A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

25.09.2008

Editorial de Setembro

Editorial de Setembro

 

Numa das muitas viagens ao interior do país com a equipa do Sport Bissau e Benfica, dessa vez paramos em Mansabá, no nosso percurso para Bafatá tendo em vista a comemoração da vitória no campeonato nacional em 1979; num campeado da mata começamos a almoçar e todos começaram a dissertar sobre temas diversos: do futebol às miúdas, da política a temas académicos; o nosso roupeiro, o Fanghal, como sempre, satisfeito porque tinha todas as “cabeças de peixe” só para ele e desde que ninguém interferisse com as cabeças de pescado, não havia problemas. O Sr. Marcelino Cassamá (um dos dirigentes de então) começou a falar de guineenses que na altura estavam arduamente a estudar e a triunfar em Portugal: eram elogios sem fim a Viriato Pã, Jandi, Pedro Cunha e, antes deles, o Pinto Bull, Amilcar Cabral e muitos outros: e todos nós a escutarmos em silêncio e, orgulhosos de que seres “como nós” estavam a ter sucesso no campo académico; eram “modelos” a que não estávamos habituados: na altura, modelos de sucesso guineenses estavam associados ao desporto: Alberto, Nhabola, Reinaldo, Tito, Arnaldo Silva, Rufino (que era uma mistura dos dois mundos); mas modelos académicos/científicos? Tinham que ser estrangeiros e nunca de raça negra.

Muitos de nós tentaram emular os modelos acima mencionados pelo Sr. Marcelino Cassamá, porque ele teve  a “coragem” de falar deles e divulgá-los.

 

Há cerca de 3 anos, depois de telefonemas anuais a dizer-lhe que tinha sido galardoado com este ou aquele prémio, o Gungo (Dr. João Procópio Landim Augusto Pinhel) disse-me: penso que devias deixar mais guineenses saberem destes prémios, porque podem ser excelentes motivações para gerações futuras tentarem fazer melhor; na altura, não gostei da ideia, porque pensei que ia parecer uma forma de auto-promoção, de vaidosia etc. e, quantos mais colegas me tentavam convencer a fazer isso, mais me convencia de que seria egoísmo da minha parte não seguir  em frente com essa ideia: porque mesmo um jovem ter-me como um modelo, já é um grande triunfo.

A oportunidade deparou-se-me quando o Didinho me convidou a divulgar as minhas memórias no site CONTRIBUTO; não hesitei e um ano depois não estou arrependido de o ter feito; pelo contrário, estou extremamente satisfeito pelas respostas dos jovens guineenses e continuarei a deixar-lhes saber sempre que consiga algo de realce na minha profissão.

É uma forma de incentivar a nossa juventude a fazer o mesmo ou melhor do que tenho feito; ser de raça negra, ser guineense não são motivos de entrave na vida. Ainda se pode ser negro e sonhar, ainda se pode ser guineense e voar alto; para termos sucesso na vida, não temos  necessariamente de enveredar pelos caminhos da droga, do futebol profissional, da política ou da música; não é um caminho fácil, mas trabalho árduo, tomar decisões certas na vida, podem-nos levar muito longe...

 

Por isso faço um apelo aos colegas para deixarem a nossa juventude saber dos seus triunfos, das suas lutas e tribulações académicas; pode ser grande motivação; não há nada como liderar pelo exemplo.

 

Este fim-de-semana, tive a honra de ir jantar a um dos restaurantes de Las Vegas com o Ricky Ribeiro (filho do Henrique Ribeiro e da Clarisse) que esteve em Las Vegas numa conferência: foi um lufada de ar fresco ver como um descendente de guineenses, ainda jovem, se sentiu tão à vontade falando de temas como política (Obama/Mccain), situações sociais na América, na Europa, na Guiné; e ao mesmo tempo, ter planos na vida; fiquei impressionado e dou também os meus parabéns aos pais pelo extraordinário trabalho de educação/formação e guia que lhe deram (porque, acreditem-me, não é fácil “criar” crianças nos Estados Unidos, com todas as tentações...)

 

A propósito de casos clínicos, penso apresentar alguns este mês e talvez falar sobre um tópico interessante.

 

Uma palavra de encorajamento a todos os excelentes colaboradores do contributo: é um prazer e bom exercício mental para mim ler os vossos artigos e espero que continuem a colaborar, porque estou certo que  uma coisa ninguém pode duvidar: todos amam a Guiné (de perto ou de longe, a seiva da nossa terra corre dentro de vocês todos, por isso,  não deixem a chama da ESPERANÇA esmorecer...)

 

Outra palavra de encorajamento vai para o fundador do contributo que à custa de muitos sacrifícios pessoais, sem ajudas, tem sido incansável na manutenção deste importante veículo de promoção dos guineenses, de debates e esclarecimentos sobre a nossa Guiné. Inúmeras vezes ofereci-me para contribuir monetariamente por nos deixar usar o site para divulgação de temas de saúde, mas ele sempre recusou: isto é amar a nossa terra, é verdadeiro altruísmo...

 

Feliz aniversário para a Guiné neste dia de comemoração da independência!

 

J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM

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