O (IM) PACTO DO SILÊNCIO

Líderes religiosos da Guiné-bissau

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

30.10.2006

 

Quanto mais se utilizar o silêncio como arma de conspiração, seja de forma consciente, quiçá, por conveniência; seja por indiferença, subentende-se: estar-se nas tintas, maior será o sofrimento do nosso povo na sua luta a todo o momento, minuto a minuto, pela sua sobrevivência.

Como costumo dizer, a vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver.

Dizem-me alguns que, no interesse do país, deve-se dar tréguas, dar tempo aos que (des) governam, para que a imagem da Guiné-Bissau não saia prejudicada em relação à necessidade vital das ajudas externas.

Dizem-me alguns, que continuo a teimar em retratar a Guiné-Bissau da forma que o tenho feito, quando o silêncio das grandes instituições sociais, incluindo as religiosas, dão mostras de haver paz social, o que faz crer que o país vive na maior estabilidade de sempre e, a todos os níveis.

Realmente estes argumentos fazem sentido no intuito de servirem de aproveitamento político para a sustentabilidade da (des) governação de que o país tem sido vítima.

Realmente é estranho o facto de tanto silêncio na Guiné-Bissau, quando milagres não existem e a miséria tem perseguido o nosso povo por todos os cantos onde as populações fogem de actos de condenação que a ganância de homens do diabo tem provocado.

Estranha-me o silêncio de instituições como as igrejas, sejam elas muçulmana ou católica, para citar as duas mais importantes na Guiné-Bissau.

Com efeito, sem se exigir que as igrejas se envolvam na política, não podemos deixar de alinhar as igrejas como comunidades de fiéis constituídas por seres humanos, cidadãos com deveres e direitos, homens e mulheres que, independentemente da fé espiritual, vivem da realidade do dia-a-dia do país.

Havendo passividade resumida num silêncio conspirativo por parte das igrejas, que ao não denunciarem a fome, os abusos, as injustiças, as perseguições de seres humanos, muitos deles fiéis dessas comunidades religiosas, estarão a agir no incumprimento para com uma das suas principais funções que é: Ajudar o Homem a libertar-se do pecado.

Para mim, denunciar é positivo no sentido de ajudar a inverter positivamente situações reais conhecidas por todos, ao invés do silêncio conspirador e fomentador da continuidade de práticas negativas que continuam a prejudicar os nossos irmãos.

O Homem, normalmente, só reconhece o erro ou o pecado, se alguém o fizer ver que errou ou que cometeu pecado. Esta é uma das tarefas que deveria caber igualmente às igrejas na Guiné-Bissau, visto serem instituições respeitadas e com influência nas comunidades nacionais, portanto, capazes de sensibilizar.

Estranha-me que as igrejas tenham deixado de fazer exortações, dando a entender que finalmente a Guiné-Bissau se transformou num paraíso.

Quero deixar claro que este meu texto é uma forma de manifestar a minha indignação perante a passividade de situações que por uma questão de FÉ, as igrejas não deviam deixar passar como que se de um pacto de silêncio se tratasse.

Se for um pacto de silêncio, está a ter realmente um grande impacto negativo na vida das nossas populações.

Se as igrejas se remetem ao silêncio, que se poderá esperar das nossas populações?

Que Deus nos ouça e perdoe os nossos pecados.

Quero deixar bem claro todo o meu respeito e consideração quer pela igreja muçulmana, quer pela igreja católica, mas se somos todos filhos de Deus, façam alguma coisa para ajudarem os guineenses!

Esta indignação é derivada de uma constatação pontual e não põe em causa o importante papel que vem sendo desempenhado pelas igrejas na Guiné-Bissau. Espero que haja bom senso nas interpretações ao tema lançado.

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