EDITORIAL 13 - VICTOR GOMES PEREIRA


 

Eu acho que...!

Victor Gomes Pereira

18.04.2013

Volvido um ano após mais um inevitável levantamento militar, parece que apesar das memórias ainda serem frescas sobre um fato em si, a todos os títulos, condenável, alguns arautos da desgraça continuam a persistir num incompreensível afã antipatriótico e antinacionalista, manifestados em declarações catastrofistas nos media, ao invés de militarem firmemente em favor da solução dos problemas que afetam a Guiné-Bissau.

Porém, e sem nenhum intuito de aproveitamento de índole singular, gostaria apenas de ressalvar, o fato de que, apesar de apenas ter vivido vinte anos sob o jugo colonial português, nunca me arrependo de assumir os meus quase quarenta anos de vivência sob a bandeira e o hino que simbolizam as armas da emancipação e da liberdade que tanto sacrifício e vidas, custaram ao povo guineense para que a conquista da nossa independência, de Cabo Verde, e de tantos outros povos fosse hoje uma realidade.

Estas palavras podem, hoje, não significar muito a muitos, mas a verdade é que se a Guiné-Bissau quer ser, e continuar a ser uma entidade como tantas outras no concerto das Nações, os seus próprios filhos têm que saber respeitar os princípios e os valores que nortearam a criação deste Estado soberano. Se os próprios nativos, nomeadamente, os da diáspora, se esfalfam em denegrir a imagem, já de si, desfalecida da sua própria terra, em virtude de comportamentos desviantes, não admira que os governos de Cabo Verde, de Portugal e de Angola, interfiram solapadamente, de forma empenhada e abusiva, através da CPLP em nome de interesses geopolíticos para lograrem os seus inconfessos intentos.

Compreende-se que uma dupla pertença de nacionalidade e outros interesses legítimos, ofusquem uns quantos guineenses, que a troco de míseras prebendas se afoitem em chafurdar o nome da Guiné-Bissau aos quatro ventos. O que já não se compreende, é que apesar das evidências de que este status quo guineense, nunca mais voltará ao status quo ante, muitos, por razões obscuras, teimosamente, ainda se vergam às teses dos inimigos da Guiné-Bissau.

Mesmo constatando, que os mesmos governos inimigos, recalcitrantes à nossa causa e aos interesses do povo guineense, ainda que com alguma hipocrisia à mistura, já vão mudando de posição, dando mostras, inclusive, de subscrever as soluções de inclusão, tal como preconizadas, desde a primeira hora, pelas instituições regionais que monitorizam a nossa transição.

Este Governo de transição, pelas características da sua génese, tem uma composição heterogénea, que à custa de muito empenho foi conseguido instituir, quando o PAIGC, como se sabe, no ato da devolução do poder aos civis, furtou-se à responsabilidade de liderar o processo de transição, preferindo enveredar pela postura de terra queimada.

Com a finalidade de inviabilizar a atividade do Governo de transição, e com o apoio sabido de algumas chancelarias residentes, que gozam do estatuto de isenção na importação de carburantes, foi instituído um esquema criminoso, de acréscimo exponencial da cota estabelecida no consumo de combustível, para que o excedente, com a ajudinha de algumas gasolineiras da nossa praça, se destinasse a financiar atos subversivos dos partidos satélites integrantes da Frenagolpe.

Enquanto no interior decorria este plano tenebroso de destabilização às instituições de transição, no exterior, as diplomacias concertadas de Portugal, de Cabo Verde e de Angola, três governos inimigos da Guiné-Bissau e do nosso povo, não poupavam esforços para contrariar e deitar por terra qualquer tentativa levada a cabo pelas nossas autoridades junto da comunidade internacional para o reatamento das relações.

Através dos media internacionais e até nacionais, a palavra de ordem é liquidar as autoridades de transição a todo o custo, e com todas as armas à disposição. E a este propósito, as pessoas ainda se lembrarão da desventura dos 7 milhões de euros das canhoneiras portuguesas que rumavam a Bissau, com o intuito de liquidar a chamada rebelião balanta, numa alusão insultuosa da extrema-direita lusa, com contas por ajustar com aqueles que ainda apelida de “turras” do PAIGC. Por conta dessa aventura neocolonialista, a justiça guineense ainda há-de pedir responsabilidades ao governo luso pelo pânico causado, pondo populações em fuga, e causando as mortes de cinco crianças na travessia para Pecixe.

Apesar de não terem dado em nada, seguir-se-ão outros atos subversivos destinados ao derrube das autoridades de transição, e sempre com a cumplicidade dos inimigos externos da Guiné-Bissau. Lembrar-se-ão que com a conivência da representação da União Europeia, algumas personalidades foragidas sob sua proteção, escapuliram para o estrangeiro para depois, em Outubro passado, perpetrarem o ataque falhado ao aquartelamento dos para-comandos no aeroporto de Bissalanca, de onde resultaram uma série de mortes.

