O EXEMPLO DOS MILITARES SEGUNDO NINO VIEIRA

 

Nino Vieira e Tagme Na Waie  Foto de Jorge Neto

 

Guiné Bissau
«Nino» felicita Chefe do Estado Maior por reconciliação dos militares

O presidente guineense considerou hoje uma "feliz iniciativa" a acção desencadeada pelo Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (CEMGFA) para a reconciliação de diferentes facções do exército da Guiné-Bissau.


João Bernardo "Nino" Vieira felicitou o general Baptista Tagmé Na Waié e todos os militares guineenses, ao usar da palavra nas cerimónias de posse do CEMGFA reconduzido no posto em Novembro passado através de decreto presidencial.

O CEMGFA guineense está a conduzir pessoalmente um processo de reconciliação entre os militares, reintegrando elementos expulsos das fileiras do exército por terem participado em golpes de Estado ou em acções subversivas nos quartéis.

Num processo iniciado em finais de 2004, mais de 600 homens - oficiais, sargentos e praças - foram reintegrados, uns próximos ao falecido general Ansumane Mané, outros leiais à "Nino" Vieira aquando da guerra civil de 1998/99.

No discurso de hoje, o presidente guineense considerou a iniciativa de Tagme Na Waié "um passo em direcção à reconciliação do próprio país", destacando que os políticos "deviam seguir o exemplo" dos militares.

"Na minha qualidade de comandante em chefe das Forças Armadas, felicito o general Tagme Na Waié e todos os seus colaboradores pela feliz iniciativa de reconciliar os camaradas, um gesto que ultrapassou os políticos, dando assim o exemplo de boa vontade para que haja paz, estabilidade e harmonia no país" afirmou "Nino" Vieira.

O presidente guineense pediu, entretanto, que a partir de hoje Tagme Na Waié use de todas as suas prerrogativas enquanto chefe do exército para fazer voltar aos quartéis "o bom-nome" dos militares do país.

"A partir de hoje quero que o general Tagme Na Waié faça tudo para que os militares exerçam em pleno as suas responsabilidades para que a Guiné-Bissau possa reconquistar o respeito que granjeou no mundo com grandes sacrifícios", disse "Nino" Vieira.

Por seu turno, Tagme Na Waié, prometeu que, se depender das Forças Armadas, a paz voltará a reinar na Guiné-Bissau, convidando, no entanto, os civis a abraçarem o projecto de reconciliação nacional.

"Prometo ao povo da Guiné-Bissau que a paz vai reinar se depender apenas das Forças Armadas, mas também peço aos cidadãos civis que aceitem o nosso processo de reconciliação nas casernas e façam o mesmo. Só com a reconciliação é que o país viverá em paz permanente", afirmou.

Fonte: www.noticiaslusofonas.com

 

O EXEMPLO DOS MILITARES - A VERDADE CONTRA A MENTIRA E A HIPOCRISIA

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

05.01.2006

Caros irmãos,

A reconciliação nacional insistentemente referenciada pelo General João Bernardo "Nino" Vieira no intuito de mostrar aos guineenses e ao Mundo que é um homem de paz, não passa da reactivação da velha "Concórdia Nacional" do pós golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, e em que, em vez da concórdia semeou-se a discórdia e a desgraça entre os guineenses.

Nino Vieira volta a querer enganar os guineenses, encomendando discursos de ocasião e esquecendo-se que ler discursos não é a mesma coisa que fazer discursos!

Pude ler a notícia sobre as felicitações de Nino Vieira ao Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, General Tagme Na Waie, dando conta das suas virtudes e iniciativas pessoais, incentivando inclusivamente os políticos a seguirem o exemplo dos militares.

Confesso que de Nino Vieira nada me estranha ou espanta. Entretanto, quero dar-vos a conhecer uma carta a mim dirigida e na sequência das denúncias sobre o abate ilegal de árvores de grande porte em áreas protegidas do Sul da Guiné-Bissau, concretamente na zona de Cantanhês. Abate atribuído a militares guineenses que justificam o acto com a necessidade de produzirem madeira para a reconstrução de quartéis.

As denúncias foram feitas pelo então Director Geral de Florestas (foi suspenso a 30 de Dezembro de 2005) Engenheiro Constantino Correia.

Para que os guineenses e amigos da Guiné-Bissau saibam o que se está a passar no país e que, João Bernardo "Nino Vieira" finge não saber, deixo aqui a mensagem que chegou à minha caixa de correio.

