UMA MORTE CAPAZ DE MATAR MUITAS ESPERANÇAS

 

 

 

 

Flaviano Mindela dos Santos

 

flavianomindela@hotmail.com

 

 13.08.2009

 

Mais um assassinato brutal, talvez só para contrariar o tão manifestado espírito pacífico do homem guineense, na sua convivência com o outro. Mas a personalidade da vítima, o horário da agressão, e o local do crime, atribuíram a esse caso, uma singularidade bastante preocupante. Tanto assim é, que causará graves consequências num futuro próximo ao nosso país, se as autoridades competentes não tomarem medidas mais adequadas, para um total esclarecimento do incidente, e a devida punição do culpado, ou dos culpados.

Vou dispensar os dois últimos factores envolventes no caso em questão, acima apontados, e salientar o enorme impacto negativo, provocado pelo primitivo assassinato de um jovem quadro superior, junto da comunidade guineense residente no estrangeiro em particular, de todos os guineenses, e dos amigos da Guiné-Bissau em geral.

Vital Pereira Incopté, como já tive oportunidade de mencionar, era uma pessoa altamente interessada no saber e no servir. Não foi por acaso que ele suspirou pela última vez num espaço de conhecimento, num conhecido cybercafé, ligado de qualquer forma à vastidão universal, a tentar aprender mais, para servir melhor. Ele foi um dos poucos e determinados guineenses, que depois da conclusão de uma determinada formação no estrangeiro, ignoraram todas as ofertas de emprego, para o lançamento de uma carreira de sucesso, regressaram ao nosso país, para contribuírem de maneira directa, no desenvolvimento daquela sociedade, que os tinha adoptado de bases, o pouco que fosse, e a que realmente eles pertencem, enquanto homens simples.

É imperativo que seja o próprio governo no seu conjunto e ao mais alto nível, a manifestar intenção e determinação, para disponibilizar todos os meios possíveis, assim como, passar a comunicar de maneira esclarecedora, todos os avanços e recuos nas investigações, para uma breve solução desse caso. Com isso, enviar um forte e encorajador recado, aos inúmeros jovens quadros guineenses, profissionais, médios e superiores, espalhados por este mundo fora, que motivados por mais essa recente reposição da legalidade democrática,  preparavam antes desse trágico acontecimento, para um triunfante regresso às origens, e que agora, se sentem com as expectativas profundamente abaladas.

Se se deixar prevalecer as especulações que por momento circulam na boca do povo, muito mal afectado ficarão os planos das reformas, para a melhor capacitação e modernização da administração pública, assim como, os outros esforços anunciados, para uma sustentada reconciliação nacional!     

Se recuarmos um pouco na nossa curta história como um país de território independente, vamos constatar que os marcantes períodos de esperanças renovadas e rápidas desilusões, fizeram danos irreparáveis, nos percursos de muitos de nós. E esses referidos danos, tomaram proporções muito mais dramáticas, para os que de entre nós, chegaram a residir algum tempo fora do nosso território, com as bases de uma vida condigna, minimamente montadas.

Logo depois da nossa proclamada independência, que veio a revelar-se ao longo dos anos, mais territorial do que política, levados por uma justificável onda de euforia, e pela gigantesca campanha de uma propaganda propositada, implementada pelos libertadores, os mais diversos guineenses então a viver no estrangeiro, optaram pelo regresso ao país de origem, para tomarem parte na entusiasmante reconstrução nacional.

Demoraram só alguns meses, para que os mesmos camaradas, carregados de um rancor animalesco, com muita mentira à mistura, mudassem logo do recomendável rumo traçado e patenteado no nosso símbolo nacional, pela tríade Unidade Luta e Progresso. E pior do que se julgarem de maneira mais hipócrita, merecedores de uma recompensa vitalícia, pela participação na heróica luta armada, para a libertação do nosso território, ocupando os lugares na estrutura do Estado, mesmo sem competências correspondentes, decidiram também desencadear vergonhosas incursões sem discriminações, contra a liberdade das pessoas, através de todos os métodos praticáveis e imagináveis. Desde calúnias infantis, perseguições infundadas, prisões arbitrárias, humilhações públicas, assassinatos encomendados, fuzilamentos espectaculares, e até mesmo traições diabólicas entre eles, que foram companheiros nas frentes e nas trincheiras.

Com a concretização do chamado movimento reajustador, sob o lema de uma enganosa concórdia nacional, muitos compatriotas na diáspora, foram mais uma vez aliciados a regressar ao nosso país, para participar na adiada modernização da nossa sociedade. Com os mesmos métodos, os que entre eles não conseguiram fugir a tempo, ficaram a conhecer os labirintos do inferno, e alguns pagaram mesmo com as suas próprias vidas, a tal inexplicável estúpida aversão de nós os guineenses, aos nossos conterrâneos, que por alguma sorte, tiveram a oportunidade de possuir um nível de preparação e conhecimento em relação a nós, um pouco mais elevado.

Com a imposta abertura política, pelos fortes ventos do princípio dos anos noventa, reconhecidos quadros guineenses no estrangeiro, fizeram as malas e estantes, para a partir da suas estruturas partidárias devidamente legalizadas, contribuirem para o progresso da nossa sociedade. Com os mesmos métodos, foram conduzidos à insignificância política, solidão espiritual, suicídio de carácter, desespero total, e morte prematura.

Desdobrado em diligências e discursos positivistas, o que é fundamental e de louvar nesse específico momento, o presidente eleito está a conseguir mais uma vez motivar e bem, as diversas vontades que compõem o todo nacional, assim como os nossos exaustos parceiros de cooperação.

Mais do que limitar-se a lembrar aos guineenses na diáspora, de que as suas contribuições são indispensáveis ao nosso país, sobretudo nos dias que correm, o presidente eleito convida mesmo toda essa numerosa e qualificável massa trabalhadora, para voltar a confiar no futuro promissor da nossa sociedade, regressando ao local de partida, para tomar o devido lugar na grande locomotiva, rumo ao imprescindível desenvolvimento, a pensar nas garantias de manutenção asseguradas. Mas só isso, embora politicamente correcto, não basta! Por tudo e mais outras que aqui não lembrei de dizer, as autoridades nacionais, em genuína conjugação dos mecanismos do poder, têm o dever sagrado, de garantir em primeiro lugar, o mais fundamental de todos os direitos, a todos os cidadãos residentes no nosso território!

Todos os guineenses conhecem e compreendem as várias limitações do nosso país, no que respeita aos recursos materiais e humanos. Por isso mesmo é comum entre nós, a expressão de resigno djitu ca tem. Mas quando morrem pessoas, por motivos cada vez mais inglórios, djitu tem cu tem!

Tenho a plena convicção de que, se forem garantidas as mais razoáveis condições de segurança de vida, a todos os cidadãos residentes no nosso território, mesmo sem as mais razoáveis condições de seguro de vida, a maioria de nós guineenses residentes na diáspora, não hesitaríamos muito, na hora regressarmos para o caloroso acolhimento da mãe pátria. E uma vez instalados, lutarmos então todos juntos, lado a lado, para a definitiva afirmação da nossa comunidade, como uma sociedade moderna, de gente moderada.

 

 

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