Carta aberta à geração pós-independência

 

 

 

 

Por: Ussumane Keita

 

03.04.2008

 

 

 

... a comunidade imaginada não era partilhada... a nação forjada na luta nasceu minada... e ainda hoje sofremos...

 

...destruição da nossa identidade e passado histórico.

Um estado sem um livro que relate a história nacional, endógena e exógena é um estado não existente. Um estado sem mitos nacionais não existe...

 

...a aparente tranquilidade e escuridão escondem problemas graves invisíveis a idiotas e àqueles que não querem enfrentar a nossa estúpida realidade… rastilho e pólvora, rancor e vingança, inveja e ódio, incompreensão e desespero, ignorância e estupidez espreitam a cada esquina...

 

... que esperança resistirá se a geração de guineenses que deveria introduzir mudanças sérias, graduais, no entanto profundas, já se encontram corrompidas... comprometidas?!...

 

 

É imperativo refundar a república. O sistema político actual já não serve os interesses do povo guineense pois estes são diferentes daqueles que levaram à fundação da República em 1973.

É imperativo refundar a república e cabe essencialmente à sociedade civil e à nova geração de guineenses (refiro-me à do pós-independência) pressionar positivamente nesse sentido pois está sobejamente confirmado que não podemos esperar que os partidos políticos defendam os nossos interesses e o bem comum guineense. Por conseguinte, peço: que cada um assuma as suas responsabilidade para alcançarmos o bem comum guineense.

É imperativo que o Estado reforce e consolide o seu poder em todo o território nacional. Guiné-Bissau não é Bissau. É imperativo introduzir mudanças significativas no comportamento de titulares de cargos políticos sem os quais dificilmente os órgãos do Estado funcionarão efectivamente. É imperativa a responsabilidade social. Competência. Mérito. É imperativo trabalho, ordem e disciplina. É imperativo combater a insolência, a indigência e a falta de respeito!

 

Ajudem a abrir caminho à modernidade e ao progresso sem descurar a nossa identidade cultural.

 

É imperativo fomentar a leitura e a reflexão para a acção. É imperativo reconhecer e valorizar o conhecimento, a cultura, as iniciativas concretas e idóneas e úteis à comunidade. É imperativo o consenso nacional suprapartidário no que toca à preservação e defesa da diversidade cultural e das instituições públicas de homogeneização da sociedade e na definição das prioridades nacionais. É imperativo reconhecer e valorizar os guineenses competentes, capazes de fazer a mudança pelo exemplo pessoal e profissional. É imperativo o empenhamento no combate à corrupção por parte de empresários nacionais e estrangeiros, dos dirigentes políticos e titulares de cargos públicos.

 

A mudança é imperativa porque a comunidade guineense padece de falta de rumo político, social, cultural, geopolítico e identitário que se confronta ainda com a miséria e a pobreza (e inerentes consequências), falta de expectativas, desilusão, desespero, parasitismo e corrupção.

 

É imperativo chamar os cidadãos à responsabilidade social e criminal. É imperativa a educação para a cidadania. É imperativo aspirarmos a patamares superiores de desenvolvimento social e cultural. É imperativo incentivar e fomentar a reflexão e debate sobre temas actuais da agenda política, económica e cultural, do papel dos midias, dos partidos políticos e da sociedade civil. É imperativo trabalharmos para a edificação de uma democracia participativa e abrangente. Coerente com os interesses do Estado e dos povos que dele fazem parte.  É imperativo que a vontade do povo seja respeitada. É imperativo recusar e lutar contra a manipulação religiosa, política e étnica dos povos guineenses. É imperativo chamar os cidadãos à responsabilidade política na gestão da nossa terra, da coisa pública (pois o governo é eleito para trabalhar para nós, foi o nosso voto que lhes deu legitimidade para serem ministros, secretários de estados, presidentes de instituições públicas…). É imperativo controlar as acções do governo que existem para servir os interesses dos povos. Quando se mostrarem incompetentes e incapazes ou simplesmente não estiverem interessados em trabalhar para o bem comum e progresso guineense devem ser imediatamente substituídos ou devem demitir-se das suas funções.

 

Ninguém em parte alguma é insubstituível e incontestável. Repito: ninguém em parte alguma é insubstituível e incontestável. 

 

É imperativo que a justiça funcione assim como todas as instituições controladoras do Estado, para fiscalizarem os actos governativos. É imperativo interrogar sobre a qualidade da justiça, a transparência dos comportamentos públicos, a promiscuidade entre governação e gestão económica, entre política e religião, entre nacionais e estrangeiros.

 

Ressurreição é difícil.

Refundação é um processo complexo. Mas é possível com aproveitamento de quadros competente (eles existem e andam por aí subaproveitados e a caminho da emigração – quantos já se encontram fora do país?) e reconhecimento de valores como o trabalho, a honestidade, a coerência, a integridade, o respeito, a humildade, e principalmente algo que faz muita falta aos guineenses: amor à pátria.

 

É imperativo contrariar a tendência! É imperativa a afirmação da nova geração de guineenses! Sim, daqueles que não foram combater para o mato nem andaram nas escolas do mato mas que foram estudar e regressaram para contribuir para o desenvolvimento da sua/nossa terra!!!

 

Eia por todos aqueles que nunca pegaram em armas e nem foram à luta (nenhuma luta/guerra)!

 

Para tal, basta querermos. Basta que exista vontade nacional para rumar ao progresso. Basta que a geração pós-independência assuma a sua responsabilidade e enveredo pelo caminho do progresso, da competência, da integridade. Tudo o que peço é água no autoclismo, electricidade para iluminar e conservar os alimentos. Tudo o que peço é mais disciplina nas estradas da Guiné-Bissau. Tudo o que peço são polícias e forças armadas que me defendam e não as que me ameaçam quotidianamente. Tudo o que peço é saúde, educação, alimentação e trabalho remunerado para todos os guineenses; tudo o que peço são jardins, espaços verdes e de desporto para as crianças e jovens; tudo o que peço são museus, bibliotecas, livrarias, cinemas e teatros. Tudo o que peço é um livro de história nacional que deverá ser lido pelos meus filhos, pelos teus filhos, pelos nossos filhos, por todos os filhos de guineenses. Tudo o que peço é que todos colaborem, contribuam e cooperem. Tudo o que peço é poder ter novamente o orgulho de afirmar bem alto: sou guineense!

 

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