CARTA A UM AMIGO

 

Que as ondas do mar levem a confusão e sejas inspirado pelo sol nascente que nos lembra, a cada dia, a possibilidade de um novo começo.

 

Ana Cristina Ferro Marques

anymarques@hotmail.com

Ana Cristina Ferro MarquesQuando a Deusa da Fortuna, a mais caprichosa e cruel de entre as Deusas do Olimpo, decide virar o leme com o seu sorriso imperturbável, é mais útil procurar o silêncio e reflectir sobre o que é de facto importante para sermos felizes, uma procura permanente em todos os seres humanos.

Epicuro, o “apologista do viver feliz”, dizia que há três ingredientes essenciais para a felicidade. O terceiro ingrediente, mas não o menos importante, é reservar tempo para a reflexão, para a auto-análise, que nos possibilite descobrir o que é realmente essencial para nós, ao invés de viver os desejos e interesses muitas vezes obscuros dos outros…

Esperar que os outros nos reconheçam e valorizem (ou que reconheçam as nossas razões por mais evidentes que elas nos possam parecer…) é uma expectativa humana difícil de ser alcançada. Sobretudo, num sistema perverso, ou quando os que nos rodeiam se focam sobre os nossos defeitos (sim, também os temos!) e/ou características que não lhes agradam pelos mais diversos motivos. Face a expectativas frustradas, a nossa tendência é permitir que se manifeste o pior que existe em nós… a raiva, o ódio e sentimentos afins… Assim, acredito que é importante para o equilíbrio de cada um de nós libertarmo-nos da necessidade da aprovação e do reconhecimento dos outros.

Qualquer ser humano está sujeito a passar por situações adversas e devemos aprender a vivê-las com a serenidade possível. Face à adversidade, temos o livre arbítrio para escolher entre dois caminhos possíveis: o do ressentimento e o do crescimento. Escolher o do ressentimento é permitir que o outro tenha poder sobre nós, é autorizar que o outro comande a nossa vida e as nossas opções, que não serão, provavelmente, as melhores para nós. Pois ficamos presos a sentimentos que nos bloqueiam e impedem a caminhada. O outro caminho, o do crescimento, é optarmos por fazer uma análise objectiva das nossas atitudes e comportamentos, das nossas motivações, das dos outros (dos que nos frustraram) mas, também, das reacções dos outros às nossas. É compreendermos, ainda, a complexa dinâmica das relações interpessoais. E, certamente, iremos encontrar aspectos que poderemos melhorar. Verdade seja dita, só temos o poder de nos mudar a nós mesmos. Quanto aos outros deixemo-los seguir em paz porque, seguramente, o universo se encarregará de os mudar… para melhor, claro!

Queres certamente saber quais são os outros ingredientes. Ok, o primeiro é ter amigos de qualidade. Aqueles, sabes, com os quais lavamos a nossa alma. E o segundo é a liberdade. E este, achei o máximo, porque Epicuro e os seus amigos decidiram sair de Atenas, do ambiente competitivo (referindo-se à competição desleal) e maldizente (imagina, já naqueles tempos!), serem auto-suficientes, e filosofar num jardim que ficou a ser conhecido pelo Jardim de Epicuro.

Que as ondas do mar levem a confusão e sejas inspirado pelo sol nascente que nos lembra, a cada dia, a possibilidade de um novo começo.

Praia, 18 de Fevereiro de 2013

Referência bibliográfica

Botton, A., (2001). Consolações da Filosofia. Rio de Janeiro. Editora Rocco

Ana Cristina Ferro Marques


Libélula

Ana Cristina Ferro Marques

anymarques@hotmail.com

Ana Cristina Ferro Marques

Vagueias pelo mundo

à procura de luz

E nem te apercebes

que ela está em ti

 

Ana Marques

Praia, 18 de Novembro de 2011


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