Num primeiro momento os serviços secretos inimigos plantaram notícias nos media portugueses e internacionais, de que era falso o caso de sargento Pansau, agora detido e a ser julgado, o que facilmente veio a verificar-se, tratar-se de uma grande verdade, e com contornos que revelaram a extraordinária rede de cumplicidades interna destinada a atividades de sabotagem contra o seu próprio povo.  

As instituições internacionais estavam e ainda estão tão minadas, que até o antigo representante especial do Secretário-geral das Nações Unidas, encontrava-se afinal ao serviço das autoridades depostas, a troco de somas avultadas. As mesmas instituições, não contentes com os fiascos dos sucessivos planos de destabilização, cegamente se propõem a contaminar com ideias preconcebidas as instituições internacionais parceiras da Guiné-Bissau. Porém, já vimos que esses esforços não colhem, porque os exemplos do regresso do FMI e do Banco Mundial estão aí para confirmar o fracasso dos nossos inimigos.

O governo de Cabo Verde até vai mais longe. Agora propõe-se reabilitar o fantasma do euro-atlantismo, protagonizando operações de sequestro aos nossos cidadãos e heróis da luta de libertação nacional, em casos de polícia, com a cumplicidade de forças estrangeiras em nosso território. É bom que o povo saiba que o rapto do contra-almirante Bubo Na Tchuto deu-se afinal em território guineense, nas praias de Varela, e não em águas internacionais, como muito mentirosamente alguns noticiários querem fazer crer. E os outros dois cidadãos guineenses foram raptados na mesma ocasião numa praça de táxis na cidade da Praia, capital de Cabo Verde, e não, num qualquer país da África Ocidental como se tenta propalar.

Portanto, a estranha cumplicidade “limitada” da Praia, como o próprio Primeiro-ministro cabo-verdiano se prontificou a justificar, neste caso de polícia, é de lamentar, porquanto, o contra-almirante é também um combatente da liberdade da Pátria cabo-verdiana.

Apesar desta apreciação não estar, de modo nenhum, a caucionar a impunidade sobre este ou qualquer outro caso de polícia, não deixamos, porém, de ficar surpreendidos, com mais este insólito e provocatório comportamento do governo de Cabo Verde, quando usa dois pesos e duas medidas na sua contribuição ao combate à criminalidade na sub-região. Basta recordar a sua cumplicidade, na passagem pelo seu território de armas e medicamentos destinados aos combatentes do MFDC de Casamança.

Ao governo de Angola resta a esperança de que um PAIGC dócil volte à ribalta da política para que a grande trapaça do negócio da bauxite seja uma realidade, nos termos ultrajantes concessionados pelo governo deposto, em que os interesses angolanos ficariam a deter 90% e a Guiné-Bissau 10%. A este propósito é bom que o povo saiba que apesar de várias tentativas do atual governo em conhecer os contornos da estrutura acionista do acordo estabelecido para implementar uma efetiva renegociação, encontrou sempre um esquema de moras por parte das autoridades angolanas.

A Portugal de Paulo Portas e Passos Coelho pergunta-se se a comissão de 1 milhão de euros depositados no Montepio Geral, desviados pelo antigo primeiro-ministro do contrato do bauxite celebrado com angola, não será um ato de branqueamento de capitais, quando comparado com os 95 mil dólares de um dirigente angolano que a justiça portuguesa quer ver esclarecida.

Ao Dr. Ramos Horta é bom lembrar que a tónica dos seus atuais discursos estão longe das primeiras impressões de esperança que deixou ficar no coração dos guineenses. É evidente que ninguém está a espera que faça tudo, o que até nem está no seu mandato, porém, não podemos deixar, à luz das suas atuais declarações fatalistas, de descortinar a sua intenção de dar uma no cravo e outra na ferradura. Não podemos admitir semelhantes vaticínios, estando num país, onde existe verdadeiramente uma guerra, mas a lançar um olhar negativista para a Guiné-Bissau, preconizando o falhanço das suas instituições, quando o que dele se espera, no mínimo, é uma melhor equidistância para eficiente resolução dos problemas. 

Perante este quadro sombrio de bloqueio e de isolamento imposto, ao povo guineense resta apenas exigir aos seus políticos e a todas as forças vivas, que mostrem ao mundo através de medidas consentâneas e consensualizadas que têm uma agenda própria onde se reflete um roteiro credível que espelha a capacidade de alcançar metas promissoras de um devir de esperança para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.

Muito Obrigado

Bem-haja!

Até daqui a quinze dias!

Victor Pereira

 

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