IMPORTA PRESERVAR A UNIDADE NACIONAL!

 

António Indjai e Bubo Na Tchuto
Guiné-Bissau: A aliança do Poder Militar guineense
2010-05-01 02:55:14

Bissau - Um mês depois das movimentações militares que fizeram voltar os olhos da Comunidade Internacional para a Guiné-Bissau, um ambiente de aparente normalidade parece ter regressado às ruas da capital guineense. Mas as interrogações sobre o que motivou a revolta dos militares e o futuro do país permanecem no ar.

Na manhã de 01 de Abril António Indjai deu ordens aos seus homens para avançar com dois objectivos concretos. Prender o CEMGFA Zamora Induta e o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior, e paralelamente proceder à libertação de Bubo Na Tchuto, ex-Chefe de Estado Maior da Armada, que desde final de Dezembro de 2009 vivia refugiado nas instalações da ONU em Bissau.

Se quanto a Induta a detenção parece uma jogada táctica óbvia com o objectivo de afastar o único homem capaz de fazer frente às movimentações ordenadas por Indjai, já a libertação de Na Tchuto causou estupefacção entre a elite política e a comunidade internacional.

José Américo Bubo Na Tchuto é um dos históricos combatentes da independência guineense. Ingressou na luta de libertação aos 14 anos (tem actualmente 60), onde ganhou a reputação de destemido, exímio a dar segurança e confiança aos subordinados, cultivando ao limite o «espírito de corpo». Entrou para a Marinha em 1974, integrando a Classe de Fuzileiros. Com a ascensão do poder Balanta nas Forças Armadas guineenses, Bubo consegue subir rapidamente na hierarquia superior da Marinha, tendo alcançado o posto de CEMA em 2004. É nesta altura que Bubo Na Tchuto, depois de transformar os Fuzileiros na sua unidade privada embarca nos negócios do narcotráfico, situação denunciada pelo Departamento do Tesouro dos EUA e que levou ao congelamento de todas as suas contas e bens em território americano.

Em Agosto de 2008, Bubo Na Tchuto refugiou-se na vizinha Gambia, após ter sido acusado de tentativa de golpe de Estado contra o então Presidente da República «Nino» Vieira, de onde apenas regressa em Dezembro de 2009. “Libertado” por Indjai na manhã de 1 de Abril, Bubo movimenta-se hoje em completa liberdade, sorridente e com uma larga escolta de Fuzileiros, por toda a Guiné-Bissau, não obstante penderem sobre ele acusações de tentativa de Golpe de Estado e de envolvimento directo no narcotráfico.

Quando Bubo Na Tchuto entrou em Bissau, em Dezembro de 2009, chegaram a circular na capital guineense rumores que apontavam para que este regresso tivesse sido concertado com António Indjai. Estes rumores, nunca confirmados, indicavam que Bubo e Indjai pretenderiam assumir o controlo das Forças Armadas guineenses, como forma de, numa segunda fase, fazer passar o poder político para as mãos dos balantas. No entanto, nessa manhã, algo terá corrido mal e o plano teria sido, pelo menos, adiado.

Indjai e Bubo estiveram ambos ao lado de Ansumane Mané durante a Guerra Civil de 07 de Junho de 1998. Bubo e Indjai são hoje as principais figuras militares balantas, etnia que constitui 70 por cento das Forças Armadas Guineenses. Indjai mantém o controlo total das forças militares terrestres. Bubo, mesmo depois de mais de um ano de exílio na Gambia, conseguiu manter todos os seus elementos fiéis na estrutura da Marinha guineense. Bubo foi acusado de narcotráfico pelo Departamento do Tesouro dos EUA, Indjai confessou a participação na descarga de droga realizada em Cufar em Março último.

Fontes na Presidência da República guineense referem que António Indjai, em mais de uma reunião com o Presidente Malam Bacai Sanhá, afirmou que caso Bubo tentasse causar instabilidade seria imediatamente detido. Mas, no entanto, identificando-se ambos como os herdeiros militares naturais do General balanta Tagme Na Waie, assassinado num atentado em 2009 na mesma noite do assassínio de «Nino» Vieira, une-os uma oposição feroz a Zamora Induta.