De: constantino correia
Enviado: quarta-feira, 4 de Janeiro de 2006 16:22
Para: didinho@sapo.pt
Assunto: Bom Ano de 2006

Olá Didinho,
Antes de mais quero-te situar. Sou eu Miguel da Rua Angola. Aceita votos de um Ano Novo Feliz e Próspero na companhia da tua família e ente queridos. Não sei se recebeste a minha mensagem que te enviei ontem 3.01.06. Seja com for, era para te dizer que queria ver contigo como denunciar os militares que andam a encobrir o tráfico de madeira, aliás estão mesmo a cortar árvores e a serrar em plena floresta sem a devida licença alegando precisarem de madeira para a reconstrução dos quartéis. Tenho mais elementos que podemos concertar. Eu mesmo fui suspenso porque andei a fiscalizar carros militares suspeitos de transportarem madeira ilegalmente cortada. Antes já tínhamos apreendido um camião cheio de madeira disfarçado de lenha e carvão com militares por cima.
Um camião civil com militares em cima cheio de madeira com lenha e carvão por cima. No dia 15 de Dezembro interpelamos um camião de que tínhamos informações em como trazia madeira. Recusaram que fosse fiscalizado. Quando isso chegou ao conhecimento do Tagme, ele, nesse mesmo dia insultou-me e tentou agredir-me fisicamente, eu Director Geral das Florestas. No dia seguinte, logo de manhã, mandou chamar-me através de um major, recusei ir. Mandou de novo três militares para me irem chamar, voltei a recusar alegando que só ia lá com o meu Ministro. Assim que o meu Ministro chegou, contei-lhe o que se estava a passar. Ele aparentemente ficou aborrecido e telefonou para o Tagme. Depois de uma pequena conversa disse-me que o Tagme vinha ao ministério que podia ir-me embora e, se fosse preciso, mandava-me chamar. Assim aconteceu, pouco tempo depois mandou-me chamar. Quando cheguei ao Gabinete do Ministro da Agricultura, civilizadamente cumprimentei-os a todos. Fui o primeiro a falar, depois o Ministro (Sola N'Quilim Na Bitchita) pediu-me para explicar o que se tinha passado no dia anterior.
Mal comecei a falar o Tagme interrompeu-me e começou a insultar-me, isto no Gabinete do Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural e na presença da Direcção Superior do ministério e do Chefe do Estado Maior da Força Aérea e mais dois militares. Depois dos insultos, levantou-se e foi-se embora sem deixar falar ninguém. O Ministro depois disso não teve nenhuma palavra de solidariedade antes pelo contrário, disse-me que para me livrar das ameaças do Tagme, vai-me substituir do posto de Director Geral das Florestas.
Que forma mais estranha de proteger! Tagme antes de sair do gabinete do ministro, fez várias ameaças à minha pessoa à frente do ministro, que não teve nenhuma reacção. Desde o dia 30 de Dezembro que não sou Director Geral das Florestas. Tenho mais informações que eventualmente poderei dar se assim o entenderes.
Um abraço
Miguel

Que raio de reconciliação se está a pregar ou se pretende afinal na Guiné-Bissau?

É assim que queremos ver de volta os nossos quadros na diáspora afim de darem os seus contributos ao país?

É assim que queremos que os cidadãos participem na vida activa do país e em defesa dos interesses nacionais?

É esta a submissão dos militares perante o poder político?

É o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas o detentor do poder absoluto na Guiné-Bissau?

Merece o General Tagme Na Waie o reconhecimento e os elogios endereçados pelas Nações Unidas há tempos atrás?

Mereceu o General Tagme Na Waie a atribuição da maior distinção da Guiné-Bissau, a medalha Amilcar Cabral, por parte do então Presidente da República (transição) Henrique Rosa?

Tagme Na Waie sempre desafiou o poder legalmente instituído e vai continuar a fazê-lo!

Caros irmãos,

Acordemos!

O abate de árvores não passa de mais uma forma encontrada pelas altas chefias militares de fazerem negócio e de se enriquecerem, prejudicando o meio ambiente e, consequentemente, se a prática persistir, aumentar os riscos da seca e da desertificação na Guiné-Bissau.

As espécies animais também estão em risco com estas atitudes.

O Engenheiro Constantino Correia que teve a coragem de denunciar estes actos, foi suspenso das suas funções de Director Geral de Florestas.

Pendem sobre ele as ameaças pessoais do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Tagme Na Waie.

Desde já faço um alerta e um pedido para que todos os guineenses e amigos da Guiné-Bissau fiquem atentos no sentido de salvaguardarmos a integridade física e a vida do Eng. Constantino Correia e de sua família.

Como tenho dito: A DITADURA está a tentar enraizar-se, não devemos permiti-lo!

 

 "Nós queremos que tudo quanto conquistarmos nesta luta pertença ao nosso povo e temos que fazer o máximo para criar uma tal organização que mesmo que alguns de nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o nosso povo não deixe. Isso é muito importante." Amilcar Cabral

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