QUANDO O PASSADO SE ESQUECE

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, declarou na semana passada, em Rabat, o respeito do seu país à "integridade territorial" de Marrocos, fazendo alusão à situação no Sara Ocidental. Esta atitude de Aristides Gomes (ou do Estado guineense) não é única (nem original) em África.

Os Estados africanos são, com frequência, obrigados a adular países terceiros. Fazem-no com objectivos estratégicos (dinheiro!). O exemplo mais flagrante desta $estratégia$ acontece com a China e Taiwan. Poderiam citar-se vários países que mantém relações diplomáticas com um ou outro Estado, consoante os seus $interesses$. Aliás, a Guiné-Bissau é um bom exemplo de país que ora está com a China, ora está com Taiwan (os dois edifícios-sede da Assembleia da República foram construídos por cada um destes países). Por outras palavras, Estados frágeis e dependentes de ajudas externas engraxam as botas a quem estiver mais disposto a oferecer dólares. Em troca declara-se o apoio à causa independentista ou, ao invés, manifesta-se o apoio à união e à indivisibilidade do Estado.

Não fica bem a países que também já viveram subjugados a interesses externos esquecer o seu passado e declararem-se contra aqueles que reclamam um direito legítimo: a independência. A Guiné-Bissau teve na Frente Polisário um aliado quando reclamava a independência relativamente ao Estado português. Aliás, El Aayún chegou a ter em Bissau, nos primeiros anos da independência, um representante diplomático. O passado foi esquecido? Ou será que só o dinheiro interessa?

 

Jorge Neto

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