GOLPISTAS EM NOME DO POVO, PELO POVO E PARA O POVO

 

 

 

Adulai Indjai

tokatchur02@hotmail.com

18.12.2013

A impunidade não é a principal causa dos conflitos no paísSerifo Nhamajo Presidente da República de Transição.

Como é que podemos, dissociar a impunidade dos cíclicos golpes e contragolpes de estado? É a questão que se coloca.

A nossa sociedade que é ordenada no ambíguo, onde a utopia se confunde com a realidade, apresenta as características graves da desorganização social e política, com consequências desastrosas tais como: o não respeito das regras democráticas, a desvalorização do serviço público, a estagnação da economia, a falta de ambição coletiva, as condições propícias a expansão da corrupção... Em resumo, os sintomas da impunidade crónica.  

O debate entre os pró-golpistas e os anti-golpistas.

As altercações entre os ditos pro e contra golpes são muito importantes. É um tabuleiro interessante onde se confrontam os ideais dos estadistas e os dos golpistas. A minha grande questão é: será que podemos fazer a diferença entre os verdadeiros estadistas e os golpistas, na atmosfera onde reina a impunidade total?

Não disponho de condições adequadas para responder as múltiplas questões, por uma razão simples: o excesso de impunidade dificulta fazer as previsões mais próximas da realidade. Mas, sobretudo, o comportamento da sociedade Guineense me deixa perplexo. Esta sociedade que elogia o egoísmo, onde cada um pensa que ocupar-se do bem pessoal é servir a sociedade; é o espaço onde cada um acredita ser o único e o verdadeiro estadista, e que os outros não são dignos de servir a Guiné-Bissau. Esta sociedade transformou-se num autêntico paradoxo: a sociedade dos intelectuais e a dos rudes e mal-educados. A constatação é triste, mas é a demonstração clara que o ascensor social e político está bloqueado.

Como é que podemos defender um golpista? Em que condições é que um golpista necessita de um defensor? Golpe é um assunto público (no Estado de Direito)? Onde é que está o interesse comum num golpe? A impunidade não é um fator propício a um golpe?

A impunidade jamais permitirá a criação de um estado onde os homens poderão desempenhar a função de estadistas, como mandam as regras, porque a base de um verdadeiro estado é o respeito ao jogo democrático. Quem defende o respeito do modelo democrático não poderá, em caso algum, cooperar ou trabalhar com os golpistas, seja qual for a razão subjacente ao levantamento para perpetrar o putsch.

Estimar que os que foram “golpeados” são os verdadeiros estadistas seria induzir os meus compatriotas a acreditar numa grande inverdade, porque o nosso país descobriu a “glória do golpe” nos anos 80 e nunca mais deixou de utilizar o mesmo recurso, matar, golpear, mentir, corromper, para dar formas diferentes a alteração da ordem constitucional.

Quem é o primeiro resignado com as causas e consequências do golpe? Obviamente, o Zé Ninguém, aquele que ao longo de muitos anos vem questionando: mas afinal das contas, quem é o golpista, quem é o estadista? É aquele que tem armas nas mãos ou aquele que sofre os efeitos corrosivos de um golpe ambiciosamente planificado?

É difícil imaginar, que vivemos numa sociedade de impunidade, e acreditar, que os golpistas são os únicos fatores do bloqueio político, social, económico, etc., etc. .

Cada membro da sociedade, tem que ter a coragem de fazer a mea-culpa, quer seja ele agente passivo ou ativo. Nas diferentes etapas uns foram membros dos sucessivos governos que provocaram grandes desordens, porque o ato serviu de facilitador da sua chegada ao poder, pese embora ter sido através de um golpe violento contra os que não podiam reclamar qualquer, por medo ou impossibilitado pela conjuntura.

A maior deficiência que nos afeta reside na forma e nos moldes em que a impunidade tem vindo a ser construída ao longo do tempo. Cada vez que acontece um golpe, a esperança do povo renasce das dificuldades para acabar por morrer, pouco tempo depois, antes mesmo de se definir no espírito do cidadão. A tendência é sempre esquecer que dentre os novos golpistas existem os que hoje ganhar o estatuto de “antigos golpistas”. Os que um dia reclamavam o mal-estar em que se encontrava o país são eles hoje que ocupam o lugar deixado pelos seus antecessores.

Porém, não se pode dizer que os novos golpistas são piores ou melhores, mas pode-se, isso sim, esperar e desejar que não sejam derrubados para evitar que a história se repita, mais uma vez, graças a incapacidade de construir um verdadeiro estado de direito num espaço geográfico que foi conquistado a força das armas, pelo qual morreram milhares de pessoas e outras ficaram inutilizadas para sempre.

A justiça tem por obrigação servir com verdade, segundo as regras da sociedade organizada. Não funcionar para fazer com que a verdade seja considerada pertença daquele que sabe mentir melhor, é o pior que nos acontece. Não quero acreditar que os estadistas servem a falsidade, enquanto os golpistas servem os iníquos colocando de lado o povo. Há alguma diferença entre os dois grupos? A questão não deixa de ser pertinente uma vez que a inverdade tem-se revelado uma forma de retratar as verdades de um determinado grupo, cega e desavergonhadamente, ao longo de anos, utilizando a mesma justificação – em nome da mudança. Utilizam a mesma razão para vender ideais obsoletos e justificar as injustificáveis que os levaram à alteração da ordem. Afinal das contas as duas categorias estão ao serviço de quem? A resposta é curta: estão e estarão ao serviço dos respetivos interesses pessoais. Tão simples quanto isso. 

Ora, a justiça numa sociedade que se assenta em bases democráticas, mantém um equilíbrio razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e oportunidades no seio das pessoas envolvidas em grupos sociais díspares.

A maioria dos problemas que vivemos hoje em dia, agressões físicas e verbais, desvios do erário público, alegados ajustes de contas que resultaram em espancamentos e assassínios, provêm da fraqueza do sistema judicial. O caos, os conflitos de interesses que têm estado na base das crises cíclicas que sucederam no país, todos, são reforçados pela impunidade reinante, cuja duração ninguém pode prever sob pena de errar rotundamente.

Não se pode, de maneira alguma ,reclamar o estatuto de estadistas numa nação em que a impunidade é o pão-nosso-de-cada-dia, porque lá, onde houver impunidade, sempre haverá evidências de que, na realidade, a força governa a razão, e, então, todos os fatores poderão propiciar o caos.

O povo é chamado, mais uma vez, a fazer aquilo que só ele mesmo sabe fazer, participar no teatro democrático (eleições), como figurante, para legitimar o artista político que vai dirigir o grande ballet que é a Guiné-Bissau – a Nossa Pátria Amada.

Será, que é desta que vamos escolher o bom artista, aquele que será capaz de aceitar que a impunidade é um fator de bloqueio, e trabalhar para construir um verdadeiro Estado, onde poderemos todos viver tranquilamente, em paz, num ambiente que propicie o progresso e o desenvolvimento.

A ver vamos. A esperança é a ultima a morrer.

Adulai Indjai             

 

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