Um mês depois da revolta militar de 01 de Abril, é notória a existência de uma aliança tácita entre os dois militares balantas. Indjai pretende ser nomeado CEMGFA, Bubo afirma que apenas pretende regressar ao cargo de CEMA. Objectivos não concorrentes que poderão, a breve prazo, colocar nas mãos dos dois militares balantas toda a real capacidade militar da Guiné-Bissau.


(c) PNN Portuguese News Network


http://bissaudigital.com/noticias.php?idnoticia=6486

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

01.05.2010

Fernando Casimiro (Didinho)Sou guineense, porque sou balanta, pepel, fula, mandjaco, mandinga, nalu, biafada, felupe, mancanhe, bijagó e por aí fora!

O meu texto de hoje, serve para condenar energicamente todas as tentativas de divisionismo e incitação ao conflito étnico, tomando como alvo dessa instigação, a etnia balanta.

Cada guineense sabe das suas origens; os guineenses sabem que a identidade guineense, a designação de guineense engloba todas etnias e suas derivações, ou seja, não é problemático falar-se de etnias, porque elas constituem a essência da identidade nacional. Por isso, sou guineense, porque sou balanta, pepel, fula, mandjaco, mandinga, nalu, biafada, felupe, mancanhe, bijagó e por aí fora!

Pessoalmente, sem precisar da referência para nada mais do que explicar o que hoje proponho partilhar, quero dar a conhecer que a minha origem étnica, enraizada no que chamo de globalização na sua vertente humana, e tomando a identidade guineense como referência nacional e não tribal, é a etnia balanta.

O que me tem preocupado desde há uns anos a esta parte, é que todas as crises por que tem passado a Guiné-Bissau acabam, inevitavelmente, por ter um bode expiatório: a etnia balanta.

Falo com muita gente desde há uns anos e das muitas conversas que tive com diversas pessoas, pude ouvir insultos relativamente aos balantas, simplesmente porque, a determinada altura o Presidente da República era Kumba Yalá e o Governo, constituído pelo seu partido, o PRS.

Outras vezes, a maioria das vezes, porque militar fulano, beltrano ou sicrano, da etnia balanta, fizeram isto ou aquilo.

Muita gente, talvez, por desconhecer a minha origem étnica balanta, que me torna guineense, para além de ter nascido na Guiné-Bissau, assim como os meus pais, testemunhava-me a sua revolta pelos erros de alguns cidadãos guineenses, mas ao invés de  limitarem essa revolta a esses cidadãos, aproveitavam para insultar toda uma etnia e criar um espaço de ódio contra essa mesma etnia. Senti-me mal de todas as vezes que ouvi esses insultos à etnia balanta, como me sentiria mal, se fossem dirigidos a outras etnias.

O que quero dizer é que, com base no texto publicado pelo jornal Bissau Digital, texto esse que não contempla o autor, devemos condenar firmemente toda a estratégia de fomentar a divisão do povo guineense e potenciadora de conflitos étnicos.

Por que razão se continua a insistir na referência "balanta", quando para se referenciar um político ou um militar, basta referenciar-se o nome da pessoa?

Um outro jornal fez por estes dias um ponto de situação na Guiné-Bissau e numa determinada passagem do relato da situação que se vive na Guiné, deu a conhecer o seguinte: " Na população, Bissau e outros centros urbanos em especial, cujo sentimento colectivo aparente é o de apoio ao PM, estão a tornar-se notórias manifestações de menosprezo e/ou hostilidade em relação aos balantas, vistos como sendo os instigadores da instabilidade, na pessoa dos chefes militares (quase todos pertencentes à referida etnia), agindo em nome de interesses obscuros, entre os quais o narcotráfico; riscos de tensões tribais."

Será que devemos continuar a alimentar o ódio contra toda uma etnia que não beneficia de regalias ou tratamento especial (nas terras dos balantas, não há escolas, não há hospitais, não há saneamento básico, não há energia, emprego etc., tal como noutros pontos do país); que não tem responsabilidades directas e muito menos, indirectas, pelo facto de cidadãos guineenses, políticos ou militares que cometem crimes e prejudicam o país pertencerem a essa etnia?

