O ENSAIO SOBRE A DUPLA CEGUEIRA
 

 

Djodji (o primeiro)

18.04.2009

A sintonia entre CADOGO e Zamora Induta é como a cerveja Super Bock - quase perfeita! Só não arrisco a considerá-la perfeita, porque conheço bem a história político-militar da Guiné-Bissau e sei que está recheada de intrigas e traições, por isso, existe a possibilidade dessa sintonia fragilizar no virar da primeira esquina. Há uns anos atrás, o pacto entre Tagmé e Nino, que facilitou o regresso deste último ao país, a sua ascensão ao poder e o fechar dos olhos do então Presidente da República, aos desmandos do então CEMGFA, anunciava ser um pacto de força e estabilidade, com vista à estabilização de toda uma sociedade, principalmente do seu braço militar. Não tardou muito para que a crescente necessidade de controlo do poder por cada um deles, levasse os dois ao “suicídio conjunto”. Chamo-o assim, porque é minha convicção que qualquer um dos dois sabia que a morte de um podia significar a morte do outro, por isso todo o nervosismo e tensão que invadiu o Nino, logo após o assassinato de Tagmé.

Mas, dizia que a sintonia entre CADOGO e Zamora Induta é de tal ordem, que os dois decidiram ser personagens de um novo “ensaio sobre a cegueira” à moda guineense! A cegueira pelo controlo do poder é tal, que só os dois não conseguem enxergar a extrema necessidade da participação de um contingente militar internacional na reforma das FARP’s e, ainda, no garante da segurança daqueles agentes políticos que têm tido o azar de serem visitados durante a noite por supostos civis com fardas e armamentos militares, para não falar da protecção de todo um povo.

Não basta que Induta venha garantir que existe uma submissão total dos militares ao poder político e à Constituição da República.

Não basta a CADOGO garantir que a situação está calma e que estão a ser tomadas as medidas para a estabilização do país…

É preciso não se deixarem embriagar com a possibilidade de total controlo do poder no país, faltando para isso conseguirem apenas colocar alguém da confiança dos dois, na presidência e na Procuradoria-geral da República. Pelos vistos estudaram o manual de Nino Vieira…! É necessário olhar para trás e tirar ilações sobre as nossas três décadas e meio de independência, para decidir sobre a necessidade de uma intervenção alargada da Comunidade Internacional no nosso país. Para mim, não restam dúvidas de que provamos ao mundo e a nós mesmos, sermos incapazes de encontrar um rumo, pelos nossos próprios meios, fruto da ânsia do controlo e exercício do poder pelos militares e a maioria dos políticos que o nosso país tem criado.

Zamora Induta está-se a esquecer que o cargo que agora ocupa, de forma interina, já foi ocupado por alguns defuntos, que também já repetiram os mesmos discursos e deram as mesmas garantias que ele está agora a dar. Terminaram debaixo da terra… Nem Zamora nem CADOGO devem esquecer que, na Guiné-Bissau, desde a nossa independência, estou convicto que será até depois de 02 de Março de 2009, existe total impunidade, quando se trata de assassinatos e espancamentos entre militares e políticos… As mesmas personagens esquecem-se que o mundo inteiro viu e teve dificuldades em perceber que, num país que se diz democrático, um presidente é torturado e assassinado de forma selvagem, sem que um único elemento da sua guarda presidencial tenha sido ferido durante a sua defesa!

É claro que o mundo passa, a partir de agora, a interrogar sobre as garantias de segurança dos actuais e futuros representantes do Estado e de todo um povo, quando esses assassinos continuam soltos e com armas penduradas ao corpo e carregadas de munições… Pelos vistos CADOGO não teme pela sua segurança (por agora!) e Zamora garante a obediência ao poder político (também por agora!), como se o futuro da segurança dos representantes do Estado guineense dependerá para sempre da vontade desses dois homens!!! É como se o país se resumisse, a partir de agora, à vontade desses dois “cegos”! Zamora garante que não vê a necessidade do envio de uma força militar internacional para a Guiné-Bissau, ao mesmo tempo que diz necessitar de meios para melhor controlo das nossas fronteiras e consequentemente do narcotráfico no país. Esqueceu-se que um país que não possui meios para garantir a segurança nas suas fronteiras e dos seus representantes do Estado, não pode ser considerado um país com total soberania, apesar de ter uma bandeira, um hino, um governo e um Presidente interino.

Olhando pelas três décadas e meio da nossa história, como país supostamente livre, não me restam dúvidas de que necessitamos urgentemente de mãos externas para nos moderar, regular e mostrar o verdadeiro caminho para a democracia e desenvolvimento. CADOGO e Induta apenas estão a adiar o sonho de muitos guineenses, como os antecessores adiaram consecutivamente.

Como última hipótese, cabe ao povo sair à rua, de forma massiva, e pedir a tal intervenção internacional, no sentido de evitar o eterno adiamento do sonho de Cabral.

Djarama Contributo.


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