O LADO SUJO DUMA HEREDITARIEDADE

 

 

Por: Flaviano Mindela dos Santos

 

 

06.12.2008

A necessidade de agrupamento para partilha das vantagens emergentes, tendo em conta o meio de inserção como um todo a preservar, sempre acompanhou, e sempre acompanhará a evolução dos seres vivos. Portanto, sempre que, por opção de subgrupos, se tenta beneficiar de melhores condições, deixando os restos ao resto, cedo ou tarde, acaba por resultar em conflitos de dimensões imprevisíveis, e quase sempre, com as piores consequências para os elementos provocadores do conflito.

Estou a lembrar isso, a propósito duma avaliação, supostamente alicerçada mais no tom da pele, do que na aptidão técnica dos candidatos, para o recrutamento de pessoal, na empresa de telecomunicações móveis MTM, que me foi amargamente transmitida por um colega, e reforçada por um outro, ambos a viverem e a trabalharem em Bissau.

Como numa ocasião qualquer já mencionei, e porque nunca é demais, quando se trata de assuntos delicados como esses, volto a referir que a sociedade guineense ainda convalesce duns terríveis séculos do domínio colonial, em que, no próprio chão térreo, as pessoas foram exploradas; escravizadas; torturadas; humilhadas e assassinadas; tudo com base na errónea ideia da superioridade do homem branco.

É evidente que, para o desempenho de qualquer tarefa, as pessoas devem ser sujeitas, sobretudo, às avaliações técnicas. Porque tecnicamente, as pessoas podem ser, e são normalmente mais capazes, ou menos capazes. Uma vez avaliadas com critérios uniformes, os que revelarem melhores capacitados, devem merecer os lugares em causa. Mas quando ao contrário disso, as avaliações são feitas com apreciações dos factores como o tom mais claro, ou menos claro da pele dos candidatos, então estamos perante um problema grave, que se traduz na graduação da dignidade humana.

A dignidade é como o ar para a vitalidade de todos os seres. Está em todo o lado; não pertence a ninguém; não tem cor; não tem cheiro; e todos a merecem na medida certa.

A história fez da nossa sociedade uma abundância de variedades, em maior parte, resultante da colonização portuguesa. Daí também o facto de convivermos com pessoas mestiças.

Para além dos descendentes, frutos de alguns cruzamentos nem sempre convencionais, entre colonos e nativos no território, para o melhor funcionamento da máquina colonial, também se introduziu alguns elementos da população cabo-verdiana, para concretizar uma instrumentalização engenhosa.

Entre esse conjunto:

 - Podemos distinguir os funcionários administrativos, que devido à importância estratégica que o colonizador atribuía a Cabo Verde de então, em relação às outras colónias (como pode demonstrar o facto de a Guiné Portuguesa, se tornar numa colónia autónoma de Cabo Verde), só em 1879, eram por lá formados, para colmatarem a crescente falta no resto das colónias, sabido que, a maioria dos europeus começou, a partir de uma certa altura, a recusar transferência para as colónias, justificando com a provável vulnerabilidade às ditas doenças tropicais;

 - Comerciantes, para manterem o necessário dinamismo na actividade comercial, nas mais profundas regiões interiores do território, onde os seus companheiros europeus não pretendiam se instalar, e só arriscavam um estabelecimento, na medida abonatória de altos lucros;

 - Prostitutas, que, devido à rigidez das tradições indígenas, que quase impossibilitavam a prática nas nossas praças, foram incentivadas a mudar de território, para satisfazerem as conhecidas apetências sexuais dos colonos, sobretudo, dos militares em serviço;

 - E alguns agricultores, esses sim, mudaram voluntariamente, na procura de terras mais propícias para cultivo, e envio de alguma parte do produto, para comercialização em Cabo Verde.

Todos esses grupos, naturalmente deixaram vários descendentes, já profundamente enraizados, que nem havia necessidade de estar aqui a afirmar categoricamente, que são tão guineenses, como o primeiro de todos os guineenses. Portanto temos a obrigação de aprender as regras mais elementares, para uma convivência genuína, enquanto uma pretendida nação guineense.

Só pessoas com algum desequilíbrio mental se julgam dignamente superiores a outras, porque em consequência da mesma patologia, também se julgam dignamente inferiores a outras. Agora, uma mente bem equilibrada, é exactamente, uma mente bem equilibrada.

A terceira grande revolução, na sequência das duas anteriores: a revolução neolítica e a revolução industrial, que é a revolução tecnológica, veio permitir largas facilidades de comunicação entre diferentes culturas mundiais. Em consequência, isso permitiu também um feliz ascendente no conhecimento dos costumes, antigamente mais afastados, acabando por motivar simultaneamente, uma marcha impetuosa, da mais importante, e inquestionável quarta grande revolução no planeta terra, que é a revolução cultural. Ou seja, uma transparente convergência de diferentes culturas mundiais, com suporte na pura essência, e no valor do indivíduo, ao encontro de uma cultura universal.

Portanto, somente na revelação de uma ignorância doentia, poderá estar a justificação para atitudes ignóbeis, que tentam contrariar essa tendência.

A ser factual o entendimento daqueles colegas, os responsáveis séniores da MTM, devem pôr em marcha, medidas de carácter urgente, para corrigir o tal deplorável despropósito, sob pena de, num momento qualquer, entre outras demonstrações de desagrado, uma significativa quantidade de pessoas decidirem boicotar os seus serviços, optando pela concorrência, o que ditará obviamente o fecho da empresa a curto prazo.

A ser factual o entendimento daqueles colegas, saibam que, dessa podridão que ainda pretendem conservar, Kumba Yalá faz um astucioso proveito político, para despertar suficientes ódios adormecidos, que ainda sob o efeito do sono, ajudam o seu partido a colocar alguns deputados na nossa Assembleia Nacional Popular.

Ruanda também foi um país de costumes brandos, até o despoletar do tão badalado genocídio, com fortes motivações, justamente no tom da pele duma das partes, que, sem ser problema nosso, deixou por uns tempos os ecrãs dos nossos televisores mais medonhos!

 

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