VIRAR A PÁGINA?!

 

O primeiro compromisso de todos os guineenses deve ser para com a Guiné-Bissau. Cabe ao povo guineense a acção da mudança!

O maior desafio para todos os guineenses é criar mecanismos de mudança para a Guiné-Bissau!

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

19.03.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Sim, vamos virar a página, temos que virá-la, porque não se vira por ela própria...

O desaparecimento físico do maior obstáculo à unidade nacional, porquanto ter sido o fomentador das maiores intrigas no seio das estruturas do poder e na sociedade guineense, bem como o principal promotor directo e indirecto de crimes de sangue e de corrupção na Guiné-Bissau, não significa, por si só, o virar da página. A grande enciclopédia que se transformou a Guiné-Bissau necessita de uma readaptação na forma e conteúdo, bem como, no registo de novos e verdadeiros heróis que sirvam de referências e exemplos positivos à Juventude em particular e à sociedade em geral,  pelas suas participações/contribuições nas várias batalhas de todos os dias em prol da afirmação da Guiné-Bissau no concerto das Nações e de uma vida condigna para todos os guineenses!

Virar a página, está na nossa consciência e nas nossas atitudes e se hoje somos ou estamos carentes de valores de referência, há um trilho e uma chave para a (re) construção/formação imediata e consistente da mentalidade guineense, assente no espírito da unidade e luta, que permitiu a maior conquista do nosso povo até então, a independência nacional. Esse trilho e essa chave chama-se Amilcar Cabral!

Não foram os ensinamentos de Cabral que fracassaram na Guiné-Bissau do pós-independência! Cabral formou políticos e guerrilheiros, se quisermos, militantes armados, mas tal como em qualquer processo específico de formação, pode-se formar bons quadros em áreas específicas, sem que isso garanta ou signifique que se tenha formado a consciência desses quadros, numa visão englobando princípios e valores universais no âmbito da cidadania.

Cabral insistia nos princípios e nos valores; a sua conduta era o melhor exemplo para os que o rodeavam ou conviviam com ele no contexto da luta de libertação nacional, mas tal como qualquer educador, não podia obrigar ninguém a assimilar os ensinamentos que transmitia.

A assimilação não depende unicamente do educador, mas essencialmente, do educando e, quer queiramos, quer não, Cabral foi um dos grandes pedagogos do séc. XX!

Hoje temos a relação desse exemplo com muitos doutorados, mestres e licenciados, que de cidadania nada percebem e cujas mentalidades estão essencialmente viradas para os seus interesses pessoais, para os seus umbigos, suas ligações familiares e de amizade e não para o povo que representam, quer no governo, quer nas instituições do Estado.

Ninguém se opõe aos rendimentos e privilégios pessoais obtidos com o trabalho e a competência de cada um. A referência aos interesses pessoais em detrimento do colectivo fundamenta-se, neste caso, nas pessoas que se servem do país para obterem rendimentos e privilégios pessoais, sem contudo, servirem o próprio país!

Cabral era ele próprio um livro aberto para a aprendizagem dos princípios e valores da cidadania, mas teriam que ser os homens e mulheres da Guiné e de Cabo Verde a interessarem-se pelo estudo e aprendizagem da sua forma e conteúdo. Uns seguiram-no e conseguiram enraizar nas suas mentes princípios e valores determinantes na formação de uma mentalidade sã, passando a pensar pelas suas próprias cabeças.  E seguindo os exemplos de Amilcar Cabral, jamais permitiram a traição das suas próprias consciências às causas e objectivos traçados e assumidos como compromissos durante a luta de libertação nacional.

Os que não se interessaram pela forma e conteúdo de Cabral, seguiram outros exemplos, outros modelos de formação das suas mentalidades, movidos pela ambição desmedida, acabando por deixar espaços nas suas mentes para a manipulação e, consequentemente, para a traição das suas próprias consciências.

Foi esse grupo de indivíduos de que João Bernardo Vieira fazia parte, que se vendeu à PIDE e à estratégia do general António de Spínola para destruir a maior força do nosso povo e da luta, a Unidade, através de um plano monstruoso contra o seu principal impulsionador, Amilcar Cabral!

Foram esses indivíduos que mataram directa ou indirectamente Amilcar Cabral pensando nas suas recompensas pessoais, extensivas aos seus familiares e esquecendo-se dos compromissos assumidos na luta, para com o nosso povo.

Foram esses indivíduos que ao longo destes anos e refugiados num militarismo permanente, fizeram refém o Estado e o próprio povo guineense, ramificando as suas áreas de influência através da manipulação de consciências de alguns dos guineenses mais capacitados, ou do assassinato de outros, igualmente dos mais capacitados, que lhes eram incómodos, por discordarem abertamente da forma como o país foi sendo dirigido ao longo dos anos.

Sim, vamos virar a página, temos que virá-la, porque não se vira por ela própria...

Virar a página, contrariamente ao que a maioria pensa, não pressupõe apagar o passado. Se optarmos por desfazer do passado, ficaremos sem referências de consulta no nosso quotidiano, o que nos limitará nas reflexões presentes e, consequentemente, na elaboração de estratégias positivas  para o futuro.

O passado é memória e está dentro de nós, não significando ódio, rancor e vingança, mas sim, registo de vivências e convivências, negativas e positivas da nossa existência, bem como das experiências e conhecimentos que outros nos deixaram registados e presentes em museus e bibliotecas de todo o mundo.

Que seria do mundo hoje, sem os registos do passado?

Sim, vamos virar a página, temos que virá-la, porque não se vira por ela própria...

Há que recuperar o legado de Cabral, enquadrá-lo no contexto actual e transmiti-lo aos nossos jovens e à sociedade em geral, porque realmente, é o trilho e a chave para a Guiné-Bissau Positiva que se pretende!

Virar a página sim, assumindo compromissos para com o país e para com o nosso povo!

Virar a página sim, valorizando toda e qualquer vida humana; aceitando as diferenças; privilegiando o diálogo; promovendo a tolerância; transmitindo valores como a Verdade, a Justiça, a Paz e a Estabilidade na Guiné-Bissau!

Virar a página sim, demarcando-nos da indiferença e aprendendo a ser solidários!

Virar a página valorizando todas as colaborações dos nossos amigos!

Virar a página fazendo da Guiné-Bissau o PARTIDO de todos os guineenses!

Vamos continuar a trabalhar!


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