Concebamos a nossa terapia para a nossa Guiné-Bissau

 

Ernesto Dabó

edabo49@hotmail.com

22.04.2012

Ensina a natureza que mesmo na chaga há sementes. A evolução da Guiné-Bissau como Estado de direito, não será dádiva de ninguém nem de nada. Houve e haverá sempre a necessidade de, principalmente, nós, guineenses, metermos o dedo na chaga para extrairmos a semente ou sementes, que nos levem a frutos desejados para não vermos perecer o nosso sonho de viver em liberdade e democracia.

Desde a morte do Presidente Malam Bacai Sanhá que em todos os quadrantes se tornou preocupação central a estrita observância do comando constitucional na condução do processo de eleição de um novo Presidente da Republica. Com enorme satisfação, registo o intenso, profundo e responsável debate que teve e tem como protagonistas um elevado número de quadros guineense. Este facto confirma que a sociedade guineense, resiste e avança. Quando assim é e não se perder de vista que, “0 arroz é dentro da panela que se o cose”, ou seja, “ por mais importante que sejam os fatores esternos os endógenos (internos) serão sempre os determinantes”.

Nos últimos dez anos, Angola tem dado uma importantíssima e nobre lição ao mundo, de como acabar com uma guerra fratricida de décadas, reconstruir um Estado, colocar o país entre os primeiros do mundo em termos de índices de crescimento, em paz, coesão nacional, com patriotismo e elevadíssima autoestima. Isso orgulha-nos a todos, particularmente, porque, apesar de terem em devida conta o apoio esterno aos seus esforços, estão a agir com uma exemplar atitude de fé em si mesmos. A 25 de Abril deste ano, celebraremos o 38º aniversário da “Revolução dos Cravos”, evento de transcendente importância histórica para a comunidade lusófona, que foi conseguida por um golpe militar que derrubou a ditadura fascista e colocou Portugal na senda da democratização, processo de que nos orgulhamos de igual modo e mesmos motivos pelos que nos orgulhamos do angolano. Estes processos, nunca são decretados ou impostos por forças militares nacionais ou multinacionais. Resultam sempre de sementes selecionadas pelos povos nos respectivos territórios,  condicionados pelas respectivas histórias.  Ora, porque não somos nem mais nem menos que ninguém, porque não tratarmos de acolher com humildade estes exemplos dos nossos irmãos angolanos e portugueses? Prefiro esta via, por ser a mais racional e consentânea com o dever de todos, tudo fazermos para não se recorrer aquilo que tem sido a desgraça do povo guineense: o recurso às armas, de um país ou vários países, na vã pretensão de solucionar problemas de semelhante natureza, que pela violência, nunca conseguiram apropriada solução em lugar nenhum do mundo, nomeadamente na Guiné-Bissau.

Antes de prosseguir, permita-se-me, humildemente, endereçar a minha homenagem de simples cidadão guineense e lusófono, ao Dr. Jaime Gama, pela coragem, pragmatismo, particular respeito pela vida humana e profunda noção de comunidade que demonstrou, ao preferir deslocar-se a Bissau, na qualidade de Ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, quando a violência militar estava ao rubro, para avaliar no terreno todas as variáveis de solução do conflito político-militar de 1998; regressar a Lisboa, analisar os dados, propor e protagonizar ações, em vez de sair voando a Nova Iorque para tentar mobilizar o Conselho de Segurança para que avalize o envio de forças militares, nomeadamente angolanas e portuguesas, para “estabilizar e pacificar a Guiné-Bissau”, porque ela precisa duma “terapia”, que não pode ser outra, que de sangue e cadáveres. Valha-nos Deus! Obrigado Dr. Jaime Gama, pelas vidas que ajudou a salvar.

Prosseguindo, sem nenhuma ponta de ironia, confesso que celebro o facto de termos já uma excelente semente para fazermos nascer frutuosas soluções. Ela é a unanimidade interna e externa acerca do “retorno à ordem constitucional”. Se os guineenses e a comunidade internacional, estão em sintonia quanto a esta questão, julgo que não precisamos nem do Comando Militar, nem de forças multinacionais para conseguirmos materializar o imperativo retorno à ordem constitucional, como todos e tanto desejamos. Há competência guineense no país e na diáspora, mais que suficiente para conseguirmos este retorno, de importância vital para a sociedade GUINEENSE. Há reserva de competência mais que suficiente na comunidade lusófona a que eventualmente poderemos recorrer. Organizemo-nos e avaliemos com a máxima isenção possível, todos o indícios de desobediências à Constituição da Republica da Guiné-Bissau, registados, nomeadamente, desde o falecimento do Presidente Malam Bacai, ao presente, de forma a que os guineenses concebam “terapia” própria para os seus males.

De indivíduos e nações não há histórias sem períodos difíceis, críticos. O mar é maior que o pescador, mas este não o teme. E, como o disse Miguel Torga, cito: Os corpos coletivos, como os individuais entregam-se de quando em quando a uma espécie de volúpia abúlica, de morte aparente, que parece sem remédio. Mas no íntimo das células o metabolismo continua. E à hora menos pensada o moribundo abre os olhos, fala, reage, e retoma a sua vida normal.

Também as pátrias se reerguem à beira do caixão.

 

Ernesto Dabo

 

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