VAMOS PARAR DE NOS MATAR
 

Djodji (o primeiro)

10.03.2009
 

Por respeito à vida humana, aos mais recentes defuntos militares da Guiné-Bissau e aos seus familiares, fiz um esforço de auto-controlo para não escrever nada sobre os últimos acontecimentos no meu país, porque tinha a certeza que ia conseguir evitar ferir as susceptibilidades de familiares e amigos dos malogrados. Mas hoje, depois de assistir à primeira sessão de formação, com o objectivo de adquirir “competência na gestão de conflitos laborais”, onde o psicólogo formador incidiu exaustivamente nos termos “inteligência emocional” e “auto-análise”, realçando a necessidade de sempre perguntarmos a nós mesmos o que fizemos ou podemos fazer para melhorar o que está mal à nossa volta, fui almoçar à pressa e durante a refeição, fui saltitando os três canais televisivos portugueses que transmitiam as notícias, para ver se conseguia ouvir algo sobre o funeral do defunto sanguinário. No meio do “zapping”, assisti ao momento que o jornalista referiu como “o discurso mais emocionado do funeral…”. Desse momento, ficou gravada na minha mente apenas uma frase, de duma jovem em sofrimento pelo assassinato do pai, que disse: “vamos parar de nos matar”. Dei comigo a pensar que não há lugar para dúvidas de que, esse momento, deve ter sido o mais emocionado de toda a cerimónia e que, sem gritar, sem organização de manifestações, sem necessidade de escrever rios de tinta, o apelo dessa jovem conseguiu atravessar muitos corações, amolecendo-os, podendo a partir de agora, mudar todos aqueles pais que ainda pensavam continuar a deixar outros jovens como órfãos na Guiné-Bissau. Ainda pus-me a pensar se essas palavras, ditas com a mesma carga emocional, de filha (o) para pai, não poderia ter poupado a vida de muitos guineenses, depois das mortes que aconteceram no fatídico dia 14 de Novembro de 1980!? Não pretendo questionar os valores morais dessa jovem que se encontrava, sem dúvida, num momento de consternação, mas acho sinceramente que ela e os irmãos, desperdiçaram muitas oportunidades de, com o pai ainda vivo, lhe dizerem com o mesmo tom de desespero, raiva e sofrimento, que devia parar de matar e que a vida humana é um bem muito valioso, pelo facto de só se ter uma única oportunidade dela desfrutar, sendo importante lutar pela sua preservação com a melhor qualidade possível, independentemente do estatuto social, cor da pele, ideologias políticas ou qualquer outro factor que nos distingue e nos faz divergir muitas vezes.

Pensei sempre que a minha pátria podia ter atingido agora o ponto de viragem e iniciar uma nova era sem aquele brilhante guerrilheiro e péssimo estadista, que foi o maior entrave ao desenvolvimento do país. Agora, sem o sanguinário, os governantes e o povo guineense não podem desculpar-se se o país não iniciar uma "feroz" perseguição ao comboio do desenvolvimento. O povo e os seus governantes não podem esquecer nunca que, em termos de corrupção económica e insegurança no país, Nino não era uma individualidade, mas sim uma espécie de organização empresarial, com muitos colaboradores. Quem julgar que com o desaparecimento físico do polvo, as suas ramificações e tentáculos não continuarão a mexer-se, estão enganados. Agora é chegada a hora de se usar todos os instrumentos legais de um Estado de Direito, para chamar à justiça, com confiscação de bens, de todos aqueles que usaram a protecção dos defuntos sanguinários para se enriquecerem de dia para a noite…

Como não posso estar mais de acordo com a jovem que pediu sofregamente para pararmos de nos matar, queria lançar um repto a essa mesma jovem, para que em nome da unificação da sociedade guineense, usasse do seu estatuto de órfão de um presidente da República, barbaramente assassinado, para criar movimentos de apelo aos órgãos governamentais e da justiça, no sentido de se estender a tal amnistia pelo qual o pai tanto batalhou, para depois do dia 2 de Março de 2009. Creio que esse seria um acto que contribuiria para a definitiva pacificação e mudança do destino do país. 

Djarama Contributo.

 

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