OS CONVENCIDOS E OS CONVICTOS

 

 

Gustavo Gomes

gustavo.gomes69@gmail.com

29.10.2010

 Gustavo GomesConta-se que, num País governado por déspotas sanguinários, diariamente, um velhinho ia  para a Praça Central, subia  num  banquinho e  discursava contra  os tiranos corruptos  que  enriqueciam  despudoradamente enquanto a plebe estava cada dia  mais  pobre.  

Em  voz alta argumentava sobre a Igualdade que deveria vir da Lei, a  Liberdade sem o jugo explorador, a Fraternidade que devia   aflorar  de  mentes e  corações,  a  Verdade  que  deveria  ser buscada, o Respeito e Justiça para todos.

Não  se  importava  que  dia  após dia,  ninguém  parasse  para  ouvi-lo.

Só muitos e  muitos  meses  passados  é  que  um único cidadão parou para ouvi-lo e depois disse-lhe:

- Meu caro, perdes o teu tempo, porque não irás conseguir convencer os governantes a deixarem de ser ditadores impunes e nem convencer o povo a não aceitar passivamente o sofrimento e o medo como desígnio da vida.

Ao que o velhinho respondeu:

- Mas se eu não continuar a manifestar-me diariamente nesta praça, significaria  que  eles é que teriam  me  convencido de que só nos resta sofrer e silenciar debaixo das injustiças dos algozes tiranos. E disso não me convencem. Da vivência e andança por outras terras tenho firmes e claras convicções de que, se não mudarmos já este atual estado, estaremos a negar um legado de valores de respeito, dignidade e justiça  para nossos filhos, netos e bisnetos.

Quero que ao menos fiquem a saber que nem todos se curvaram.

Diz-se que esse cidadão tornou-se seu aliado e, a cada dia trazia mais gente para ouvir as sábias palavras do experiente homem. Anos se passaram e, mesmo após  a  morte do velhinho, as  pessoas continuavam a aglomerar-se  naquela  praça  a  discutir  atitudes de encorajamento para a necessidade de mudança.

Mudança que não tardou porque os governantes fugiram quando perceberam como crescia a unida multidão de gente firme e decidida a mudar.

Uma simplória história de final feliz, mas, seus meandros talvez ajudem a compreender a atual situação bissau guineense, onde temos um grupo orquestrado no interesse próprio, convencidos de que estão acima da Lei, que se digladiam, fazem intrigas, eliminam fisicamente parceiros ou quem lhes queira fazer frente. Mas, quando as circunstâncias exigem, conseguem armar uma farsa de união e de funcionamento democrático das Instituições. Tudo para manterem o Poder e o controle sobre as movimentações da economia e do andamento da Justiça.

Crise vai, crise vem, geram-se discussões (algumas acirradas) e aí vira-se o disco e toca-se o mesmo e os músicos só mudam de instrumento.

Senão, digam-me um só nome da atual politica guineense, que seja novo. Manecas? Cadogo? N´Toni? Amine? Bubo? Malam? Kumba? etc. Já repararam que são sempre os mesmos nomes e os mesmos partidos? Admira-me que tenha gente a não reconhecer que são todos farinha do mesmo saco. Espanta-me ver “artigos” de fundo pseudo-jornalísticos a defenderem estas personalidades ou suas estratégias.

Mas será que não há guineenses indignados e a a oporem-se a este descalabro que garante o benefício de alguns poucos, enquanto toda uma Nação é condenada a uma vida sem perspectivas de progresso e paz?

Sim. Há respeitáveis guineenses, íntegros, de elevado intelecto, de esmerada probidade moral e que orgulhosamente amam a Pátria, acreditam nas nossas potencialidades humanas e nas riquezas naturais do território, as quais, se conveniente e honestamente administradas podem gerar bem estar para todos, sem nos dobrarmos ao jugo de traficantes internacionais ou neocolonialistas que vilipendiam bens e nossa auto estima, subjugam, corrompem, aliciam e cooptam muitos com o vil metal.

Infelizmente, dos oponentes ao estado de coisas da Guiné-Bissau, poucos dedicam-se a apresentar, discutir, sobre relevantes trabalhos, ideias, críticas e sugestões em prol da nossa democracia participativa.

Na maior parte das vezes não conseguimos unir esforços e capacidades individuais para articular uma agenda onde estratégias e projectos de ação politica sejam o foco.

Em quantidade mesmo, discute-se  que “uns” são mais que os “outros” e então surgem os protagonismos, as questiúnculas pessoais, os ataques, as ofensas com uso de jargões impublicáveis,  como se essa violência fosse menor do que aquela que criticamos quando vinda do PAIGC da intolerância.

Lamentavelmente a oposição não tem “convicção” de que o inimigo a combater não é fulano, sicrano ou beltrano mas um regime de ditadura militar neocolonialista e impune, mal disfarçado de democracia pluralista.

Quão bom será o dia em que os honestos letrados e experientes homens do nosso chão de onde quer que estejam, usem virulência e indignação não para se digladiarem entre si, mas visando derrocar os podres imorais e ignorantes poderosos que se refastelam no Poder constituído de nosso País.

Enquanto isso não ocorre, é natural que os cadogos, n´tonis, tchutos, camarás e tantos outros frágeis de intelecto e de moral, continuem impávidos e serenos a usufruírem e, malandramente a rirem-se por dentro, de opositores que nem fazem cócegas.

Opositores? Que opositores?

Nha mantenhas.


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