O Patriota

 

Kumba Yalá

 

 

 

Por: Francelino Alfa

 

03.12.2006

 

Uns dizem mediocridade intelectual, activistas políticos virtuais, outros dizem, pseudo-intelectuais.

Todos aqueles que, porque insistem em pensar, nos ajudam a pensar também, e fazem de nós “pseudo-intelectuais”; “… na política, como em tudo o resto”. M. S. Tavares

 

 

 

Depois de ter lido alguns artigos de opinião acerca do regresso do Dr. kumba Yalá à política activa na nossa terra, eis que trago este assunto para este cantinho de intervenção, de cidadania. Hoje, esta coisa de “kumbistas” e “ninistas” não passa de meras designações sociais que nada têm a ver com necessidades e questões de fundo do nosso povo e, por aqui me fico acerca desta controversa matéria.  

 

Sabemos que na política as coisas não acontecem por acaso. Kumba Yalá, o homem do povo está de regresso! O mais patriota de todos os guineenses! Bem pensado até que bate certo, se atendermos as bacoradas que fez durante a sua “monarquia institucional” com aquele seu ar e sorriso trocista que gosta de cultivar. O “showbiz” já começou! O entretenimento que a comunidade internacional adora ver e que corrói o espírito de muitos guineenses! 

 

O “animal” político está de volta! Um político carismático para consumo doméstico, sem dúvida, confirmado pelo congresso do seu partido realizado recentemente em que ganhou-o claramente. Os politólogos dizem que o poder não se cede; o poder conquista-se; ele de facto, chegou a ser poder absoluto; espera e deseja ser novamente, Presidente da República da Guiné – Bissau! Nem mais! Viva o Dr.! O mote já está lançado ao arrepio de todos!

 

Com um discurso fácil e populista: “a Guiné é um Estado submetido à ditadura democrática, conduzida pela classe dirigente de vendilhões”; “uma democracia mutilada pois, tudo foi falseado”. Isto promete! Será o “remake” para uma nova configuração política?

 

Toda a gente sabe que o país está pobre e com imensos analfabetos e com instituições políticas fracas. Kumba Yala fez denúncias graves, sempre ao seu estilo errático e folclórico a que já nos habituou, contudo é necessário elevar o debate político e  o assumir de responsabilidades. O Sr. Yalá terá de se explicar.

 

Constitui um direito e uma obrigação perante os cidadãos eleitores, pedir explicações sobre o que se passou nas últimas eleições presidenciais de 2005 e dar conta das práticas do Presidente e seus aliados. Desta forma, Yalá estaria a contribuir para a verdade e para que muita coisa mude para melhor no futuro e para que os cidadãos fizessem a sua análise e juízo?

 

Nem sempre os fins justificam os meios. Mas se quisermos ser objectivos, na Guiné de hoje, estes dois senhores não geram um sentimento de confiança para a maioria dos guineenses.

 

Se não acontecer a saída em cena do rei, tudo aponta para que o povo possa vir a assistir a uma reedição do “carnaval democrático”; do “second round”; Bissau arena preparar-se-ia para acolher o combate mais esperado entre dois “heróis” mais consagrados da nossa História contemporânea! Está tudo a postos! Aleluia! Olho por olho, dente por dente! Os guineenses estariam interessados na reedição deste combate político?

 

Os homens do rei fariam o tirocínio para os lugares, do mesmo modo que do lado do “boxer”, e os da oposição, se preparariam para os seus sonhos supremos. Assistiríamos novamente a uma vaga de criaturas que se “atropelariam” e se “destruiriam” onde a baixa política tomaria conta das mentes sãs. E seria a saga do “lixo político” onde todos teriam um nome: tristeza.

