O REGRESSO DOS QUADROS...

 

 

Samuel Vieira  *

vieirasamuel@hotmail.com

04.07.2009

Samuel Vieira

Essa expressão sempre teve um lugar privilegiado no pensamento dos governos constituídos, em países, onde a democracia se manifesta visando o progresso da nação.

 

O retorno dos quadros e a integração dos mesmos nas grandes decisões envolvendo projetos de desenvolvimento de qualquer país foi sempre assunto de particular importância para governos bem intencionados! Enaltecendo esse assunto (o retorno dos quadros!) que é a base sustentadora do projeto de desenvolvimento de qualquer país, e que eu acho, em minha opinião particular, deve merecer uma atenção especial dos nossos governantes. Eles precisam valorizar os quadros que têm no exterior, tecendo considerações extremas, no sentido de salvaguardar o retorno e o enquadramento dos mesmos. A valorização da mão de obra especializada quando é preocupação de qualquer governo, reflete em vantagem competitiva tanto no mercado nacional como internacional. Constitui também um incremento para a certificação da qualidade dos produtos confeccionados em fábricas ou fabricados em industriais, onde o valor do produto está associado à qualidade dos profissionais envolvidos, daí a preocupação de qualquer organização pública ou privada em contratar profissionais com boa formação. Lembrando também que, os serviços públicos de qualidade demandam profissionais à altura das exigências atuais. Antes éramos Guiné-Bissau e só, hoje somos membro da UEMOA, pertencemos a um mercado comum onde a valorização dos nossos produtos e serviços precisam passar por teste de qualidade. Esse teste de qualidade é a garantia de um serviço de excelência e de um produto acabado com teste perfeito. Isso exige preparo e conhecimento adequado dos envolvidos. Solução o país tem para esses enfrentamentos. Nesse caso eu diria que: você sabe, eu sei e eles também sabem!...

 

Veja quão importante é a valorização dos recursos humanos interpretando esses exemplos citados, nos dois primeiros países abaixo:

 

Israel:

 

O povo judeu na sua trajetória de vida lutou e provou ao mundo que, sendo livre e dono do seu próprio território, poderia tornar Israel num grande país e com desenvolvimento à prova. Isso ele conseguiu com o regresso de um acentuado número de seus quadros que residia no exterior, número esse que na sua maioria estava refugiada principalmente nos Estados Unidos, Inglaterra e França, durante a perseguição aos judeus, no território alemão e em países que caíram nas mãos do exército nazista sob o controle do Hitler. Facto esse que só cessou depois da segunda guerra mundial. Povo dotado de inteligência e de grande capacidade de superação, muitos judeus foram revelados em instituições de ensino superior dos países em que residiam; quer como pesquisadores, professores assistentes ou professores universitários, porém, dado a necessidade de ajudar no desenvolvimento do novo Estado criado, portanto, o Estado de Israel; o patriotismo, o nacionalismo e o grande interesse do próprio país em receber os seus filhos, fez com que a volta desses intelectuais permitisse Israel entrar em definitivo, no eixo do desenvolvimento. Atualmente, os cientistas de Israel têm lugares privilegiados nos assentos dos cientistas do mundo, graças aos inúmeros descobrimentos revelados em pesquisas científicas. Na atualidade o país tem tecnologia que supera muitos países do 1º mundo, e isso permitiu transformar o que era deserto em terras verdes e o que era improdutivo em produtivo. É do conhecimento da esmagadora maioria dos intelectuais do mundo que, Israel possui tecnologia avançada em inteligência artificial, sistema de informação, sistema de segurança, produz também armas modernas de todos os calibres, equipamentos bélicos diversos e ainda é dono de muitas técnicas modernas, em aplicações, em vários países do mundo. Todo esse progresso, sem dúvida... Porque o país soube aproveitar o que tem de melhor, portanto, os seus cérebros!...

 

 

Cabo Verde:

 

