Que Cadogo a Sociedade Espera: Original ou Genérico?

(Ponto de Vista)

 

Não se pode construir nada novo e bom com materiais velhos ou defeituosos.

“M. Gorbatchev”

 

 

 

Por: Rui Jorge  da Conceição Gomes Semedo *

 

rjogos18@yahoo.com.br

Rui Jorge Semedo

20.10.2008

 

 

Tanto na disputa política como em qualquer outro jogo, há sempre um favorito. E o favoritismo é, geralmente, dado em razão da estrutura organizativa e força demonstrada por cada competidor. Estes elementos levam os observadores a indicar o provável vencedor do jogo. Muito embora, esta acção não seja uma regra fixa. No cenário actual de corrida ao controlo do Governo para os próximos quatro anos, e, mesmo na ausência de dados que comprovem o tal favoritismo, pela manifestação dos eleitorados por todo o país, deduz-se que o PAIGC pode ser o virtual vencedor desta legislativa. Se na realidade isso vier a acontecer, o candidato Carlos Gomes Júnior (Cadogo Júnior), terá a responsabilidade como primeiro-ministro, de administrar e garantir o bem-estar social dos cidadãos guineenses. Mas, conforme referimos, por ser um jogo, é sempre complicado adiantar o marcador, por isso, esperar pela confirmação no final do encontro é a atitude mais sensata.

Na impossibilidade de adiantar o marcador, uma coisa podemos apontar como óbvia; para quem ainda se lembra ou teve oportunidade de acompanhar os discursos dos militantes do PAIGC nas campanhas anteriores, pode perceber-se nesta pré-campanha um pequeno detalhe na retórica dos seus militantes: a audácia em afirmar que ganharão o escrutínio de 16 de Novembro com maioria absoluta. E a grande força para esta afirmação está na imagem e aceitação do seu líder junto do eleitorado. Porém, entre os adversários, é perceptível que alguns estão a trabalhar apenas para evitar o domínio do PAIGC no parlamento, enquanto outros, apenas para garantir a representatividade. A nosso ver, a maioria absoluta é um elemento ambíguo que pode ter os seus custos e benefícios: por um lado, está a imaturidade dos nossos políticos em lidar com o poder, o que muita das vezes lhes dá uma aparência de Super-Homem. E, em vez de usar racionalmente o poder de que gozam, transformam as suas forças num instrumento para inibir manifestações e posições contrárias e acabam por deixar de cumprir o objectivo pelo qual foram eleitos. Por outro lado, a maioria absoluta pode significar uma garantia de sustentação para a aprovação dos Programas do Governo no parlamento. Tendo em consideração que um dos entraves da acção governativa e, sobretudo, das frequentes quedas de Governos, está na relação clientelística existente entre o Executivo e o Legislativo. Nesse sentido, e pela própria experiência do que tem sido o nosso parlamento nas duas últimas legislaturas, qualquer que seja o partido que venha a vencer com maioria absoluta, pode ser uma oportunidade consensual de estabilizar a funcionalidade do Parlamento e do Governo.

 Entretanto, o que talvez será determinante caso o PAIGC venha a ganhar a eleição, seja com maioria absoluta como almeja ou não, é a sua capacidade governativa. O que está em causa é o cumprimento do Programa Maior. Ou seja, o desenvolvimento do país e a criação de condições necessárias a uma cidadania decente que dinamize os sectores sociais, políticos e económicos. Contudo, é bom ressaltar que governar seja em que condição for, não é uma tarefa fácil, mas a qualidade de qualquer organização é reconhecida pela sua capacidade de transformar; de tornar o impossível no possível, a escassez em abundância, a pobreza no bem-estar social etc. Para essa responsabilidade, a sociedade guineense quer apostar e responsabilizar o Candidato Cadogo Júnior. Um dos motivos para a maioria da população, parece-nos estar nas indicações que este já demonstrou durante a sua passagem pelo Executivo, onde procurou organizar o serviço público, administrar a corrupção mediante alguns mecanismos burocráticos e projectar o desenvolvimento.

