveis qualificações académicas, com uma aposta fundamental 
nas formações de natureza profissionalizante, para que possam alcançar melhores 
patamares à nível remuneratório.    
Reparem que com isso também, tendo em consideração os amplificados mecanismos da 
nossa tradicional solidariedade familiar, poderemos estar no mínimo, ainda que 
no final de todas as contas, a garantir uma velhice menos desconfortável, aos 
nossos velhos camaradas de armas.   
Ah! Uma das fundamentais medidas legislativas que essa reforma devia englobar, é 
a que poderá limitar no tempo, o exercício nas funções de topo das chefias 
militares. Será uma forte possibilidade de evitarmos a tendência de candidaturas 
e nomeações musculadas, e com base na intriga, as tentativas eternização. 
  
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