NA PISTA DOS ‘CEM MIL DÓLARES’ DESVIADOS  PELO REPRESENTANTE ‘PERMANENTE’ DA GUINÉ-BISSAU NAS NAÇÕES UNIDAS

 

EMBAIXADOR ALFREDO CABRAL: OS GUINEENSES CONTINUAM À ESPERA!

 

 

Por: João Carlos Gomes*

João Carlos Gomes

 

_ Julho de 2007

 

* Escritor/Jornalista

Nova Iorque

 

 

Parte V

 

Criticar apenas por criticar?

 

 

Como quem critica deve estar sempre em posição de oferecer alternativas melhores, deixo aqui algumas sugestões:

 

1.  Ao considerar a possibilidade da reabertura de uma embaixada nos Estados Unidos hoje, é preciso, primeiro, ter em conta o facto de que, por causa do tipo de reputação criada pelo seu comportamento no passado, vai ser extremamente difícil encontrar um senhorio disposto a alugar um novo espaço para a embaixada da Guiné-Bissau em Nova Iorque.  E, na idade dos computadores em que as informações sobre clientes pouco recomendáveis estão prontamente disponíveis, as implicações financeiras relativas a qualquer transacção futura, serão enormes.  Portanto, a opção mais realista, seria comprar.  E, no caso concreto da Guiné-Bissau, comprar a pronto.  A razão é simples: com o historial financeiro da embaixada, qualquer transacção que envolva o pagamento de um depósito, com o resto a prestações, vai envolver custos enormes.

 

2. No entanto, na situação actual, a qual pressupõe a ausência de meios para a aquisição imediata de uma imobiliária, a pronto pagamento, e, para tirar o máximo benefício da falta de recursos financeiros com que o país se debate neste momento, os $100,000.00 (cem mil dólares) entregues ao Embaixador Alfredo Cabral em Outubro de 2005 e que agora, aparentemente, esvaneceram, podiam muito bem ter sido geridos de uma maneira muito simples.

 

3. Antes de mais, diga-se que o montante que o Embaixador recebeu era suficiente para abrir uma embaixada e, comprar os três carros, todos novos, conforme as instruções recebidas.  Mas ao mesmo tempo, é preciso ter em conta o facto de que, dadas as características específicas do mercado nos Estados Unidos, aqui, quase ninguém compra nenhum artigo de alto valor a pronto pagamento.  Digamos mesmo que nem é aconselhável, sobretudo no caso específico da embaixada da Guiné-Bissau, com o historial que tem da gestão dos seus recursos financeiros. 

 

4. Desde que se cumpram os compromissos, tal como assumidos, ou seja, pagando regularmente as dívidas, comprar a crédito é a via mais aconselhável, pois é o método considerado pelo sistema como sendo o indicador mais fiável do comportamento e credibilidade do cliente.  E, se há alguém que precisa de restabelecer a sua credibilidade na América, sobretudo do ponto de vista financeiro, é a Guiné-Bissau.  Aliás, como consequência directa da experiência com a Guiné-Bissau, o antigo senhorio já incluiu nos seus anúncios que “as embaixadas estão excluídas” do seu prédio.  Daí que, com base nas informações até agora obtidas sobre este assunto; tendo em conta o mercado imobiliário actual, e; à guisa de sugestão, a conclusão é de que, com cem mil dólares na mão, aqui está o que o Embaixador Alfredo Cabral podia perfeitamente ter conseguido fazer:

 

 

5. Desde que se fizessem todos os pagamentos mensais de forma regular e consistente, esta é uma estratégia de gestão muito simples que teria funcionado por um período de, pelo menos seis meses senão mais, dando assim a Bissau, tempo suficiente para encontrar mais fundos, sem perturbações de maior para as operações da embaixada.  Este método teria, sem dúvida, contribuído para um retorno à estabilidade operativa da Missão, restabelecendo gradualmente, não só, o nível de crédito e a confiança dos credores, mas também a credibilidade, reputação e imagem da representação diplomática guineense em Nova Iorque e, nas Nações Unidas.  A viabilidade das alternativas acabadas de apresentar é uma opção de gestão administrativa e financeira que o autor desta peça está disposto a ajudar a implementar e, cuja eficácia está em posição de demonstrar, a qualquer momento.  Não vai ser fácil.  Mas, não é impossível.

