Titina Sila: Mãe, Irmã e Combatente

Edson Incopté

edson_incopte@hotmail.com

01.02.2010

Quando em 30 de Janeiro de 1973 Titina Sila, mãe, irmã e combatente, fechou os olhos pela última vez, provavelmente a Guiné-Bissau conheceu das suas maiores dores. Por um lado por ter perdido das suas melhores filhas, por outro, o facto de dez dias antes ter perdido o seu mais bem preparado filho, Amílcar Cabral.

 

Decorria o ano de 1973 e a luta nos matos da Guiné fervia de intensidade, com vantagem para os combatentes do PAIGC. Isso na medida em que, ao contrário das outras guerras que decorriam nas colónias, a guerra na Guiné já se encontrava perdida para os portugueses. A chama da independência cozinhava o sentido de liberdade e de justiça que se encontravam no pensamento da Titina, temperados pelo amor ao povo que ela carregava ao colo na figura do filho. Quanta rebeldia e determinação haviam na figura duma só mulher, dissipadas por um grupo de fanáticos que se consideravam superiores. Quão gélido deve ter sido a notícia da sua morte no seio dos combatentes da liberdade da pátria, aqueles que por momentos esqueceram dos inimigos e desejaram como ninguém a ressurreição carnal dos mortos. Contudo, foi naquele clima de absoluta mágoa que alguém encarnou a força da Titina, hoje patenteada nas mulheres Guineenses, para declarar que todo aquele desgosto tinha sido uma preparação para a chegada da tão ambicionada independência, que traria consigo a paz, o desenvolvimento e a concórdia entre todos os Guineenses. Era esta a forma que a entranhada figura levantava a moral dos combatentes, banhando o seu discurso com as lágrimas de veneração pela mãe, irmã e combatente chamada Titina Sila.

 

Foram tempos conturbados, aqueles em que Titina Sila viveu e se imortalizou. Teve a necessidade de, como mulher, ser igual aos homens, para ser respeitada e recordada como combatente.

 

Hoje, passados 37 anos após a sua morte, o respeito permanece mas não a merecida recordação! É Incomodativo constatar a falta de consideração para com a memória de Titina Sila, não só dentro do PAIGC, não só dentro dos órgãos governamentais, mas também entre a sociedade em geral. Alguns preferem deixar o nome na história pelas piores razões do que prestarem tributo aos melhores filhos da Guiné-Bissau que deixaram o nome na história pelas melhores razões. Outros insistem em ignorar completamente o facto inspirador que o nome dos bons filhos representa para a recuperação da fé harmónica entre os Guineenses. Persistem em não constatar que recordar figuras como Titina Sila é extrair ensinamentos na vida e na morte das mesmas figuras.

 

Os indícios que nos revelam que a memória da Titina Sila é completamente ignorada foram reforçados com a presença do Primeiro-ministro Guineense e presidente do PAIGC, Carlos Gomes Jr., em Portugal, no passado dia 30 de Janeiro. O mesmo esteve presente num encontro com a diáspora Guineense em Portugal no auditório da Universidade Lusófona. No dito encontro, o nome da Titina Sila não foi referido uma única vez, isso num dia tão importante para toda a mulher Guineense e em particular para a família Sila. Tal referência era esperada na medida em que entre nós se encontrava a irmã de Titina Sila, conhecida do Primeiro-ministro e também porque foram exibidas imagens relacionadas com antigos combatentes. No entanto, limitou-se a fazer alusão a Amílcar Lopes Cabral, esquecendo que o dia era de recordar Titina Sila. O facto do Sr. Carlos Gomes Jr. ocupar o cargo de Presidente do PAIGC torna sem dúvida essa falha ainda mais grave. Não vou abordar os assuntos situados no referido encontro, porque as linhas de hoje são dedicados à grandiosa Titina Sila.

 

Enfim… a todos tenho a dizer que a força espiritual que hoje sabemos que existiu em Titina Sila, tem de estar na nossa consciência, principalmente na consciência dos nossos governantes, para que assim revivamos em nós um bem profundo, que por mais pequeno que seja, não se desvaneça e nos deixe uma sensação de satisfação e paz. Caso contrário meus irmãos, continuaremos a sofrer os efeitos do esquecimento e ignorando completamente as suas causas. Por outro lado, a grande revolução que se deseja dentro da mente dos nossos jovens necessita de referências como Titina Sila. Só com essa revolução de mentalidade teremos uma Guiné-Bissau renovada sob todos os aspectos. Ou seja meus irmãos, nunca mais teremos Titina Sila, mas podemos ter pessoas que se inspiram nela no seu dia-a-dia. Os tempos são outros, mas podemos fazer voltar o bom tempo em que as crianças eram ensinadas à cantar tão sentida canção: “Titina na riu di Farim, Titina nada i tchiga na metadi i fasi força pa iangasa kanua tuga odjale i kunsa lança bumba…” 

 

Entre factos e constatações, uma pequena e devida homenagem a Titina Sila.

 

Estamos juntos!      

 


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