Nos países de expressão portuguesa, Cabo Verde, nosso vizinho, merece um lugar de destaque frente aos progressos alcançados nos últimos anos. Quando o governo desse país abraçou a causa interpretada como condição indispensável para o desenvolvimento, abriu suas fronteiras permitindo o regresso de muitos intelectuais na diáspora, incentivou os investimentos dos emigrantes com longos anos de vida no estrangeiro, além de mover ações enérgicas com objetivo de convencer os países amigos, ou seja, países com os quais mantem relações diplomáticas privilegiadas, no sentido de favorecerem a formação de cidadãos cabo-verdianos em seus países. As ações movidas repercutiram na aquisição de bolsas de estudo para estudantes cabo-verdianos para vários países, o que revelou em curto espaço de tempo, o retorno dos quadros e benfeitorias que deixam bem claro que, as amostras de que o país percorre o caminho do desenvolvimento são perceptíveis e susceptíveis de serem constatadas em todo o território cabo-verdiano. É importante realçar que a preocupação do governo cabo-verdiano não se limitou em apenas mandar os quadros para exterior e deixá-los à própria sorte. As embaixadas e consulados, por sua vez, destacam um papel importante em apoiar os estudantes nesses países, como também em controlar o aproveitamento dos mesmos (... pelo menos no Brasil é assim!). Esses dois órgãos diplomáticos mantêm um vínculo direto com as instituições de ensino superior dos estudantes de graduação, o que lhes permite ter informações seguras das atividades acadêmicas de cada estudante. Houve também a preocupação do governo visando um desenvolvimento harmonioso e o enquadramento dos recém formados em vários projetos em curso no país, por isso o governo exerceu sempre o controle na distribuição de bolsas em conformidade com os cursos que são relevantes para o desenvolvimento de Cabo Verde. E para compensar essa iniciativa louvável do governo cabo-verdiano, os quadros que concluem seus estudos no exterior, sentem-se motivados a regressar e ajudar a projetar esta nação, que figura hoje, como uma das mais prósperas do continente africano, nos últimos anos. Com base nesse quadro motivador, hoje quase não se verifica a permanência de quadros cabo-verdianos no exterior, salvo em raríssimas exceções, quando muito bem sucedidos, com uma carreira promissora e empregos com vínculo permanente.  

 

 

Guiné-Bissau:

 

No nosso caso particular, portanto, a Guiné-Bissau, o silêncio do governo, outrora um grande incentivador ao regresso dos quadros, promoveu uma estagnação no que concerne aos reais anseios dos quadros guineenses na diáspora manifestarem o desejo de regressar ao país, além de, outro fator desesperador; a falta de novos mercados de trabalho. Esse muro, por enquanto, está difícil de transpor. Não há sinais claros de que as portas do emprego estão abertas e os que lá estão, portanto, os quadros que retornaram ao país estão muito desanimados; alguns estão sem emprego e por isso sentem-se totalmente subaproveitados, razão por que não encorajam os que estão fora a regressar. Enquanto reina esse clima de impasse e se aguardam novos projetos do governo para criação de novos postos de trabalho, cada quadro no exterior vai se segurando conforme pode. É preciso levar em consideração que, um país quando recorre a outro pedindo ajuda para formar os seus cidadãos, tem que ter metas e objetivos bem definidos, assim como, a total responsabilidade em criar todos os mecanismos que permitam uma boa formação desses cidadãos e, de tal forma, incentivar o regresso dos mesmos através da idealização de novos projetos e criação de novos postos de trabalho. Isso seria entendido pelos colaboradores como o mapeamento das ações visando a concretização dos objetivos, que repercutem na valorização dos recursos humanos que são essenciais ao desenvolvimento do país. É bom lembrar também que, os quadros guineenses distinguiam-se durante o período pós-independência, mais concretamente, entre 1976 a 1989 numa jóia-rara e orgulho da nação! Todos eram bem vindos e havia estímulo para que cada um pensasse em regressar, porque as notícias que chegavam do país sobre enquadramento de profissionais eram muito encorajadoras. Os estudantes de Cuba, Rússia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, RDA, Polônia, Jugoslávia, China, Brasil, Portugal, Estados Unidos e França, que regressaram após a formação nesse período, podem comprovar essa informação. Os vários sectores de atividade demandavam profissionais porque o país dispunha sempre de novos projetos e os novos mercados de trabalho eram criados periodicamente. Nesse andar da carruagem, a revelação de profissionais e de profissionalismo marcava passos largos com o desenvolvimento em alguns setores produtivos, de um número reduzido de empresas estatais do país. Na agricultura, por exemplo, vários projetos foram destacados e a evolução dos trabalhos nos campos era percebida em função dos resultados apresentados por agrônomos e técnicos agrícolas, ao longo do largo espaço do território nacional. Lembremo-nos que, o enquadramento dos profissionais logo depois da independência, sempre foi objetivo, progressivo em função das iniciativas do próprio governo reforçadas com as ajudas externas. Isso gerava motivação no desempenho do profissional alocado na sua área de atuação, o que sobejamente deixava o nosso povo cheio de orgulho. Orgulho esse que pode ser enfatizado com o brioso trabalho na medicina da Guiné-Bissau, por vários serviços prestados ao Hospital Simão Mendes, pelo nosso querido e saudoso, Dr. Kocana1 – Homem íntegro, profissional competente, polêmico, porém, no uso de suas atribuições, soube manejar os instrumentos cirúrgicos, que deixaram marcas registradas na memória de seus pacientes guineenses. Estes nunca o esquecerão pelos bons serviços prestados à nação, e que sem dúvida, constituíram motivos para projeção do seu nome até no país vizinho, Senegal.

 

Kocana1 – não sei se o nome dele se escreve: (Kocana ou Cocana). Pelo que agradeço a sua colaboração na correção, para posteriores artigos, caso esteja errado o nome.

 

Um abraço a todos!

 

Samuel Vieira

 

 * Analista de Sistemas

 

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