ESTE POVO MERECE RESPEITO!

Por: Adulai Indjai

 

tokatchur02@hotmail.com

 

01.12.2008

 

Adulai Indjai, jornalista guineense

“A riqueza de uma nação mede-se pela riqueza do povo, não pela riqueza dos príncipes.”
(Adam Smith)

 

Acordei na manhã de domingo, com o coração ainda repleto de alegria pela vitória do PAIGC. Como é hábito meu, fui à procura, na imprensa mundial, de informações sobre a minha querida Pátria. Descobri notícias que 24 horas atrás não contava descobrir: nas primeiras páginas vi este título “tiroteio na Guiné-Bissau”. Estava na RFI, BBC, Semana on-line de Cabo-verde, Lusa de Portugal, todos tinham na primeira página essa triste notícia. Falavam de uma nova “tentativa de golpe de estado” no país que acabou de sair das eleições qualificadas de “justas e transparentes” que deram a vitória ao partido libertador (PAIGC), com a Maioria Qualificada (67 deputados).

Ouvindo as intervenções do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagme Na Waie, ficamos a saber que foi um “acto isolado” perpetrado por alguns elementos das Forças Armadas que considera de “bandidos”. Podem ser considerados de “bandidos” mas o assunto é mais grave do que à primeira vista se pode pensar porque mais uma vez ficou provado que existe uma grande deficiência nos serviços de informação do Estado e que as nossas Forças Armadas estão fora do controlo do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Os meios de combate utilizados pelos ditos malfeitores eram armas de grandes calibres, tendo em conta o estado em que ficou a residência do Presidente.

O maior paradoxo em toda essa história foi a reacção do ministro do Interior ao afirmar que o governo teve conhecimento antecipadamente de que o ataque ia ter lugar. A questão que o mundo inteiro coloca é: Porque é que o acto não foi impedido? Ou será que o ministro está apenas à procura de um falso culpado? Ou exibindo publicamente a ineficácia dos serviços de informação do Estado? Ao menos, que respeitem o povo!

O povo guineense merece respeito. Quando tudo parece seguir um rumo certo, aparece sempre um mal no meio da caminhada, e a origem do erro de percurso é sempre perpetrada pelos falsos dirigentes e defensores da pátria, pessoas que lutam a todo o custo para estarem à frente do destino do povo, o pobre povo que de vez em quando questiona, se vale a pena viver onde vive, com tantos problemas. Que problemas? Muitos, mas dentre eles o mais recorrente é sempre tensão “política” ou “militar”.

 

Eles não são os únicos filhos desta terra, e nem tão pouco todos nós podemos ser políticos ou militares. Mas cada um no seu devido lugar e, no seu ramo de actividade, deve contribuir de forma positiva na construção da nação e na edificação do continente africano em padrões mundialmente aceites como os mais indicados para garantir a paz, o progresso e o desenvolvimento que se deseja.

 

Um talhante, um pedreiro, um alfaiate, um vendedor ambulante ou grande empresário, um ajudante de transportes públicos ou motorista, todos nós temos o nosso espaço de acção. Então, porque é que há-de existir um grupo que não respeita o trabalho de todos, e ignora de propósito as precárias condições em que o povo vive?

 

Chegou o momento de todos colocarmos ao serviço do país as nossas capacidades para fazer da Guiné-Bissau um modelo na costa da Africa Ocidental, uns pais onde a palavra instabilidade deixará de fazer parte do seu curriculum vitae, a Justiça terá o seu lugar na sociedade, a imprensa jogará o seu papel de ligação entre o dirigido e o dirigente, funcionando como um motor da promoção da paz estabilidade, um meio de informação e formação da sociedade guineense. Os jovens guineenses continuam a sonhar com escolas a funcionar com normalidade, com formação profissional; as crianças e as mulheres querem ver os seus direitos respeitados, querem ver a problemática da saúde e educação ser a verdadeira prioridade do aparelho governativo.

Os políticos e os militares devem ter em consideração os problemas essenciais do país respeitando no mínimo a vontade do povo expressa nas urnas para que as instituições internacionais renovem a confiança e ajudem a reabilitação da economia. Mas, para isso, há que lutar para a erradicação total do narcotráfico.

 

No sábado, dia 22 de Novembro, o povo foi para a cama com coração cheio de alegria, mas esse sentimento foi interrompido pelo tiroteio contra a residência do presidente da República. O povo votou e está à espera de um governo legítimo, não de um golpe de Estado para colocar tudo na estaca zero.

A Guiné-Bissau merece a paz e estabilidade política; merece ao menos ter a possibilidade de viver em sossego no meio de todas as crises que o afectam. Não faz sentido, passados 35 anos de independência, vivermos na mesma situação de instabilidade contínua.

 

O tempo passa e o intelectual guineense muda de cor como se fosse um camaleão, deixa de ser patriota para ser mendigo e bajulador em nome do poder.

Onde está o respeito aos valores da sociedade e à ética que aprenderam nas escolas em que estudaram? Tudo se perdeu em nome do dinheiro e da vida fácil. De que vale terem passado anos a fio a gastar as pestanas nos livros? De que valeu o sacrifício de Amílcar Cabral?

 

Meus caros compatriotas que desta vez perderam nas eleições, convido-vos a respeitarem a vontade do povo, a aceitar a derrota pois em democracia é prova de grande maturidade política. Peço-vos que provem essa maturidade ao mundo inteiro, deixando que o novo governo tome posse e implemente o seu programa político.

 

O país está à beira da instabilidade de novo, voltamos à era dos tiroteios, das perseguições alegadamente à procura do verdadeiro culpado, ou dos ditos culpados. Não devemos aceitar a perturbação da ordem constitucional. A Guiné-Bissau vive um momento crucial da sua história, o povo escolheu o partido da libertação (PAIGC) com a maioria absoluta. Não é por acaso mas sim uma questão de confiança no partido libertador na expectativa de ver ultrapassadas as crises sociais e económicas… Neste preciso momento os fabricantes de crises no país abriram mais uma frente. De que serve atacar a residência presidencial? Quem quer perturbar este momento de festa da vitória do povo? Senhores detentores das armas saibam que cada filho da Guiné-Bissau deve saber respeitar o espaço sociopolítico de todos; saibam que o país precisa de estabilidade para poder saír do fundo do poço onde se encontra.

 

Um recado ao meu grupo etário, que é a juventude.

 

Estimados colegas, quero advertir-vos de que desta vez não devemos admitir erros. Quando designo jovens, não me limito somente aos civis, é muito mais para os jovens soldados que são sempre chamados à linha da frente para combater em nome de muitas coisas. Lutem pela paz não pela mentira; lutem pela aplicação na prática da vossa formação académica; lutem pela criação de condições que vos permita participar activamente na luta pelo desenvolvimento e na edificação de uma cultura de paz definitiva na Guiné-Bissau. Só assim poderemos, todos nós, combater os grandes males que afectam a sociedade e edificar uma outra cultura de convivência, onde o respeito pela vontade do povo será tomado em conta pela classe política, para que impere a vontade de trabalhar sem ter de se bajular o chefe.

 

Devemos deixar de brincar com o nosso país, a Guiné um dia há-de ser uma potência na África ocidental, tem recursos naturais suficientes, e, acima de tudo, um povo confiante na vitória.

Quem tem poder deve saber respeitar aquele que não tem, porque o poder passa de mão em mão, Nenhum homem é detentor do poder absoluto, o único detentor do poder é o povo.

Respeite-se a vontade popular.

 


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

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