América, América

 

Por: Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

07.11.2008

 

“Se ouvires os cães ladrar, corre; Se sentires os passos dos teus perseguidores, não pares; Se vires as chamas das tochas atrás de ti, continua a correr; Corre, corre até seres livre”

Para os que são familiares com a história da escravatura nos Estados Unidos, sabem, mais palavras, menos palavras, que os gritos de incentivo acima mencionados pertencem a Harriett Tubman (Mulher descendente de escravos, que ajudou muitos escravos fugirem para o Canada e outras paragens e que era conhecida por ”Capitã dos “caminhos de ferro subterrâneos”-Underground Railroad).

Teria ela imaginado que o dia de 4 de Novembro de 2008, numa noite de Outono na “Cidade Ventosa” ou Windy City (Chicago) ia ser uma realidade?

Do porto esclavagista de Goré, das praias da África Central, acorrentados como animais; nos barcos de escravos, agrupados como sardinhas, rumo ao “Novo Mundo”….

Estariam eles a sonhar com o dia 4 de Novembro de 2008?

Dançando ao som da trompeta de Louis Armstrong no Bourbon Street em New Orleans: cidade mítica, cheia de histórias de Jazz, Voodoo, Creole; Cidade que visitei em Junho de 1998, aquando duma conferência; o chauffer da Limousine que me foi buscar ao aeroporto (Pierre, salvo erro), por cortesia, começou a contar histórias de New Orleans e a mostrar-me os pontos mais históricos da cidade; ao passarmos pelo cemitério, fez-me uma pergunta: sabes porque é que as tumbas estão acima do solo, como que suspensas?

- Porque a cidade está num nível abaixo do mar; se houver uma cheia ou se o dique se desmoronar, a cidade vai ficar inundada: quão proféticas foram as suas palavras; 6 ou 7 anos depois, aconteceu a calamidade;

Será que aqueles que pereceram, tiveram a visão do 4 de Novembro de 2008?

Movendo das plantações do Sul para o Norte, muitos negros estabeleceram-se em Nova Iorque; Inicialmente concentraram-se no Harlem (freguesia de Manhattan), mostrando os seus talentos no Apollo Theater (James Brown, Ottis Redding, Jackson Five), Cotton Club; outras freguesias se seguiram: The Bronx (com os primórdios do Rap, Break Dance), Brooklyn (com o Jackie Robinson, primeiro negro a quebrar a barreira racial no beisebol), Queens e a certo ponto, Staten Island…

Com todos os infortúnios da discriminação racial, será que imaginaram que o dia 4 de Novembro finalmente iria chegar?

O Jovem Pastor que marchou com os seus irmãos negros em Montgomery (Alabama) - solidarizou-se com os trabalhadores em greve em Selma (Alabama) e juntamente com eles, foram fustigados pelas mangueiras de água dos polícias brutais e racistas, mordidos pelos cães policiais, atirados às cadeias; Esse mesmo Pastor que no Monumento de Lincoln, fez o discurso “tive um sonho” …

Será que no sonho dele estava o dia 4 de Novembro de 2008?

A Rose Parks, quando se recusou a sentar-se nos bancos de trás do autocarro e se recusou a dar o seu lugar a um indivíduo de raça branca, tendo que ser castigada por esse acto…

No seu mais audacioso sonho, teve alguma visão do dia 4 de Novembro de 2008?

Frederick Douglass (filho de escravos, nascido em 1818, mais tarde candidato a vice-presidente dos Estados Unidos), William Dubois, Booker T. Washington, intelectuais negros de relevo dos séculos 19 e princípios do século vinte e que lutaram pela emancipação e proeminência do homem negro na sociedade Americana…

Terão sonhado com o dia 4 de Novembro de 2008?

Nas pradarias de Montana, Dakota do Sul e Wyoming, à luz do luar, preparando-se para a batalha de Little Big Horn contra o General Custer…

Será que Crazy horse (Cavalo Louco) e Sitting Bull (Touro Sentado) imaginaram um dia com o 4 de Novembro de 2008?

