TRIBUTO A BISSAU PELOS SEUS 70 ANOS

(Ponto de Vista)

“Bissau, a cidade mais guineense que quer crescer e viver guineensemente”. Semedo

 

Rui Jorge  da Conceição Gomes Semedo

rjogos18@yahoo.com.br

08.12.2011

Rui Jorge SemedoSituada na margem direita do Rio Geba, com cerca de 387.909 habitantes, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) – Recenseamento Geral da População e Habitação (2009), Bissau é uma das cidades capitais mais pequenas da costa ocidental africana, mas com uma exuberância paisagística linda, colorida de verde e de zonas húmidas que ainda resistem à ocupação irregular e desenfreada dos citadinos.

Dona de uma apreciável e autêntica beleza natural, além de conhecida e reconhecida pela forma generosa como acolhe seus hóspedes e amigos, não é menos importante dizer que faz parte de um pequeno grande paraíso, rico em biodiversidade e com uma extensão territorial de  apenas 36. 125 km2, constituído por uma parte continental e outra insular composta por cerca de mais de quarenta ilhas e ilhéus, que se dá pelo nome de República da Guiné-Bissau.

Depois de Cacheu (1446-1879) e Bolama (1879-1941) que foram respectivamente, a primeira e a segunda capital colonial, em Dezembro de 1941 por motivos relacionados com interesses estratégicos da metrópole do então território da Guiné-Portuguesa, Bissau fora elevada ao estatuto de capital.

Segundo informações históricas, os Papéis foram os primeiros ocupantes tradicionais de Bissau e seus arredores. Territórios administrativamente demarcados em reinos e caracterizados por uma forte presença da cultura religiosa enraizada nos ensinamentos ancestrais. Contudo, hoje devido aos efeitos da mobilidade sócio-urbana e a consequente necessidade imposta as populações de outras regiões desprovidas de oportunidades concretas, na sua maioria jovens, que deslocam à procura de melhores condições de vida, seu espaço passou a ser partilhado e compartilhado de forma “harmónica” por todos os grupos étnicos guineenses e também por cidadãos estrangeiros (residentes) de paises vizinhos.

Tal como outras cidades do país, Bissau também teve participação histórica desde os primórdios da colonização, tanto do ponto de vista comercial na utilização de sua costa, na comercialização de escravos, quanto no fornecimento de produtos de exportação. Mas, Bissau também ofereceu resistência à ocupação e foi o ponto a partir do qual se articularam as mobilizações clandestinas de aderência ao processo libertador, além de ter contribuído com grande parte dos “notáveis” que conduziram o país à independência nacional.

O percurso dos 70 anos como capital em termo histórico-cronológico é realmente insignificante, mas relevante para efeitos de análise existencial como património que nos é comum, e, igualmente, como um espaço social de interação. Por isso, deve constituir algo de profunda reflexão, sobretudo, por ser cidade-berço de muitos guineenses e espaço de oportunidades socio-económicas, onde cada um procura construir o seu projeto  de vida.

Hoje sem intenção de pôr em causa a prescrição histórica, podemos reconhecer que Bissau é também terra dos crioulos. Uma nova categoria etno sócio-cultural surgida da fusão entre os grupos, que assume o crioulo como língua materna. Esse fato faz de Bissau uma comunidade identidade cultural “mais homogénea” e, ao mesmo tempo, reconhecedora de suas raízes e manifestações identitárias.

Apesar de ainda persistirem dificuldades  sócio-financeiras e políticas que são parte dos entraves à melhoria de qualidade de vida dos habitantes, há que reconhecer que Bissau é hoje  uma cidade “madura” e consciente das conquistas, mas também dos entraves e desafios que requer o processo de construção do bem-estar social. Uma cidade de guerreiras e guerreiros, representados pelos agricultores de sua cintura verde (bolanhas e hortas), mulheres videiras, empurradores de carrinho de mão, catadores de pedra e areia, vendedores ambulantes e operários que lutam quotidianamente para manter o sustento familiar.

Há muita coisa a fazer ainda pela cidade de Bissau. E cada um, ao seu jeito, deve dar positivamente a sua sabedoria na edificação de uma cidade em condições de satisfazer coletivamente, desejos, sonhos, fantasias e coisas concretas que alimentam o orgulho de ser bissauense. Temos apenas que apostar em melhorar cada vez mais a qualidade de serviços existentes e também apostar na criação de outros novos, para diversificar gostos e permitir maior opção a quem procura conforto e bem-estar. Por isso, trabalhar, trabalhar, trabalhar – trabalhar cada vez mais para tornar a nossa cidade mais atrativa e a Guiné, de um modo geral, mais valorizada, é a única forma de paga nô kinhon.

Realmente Bissau perdeu o brilho e o respeito que tinha outrora, mas como o momento é de festa, prefiro apenas transmitir minha gratidão e alegria à cidade que nos gestou, serviu-nos de ama, ensinou-nos a ver, ler e entender o mundo. A cidade paixão, que nos orgulha, valoriza e encanta, por tudo que representa em nossas vidas.

A verdade é que Bissau não tem culpa pela paragem no tempo, pela violência institucional e doméstica crônicas, pela falta de emprego, pela baixa qualidade do ensino, por seu crescimento urbano desorganizado, pela má interpretação do sentido de Estado e, da política,  como arte de convencimento e, sobretudo, pelo oportunismo cego e cruel instalado no coração do seu pulsar.      

Parabéns Bissau pelos seus 70 anos como capital guineense. Faço votos que 2012 te traga mais garra e que continues determinada e abraçada com o resto do país na busca do bem comum para proporcionar aos teus filhos, amigos, e a todos aqueles que te escolherem como lugar para viver.

 


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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