AINDA É POSSÍVEL SALVARMOS A NOSSA QUERIDA GUINÉ-BISSAU

Crianças da Guiné-Bissau. Foto NA MITI PÉ NA BULA

Foto: Na Miti Pé Na Bula

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

11.03.2007

Pela nossa terra, pelos nossos filhos, em memória dos que deram suas vidas pela independência do nosso país e, acima de tudo, pela Vida, SALVEMOS a Guiné-Bissau!

Será que preciso viver eternamente, numa lógica presencial física, o que é impossível, ou basta-me viver eternamente na memória dos que partilham as minhas preocupações e me têm como referência, ainda que, nossas formas de pensar nem sempre sejam coincidentes?

A minha indiferença em relação aos problemas da minha terra, dos meus irmãos guineenses, do Mundo e dos seres humanos em geral, significa trilhar pelo percurso eterno da vida? Ou será o desempenho da minha missão a favor do Homem, seja ele de que nacionalidade for, que imortalizará a minha passagem por este Mundo onde todos nascemos num dia e hora destinados, como também morremos num dia e hora destinados e cada um à sua maneira?

Será que não soltando a minha voz, não exprimindo os meus pensamentos e as minhas sensibilidades, não exigindo os meus direitos, ou exercendo os meus deveres estarei a ser um ser humano racional, ou serei simplesmente um ser humano da espécie animal e do tipo irracional entregue às circunstâncias da vida que uns tentam impor aos outros em função das várias formas de poder existente neste nosso planeta Terra?

Tenho recebido muitos apoios morais nesta luta pela causa guineense e sei das preocupações de todos quantos me têm acompanhado sobre os riscos desta minha missão. Quero dizer a todos vós, que agradeço as vossas preocupações!

Se as preocupações existem, é sinal de que realmente há considerandos sobre a forma interpretativa como cada um vê a estrutura executiva do poder na Guiné-Bissau. Todas as preocupações em relação à minha integridade física demonstram o conhecimento da forma de agir dos que detêm o poder na Guiné-Bissau e para que haja mudanças positivas na nossa terra, devemos acabar com o terrorismo de Estado.

A Guiné-Bissau continua a afundar-se cada vez mais.

Os guineenses têm, cada vez mais, dificuldades em resistir aos bons princípios da vida, aliás, a fórmula encontrada pelo poder para criar e manter uma relação de dependência crónica que lhe sirva de sustento eterno no pressuposto da governação vitalícia.

Não há empregos e quem trabalha passa largos meses sem receber salários.

As famílias guineenses vivem abaixo da tabela considerada como linha limite da pobreza, se é que a pobreza tem limite...

O poder sabe disso e o poder faz uso disso!

A vingança de Nino Vieira passa pela humilhação do próprio povo guineense, pois o general ditador jamais esqueceu, nem esquecerá o apoio do povo guineense à Junta Militar que o derrubou aquando da guerra de 98/99.

Diz-se que não há dinheiro para salários, mas onde se arranja dinheiro para as viagens do General, dos Ministros e outros?

Como se arranja dinheiro para as construções e para os automóveis?

O povo sabe que há dinheiro, mas que esse dinheiro, que lhe pertence, está nas mãos da elite de Nino Vieira.

O povo sabe que quem foi ou está contra Nino Vieira e a sua equipa é penalizado, ficando entregue à fome e à miséria, sem trabalho e sem ordenado.

O povo guineense está a ser humilhado na sua própria terra!

Uns têm resistido, outros, já perderam as forças e vão se alistando nas fileiras do regime, pois como se diz à boca cheia em Bissau: "Se não estiveres do lado do Nino tens a vida bloqueada".

Compreendo as dificuldades das famílias, com filhos para sustentar e que não tendo como fazê-lo, acabam por aceitar as movimentações dos filhos que por portas e travessas vão conseguindo arranjar algo para a sobrevivência...

Compreendo a situação actual do país, não pelas explicações dos governantes para a falta de recursos financeiros, mas pelo erro que foi o regresso de Nino Vieira ao poder.

Se hoje voltarmos a parar para reflectir o que tem acontecido, facilmente chegaremos às mesmas conclusões de um passado recente: O Nino Vieira foi e continua a ser sinónimo de desgraça para a Guiné-Bissau.

Se hoje reflectirmos sobre os problemas da Guiné-Bissau, saberemos que, apesar dos erros sistemáticos que temos cometido como povo e que nos têm prejudicado, está em nós guineenses, essencialmente, a solução para a maior parte dos nossos problemas.

Há que lembrar ao poder institucional que acima dos seus interesses pessoais, estão os interesses da República cujo único dono é o povo que define essa mesma República!

Salvar a Guiné-Bissau implica deixarmos de ser indiferentes e passivos no compromisso entre os nossos direitos e deveres para com a Pátria.

Se salvar a Guiné-Bissau pressupõe correr riscos, então devemos correr esses riscos, pois a morte, tal como a vida, tem dia e hora marcados...

Para mim, a vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver...

Pela nossa terra, pelos nossos filhos, em memória dos que deram suas vidas pela independência do nosso país e, acima de tudo, pela Vida, SALVEMOS a Guiné-Bissau!

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