Pedra no Sapato

 

 

 

Por: Francelino Alfa

 

 

19.05.2007

 

As armas estão apontadas: Cadogo Júnior, Bacai Sanhá e Baciro Dja. Este último candidato de apenas 34 anos, quer ser líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no próximo congresso a realizar nos finais deste mês em Gabú no leste do país. Desde logo, um aplauso a este jovem pela coragem manifestada em ser candidato à liderança da maior força política da Guiné. Sinais dos tempos?! Os partidos não podem ser monolíticos nem estanques. Na verdade, muitos guineenses viriam com bons olhos um candidato de futuro, um candidato da ruptura mas com bom senso e boa consciência. O nosso sistema político precisa de novos protagonistas, protagonistas novos e de políticas novas, positivas e diferentes…de mudança. Dá pena…e a mudança está na cabeça das pessoas e a nossa mentalidade infelizmente ou felizmente …é o que é!

Muitos já fizeram ou fazem estas e outras perguntas: qual foi o percurso político e profissional deste jovem candidato? É conhecido dentro e fora do partido? Tem prestígio? É um candidato credível? Tem carisma, estofo e tarimba para liderar um partido tão enigmático e problemático? É a vez da nova geração? O centralismo democrático será tolerante com o rejuvenescimento e mudança de paradigma? Os barões “aceitarão” esta candidatura? Os novos desafios que o próprio partido enfrenta e os problemas que o país enferma não exigem uma liderança forte? Etc., etc. Como se pode ver, questões várias e respostas não faltarão.

 

Dizia o candidato mais novo, o próprio Cabral, fundou o PAIGC quando tinha apenas 32 anos de idade. É verdade, e dir-me-ão, estamos a falar de Amílcar Cabral e de outros tempos. Atenção, não estou a fazer nenhum juízo porque não o conheço. É bom sublinhar que, a história está cheia de exemplos de candidatos desconhecidos à liderança de partidos – e que ganharam-na –, e depois, tornaram-se ilustres governantes e homens de Estado. Um exemplo próximo de nós, é o actual Presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva.

 

Sendo certo que, neste momento, já não há lugar para romantismos nem ilusões, só um bajojo ou um ingénuo pode acreditar que é chegado o momento da nova geração protagonizar a mudança positiva que o país exige, visto que, o sistema ou os vários sistemas estão de tal maneira concebidos, montados e orientados que é muito difícil acreditar na mudança de paradigma. Quando foi que ouvimos discursos de retórica da velha guarda virada para o futuro, para o desenvolvimento? Pese embora o grito de um país (constituído maioritariamente por jovens), secundado pelo coro da maioria na diáspora, a apelarem uma mudança radical, quando é chegada a hora h… como uma âncora procurando o fundo da verdade, os sonhos e as esperanças esfumam-se.

 

Não sendo vidente, não sei o que vai acontecer no congresso do maior partido da Guiné-Bissau como é óbvio. Só sei que dos três candidatos anunciados, apenas um sairá vencedor. Com todo respeito aos outros dois candidatos, quero apenas cingir-me no cenário pós congresso com Cadogo Júnior, líder do partido (ignorando as dificuldades enormes que o mesmo irá confrontar-se). Recorde-se por um lado, que esta análise é tomada não como advogado de defesa da pessoa em causa, mas levada simplesmente no campo de hipóteses, isto é, de mera análise política, portanto. Por outro lado, motivado pelo reconhecimento do bom trabalho que foi feito em pouco tempo pelo seu magistério.