Da chegada à costa de Massachussetts pelo navio Mayflower, passando pela Declaração de Independência, a Guerra da Secessão, as Guerras Índias (genocídio da raça Índia), ao Dust Bowl (nuvem de poeira) que assolou o centro da América (Midwest) nos inícios do século 20 e que deixou muitas famílias famintas, a Grande Depressão (com a falência da Bolsa, dos Bancos etc.), todos (brancos, negros e índios) tiveram o seu quinhão de infortúnios…

Será que George Washington, Thomas Jefferson, Lincoln e Roosevelt, algum dia imaginaram que a casa branca iria ser um dia ocupada por um indivíduo pertencente a uma minoria?

Como em 1961 que ninguém imaginou que um não WASP (white anglo-saxon protestant) descendente viria um dia a ser presidente dos Estados Unidos da América e John f. Kennedy (um católico) mostrou-lhes que estavam errados, assim também aconteceu com o Obama.

Mas dos melancólicos e geniais blues de Billie Holiday; do “ska” e swing mágicos de Ella Fitzgerald; das baladas de Mahalia Jackson; dos contributos musicais de Count Basie, Louis Armstrong, Wynton Marsalis, Miles Davis, a esperança estava no ar…

Os sacrifícios de Jackie Robinson (que, como primeiro jogador negro na liga profissional de beisebol, foi vaiado, aturou cuspidelas, etc.), o forçado exílio de Muhamad Ali (fly like a butterfly, sting like a bee: voar como uma borboleta, picar como uma abelha) do mundo do boxing: a angustia e sacrifício de jogadores da liga negra de beisebol (Gibson, Satchel Paige etc.), que sabiam que eram melhores do que a maioria dos jogadores das ligas profissionais, mas foram proibidos de jogar com ou contra eles, não foram em vão.

O estoicismo e sacrifício de Jim Thorpe (um índio, para muitos considerado um dos melhores atletas de sempre que foi humilhado por ser índio) não foram em vão.

Foi uma noite histórica, uma noite de magia! Ver as lágrimas a rolar nos rostos de Jesse Jackson e do congressista Lewis, dois dos que marcharam com Martin Luther King; ver a emoção da Oprah; Nunca nos vamos esquecer desta noite.

Sei que é só o princípio e que o caminho é longo; mas, temos que o saborear….

 

                                    Guiné nandó, Guiné nandó

 

Tenho esperança que o novo líder que vai surgir destas eleições Guineenses, tenha clareza de ideias e liderança necessárias para nos ajudar a sair do enorme buraco em que nos encontramos.

Ser líder de um País, de um Povo, é uma RESPONSABILIDADE a assumir na defesa dos interesses desse Povo, com sacrifícios pessoais e por vezes monetários; não é ter o DIREITO de se enriquecer, prosperar à custa desse POVO.

Um Líder ou um partido escolhido pelo Povo, é o Pastor, Servo e Guia desse Povo que confiou nas suas capacidades para defender os interesses da GUINÉ; garantir a Saúde, a Educação e a Segurança da Guiné e dos seus filhos.

É crime não proporcionar à nossa Juventude condições mínimas de Saúde, garantir um ano lectivo completo; crime ainda maior é deixar a Droga circular no País e corromper as mentes da nossa Juventude;

Crime maior é usufruir monetariamente da circulação deste produto que produz o entorpecimento mental da nossa Juventude;

Crime ainda maior é ver dirigentes fecharem os olhos; ouvir pessoas supostas de zelar pelo bem-estar dos Guineenses afirmarem que não sabem da existência desta calamidade na Guiné…

Não insultem a nossa inteligência….

Das guerras de Teixeira Pinto, passando à guerra colonial e culminando com as carnificinas de 1998, muito sofrimento, demasiado martírio tem assolado a nossa terra; É tempo de termos um partido/Líder que tenha presente o discurso de JF Kennedy: um líder que não pense no que a Guiné pode fazer por ele, mas no que ele pode fazer pela Guiné.

Si garandis di casa ta tchami, fidjus tudu ta nornori.

Ainda estamos a tempo de construir uma Guiné para o futuro; não percamos esta oportunidade.

 

Votos de eleições transparentes e que triunfe o partido com as melhores intenções para a nossa Terra.

Não desapontemos José Carlos: Gosi Ki ora di canta tchiga, ninguin ka tem garganti; não, vamos todos ter garganta e criticar os que não querem o bem da nossa Terra.

 


ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO NÔ DJUNTA MON -- PARTICIPE!

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org