 

6. Apenas para informação:

 

·         depois da mudança para um espaço maior (do sexto andar para o sétimo), feita pelo Embaixador Alfredo Cabral, cuja ocupação teve lugar a partir de Janeiro de 1997, a renda passou para um montante total de $67,600.00 (sessenta e sete mil, e seiscentos) por ano;

·         com a redução do espaço que teve lugar por ordem de um outro embaixador a partir de Outubro de 2000, a renda passou para um montante de $59,470.00 (cinquenta e nove mil, quatrocentos e setenta) por ano;

·         ou seja, mesmo depois da redução do espaço em Outubro de 2000, a renda continuou a ser superior, numa diferença de $13,526.00 (treze mil, quinhentos e vinte e seis) do que a renda (de $47,254.50) que embaixada vinha a pagar até Janeiro de 1997, antes da mudança;

·         todos os montantes acabados de mencionar incluíram as respectivas taxas.

 

 

7. Hoje (Julho de 2007), para obter um espaço:

 

 

 

Porque é que os cidadãos precisam de manter uma vigilância constante quanto à gestão da coisa pública na Guiné-Bissau de hoje e pressionar constantemente os seus lideres?

 

8. A resposta a esta pergunta pode ser encontrada num dos versos de vocação claramente política daquele que foi o ‘Pai da Música Moderna Guineense’, o grande José Carlos Schwarz: “Ora cu garandi di cassa ta tchami, fidjus tudu ta nor-nori”.  Traduzido literalmente: “Quando o chefe de família é um bêbado, os filhos murcham”;  Traduzido correctamente, neste contexto: “Quando os líderes não conseguem dar conta do recado, o povo é que paga”.

 

9. Uma das melhores formas de endireitar a situação económica, financeira, política e social na Guiné-Bissau de hoje terá de passar pela responsabilização dos indivíduos que fazem a gestão fiscal da coisa pública, e que afinal constitui pertença de todos.  Esse processo começa por apertar e exigir contas a indivíduos como o Embaixador Alfredo Cabral que tem sido umas das faces constantes dos sucessivos governos de Bissau na diplomacia, e por conseguinte, na cena política internacional.  Será que existe melhor forma de o fazer do que a imputação de responsabilidades, se necessário, mesmo através de um processo legal, movido contra indivíduos específicos?  Que forma melhor de demonstrar não só à sociedade guineense mas também ao mundo em geral, até que ponto o actual Governo de Bissau está realmente  empenhado em proteger o património nacional e, a respeitar os princípios fundamentais que regem o funcionamento cabal de um Estado de Direito?

 

10. Daí que é preciso que as organizações de direitos humanos tanto nacionais como internacionais, a sociedade civil, as organizações religiosas, os meios de comunicação social, a Assembleia Nacional Popular, e, os parceiros de desenvolvimento, contribuam todos neste processo, como única forma de melhorar as condições de vida das populações na Guiné-Bissau.  Tais contribuições devem tomar a forma de uma aplicação contínua de pressões com vista a testar e promover o funcionamento cabal dos órgãos do Estado, sobretudo na área da justiça, e promover o respeito pelos direitos, tanto individuais como colectivos, dos cidadãos.

 

11. Num país como a Guiné-Bissau, não existe nenhuma razão para que, nas circunstâncias actuais, os crimes de natureza económica não sejam também tratados como sendo crime contra os direitos humanos.  Para entender a importância de uma tal medida, apenas há que lembrar o seguinte: ninguém – nacional ou estrangeiro - investe de forma massiva num país onde, em caso de problemas ou disputas, não existem possibilidades de recurso a um sistema legal credível.  Por isso, um dos primeiros passos que o novo Governo de Martinho N’Dafa Cabi precisa de dar, é no sentido de demonstrar, de maneira inequívoca, o compromisso sério da Guiné-Bissau para com a implementação dos conceitos, bases e princípios que regem um autêntico Estado de Direito.

 

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