 

Posicionar-se do lado do futuro é posicionar-se do lado da liderança que devolva a fé aos guineenses, que os restitua a auto-estima; que combata a pobreza e eleve o nosso nível de vida; posicionar-se do lado da liderança que resgate os valores democráticos da liberdade, do trabalho e da seriedade; da exigência e da responsabilidade; da ordem e da disciplina; da transparência e do rigor; da autoridade e da verdade. É isto que os guineenses esperam e desejam dos seus dirigentes. Estamos fartos de politiquices e discursos de circunstância dos nossos políticos! Estamos desiludidos e cansados de tanta mentira e incompetência. E não há pior negócio do que o espectáculo do negócio! Mentem-nos sistematicamente, enchem o saco, vivem como lordes, condenando-nos à miséria. O país precisa de um abanão, de muito trabalho e de uma revolução de consciências.

 

Assistimos ao pacto de estabilidade política e governativa que sustenta este governo até às próximas eleições legislativas do próximo ano. Aqui também ignoro todos os outros cenários. Ora, por inerência do cargo como Presidente do partido, Cadogo Júnior é o candidato natural do PAIGC às próximas eleições legislativas. Um potencial vencedor das mesmas – outro cenário, mas em análise, Cadogo Júnior como Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau.

 

Eis aqui algumas questões que se colocam:

 

De 2000 para cá, em sete anos portanto, tivemos sete Primeiros-ministros. Cada ano, um Primeiro-Ministro! Extraordinário! Mais um partido político, mais outro partido político! Já vão quantos? O país tem 33 forças políticas legalizadas num universo de 650 mil potenciais eleitores. Batemos todos os recordes. Parece que os dirigentes perderam o juízo. Se querem concorrer ao guiness book poupem-nos, por favor! Atrever-me-ia a dizer que, muitos compatriotas nossos gostariam que as organizações internacionais deixassem de dar notícias sobre a nossa terra, porque, em matéria de más notícias somos auto-suficientes. Pura das verdades. Uma realidade exposta a mudanças negativas constantes. Nenhum país aguenta isto. Resultado: pobreza e injustiças. Nesta situação não há bola de cristal. Há é trabalho.

 

De acordo com estatísticas recentes, o rendimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) por guineense é de 680 dólares (533 euros) por ano, isto é, aquilo que cada guineense consegue produzir por ano, e coloca o país nos últimos lugares da lista! É manifestamente pouco, muito pouco, e não abona em favor do país nem para o seu desenvolvimento nem para conquistar respeito e credibilidade internacionais. De facto, esta situação mina a nossa auto-estima e amputa o nosso orgulho como guineenses. Por isso, não nos devemos resignar – o país está falido tecnicamente, sim, mas há que lutar e resistir sempre contra o harém que alguns nos querem impingir! Diga não!

 

Passamos muitas dificuldades, muitas misérias, mas podemos vencer. Já o demonstramos. Fizemos uma luta de libertação brilhante. Corremos com os invasores do conflito político-militar interno de 7 de Junho de 98; recentemente organizamos na perfeição a VI Cimeira da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), além de outros eventos. Não podemos pensar no atraso como uma fatalidade. Sempre que trabalhamos, sempre que nos empenhamos, vencemos. Temos de combater sem tréguas a corrupção, a facilidade, intrigas … e instituir uma verdadeira reconciliação nacional. Precisamos de uma liderança forte que trabalhe; que valorize o mérito em detrimento da mediocridade, da preguiça e da subserviência; que fale na aposta da Educação para combater o atraso; que nos anime, nos acarinhe e nos encoraja, pois, precisamos de mais confiança, energia e entusiasmo. Não podemos voltar aos tempos de vendedores de sonhos! Não deixemos que o Estado de esperança se transforme em propriedade privada de um grupo de amigos, sendo a sua gestão entregue aos sócios que só a corte conhece, preocupando-se exclusivamente com a maximização dos (seus) lucros. Diga não aos meliantes dos quatro costados!

 

Não podemos pensar que há coisas que não nos dizem respeito. Todas as causas sociais nos tocam. É certo, uns mais directamente que outros. Desejamos um desenvolvimento na verdadeira acepção da palavra, senão, as gerações vindouras não nos perdoarão esta nossa parvoleza de hoje!

 

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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