Vejamos a injustiça dessa relação condenável: Por exemplo, chama-se ao PRS o partido dos balantas, quando a maioria dos dirigentes do PRS não são balantas e se calhar, a maioria dos seus militantes também.

Do lado oposto, ninguém faz referência aos cidadãos guineenses de etnia balanta que são militantes do maior partido político da Guiné-Bissau, o PAIGC.

Quando se acusam os balantas, num contexto geral, por que será que se filtra sempre o PAIGC na referência étnica, optando por atribuir exclusividade ao PRS, quando este partido também tem militantes de várias origens étnicas?

Falou-se e muito da balantização, durante a presidência de Kumba Yala e a governação do PRS. Sim, havia tendências, mas não se deveria associar nem responsabilizar toda uma etnia, pelas incompetências dos governantes e o governo, é nacional e não étnico ou tribal.

Ouve-se falar muito da quota étnica nas Forças Armadas, para se equilibrar a estrutura castrense...Mas afinal, somos todos guineenses ou não?

Se houver quota étnica nas Forças Armadas, não deverá haver em todas as instituições da República?

Se a etnia balanta é a mais populosa, não é por isso que tem mais militares nas Forças Armadas, isso vem do período da mobilização para a luta de libertação nacional e foi evoluindo sempre da mesma forma, com a entrada de novas gerações de militares.

Se sugerirmos a quota étnica nas Forças Armadas, estaremos a abrir um grave precedente na diferenciação dos cidadãos. O que aconteceria se a etnia mais populosa exigisse também quota étnica a nível da governação, do emprego na Função Pública, etc.?

Uma coisa é exigir critérios de aptidão no recrutamento de novos efectivos militares, isso sim, pode produzir resultados positivos na formação de umas Forças Armadas Republicanas, independentemente da etnia dos seus servidores, o que nada tem a ver com a questão da quota étnica, que, por si só, não garante uma nova atitude dos nossos militares.

O que dizer, por exemplo em relação ao PAIGC (é certo que é um problema interno deste partido), que há uns bons anos não delega nenhum cidadão guineense de etnia balanta para responsabilidades no governo?! Por que será?!

Mas ninguém ouviu, até hoje, nenhuma reivindicação sobre isso, em nome dos balantas!

Por que continuar então a insultar toda uma etnia?

Vejamos um exemplo:

Imagine-se uma determinada comunidade guineense residente algures num determinado país europeu. Se por ventura alguns cidadãos guineenses dessa mesma comunidade ao invés de se integrarem socialmente nesse país, se decidissem pela má vida, gostariam que as más referências sobre esses cidadãos fossem atribuídas a toda essa comunidade guineense? Não seria uma grande injustiça "meter no mesmo saco" bons e maus?

Quem dá este exemplo na diáspora, pode enquadrá-lo igualmente na realidade da Guiné-Bissau, por isso, sejamos honestos e prudentes na forma como estamos a lidar com a questão étnica!

Tal como em todas as etnias, na etnia balanta também há boas e más referências, mas evitemos aproveitamentos políticos para criar mais problemas ao país! Já temos problemas a mais, evitemos o maior de todos: a guerra civil!

Condenemos todas as manobras que se destinam a promover a divisão do povo guineense.

Há pessoas, afectas ao poder e envolvidas em acções criminosas, que estando encurraladas e com a cabeça a prémio, tudo estão a fazer para se criar uma situação de insustentabilidade, que promova uma guerra civil, para que o mal deles seja igualmente repartido por todos os guineenses. É preciso estarmos todos atentos a estas jogadas!

IMPORTA PRESERVAR A UNIDADE NACIONAL!

Somos guineenses porque somos balantas, pepeis, fulas, mandjacos, mandingas, nalus, biafadas, felupes, mancanhes, bijagós e por aí fora!

  A BALANTIZAÇÃO OU O FOMENTAR INCONSCIENTE DO TRIBALISMO  11.12.2004  

Vamos continuar a trabalhar!


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO

associacaocontributo@gmail.com

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