 

Ora, a realidade diz-nos que pouca coisa funciona no país … nem a produção (uma ninharia!) atingem quantidade e qualidade suficientes para nos darem qualidade de vida. Um país sui generis, com muitos fedever, isto, todos nós já sabíamos também mas, perante a Guiné de hoje, me parece importante colocar meia dúzia de questões:

 

1 – Os ocidentais dizem que em África (subsahariana), o tempo é monocromático todavia, faltam apenas dois anos e meio para novas eleições legislativas – claro está, se os interesses pessoais não se sobreporem ao interesse nacional – e não tardará nada. Será que perante este facto indesmentível, ainda que em presença de ambições (des) conhecidas, o povo deixar-se-ia ser levado a pedir eleições antecipadas?

 

2 – Yalá, pela frequência e profundidade com que distorce os factos, não revela um indivíduo que politicamente não merece crédito e não é de palavra? Esta forma de estar e fazer política não poderia constituir – se novamente uma autêntica bomba relógio?

 

3 – Todos nós sabemos que as coisas não vão bem, mas quem estaria interessado que o país voltasse à deriva com retrocesso garantido? Kumba teria novamente espaço para a sua política; um porto livre onde todos os desmandos seriam permitidos e consentidos; com perda clara de credibilidade para o país que seriam provocadas pelos sucessivos escândalos, onde qualquer Musungu M´sé poderia ser governante (tudu djakacumbé misti/pudi sedu governu); com disparates e polémicas venenosas entre políticos, entre dirigentes; … com patifarias e macacadas; o acarinhar de divisões no mosaico étnico – cultural do país, etc., etc.

 

Penso que muitos estarão de acordo que a realização da mesa redonda foi importante para o país e chegou em boa hora. É verdade que por vezes discordamos e muitas vezes sem razão, pois escapam-nos dados relevantes de conhecimento que, os que estão na Guiné têm sobre o terreno porque estão lá; (…) sobre o estado anímico dos políticos e da população em geral, etc.

 

Não é menos verdade e ao contrário do que alguns pensam, de fora vê-se muito bem o jogo político e não é raro ouvir opiniões fundamentadas e inteligentes, o verificar que há um largo consenso de opiniões, que deriva daquilo que é fácil de ver, a olho nu, sem necessidade de patoá e outros estribilhos.

 

4 – Em presença deste dado relevante, com benefícios evidentes – não vão os fundos parar aos bolsos dos poderes instituídos, de facto aqui não há garantia – porém, aceitaríamos que se desbaratasse tudo, e que o país voltasse a viver no fio da navalha?

 

5 – Recorde-se que Dr. Yalá foi também um Presidente fracassado por razões sobejamente conhecidas por todos e, dá a ideia a avaliar pelo seu desabafo que ele não percebeu as razões do seu fracasso. Depois de “kumbismo”, será que, hoje, a forma e a dinâmica da política não se alteraram?

 

6 – Continuaríamos impávidos e serenos perante políticos governantes que agiriam como tiranos e muitas vezes não lhes assistiriam princípios básicos de sensatez e de educação e cairiam sistematicamente no ridículo da irracionalidade com interesses tantas vezes sonegados, substituindo-se a tudo e todos, fundamentando unicamente no que para eles seria correcto sem qualquer atenção a determinados pressupostos que segundo a lei ainda que nunca o quereriam, deveriam obedecer e respeitar?

 

Problemas são muitos e desafios grandes para o nosso país. A previsão é arriscada, especialmente acerca do futuro mas vamos olhar para a realidade com olhos de ver e meditar, visto que, o assunto é demasiado sério e complicado! Nós guineenses, queremos esperança!

 

Dizem que cada um merece o que tem. Assim como há pessoas, há países que cumprem um destino lamentoso: “sempre a chorar, sempre a carpir, sempre a culpar os outros”; “pois, é chegado o momento de nos perguntarmos se, de facto, cada um de nós quererá continuar a ser um chorão, um lamentoso, um indiferente (nha boca ka ´sta lá), um carpideiro”, então, teremos no próximo pleito eleitoral uma grande oportunidade para não escolher nem “kumbismo” nem “ninismo”!

 

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VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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