Vamos voltar novamente à nossa comparação; no futebol, é natural o craque sofrer uma marcação especial e cerrada de forma a impedi-lo de fazer jogadas perigosas. Igualmente na política, e, particularmente nos países onde o nível de corrupção é excessivamente elevado como na Guiné-Bissau, os administradores com preocupação de gerir responsavelmente a coisa-pública são sempre barrados pelos interesses dos corruptos que vivem da política como dizia Max Weber. Após a eleição de 2004 as acções de Cadogo surpreenderam os guineenses, não só pela sua determinação em controlar a coisa-pública, mas pelo comprometimento em criar uma justiça social e permitir que os servidores públicos tivessem poder de compra. Muito embora tenhamos que reconhecer o bom resultado alcançado como um trabalho de grupo, no qual ele teve a visão de seleccionar pessoas comprometidas com o propósito de fazer o país caminhar. Até aqui não temos dúvida! A nossa dúvida vai começar agora: se o PAIGC conseguir ganhar a eleição qual será a postura de Cadogo Júnior? Será que teremos um governo pior, igual ou melhor do que aquele que o povo já conhece? Sobre essas questões teremos a resposta a partir de 2009 com início dos trabalhos do novo Executivo.

Parece-nos que no momento poucos cidadãos estão a observar situações possíveis que provavelmente teremos após a eleição. Pela forma como as coisas estão sendo costuradas, tudo indica que, se o PAIGC vencer a eleição, a situação que o seu primeiro-ministro terá pela frente será mais complexa do que na gestão passada. Por que afirmamos isso? Por razões que vamos convidar os cidadãos a observarem: internamente, o PAIGC após o seu VII Congresso vive numa profunda e tácita crise que mais cedo ou mais tarde, pelo próprio vício que as pessoas têm, pode interferir nas acções governativas. Todavia, esse ponto pode não ser preocupante se o partido e o seu líder souberem gerir as contradições, que na verdade são naturais e próprias das instituições. E o papel do líder é sempre muito importante no controlo sobre as áreas da incerteza – que são factores que podem criar desequilíbrios à organização. Por isso, se considera que o papel do líder deve ser igual a de um verdadeiro no. 10 de futebol. Quem é o verdadeiro no. 10? É aquele jogador que antes de a bola chegar aos seus pés já sabe que jogada fazer, e, toda a bola que sai dos seus pés é golo ou meio golo. Ou seja, ele é quem garante um bom espectáculo; o outro, que a nosso ver pode ser preocupante é a suposta aliança entre Cadogo Júnior e Nino Vieira. Como será o fim dessa estória? Não precisamos de oráculo para observar incertezas e tragédias, mas por uma questão de aguardar pela confirmação da verdade, preferimos esperar para ver. É bom que fique claro, que a aliança é própria da política, é um dos mecanismos que um político deve usar para perseguir seus propósitos, no entanto, é bom saber como fazê-la e com quem fazê-la.

Neste momento, na boca dos guineenses, escuta-se que o coração partidário do presidente, General Nino Vieira, está divido entre o PRID (Noiba) e o PAIGC (Dona Kaça), aliás, é um mistério que pessoas próximas a ele fingem não desvendar. Caso concreto do Major Baciro Dabó, que disse ter sido amarrado e humilhado por causa do “Boss” e espera que este não o abandone no PAIGC. Seja como for, é notável que o Cadogo Júnior neste momento é a fiança do povo guineense, mas está rodeado por explosivos. Se ele não conseguir articular-se correctamente o risco dele se explodir é iminente. E a força de qualquer líder está naquilo que chamamos de “Gabinete”, ou seja, de bons conselheiros para fazer face aos empecilhos e implementar obras. E o limiar para medirmos o grau de autoridade de Cadogo Júnior perante a situação que se desenha, caso o PAIGC vença a eleição, será na formação do Executivo. Resumindo: quem vai influenciar quem, para indicar quem?

 

 

*Mestrando em Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil


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