Guiné-Bissau: Ponto de situação

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

03.07.2005

 

População bijagó de Canhabaque

 

O futuro da Guiné-Bissau, numa lógica positiva, depende da capacidade de envolvimento, de afirmação e de intervenção da sua sociedade civil num programa estratégico de gestão de recursos humanos, onde a definição e a aplicação dos princípios de cidadania são os alicerces, ou seja, as bases de uma política comum a todos os guineenses, para uma caminhada equitativa, participativa e responsável, tendo em vista os pressupostos do desenvolvimento na sua concepção global.

Numa análise da situação actual do país e tendo em conta os efeitos já causados (e a causar) pelo processo das eleições presidenciais em curso, continuo a afirmar que: "A manipulação é o maior obstáculo à mudança de mentalidades na Guiné-Bissau, sendo por isso, um entrave ao desenvolvimento do próprio país."  

A Guiné-Bissau, pátria de Cabral e de todos os guineenses, deve ser também uma escola para todos nós. Infelizmente, não temos sido bons alunos, não temos sabido aprender com os nossos próprios erros. 

O país perdeu a mística, não há referências de liderança que façam a diferença pela positiva, enraizou-se a velha máxima do "salve-se quem puder" e, o trilho a seguir é o da sobrevivência hipotecando a própria dignidade humana.

O país carece de políticos sérios e competentes, continuando a ser "movimentado" por oportunistas e ditadores que se fazem passar por políticos. Mas, porque é tão difícil unir os guineenses num esforço algo simples e vantajoso  representado por 2 orientações que considero básicas para o implemento do conceito de cidadania, a saber:

1- O primeiro compromisso de todos os guineenses deve ser para com o país.

2- O maior desafio para todos os guineenses é criar mecanismos de mudança para a Guiné-Bissau.

Simples, porquanto serem orientações pessoais que ajudam inclusivamente na definição de princípios de cada um de nós.

Vantajoso, porquanto ter um alcance/efeito multiplicador que teria resultados positivos para o país. 

A dificuldade maior na união dos guineenses para as suas causas comuns, reside essencialmente na assimilação e interpretação incorrecta dos princípios que devem caracterizar o relacionamento entre o cidadão e o seu país. Persiste a tese de " Servir-se do país em vez de se servir o país ".

A actual conjuntura do país está a criar um novo retrato comportamental dos guineenses.

Um retrato que nos caracteriza da seguinte forma:

 Somos um povo imprevisível, influenciável quanto baste, manifestamente teimoso e com um sentido de humor que se azeda facilmente quando confrontados com a verdade.

Continuamos a cultivar a ignorância em detrimento do conhecimento.

Deixamos de ser iguais a nós próprios. Estamos a perder a nossa dignidade e a nossa identidade de guineenses.

Estamos a desagregar o país! Paremos para pensar.

Que fazer? Como fazer? 

É urgente e imprescindível apostar na formação, na educação, na informação e sensibilização do povo guineense!

Esta tarefa será melhor orientada se, dirigida por sectores da sociedade civil em conjunto com organismos não governamentais, quer nacionais quer estrangeiros, com base num plano estratégico de longa duração e com metas pré-estabelecidas. 

Não podemos continuar a falar em democracia quando mais de 60% do nosso povo não sabe ler nem escrever.

Não podemos continuar a seguir imposições de realização de eleições quando o nosso povo não sabe porque votar, para que votar e em quem votar, porquanto, uma vez mais, não estar sensibilizado, não ter ideia própria do sentido de voto e ser apenas um mero participante nas jogadas de colocação de certos indivíduos na estrutura do poder, a troco de presentes ou contrapartidas de vária ordem e que na Guiné-Bissau se chama eleições.

O povo guineense não pode continuar a ter medo até da sua própria sombra.

Mas será que somos realmente um povo livre?

A luta pela verdade, pela transparência, pelos direitos que nos assistem, pela liberdade de podermos exprimir, debater os nossos pontos de vista e participar no processo de construção do país, é tarefa de todos nós.

Temos que continuar a pensar o país.

www.didinho.org